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daguida - Passageiro

Sábado, 31.03.18

Yuran, João Pedro e António Serginho são os daguida, um trio oriundo de Santa Maria de Lamas e já com dezoito anos de história. Depois de todo este tempo, apresentam-se finalmente ao grande público, com a sua primeira publicação oficial nas redes digitais, um tema intitulado Passageiro e o respetivo vídeo de promoção, realizado pela produtora Dawn Pictures. O passo seguinte será a edição deste single em vinil e depois virá o álbum de estreia, lá para 2019, estando prevista a abertura de uma campanha de crowdfunding para financiar a sua gravação.

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Edição de autor com o apoio da Revolução d’Alegria Associação, produzido por Mário Barreiros e gravado em Amarante, no Estúdio Fridão Natura Recording, Passageiro é um tema com fortes raízes na nossa música tradicional. Luminoso e exuberante nas cordas e escorreito na melodia, Passageiro alerta, de acordo com os daguidapara o valor daquilo que não tem preço, estando o tema liricamente coberto por uma aurea satírica, irónica e alegre, aspetos muito presentes nos concertos do trio e que representam a vontade de quebrar barreiras e preconceitos. Entre a beleza e o degredo abordam sem medo o quanto nos pesa este enredo. Do troiano ao grego, do velho ao novo, tudo é sempre novo.

Hoje mesmo, a partir da meia-noite, no Bar Galeria de Paris, no Porto, os daguida apresentam ao vivo esta canção e muitos dos temas que vão registar no seu primeiro álbum. Confere...

Manifesto daguida

 Algures entre Ovar e Contumil

daguida nasceu no inverno de 2000

Vestem seus pijamas, abanam suas canas

A terra é Santa Maria de Lamas

 

Passaram 18 anos

Há que limpar os canos

Será a primeira vez

Já muito perdemos os três

 

E vamos embora gente

daguida vai prá frente

Podes sempre dar algum

Podes ouvir sem dar nenhum

 

Muito sinceramente

Que fique bem assente

daguida anda por cá

Até que a bolha rebente

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publicado por stipe07 às 15:21

EELS – Bone Dry

Sexta-feira, 30.03.18

EELS - Bone Dry

Depois de uma espera de quatro anos, os Eels de E (Mark Oliver Everett), Kool G Murder e P-Boo estão de regresso om um novo álbum gravado na sua maioria em Pasadena, na Califórnia. O novo trabalho do grupo norte-americano chama-se The Deconstruction, será o décimo segundo da carreira deste projeto liderado pelo carismático Mark Everett e tem lançamento previsto a seis de Abril através da E Works/Pias Ibero América em Portugal.

The Deconstruction irá suceder ao já longínquo The Cautionary Tales Of Mark Oliver Everett e foi produzido por Everett e por Mickey Petralia, um nome que já trabalha com os Eels desde o fabuloso Electro-Schock Blues (1998), o melhor disco da banda, prestes a comemorar vinte anos de existência. Bone Dry, o mais recente single divulgado de The Deconstruction, tem uma sonoridade assente num rock rugoso e progressivo, aquele rock mais direto e visceral, com uma toada algo negra e depressiva, onde as cordas distorcidas dominam. Os Eels estarão por cá, nos Nos Alive, no dia treze de julho. Confere...

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publicado por stipe07 às 15:15

Preoccupations - New Material

Quinta-feira, 29.03.18

Matt Flegel e Mike Wallace são dois músicos já habituados a recomeços no que concerne a projetos musicais. Depois de terem feito parte dos extintos Women, um grupo norte americano de Calgary, que terminou a carreira há alguns anos, mas que deixou saudades no universo sonoro alternativo, incubaram os extraordinários Viet Cong, um coletivo que fez furor há três anos com um disco homónimo que foi considerado por esta redação como o melhor do ano, em 2015. Este nome tão sugestivo da banda acabou por não sobreviver à crítica, muita dela oriunda do importante mercado discográfico local e, por isso, a dupla viu-se na necessidade de se reinventar de novo, surgindo agora sobre a capa dos Preoccupations, um coletivo onde à dupla se juntam os guitarristas Scott Munro e Daniel Christiansen, que já os acompanhavam nos Viet Cong. New Material é o registo discográfico que dá o pontapé de saída a esta nova vida do projeto, dez canções alicerçadas num post punk labiríntico de elevado calibre e abençoado pela chancela da insuspeita Jagjaguwar, uma das principais editoras independentes norte-americanas.

