man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
BC Camplight – Deportation Blues
Depois do excelente registo How To Die In The North, lançado em dois mil e quinze, Brian 'BC Camplight' Christinzio está de regresso aos álbuns com Deportation Blues, nove canções com a chancela da Bella Union e que servem para este músico nascido em Nova Jersey, mas a residir em Manchester, continuar a lutar contra algumas adições psicotrópicas que o têm afligido nos últimos anos, nomeadamente desde que deixou de fazer parte da etiqueta One Little Indian, onde lançou os registos Hide, Run Away (2005) e Blink Of A Nihilist (2007). São questões pessoais de peso na carreira de um artista que chegou a ser comparado, na primeira década deste século a nomes com Brian Wilson ou George Gershwin e que têm feito da sua vida uma verdadeira epopeia que chegou a impedi-lo de escrever e compôr, tendo mesmo habitado numa igreja abandonada de Filadélfia durante algum tempo.
Antes de How To Die In The North, apesar do histórico já descrito sucintamente acima e de algumas aparições como pianista com Sharon Van Etten e algum trabalho ao vivo com músicos dos The War On Drugs (Robbie Bennett e David Hartley já fizeram parte da banda ao vivo de BC), ele sabia que precisava de uma mudança radical na sua vida, de modo a não perder a sua carreira e a sua sanidade. Mudou-se para o lado de cá do atlântico, instalou-se em Manchesterk, em Inglaterra, chamou a atenção da Bella Union e estes dois registos nesta reconhecida etiqueta são consequência desse novo trajeto pessoal e profissional de um músico e compositor com enorme reconhecimento no seu país, mas ainda pouco conhecido por esse mundo fora. Convém acrescentar à história que dois dias após o lançamento de How To Die In The North, o músico foi deportado de Inglaterra de volta aos Estados Unidos da América por falta de documentação e só regressou à Europa ocasionalmente para alguns concertos, tendo a obtenção da nacionalidade italiana, devido aos seus avós, sido o detalhe que faltava a BC para regressar de modo mais definitivo a Manchester. Fê-lo, com o propósito firme de começar a gravar um novo registo de originais, este Deportation Blues, mas dois dias depois desta segunda mudança deu-se o Brexit. O registo acaba por ser, como o seu nome indica, tremendamente inspirado em todas estas peripécias, algo plasmado de modo incisivo em composições como I'm Desperate, um tema que impressiona pelas mudanças rítmicas e pelos arranjos sintéticos, I’m In A Weird Place Now (And there’s something about Manchester town, And the silly little things she makes me do) e a jazzística Hell Or Pennsylvania, canção onde a referência ao limão (lemon twirls) representa a luta de BC contra um dos tais abusos psicotrópicos que padeceu em tempos.
Gravado e produzido pelo próprio autor nos estúdios Whitewood Studios, em Liverpool, Deportation Blues acaba por ser também o impulso que falta para Camplight obter o merecido reconhecimento na Europa, num disco negro, direto e liricamente impressivo e incisivo, com canções que sonoramente homenageiam aquela herança do rock americano mais genuíno e onde pianos e guitarras se cruzam constantemente, com sintetizadores e onde não faltam também sopros, pianos e vários elementos percussivos, num resultado final recompensador e particularmente refrescante e original. Espero que aprecies a sugestão...
01. Deportation Blues
02. I’m In A Weird Place Now
03. Hell Or Pennsylvania
04. I’m Desperate
05. When I Think Of My Dog
06. Am I Dead Yet?
07. Midnight Ease
08. Fire In England
09. Until You Kiss Me
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Kurt Vile - Loading Zones
Apesar da curiosa colaboração o ano passado com Courtney Barnett que resultou no excelente registo Lotta Sea Lice, a verdade é que depois de ter lançado Smoke Ring For My Halo, no início de dois mil e onze e Wakin On A Pretty Daze dois anos depois, Kurt Vile não deu mais sinais de vida depois de b’lieve i’m goin down…, álbum que viu a luz do dia a vinte e cinco de setembro de dois mil e quinze por intermédio da Matador Records e o sexto da carreira deste músico que descende da melhor escola indie rock norte americana, quer através da forma como canta, quer nos trilhos sónicos da guitarra elétrica.
