man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
A Place To Bury Strangers - Pinned
Obcecados pela morte e pelas supostas tonalidades eróticas da mesma, os nova iorquinos A Place To Bury Strangers têm, disco após disco, reformulado o seu cardápio sonoro sempre dentro de bitola semelhante, uma filosofia assente em linhas de baixo simples mas vincadas, uma percurssão vigorosa, letras algo violentas e instigadoras e toda uma amálgama de sons e efeitos onde reina o ruido e um caos que parece estar sempre aparentemente controlado. No início desta primavera eles estão de regresso aos discos com Pinned, o quinto alinhamento da carreira do trio, renovado recentemente com a presença de Lia Braswell, ex Le Butcherettes, na bateria. Pinned é o sucessor do excelente Transfixiation, um álbum editado editado à quase três anos e que na altura sucedeu a Worship, um registo lançado em 2012 e que explorava uma abordagem ruidosa ao rock, de modo progressivo, industrial e experimental, tudo apimentado com uma elevada toada shoegaze, algo que seis anos depois é ainda uma realidade bastante audível num dos projetos essenciais de um espetro sonoro em que a Dead Oceans continua a apostar vigorosamente.
Numa época em que a caraterística sujidade das guitarras e do baixo tem sido substituida por sintetizadores, cordas mais leves e por baterias eletrónicas, o que mais cativa nestes A Place to Bury Strangers é perceber que tudo aquilo que há vinte atrás era considerado marginal e corrosivo na esfera sonora em que gravitam, hoje, com novas texturas e vocalizações (além da bateria, Lia também canta, como se percebe logo no primeiro tema) quando replicado por eles, soa intemporal, influente e obrigatório. Escuta-se o baixo de Never Coming Back, tocado por Dion Lunadon, o efeito abrasivo da guitarra de Oliver Ackerman e o modo como a bateria se eleva, sempre numa espécie de coito interrompido e, lá para o meio, a guitarra corrosiva e a percussão inebriante do punk rock de Frustrated Operator e chocamos de frente com o acentuado cariz identitário próprio de quem procura uma textura sonora aberta, melódica e expansiva, mas não descura o indispensável pendor lo fi e uma forte veia experimentalista, trazendo o ruído e a distorção para o centro do processo criativo.
O segredo para a potência sonora inédita deste projeto norte americano fundamental, é não só percetivel na tríade instrumental e nas doses incontroladas de lasers e efeitos, mas também no modo como escapa a todas as categorias e gavetas do rock ao mesmo tempo que as abarca num enorme armário que tem tanto de caótico como de hermético. Acaba por ser uma estratégia que não deixa de se organizar com uma arrumação muito própria e sempre coerente. Assim, há um forte sentido melódico no efeito da guitarra do shoegaze lo fi de Situation Changes e na vibe mais etérea, mas mesmo assim rugosa, de Was It Electric assim como um ambiente psicadélico no falso minimalismo de There's Only One Of Us que nunca compromete as vias auditivas, mesmo que a voz de Oliver no festim sintético de Execution possa distorcer a nossa mente.
Com a guitarra e a bateria a servirem frequentemente de elo de ligação entre os temas, Pinned parece agregar um emaranhado de melodias, mas uma audição atenta mostra-nos que este é um daqueles alinhamentos que encadeiam-se através de um tronco de forte cariz identitário e genuíno, onde não faltando a espaços o típico clima de ocaso que o experimentalismo proporciona, tem como resultado uma obra grandiosa e eloquente, ao mesmo tempo que cimenta a temática obsessiva dos A Place To Bury Strangers, feita, como já referi, de ruído, mas também de odes insinuantes e particularmente inspiradas ao imprevisto. Espero que aprecies a sugestão...