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Disco cheio de canções que assentam quase sempre numa guitarra com um rugoso efeito metálico particularmente aditivo e um baixo imponente, acompanhados por uma bateria falsamente rápida, como é o caso de Espionage, o tema que abre o disco, New Material remete-nos, no imediato, para aquele rock que impressiona pela rebeldia com forte travo nostálgico e por aquela sensação de espiral progressiva de sensações, que tantas vezes ferem porque atingem o âmago. A psicadelia oitocentista que dá as mãos ao punk é outra nuance importante deste alinhamento com uma originalidade muito própria e um acentuado cariz identitário, por procurar, em simultâneo, texturas melódicas e expansivas, mas também aquele pendor lo fi com uma forte veia experimentalista. É uma matriz sonora percetivel na distorção das guitarras, no vigor do baixo de Matt Flengel e, principalmente, na bateria de Wallace, muitas vezes algo esquizofrénica e fortemente combativa. Aliás, este instrumento é frequentemente chamado para a linha da frente na arquitetura sonora de New Material, ficando com as luzes da ribalta e um elevado protagonismo na percussão tribal de Decompose e no modo como as suas variações rítmicas introduzem o efeito da guitarra em Solace. Já que falamos em efeitos da guitarra, um dos grandes tiques identitários que trespassa toda a discografia destes músicos é, claramente, a sensibilidade do efeito metálico abrasivo da guitarra que corta fino e rebarba eque é audível em Decompose, um som que se ouvia frequentemente em Viet Cong, geralmente em contraste com a pujança do baixo. O resultado era uma elevada amplitude épica, presente em melodias que nos levavam rumo ao rock alternativo de final do século passado, mas que agora ganha contornos um pouco mais futuristas. E isso sucede porque nos Preoccupations Floegel e Wallace colocam os sintetizadores também em posição de elevado destaque, sendo Disarray uma boa canção para se perceber esta alteração estilística que combina post punk com shoegaze, uma fórmula pessoal e muito deles e onde o ruído não funciona com um entrave à expansão das canções, mas como mais um veículo privilegiado para lhes dar um relevo muito próprio que, sem esse mesmo ruído, os temas certamente não teriam. Aliás, na já referida Solace e em Compliance os solos e riffs da guitarra de Scott e Daniel, exibem linhas e timbres com um clima marcadamente progressivo e rugoso, com os teclados a tornarem-se numa mais valia no modo como adornam este garage rock, ruidoso e monumental e o harmonizam, tornando-o agradável aos nossos ouvidos, ou seja, fazem da rispidez visceral algo de extremamente sedutor e apelativo.

A viagem lisérgica que o quarteto nos oferece nas reverberações ultra sónicas de New Material, fazem deste compêndio um agregado instrumental clássico, despido de exageros desnecessários e amiúde apoteótico. É uma demonstração clara do modo como este coletivo se disponibiliza corajosamente para um saudável experimentalismo que não os inibe de se manterem concisos e diretos, à medida que constroem os diferentes puzzles que dão substância às canções. No final, tudo resulta de forma coesa e o ruído abrasivo proporcionado por esta catarse onde reina uma certa megalomania e uma saudável monstruosidade agressiva, aliada a um curioso sentido de estética, fascina e seduz. Espero que aprecies a sugestão...

 Preoccupations - Espionage

01. Espionage
02. Decompose
03. Disarray
04. Manipulation
05. Antidote
06. Solace
07. Doubt
08. Compliance

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publicado por stipe07 às 17:31

Suuns – Felt

Quarta-feira, 28.03.18

Dois anos depois do excelente Hold/Still, um compêndio de onze canções com a chancela da Secretly Canadian que fez furor à época, o projeto Suuns, um quarteto oriundo de Montreal, no Canadá, está de regresso aos lançamentos discográficos com Felt e à boleia da mesma etiqueta. Os Suuns apareceram em 2007 pela mão do vocalista e guitarrista Ben Shemie e do baixista Joe Yarmush, aos quais se juntaram, pouco depois, o baterista Liam O'Neill e o teclista Max Henry. Estrearam-se nos álbuns em 2010 com Zeroes QC, três anos depois chegou o extraordinário Images Du Futur, um trabalho que lhes elevou o estatuto grandemente, tendo merecido enormes elogios, não só no Canadá, mas também nos Estados Unidos e na Europa e Hold/Still, manteve a bitola elevada, servindo este Felt para confirmar definitivamente que estamos na presença de um grupo especial e distinto no panorama indie e alternativo atual.