Finalmente, três anos depois desse excelente disco, Kurt Vile volta a lançar uma nova canção, intitulada Loading Zones. É uma composição repleta de ironia que se debruça sobre a experiência pessoal de Kurt Vile relativamente às estratégias que costuma usar para estacionar sem pagar em Filadélfia, a sua terra natal. No vídeo, dirigido por Drew Saracco, Vile vai mostrando as suas escapadelas ao pagamento do estacionamento enquanto deixa exasperados dois polícias, interpretados pelos atores Kevin Corrigan e Matt Korvette, este último também vocalista dos Pissed Jeans.
Quanto à sonoridade de Loading Zones, obedecendo à tal herança do rock mais genuíno, a canção é conduzida por cordas elétricas e acústicas inspiradas, com um resultado final bastante fluído e intenso. Ainda não há notícias sobre um novo ábum de Kurt Vile, mas este tema é, certamente, uma pista que indica que poderá haver novo alinhamento do músico norte-americano nos próximos meses. Para já, sabe-se que Kurt Vile entrará em digressão com Jessica Pratt em novembro. Confere...
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Jon Hopkins - Singularity
Singularity é o quinto álbum de estúdio do músico, produtor, DJ e pianista inglês Jon Hopkins, um alinhamento lançado na passada primavera pela Domino Records e que sucedendo ao aclamado registo Immunity, consolida a mestria deste músico como escultor exímio de composições sonoras com elevado travo tridimensional, uma eletronica de cariz eminentemente ambiental, onde reina a complexidade do sintético.
Seguidor confesso de Brian Eno, mas também a seguir o rasto de nomes tão importantes como Four Tet ou os Boards of Canada, Jon Hopkins oferece-nos em Singularity um verdadeiro banquete de revisitação de um período da eletrónica que foi praticamente marcante, as décadas de setenta e de oitenta do século passado, com o clima progressivo da primeira e uma faceta mais pop da segunda a serem aqui fundidas, muitas vezes e modo quase impercetivel, como se percebe logo na espiral crescente do volumoso tema homónimo que abre o disco, uma canção onde a um trecho melódico constante, vão sendo adicionados efeitos cada vez mais rugosos e distorcidos. Depois, no psicadelismo abrasivo de Emerald Rush, uma canção construída através de uma sóbria sobreposição de diferentes camadas de batidas e efeitos, com um resultado final praticularmente cósmico e etéreo, somos transportados para um território insinuante no modo como nos convida à dança e à inquietude física e mental.
Após este início promissor, Singularity entra num período mais climático e experimental, com Hopkins a olhar sempre para o tal passado de modo a criar na nossa mente uma sensação de constante incerteza, já que nunca sabemos muito bem como o registo vai continuar a progredir. Temas como Neon Pattern Drum, um banquete percussivo muito heterógeneo e repleto de efeitos curiosos, Everything Connected, uma fusão de techno com post rock repleta de colagens e variações rítmicas, o minimalismo hipnótico de Feel First Life e de COSM e o piano intrigante que sustenta Echo Dissolve, são composições que, fazendo-nos muitas vezes flutuar e divagar por um universo que será sempre oculto para quem não crê no poder da música como indutor de estados de alma e terapeuta emocional, contêm uma leveza rara e mágica só possível de ser entendida por quem se deixar enlear por esta espécie de filosofia meditativa.
Complexo, às vezes contemplativo e vagaroso, mas também muitas vezes extasiante, tridimensional e frenético, Singularity é um disco onde a clareza de ideias e o torpor, o desânimo e a euforia também se misturam, através de um alinhamento ondulante que, no seu todo, constitui uma viagem impressiva pela mente de um músico que quer que este disco seja olhado como uma experiencia transcendental, ou seja, é um álbum que deve ser aborvido como um todo e escutado do início ao fim, sem quebras, porque esse é o único modo que, na sua óptica, nos permite retirar dele toda a sua energia e decifrar todo o seu potencial comunicativo. Espero que aprecies a sugestão....
