man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
TIPO - Novas Ocupações
Quando em 2015 Salvador Menezes, consagrado membro fundador dos You Can't Win, Charlie Brown, decidiu tirar uns dias de descanso, nunca imaginaria que iria nesse breve interregno incubar um dos mais curiosos projetos a solo do panorama musical nacional atual. Servindo-se de um casio com mais de três décadas do tio, de uma guitarra com três cordas dos anos noventa da irmã, da bateria do irmão e do seu baixo, computador e voz, criou quatro temas, nascendo assim TIPO. Agora, dois anos depois, com um novo emprego, a viver numa outra casa, com três discos dos You Can't Win, Charlie Brown em carteira e já com a paternidade a fazer parte da sua existência, TIPO tem já temas suficientes para se aventurar no formato longa-duração, um registo intitulado Novas Ocupações que viu a luz do dia a dezasseis de março, por intermédio da Pataca Discos.
Co-produzido por Afonso Cabral, Luís Nunes e Salvador Menezes e contando também com alguns convidados, nomeadamente Tomás Sousa na bateria, Novas Ocupações é uma solarenga mas também intrincada demanda pela mente de um dos mais proficuos músicos da pop nacional atual. Ao longo das dez canções do registo conferimos um sentido conjunto de quadros sonoros pintados com belíssimos arranjos de cordas, mas também sintetizadores capazes de fazer espevitar o espírito mais empedernido e imponentes doses eletrificadas de fuzz e distorção, que se saúdam amplamente, tudo adornado por uma secção vocal contagiante, que proporciona ao ouvinte uma assombrosa sensação de conforto e proximidade.
Ouvir o disco é dançar num suave balanço entre o orgânico e o sintético, uma fatalidade que impressiona logo no falso minimalismo caústico de Acção-Reacção e que ganha depois uma dimensão ainda mais efusiva na luminosidade de certo modo enternecedora de Confesso, um contagiante e épico tratado sonoro mas também lírico que, a seu modo, acaba por expressar pura e metaforicamente alguns dos traços fundamentais da fragilidade humana. Depois, se a soul sensual e profundamente orgânica de Desfecho, uma composição arrebatadora no modo como nos impele a avançar e a arriscar, mal dá tempo para recuperar o fôlego, canções como a solarenga e festiva Fim do Dia, a rockeira e sumptuosa Jugoslávia e, num registo mais melancólico e introspetivo, a cadência lancinante de Género Desconhecido, os teclados inebriantes de Autocomiseração de um Desempregado e o divagante realismo de Querela de Vizinhas escancaram-nos um mundo inédito, cujos códigos e fechaduras só Salvador conhece, mas que anseia por partilhar com todos nós.
Álbum feito sem pressas e sem pressões e devidamente ponderado e debruçando-se amiúde na nova realidade familiar do autor, a parentalidade, um tema recorrente e sempre presente, com particular mestria no sample do coração da filha do autor que se escuta em Novos Oficios, curiosamente uma canção sobre a maternalidade, Novas Ocupações socorre-se continuamente de imagens evocativas, que depois TIPO sustenta em melodias bastante virtuosas e cheias de cor, arrumadas com arranjos meticulosos e lúcidos e em variações rítmicas e emotivas inesperadas, um caudal sonoro e lírico que nos esclarece que este é um tempo repleto de bandas e artistas a ditar cada vez mais novas tendências no indie rock, é que é refrescante encontrar por cá alguém que o faz de forma diferente e de modo profundo, intenso e poderosamente bem escrito. Espero que aprecies a sugestão...