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Uma das principais evidências deste quarteto canadiano, transversal a toda a sua discografia e cada vez mais apurada, é a escrita e composição de canções com um forte cariz impressivo e realístico. Simultaneamente músicos e filósofos e tendo na sua génese o jazz experimental muito presente, os Suuns refletem sobre a contemporaneidade que os inquieta e nos absorve e assim criam alinhamentos sedutoramente intrigantes, bem no centro de um noise rock apimentado por uma implícita dose de punk dance que quando abraça a eletrónica mais ambiental nos aproxima também de uma sonoridade algo amena e introspetiva, aspetos aparentemente distintos mas que nos mostram a abrangência destes Suuns e o modo quase impercetível como mesclam orgânico e sintético com propósitos bem definidos.

Simultaneamente existencial e sinistro e arrebatadoramente humano, Felt é, talvez, o disco mais cândido e direto do grupo, com a base de todas as canções a recair ora no baixo ora na guitarra, à qual depois são adicionados detalhes e batidas sintetizadas, tornando o que parece ser inicialmente apenas ruído, distorção e ritmos desordenados, como é o caso de Look No Further, em algo mais brando, com um resultado final com um resultado mais atmosférico do que à primeira vista se poderia antecipar. Mais adiante, a pafernália de ruídos sintéticos que abastecem Daydream até parece colocar em causa esta receita, mas a verdade é que o modo como as cordas espreitam no meio do caos, não é notoriamente obra do mero acaso. Esta é uma impressão que se repete noutros temas, uma definição estrutural e quase metódica deste Felt retratada vigorosamente em Watch You, Watch Me, canção onde o dedilhar e a distorção da guitarra, agregada a um sintetizador artilhado de diversos efeitos cósmicos e a um registo vocal robotizado, oferece aquele toque experimental que nos faz crer, logo ao terceiro tema, que este é um disco colossal, mas também tremendamente reflexivo. E logo depois, em contraste, o pendor hipnótico e intenso do baixo do tratado punk que é Baseline, para mim o melhor tema do disco, o modo como palmas e sopros adornam os loopings de Peace And Love, a luminosidade imprevista que a bateria irradia em Make It Real e a efervescente espiral de distorções abrasivas que trespassam essa bateria, agora tremendamente orgânica, em After The Fall, assim como a intensa e algo caótica viagem dos samples que gravitam em redor do piano em Control, reforçam tal impressão com racionalidade objetiva, sobre um conjunto de canções com uma base sonora bastante peculiar e climática, uma proposta ora banhada por um doce toque de psicadelia narcótica a preto e branco, ora consumida por um teor ambiental denso e complexo. 

Produzido por John Congleton, Felt é música futurista para alimentar uma alquimia que quer descobrir o balanço perfeito entre idealismo e conflito e que aos poucos, para o conseguir, acaba por revelar uma variedade de texturas e transformações que configuram uma espécie de psicadelia suja, justificada não só na pafernália de sons sintetizados que o registo contém, mas, principalmente, como já referi, pelo modo como é banhado ora por guitarras suaves, ora por loopings de distorção, uma união com uma certa tonalidade minimalista mas que costura todas as canções do álbum, sem excessos e onde tudo é moldado de maneira controlada. Assim, assertivos e capazes de romper limites, os Suuns oferecem-nos, entre belíssimas sonorizações instáveis e pequenas subtilezas, um portento sonoro de invulgar magnificiência, com proporções incrivelmente épicas, um verdadeiro orgasmo volumoso e soporífero, disponível para quem se deixar enredar nesta armadilha emocionalmente desconcertante, feita com uma química interessante e num ambiente despido de exageros desnecessários, mas que busca claramente a celebração e o apoteótico. Espero que aprecies a sugestão...