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Interpol - Marauder
Depois de um interregno de quase quatro anos os Interpol já ofereceram aos escaparates Marauder, o novo disco desta banda nova iorquina liderada por Paul Banks. Marauder viu a luz do dia através da Matador Records e estão já agendadas algumas datas de uma extensa digressão para promover um registo que mantém este trio naquele formato que exalta o espírito sombrio dos anos oitenta e que têm replicado com elevado quilate. Esta trajetória leva já seis registos e ainda não é em Marauder que os Interpol largam aquele porto seguro onde Banks, Fogarino e Kessler atracaram um dia e que Dave Fridmann (Weezer, MGMT, The Flaming Lips, Tame Impala, Spoon), o produtor deste trabalho, parece ter sabiamente destrinçado, já que também não é ele que coloca em causa a herança identitária do trio, ao longo das treze canções do registo.
Não é necessário escutar demasiados acordes de If You Really Love Nothing, o tema de abertura de Marauder, para se perceber essa evidência, à medida que iniciamos uma viagem alicerçada num Banks incisivo como sempre, nomeadamente no modo como toca aquela guitarra agreste, agudizada pelo efeito identitário da banda, aquele timbre metálico que lançou os Interpol para as luzes da ribalta no início deste século, quando com o indie rock genuíno de Antics e o post punk revivalista de Turn On The Bright Lights conquistaram meio mundo. Depois, mesmo que falte ao baixo aquele incisivo groove punk que os Interpol nunca mais mostraram desde que Carlos D abandonou a banda, Sam Fogarino cola, na bateria, todos os elementos acima referidos, com uma coerência exemplar. A receita repete-se em The Rover, mas de modo mais ritmado, um tema intenso e visceral, melodicamente bastante sedutor, um psicotrópico mental verdadeiramente eficaz e aditivo que, não sendo uma cover do clássico dos Led Zepellin com o mesmo nome, como à partida muitos poderão pensar, não deixa de conter aquela virilidade elétrica misturada com uma espécie de absurdo lírico que, sendo uma imagem de marca da escrita e composição de Paul Banks, também caraterizava muitos instantes sonoros da carreira do grupo de Jimmy Page e Robert Plant.
Este prometedor arranque de Marauder não é defraudado nas canções seguintes, caso o ouvinte tenha ficado entusiasmado com o mesmo. O modo como a guitarra se insinua em Complications, à espera que as distorções cheguem e se aconcheguem, fora de tempo, aos tambores da bateria e o cerrar de punhos que somos convidados a fazer em Flight Of Fancy, um dos momentos maiores de Marauder, pelo modo como homenageia aquele rock sombrio e nostálgico mas que nos preenche a alma porque nos faz vibrar e pular sem que haja amanhã e o piscar de olhos quase abusador que os Interpol fazem a territórios mais psicadélicos e progressivos no groove de Stay In Touch, além de nos permitirem renovar aquele prazer, tantas vezes difícil de descrever, que eles sempre provocaram no nosso íntimo, são canções que servem como resposta eloquente por parte da banda a todos aqueles que já duvidavam das capacidades do grupo em se focar novamente no som que melhor os identifica e na temática lírica que exemplarmente sempre abordaram, relacionada com o lado mais complicado das relações, a frustração, o tal absurdo e uma faceta algo provocatória que nunca enjeitaram demonstrar.
Até ao ocaso de Marauder, na inquietude crescente de Mountain Child, uma canção que, em espiral, mantém-nos empolgados do início ao fim, no post punk de Nysman, na insinuante melancolia que transborda de Surveillance, no frenesim de Number 10 e na sensualidade algo enigmática de Party's Over, o tal timbre da guitarra tão caraterístico dos Interpol mantém-se convincente, imperial e não deixa que o trio caia na armadilha de se deixar enredar por novas tendências mais intrincadas pelas quais tantos colegas se enlearam com o objetivo de mostrarem novos caminhos e uma superior heterogeneidade, mas acabaram por se perder. Essa opção coerente é, a meu ver, bem sucedida porque mostra uma superior experiência por parte do grupo nova iorquino e tem a mais valia de oferecer ao fã exatamente aquilo que ele espera de um disco dos Interpol e, ainda por cima, com elevada bitola qualitativa. Espero que aprecies a sugestão...