Suuns - Felt

01. Look No Further
02. X-Alt
03. Watch You, Watch Me
04. Baseline
05. After The Fall
06. Control
07. Make It Real
08. Daydream
09. Peace and Love
10. Moonbeams
11. Materials

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publicado por stipe07 às 21:03

TIPO - Novas Ocupações

Terça-feira, 27.03.18

Quando em 2015 Salvador Menezes, consagrado membro fundador dos You Can't Win, Charlie Brown, decidiu tirar uns dias de descanso, nunca imaginaria que iria nesse breve interregno incubar um dos mais curiosos projetos a solo do panorama musical nacional atual. Servindo-se de um casio com mais de três décadas do tio, de uma guitarra com três cordas dos anos noventa da irmã, da bateria do irmão e do seu baixo, computador e voz, criou quatro temas, nascendo assim TIPO. Agora, dois anos depois, com um novo emprego, a viver numa outra casa, com três discos dos You Can't Win, Charlie Brown em carteira e já com a paternidade a fazer parte da sua existência, TIPO tem já temas suficientes para se aventurar no formato longa-duração, um registo intitulado Novas Ocupações que viu a luz do dia a dezasseis de março, por intermédio da Pataca Discos.

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Co-produzido por Afonso Cabral, Luís Nunes e Salvador Menezes e contando também com alguns convidados, nomeadamente Tomás Sousa na bateria, Novas Ocupações é uma solarenga mas também intrincada demanda pela mente de um dos mais proficuos músicos da pop nacional atual. Ao longo das dez canções do registo conferimos um sentido conjunto de quadros sonoros pintados com belíssimos arranjos de cordas, mas também sintetizadores capazes de fazer espevitar o espírito mais empedernido e imponentes doses eletrificadas de fuzz e distorção, que se saúdam amplamente, tudo adornado por uma secção vocal contagiante, que proporciona ao ouvinte uma assombrosa sensação de conforto e proximidade.

Ouvir o disco é dançar num suave balanço entre o orgânico e o sintético, uma fatalidade que impressiona logo no falso minimalismo caústico de Acção-Reacção e que ganha depois uma dimensão ainda mais efusiva na luminosidade de certo modo enternecedora de Confesso, um contagiante e épico tratado sonoro mas também lírico que, a seu modo, acaba por expressar pura e metaforicamente alguns dos traços fundamentais da fragilidade humana. Depois, se a soul sensual e profundamente orgânica de Desfecho, uma composição arrebatadora no modo como nos impele a avançar e a arriscar, mal dá tempo para recuperar o fôlego, canções como a solarenga e festiva Fim do Dia, a rockeira e sumptuosa Jugoslávia e, num registo mais melancólico e introspetivo, a cadência lancinante de Género Desconhecido, os teclados inebriantes de Autocomiseração de um Desempregado e o divagante realismo de Querela de Vizinhas escancaram-nos um mundo inédito, cujos códigos e fechaduras só Salvador conhece, mas que anseia por partilhar com todos nós.

Álbum feito sem pressas e sem pressões e devidamente ponderado e debruçando-se amiúde na nova realidade familiar do autor, a parentalidade, um tema recorrente e sempre presente, com particular mestria no sample do coração da filha do autor que se escuta em Novos Oficios, curiosamente uma canção sobre a maternalidade, Novas Ocupações socorre-se continuamente de imagens evocativas, que depois TIPO sustenta em melodias bastante virtuosas e cheias de cor, arrumadas com arranjos meticulosos e lúcidos e em variações rítmicas e emotivas inesperadas, um caudal sonoro e lírico que nos esclarece que este é um tempo repleto de bandas e artistas a ditar cada vez mais novas tendências no indie rock, é que é refrescante encontrar por cá alguém que o faz de forma diferente e de modo profundo, intenso e poderosamente bem escrito. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 20:51

Kodaline – Follow Your Fire

Sexta-feira, 23.03.18

Kodaline - Follow Your Fire

É já no verão que chega aos escaparates o terceiro disco dos irlandeses Kodaline, um grupo natural de Dublin, formado por Stephen Garrigan, Mark Prendergast, Vinny May Jr e Jason Boland. Follow Your Fire é o mais recente single divulgado desse alinhamento, uma poderosa canção que entronca na filosofia sonora deste grupo cuja sonoridade assenta na busca de melodias que originem belas canções de forte cariz impressivo. A toada geral dos Kodaline soa, por vezes, demasiadamente melodramática mas este é um dos melhores grupos da atualidade a proporcionar-nos aquele ambiente sonoro épico e melancólico que tanto agrada aos fãs do indie rock mais sentimental. Confere..