01. If You Really Love Nothing
02. The Rover
03. Complications
04. Flight Of Fancy
05. Stay In Touch
06. Interlude 1
07. Mountain Child
08. Nysmaw
09. Surveillance
10. Number 10
11. Party’s Over
12. Interlude 2
13. It Probably Matters
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Flak - Ao Sol da Manhã
Com uma carreira de mais de três décadas durante a qual incubou e encabeçou bandas tão importantes do universo indie nacional como os Radio Macua ou os Micro Audio Waves, Flak tem também um projeto a solo que começou há exatamente vinte anos com um homónimo que tem finalmente sucessor. Cidade Fantástica é o seu novo registo de originais em nome próprio, um alinhamento de dez canções que irá ver a luz do dia no final de outubro e que foi gravado no mítico Estúdio do Olival, local onde o músico gravou e produziu vários discos, não só das suas bandas, mas também de Jorge Palma, Entre Aspas e GNR, entre muitos outros.
O primeiro single divulgado de Cidade Fantástica é a canção Ao Sol da Manhã, tema já com direito a um video com a letra, centrado em ilustrações de Francisco Cortez Pinto, fotografadas e editadas pelo próprio Flak. Misturado por Benjamim, que também tocou os teclados e masterizado por Tiago Sousa, o tema conta com as participações especiais de Rita Laranjeira na voz e António Dias no baixo. A música em si é um delicioso tratado de indie pop, assente em flashes de samples que gostam de jogar ao esconde esconde, uma guitarra em contínuo e inquieto frenesim e instrumentos percussivos a tresandar a uma soul contemplativa por todos os poros, uma composição que sobrevive num terreno experimental e até psicadélico e onde a fronteira entre a sua heterogeneidade instrumental e melódica e um apenas aparente minimalismo estilístico é muitas vezes indecifrável. Sobre esta composição Ao Sol da Manhã, o autor refere no seu press release de lançamento:
Enviei por engano uma demo de outra canção deste disco a um ex-aluno. Ele respondeu-me que lhe fazia lembrar o tipo de ambiente dos Mild High Club, banda que eu não conhecia. Fiquei curioso, fui ouvir o disco e no final apeteceu-me fazer uma canção pop com um toque de bossa-nova. Fui construindo uma sequência de acordes por cima de um riff de blues até ter a canção estruturada. A melodia é repetida com pequenas variações enquanto a harmonia vai mudando criando diferentes texturas. Quando completei a melodia, e tal como fiz na maioria das outras canções deste disco, quis aproveitar a energia do momento e fazer imediatamente uma letra para a canção. Agarrei um livro de um dos montes que tenho à minha volta quando estou a fazer canções, abri-o numa página qualquer e calhou estar a letra do “Sitting on the Dock of the Bay” do Otis Redding. Aí pensei que era uma boa ideia transportar a baía de São Francisco para Lisboa à beira rio. E é um programa mais ou menos comum no meu dia-a-dia, ir dar uma volta junto ao rio, apanhar sol e ver os barcos passar. Entretanto o Benjamim gravou um beat, o António Vasconcelos Dias gravou um baixo numa onda Motown, o Benjamim tocou em todos os teclados que estavam disponíveis e assim fomos fixando o arranjo, de uma forma espontânea, meio improvisada. Depois, todos cantamos, a Rita Laranjeira adicionou mais vozes, o Benjamim misturou e o Tiago Sousa masterizou.
Este álbum Cidade Fantástica será apresentado ao vivo no Teatro-Cine de Torres Vedras a seis de Outubro e no Teatro Ibérico, em Lisboa, a oito e nove de Novembro. Confere o seu primeiro single...
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Cloud Nothings – The Echo Of The World
Depois da parceria com os Wavves de Nathan Williams no disco a meias No Life For Me (2015), os Cloud Nothings de Dylan Baldi, ofereceram-nos o ano passado Life Without Sound, nove canções impregnadas com um excelente indie rock lo fi, abrigadas pela insuspeita Carpark Records e um regalo para os ouvidos de todos aqueles que, como eu, seguem com particular devoção este subgénero do indie rock. Foi um registo produzido por John Goodmanson, gravado em El Paso, no Texas e que parece ter finalmente sucessor. O próximo álbum dos Cloud Nothings, o quinto da carreira do grupo, contém oito canções, chama-se Last Building Burning e vai ver a luz do dia a dezanove de outubro à boleia da mesma etiqueta que lançou o antecessor, a já mencionada Carpark Records.
O primeiro single divulgado de Last Building Burning é a quinta canção do seu alinhamento, um tema intitulado The Echo Of The World e que assentando em guitarras plenas de experimentações sujas que procuram conciliar uma componente lo fi com o garage rock, numa espécie de embalagem caseira e íntima, acaba por, no seu todo, exalar uma negra ferocidade, uma agressividade punk que se estende ao próprio registo vocal de Baldi, pleno de energia. Há na canção uma espécie de caos controlado e que acaba por fazer sentido para quem tem estado mais atento aos últimos concertos dos Cloud Nothings, porque a sonoridade da canção acaba por entroncar no clima que tem caraterizado os mesmos, muitas vezes algo errático e nada convencional. Confere The Echo Of The World e o alinhamento de Last Building Burning...
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The Coral - Move Through The Dawn
Os britânicos The Coral de James Skelly, Ian Skelly, Nick Power, Lee Southall e Paul Duffy acabam de regressar aos discos com Move Through The Dawn, onze canções gravados nos Parr Street Studios de Liverpool e produzidas pelos próprios The Coral e por Rich Turvey. Sucessor do aclamado Distance Inbetween de 2016, Move Through The Dawn, o nono álbum da carreira deste mítico grupo da cidade dos Beatles, viu a luz do dia via Ignition Records e não defrauda a herança de uma banda essencial não só para a descrição da típica britpop, mas também para a catalogação de alguns dos projetos que foram sabendo resistir à erosão do tempo sempre com elevado nível qualitativo, disco após disco, mantendo uma linha de coerência que tipifica um adn onde consistência e epicidade são duas caraterísticas essenciais de um catálogo rock efusivo, vibrante e claramente optimista.
Tendo sempre o vigor das guitarras como ponto de partida para as canções de Move Though The Dawn, neste disco os The Coral mostram novamente que a fórmula em que costumam apostar volta a resultar e em pleno. Na luminosidade e no otimismo de Eyes Like Pearls e no registo claramente radiofónico e de elevado sentido pop de Reaching Out For A Friend e, principalmente, no rock anguloso do extraordinário single Sweet Release, um extraordinário tratado rock efusivo e vigoroso, já com direito a um curioso vídeo realizado por James Slater, é dado o pontapé de partida para um majestoso alinhamento indie, onde não faltam alguns tiques psicadélicos, a maioria da rsponsabilidade do excelente teclista Nick Power, baladas arrebatadoras (ouça-se Undercover Of The Night) e refrões bastante orelhudos que nos colocam a cantar ou, pelo menos a sussurrar, no imediato e sem darmos conta.
A vibe sessentista com elevado travo surf pop de She's A Runaway, a densidade de Stormbreaker, a acusticidade blues de Eyes Of The Moon, a luminosidade pop de Strangers In The Hollow ou o clima retro das guitarras de Love Or Solution ajudam a cimentar a firme certeza de estarmos perante um registo sólido, incubado por um projeto que tem sabido, ao longo das duas décadas de carreira, manter-se firme num posição cimeira, de relevo e influenciadora no seio do indie rock britânico, uma epopeia que começou logo em grande com uma nomeação para um Mercury Prize em dois mil e dois e que segue, registo após registo, a fornecer aos ouvintes e seguidores bons portos de abrigo para quem pretende deliciar-se com um rock simples e despretensioso, mas onde também não falte aquela riqueza e densidade lírica que tanto apreciam todos aqueles que gostam de se apropriar das canções para refletirem sobre si e sobre a realidade em redor. Espero que aprecies a sugestão...