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publicado por stipe07 às 17:27

Beautify Junkyards - The Invisible World of Beautify Junkyards

Quinta-feira, 22.03.18

Foi a nove de março último, à boleia da inglesa Ghost Box , que viu a luz do dia The Invisible World of Beautify Junkyards, a nova coleção de canções dos Beautify Junkyards. É o terceiro disco deste coletivo formado por João Branco Kyron (sintetizadores e voz), Rita Vian (voz), João Pedro Moreira (viola, sintetizadores), Helena Espvall (violoncelo e viola), Sergue (baixo) e António Watts (bateria e percussões) e que assume de uma vez por todas querer estar na linha da frente do panorama sonoro nacional, através de uma inédita mas convincente folk cósmica, particularmente lisérgica e esplendorosa.

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Primeira aposta internacinal da Ghost Box, The Invisible World of Beautify Junkyards foi misturado por Artur David (Orelha Negra, Mão Morta e Cool Hipnoise), masterizado por Jon Brooks e tem um título feliz já que logo no forte cariz impressivo da melodia que nos hipnotiza em Ghost Dance percebe-se a declarada intenção do projeto em transportar o ouvinte para um universo paralelo ao nosso. Fazem-no mergulhados num mundo controlado por cordas inebriantes e sintetizadores plenos de exotismo, uma eletrónica eminentemente ambiental misturada com folk, que cria melodias que quer claramente levar-nos a passear pelo mundo dos sonhos. Depois, as letras parecem que dançam nos nossos ouvidos e, para culminar a eficaz receita, a voz da Rita, amiúde acompanhada pelo João, cresce, tema após tema, num misto de euforia, subtileza e entrega, bastanto escutá-la em Sybil's Dream para se ficar plenamente convencido da sua superior capacidade interpretativa.

Resultado de várias sessões de improviso particularmente inspiradas, The Invisible World of Beautify Junkyards é, conforme refere o press release do lançamento, um registo mais atmosférico e emocional que os anteriores e a verdade é que está cheio de momentos que configuram um passeio por um universo feito de exaltações melancólicas, que são nada mais nada menos do que um retrato sombrio do estranho quotidiano que sustenta a vida adulta. O clima matinal e agridoce de Prism, a exuberância pueril de Golden Apples Of The Sun e o impressionismo dos detalhes e efeitos de Manha Tropical e, na sequência, do single Aquarius, uma canção assente num extraordinário diálogo percurssivo entre a pafernália instrumental que a sustenta, acordam-nos lentamente daquele estágio letárgico em que entrámos no início do registo, já que são canções menos festivas e que de certo modo nos ajudam à compreensão da nossa maturidade e da depressão que a mesma pode em nós criar, rompendo com essa antiga lógica inicial de que este mundo paralelo dos Beautify Junkyards é apenas festivo e exaltante. Por mais encantadoras que sejam as melodias abordadas pela obra, está latente em alguns instantes uma dor profunda que parece em determinados instantes afogar-nos. O amor, a solidão, o abandono, a vida e a morte, tudo parece servir como assunto, conceitos que pouco têm a ver com o universo das histórias infantis, mas antes com a crueza da realidade em que vivemos.

Com artwork da autoria do designer Julian House, que já elaborou capas de discos dos Oasis, Broadcast e Primal Scream, The Invisible World of Beautify Junkyards merece audição atenta, mais que não seja para destrincar no âmago da sua enorme beleza as pequenas contradições intencionais que encerra, um misto de maturidade e infantilidade, como se a mente deste coletivo se perdesse no tal mundo que ele mesmo criou. Essa saudável loucura acaba por ser o fio condutor de um alinhamento que merece ser tratado como um referencial que flutua constantemente entre a metáfora e a realidade, através de letras corroídas pelo medo de encarar o quotidiano adulto, entrelaçadas com as melodias ascendentes e alegres do disco e as contrárias a essas, uma simbiose que faz dele uma obra prima e que nos deixa com um enorme sorriso nos lábios quando somos confrontados com toda esta beleza melódica. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 18:19

The Fratellis – In Your Own Sweet Time

Quarta-feira, 21.03.18

Lançado pela londrina Cooking Vinyl a dezasseis de março último, In Your Own Sweet Time é o novo registo discográfico dos The Fratellis, o quinto registo de originais desta banda de indie rock escocesa que se estreou há já doze anos com o excelente Costello Music. Muitas das canções deste novo compêndio surgiram durante a digressão comemorativa dos dez anos desse primeiro trabalho, que depois foram buriladas no outro lado do atlântico, na costa oeste dos Estados Unidos da América, na cidade dos anjos, nos estúdios The Hobby Shop Recording Studios. Acaba por ser mais um passo consistente na carreira do trio Fratelli (Jon, Barry e Mince) rumo ao merecido estrelato de um dos grupos essencias do post punk rock revivalista dos últimos anos.