01. Eyes Like Pearls
02. Reaching Out For A Friend
03. Sweet Release
04. She’s A Runaway
05. Strangers In The Hollow
06. Love Or Solution
07. Eyes Of The Moon
08. Undercover Of The Night
09. Outside My Window
10. Stormbreaker
11. After The Fair
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Death Cab For Cutie - Thank You For Today
Cerca de três anos depois de Kintsugi os Death Cab For Cutie já têm finalmente um sucessor para esse excelente disco que atestou, à época e mais uma vez, que eles são mestres em escrever sobre sentimentos e emoções, plasmadas, no caso desse registo, em letras profundas e intensas, que debruçavam-se sobre as relações humanas, num álbum possível de ser fonte de identificação para qualquer um de nós. Estas permissas mantêm-se neste novo registo intitulado Thank You For Today, o nono da banda, um disco produzido por Rich Costey e que viu a luz do dia através da Atlantic Records.
Esta banda norte americana de indie rock sedeada atualmente em Washington e liderada por Ben Gibbard, tem mantido ao longo das quase duas décadas de carreira um rumo filosófico muito vincado, sustentado em canções que olham sempre para a pop e o rock alternativo contemporâneos com sagacidade e com letras a testar constantemente a nossa capacidade de resistência à lágrima fácil. Assim, disco após disco, os Death Cab For Cutie têm atestado com clarividência a impressão firme no lado de cá da barricada de estarmos perante uma banda extremamente criativa, atual, inspirada e inspiradora e que sabe sempre como agradar aos fãs. Em Thank You For Today não fogem à regra; Gibbard, o cérebro criativo da banda após a partida de Chris Walla, ainda antes de Kintsugi, já passou a fasquia dos quarenta anos e um divórcio algo traumático e está cheio de cicatrizes e demónios que necessita de exorcizar, com o desprezo que sente por Trump a ser mais uma acha para essa fogueira depressiva que Thank Your Today de certo modo plasma. Assim, o que temos nas dez canções deste álbum são lindíssimas melodias quase seempre conduzidas por guitarras planantes e com efeitos bastante sedutores e de timbre eminentemente metálico, acompanhadas por sintetizadores e teclados que buscam induzir aquele hiabutal grau de emotividade que carateriza o adn do grupo. São temas impecavelmente produzidos e que materializam essa necessidade de testemunhar todas as transformações e dinâmicas que Gibbard tem vindo a viver e a observar nos últimos anos.
Assim, do acerto contemplativo de I Dreamt We Spoke Again, canção em que Gibbard exorciza as saudades que ainda possa sentir da sua antiga companheira (It’d been so long, it’d been so long, your voice was like a ghost), ao modo impressivo como em Gold Rush o músico reflete sobre a atual Seattle onde os Death Cab For Cutie, passando pela realismo como em Autumn Love é feito um balanço daquilo que é viver com o peso dos quarentas, (If there’s no beacon tonight to guide me, I’ll finally break the schakles of direction), ao clima sonhador e introspetivo de 60 & Punk, este é um alinhamento rico em momentos deslumbrantes, quer líricos quer sonoros e que viciam facilmente. O resultado final é mais um passo em frente seguro e qualitativamente assertivo em direção a um futuro pessoal e musical que será certamente promissor para Gibbard e os músicos que o acompanham nesta nobre aventura chamada Death Cab For Cutie, um grupo que sabe melhor do que ninguém como recortar, picotar e colar o que de melhor existe no universo sonoro que aprecia e que está sempre para continuar a projetar inúmeras possibilidades e aventuras ao ouvinte. Espero que aprecies a sugestão...
01. I Dreamt We Spoke Again
02. Summer Years
03. Gold Rush
04. Your Hurricane
05. When We Drive
06. Autumn Love
07. Northern Lights
08. You Moved Away
09. Near/Far
10. 60 And Punk
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Old Jerusalem - Black pool of water and sky
É já a doze de outubro que chega às lojas Chapels, o sétimo registo de originais de Old Jerusalem, o lindíssimo projeto assinado por Francisco Silva e que caminha a passos largos para as duas décadas de carreira. Old Jerusalem é, de facto, uma incrível jornada, batizada com uma música do mítico Will Oldham e com um brilho raro e inédito no panorama nacional.
De acordo com o press release de lançamento de Black pool of water and sky, o primeiro single retirado de Chapels, este novo disco de Old Jerusalem terá dez temas imediatos e sem adornos. Interpretações gravadas à primeira, intimamente associadas ao processo da sua escrita e deixando a nu os alinhavos de arranjos e as primeiras sugestões de caminhos melódicos e harmónicos. Pretendeu-se que cada canção veiculasse assim o seu primeiro ímpeto criativo e a urgência da sua comunicação.
A simplicidade melódica e o imediatismo de Black pool of water and sky, assim como a sua crueza e simplicidade acústica, evocando a verdade eterna que todos reconhecemos de que tudo é passageiro, é uma boa amostra do que será certamente Chapels, um álbum extremamente comunicativo e repleto de composições contemplativas, que criarão uma paisagem imensa e ilimitada de possibilidades.Confere Black pool of water and sky, à boleia do video da canção realizado por André Tentúgal...
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The Growlers – Casual Acquaintances
Os The Growlers são uma banda norte americana de Costa Mesa, na Califórnia, formada por Brooks Nielsen (voz), Matt Taylor (guitarra), Scott Montoya (bateria), Anthony Braun Perry (baixo) e Kyle Straka (teclas e guitarra) e que descobri já em 2012 por causa de Hung At Heart, o terceiro álbum da discografia do grupo, um disco gravado em Nashville, editado em novembro desse ano através da Everloving Records e que foi produzido por Dan Auerbach dos The Black Keys. Um ano após esse registo, disponibilizaram Guilded Pleasures e em dois mil e catorze, com uma cadência quase anual, os The Growlers regressaram às edições com Chinese Fountain, um trabalho que cimentou definitivamente o adn de um projeto que aposta numa sonoridade fortemente influenciada pela psicadelia dos anos sessenta.
Após Chinese Fountain os The Growlers entraram num período de relativo pousio e criaram a sua própria etiqueta, a Beach Goth Records and Tapes. Casual Acquaintances é o primeiro sinal de vida do grupo nesta nova fase da carreira, um levantamento de algumas demos, lados b e temas inacabados que a banda foi juntando ao longo das sessões de gravação dos discos anteriores e que acabam por ganhar vida num alinhamento que merece ser descoberto com alguma minúcia já que contém canções com elevada bitola qualitativa.
Frequentemente catalogados com uma banda de surf rock, a sonoridade vai muito além dessa simples catalogação e Casual Acquaintances é mais uma demonstração cabal dessa permissa. Se em Heaven In Hell é o rock mais clássico que dita leis, já as guitarras de Problems III olham com astúcia para o rock de garagem e os sintetizadores de Pavement And The Boot contêm uma aúrea mais progressiva e psicadélica, com Decoy Face a fazer a indispensável abordagem a um universo mais cósmico e blues que também carateriza o grupo e Orgasm Of Death a alfinetar o punk rock de início deste século sem receios ou concessões. Seja como for, independentemente de todo este manancial de abordagens, importa reter a aparente simplicidade e descomprometimento com que os The Growlers compôem, uma filosofia estilística que não será obra do acaso e obedece claramente a um desejo de criação de uma imagem própria, inerente ao conceito de rebeldia, mas sem descurar um apreço pela qualidade comercial e pela criação de canções que agradem às massas.
Os The Growlers têm toda a aparência de conviverem pacificamente com a herança do rock das últimas quatro ou cinco décadas, mas escapam do eventual efeito preverso da mesma e com mestria, até porque há uma elevada sensação de espontaneidade num catálogo que necessitava claramente desta espécie de revisitação e acresecento para ficar completo antes do grupo avançar para a segunda fase de um projeto que deve continuar no radar de todos aqueles que se interessam por este espetro sonoro. Espero que aprecies a sugestão...
01. Neveah
02. Problems III
03. Heaven In Hell
04. Pavement
05. Decoy Face
06. Orgasm Of Death
07. Drop Your Phone In The Sick
08. Thing For Trouble
09. Last Cabaret
10. Casual Acquaintances