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Os The Fratellis são um daqueles casos curiosos e bem vindos de uma banda que sem complicar demasiado no momento de compôr, consegue mostrar com uma mestria invulgar que é possível criar canções melodicamente ricas e diversificadas, quer ao nível dos arranjos, quer dos ritmos e das conexões instrumentais, sem colocar em causa a capacidade que têm de nos divertir e animar, nem que seja durante o breve período de tempo em que as escutamos. A guitarra, o baixo e a bateria suportam esta demanda, com canções do calibre da caústica Stand Up Tragedy e do animado single Starcrossed Losers a mostrarem toda a luminosidade e a feliz exploração dos diversos subgéneros que podem entroncar no indie rock e que os The Fratellis sabem como chamar para a linha da frente no momento de explanarem toda a astúcia e a química que sustenta o trio.

Liricamente, toda aquela impulsividade algo agreste mas tremendamente genuína que tem levado os The Fratellis a escrever ao longo da carreira sobre temas tão incómodos como a adição às drogas, o sexo e os amores nem sempre correspondidos e bem resolvidos mantém-se, mas nota-se neste novo registo uma ainda maior espontaneidade no modo como tudo é esplanado e descrito, o que sugere uma maior certeza relativamente às convicções morais dos intérpretes, algo que curiosamente acaba por se refletir na performance musical. Assim, este é o álbum do grupo em que talvez haja um maior arrojo, geralmente bem sucedido, em explorar territórios inéditos, que chegam a abarcar a própria world music, srgindo o ponto alto desta experimentação em Advaita Shuffle, composição com raízes no hinduísmo, algo que se percebe quer na letra quer na sua sonoridade.

In Your Own Sweet Time é um daqueles discos que enriquecem fortemente o cardápio de um grupo cuja popularidade, como a de muitas outras bandas de indie rock, é inversamente proporcional ao afeto que desperta em muitos fâs, seguidores e melómanos musicais. Os The Fratellis foram e são reverenciados por muitos e pertencem, por direito, a uma história e a um cânone, mas os ecos das suas canções não se ouvem como os de outros projetos contemporâneos, ou de certos nomes da new wave ou do punk. Oxalá que este novo registo do trio faça com que se afirmem, de uma vez por todas junto do mainstream, já que há aqui canções capazes de arrebitar qualquer memória mais difusa, criadas por uma banda que tem elevado, com poucos meios, o rock e a pop à condição de arte. Quem não concordar, tem de ouvir melhor. Espero que aprecies a sugestão...

The Fratellis - In Your Own Sweet Time

01. Stand Up Tragedy
02. Starcrossed Losers
03. Sugartown
04. Told You So
05. The Next Time We Wed
06. I’ve Been Blind
07. Laughing Gas
08. Advaita Shuffle
09. I Guess… I Suppose…
10. Indestructible
11. I Am That

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publicado por stipe07 às 19:06

We Are Scientists – Your Light Has Changed

Terça-feira, 20.03.18

We Are Scientists - Your Light Has Changed

Os norte americanos We Are Scientists estão de regresso aos discos em 2018 com Megaplex, o sexto registo discográfico desta banda que teve as suas raízes na Califórnia, está atualmente sedeada em Nova Iorque e já leva dezassete anos de carreira, sendo formada atualmente por Keith Murray, Chris Cain e Scott Lamb e um dos nomes fundamentais do pós punk atual.

Sucessor do excelente Helter Seltzer, este novo trabalho dos We Are Scientists verá a luz do dia a vinte e sete de abril e depois de ser ficado a conhecer One In, One Out, o primeiro single retirado desse alinhamento, agora chegou a vez de conferir Your Light Has Changed, mais uma canção que se materializa através da habitual simplicidade melódica do projeto e de um trabalho de produção e mistura que não descura quer as noções de grandiosidade, quer de ruído, além de alguns efeitos imponentes que acabam por adornar e dar mais brilho e cor à composição. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:42

The Decemberists – I’ll Be Your Girl

Segunda-feira, 19.03.18

Três anos depois do excelente What A Terrible World, os The Decemberists de Colin Meloy estão de regresso com I'll Be Your Girl, o oitavo disco de uma bem sucedida carreira de quase duas décadas de uma das bandas essenciais para o relato da história do indie rock de travo eminentemente folk do percurso musical norte-americano mais recente. Lançado à boleia da Capitol Records, I'll Be Your Girl contém onze canções que mais uma vez concentram toda a destreza musical deste grupo oriundo de Portland, que é igualmente exímio a criar composições grandiosas e crescentes, mas também instantes sonoros intimistas e melancólicos, com a grande novidade desta vez a ser um efusivo piscar de olhos à pop de cariz mais sintético e retro que fez escola na década de oitenta do século passado, uma nuance nova no grupo e que faz com que tenha a possibilidade de agradar a um espetro ainda mais alargado de ouvintes.

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É a mais genuína herança sonora da América profunda que continua a preencher o código genético dos The Decemberists, até agora abastecidos essencialmente por cordas, que foram servindo como um veículo privilegiado de expressão da criatividade e de manifestação de sentimentos e emoções. Assim, ao longo da sua distinta carreira, este coletivo mergulhou fundo na psicadelia folk, mas mais do que se aproximar de uma musicalidade calcada em antigas nostalgias, deixaram-se consumir abertamente tanto pela música country como pela soul, referências que percorreram o adn de praticamente toda a discografia anterior a este I'll Be Your Girl. Agora, ao oitavo disco, sem descurarem a habitual aproximação com o cancioneiro norte americano, estratégia que o ambiente acústico de Cutting Stone e Starwatcher, o piano de Rusalka, Rusalka / The Wild Rushes, uma tensa e dramática narrativa baseada numa antiga parábola eslava, a luminosidade do dedilhar de Once In My Life ou a pronúncia grave e rugosa das notas e dos arranjos de Your Ghost denunciam de forma declarada, os The Decemberists colocam esse travo a ruralidade no plano secundário e oferecem uma paleta de sons inédita mais urbana e contemporânea ao projeto, com um espectro mais virado para a electrónica e para o synthpop, estilos que seduziram e captaram a alma do grupo. Canções como o single Severed, um oásis de sintetizadores cheios de batidas e efeitos cósmicos, com aquele travo punk new wave tão peculiar e o baixo e o efeito robotizado da voz e da guitarra de We All Die Young são exímias no modo como nos mostram o quanto foi feliz esta opção dos The Decemberists em sairem da sua habitual zona de conforto e divagarem por territórios a que estavam menos habituados. Para isso foram fatores decisivos dois fatores; a entrada do coletivo num novo estúdio e, principalmente, a companhia de um produtor diferente, com Tucker Martine, colaborador de longa data dos The Decemberists, a dar o lugar a John Congleton, uma referência da indie norte americana e camaleónico no modo como consegue navegar e tocar todos os extremos desse universo sonoro, muitas vezes na mesma composição. O facto de estas novas matrizes passarem para a linha da frente do processo criativo que norteou este álbum, foi uma opção bastante ponderada, algo que o vocalista Colin Meloy confirmou recentemente (When you’ve been a band for 17 years, inevitably there are habits you fall into. So our ambition this time was really just to get out of our comfort zone. That’s what prompted working with a different producer and using a different studio. We wanted to free ourselves from old patterns and give ourselves permission to try something different).

Há em I'll Be Your Girl uma capacidade subtil dos The Decemberists de incorporar um sentimento universal e quase filosófico de crença em algo novo, diferente e, por isso, substancialmente melhor. O grupo continua a manter a habitual postura quase religiosa que os carateriza, mas torna-se mais eclético, abrangente e por isso mais intenso e sedutor, com muitas das canções a refletirem sobre fé e crenças, mas também sobre o amor, o bucólico e o nostálgico. Espero que aprecies a sugestão...

The Decemberists - I'll Be Your Girl

01. Once In My Life
02. Cutting Stone
03. Severed
04. Starwatcher
05. Tripping Along
06. Your Ghost
07. Everything Is Awful
08. Sucker’s Prayer
09. We All Die Young
10. Rusalka, Rusalka / The Wild Rushes
11. I’ll Be Your Girl

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publicado por stipe07 às 21:19


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