music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Enquanto não edita um novo disco, o londrino James Blake resolveu oferecer como prenda de natal aos seus fãs, uma lindíssima versão de Vincent, um clássico da autoria do cantor norte-americano Don McLean, originalmente gravada há quarenta e seis anos anos, como homenagem ao pintor Vincent Van Gogh.
Com o original presente na banda sonora do filme Loving Vincent, lançado recentemente, esta versão de Blake teve já também direito a um vídeo, gravado em Los Angeles e dirigido por Andrew Douglas, sendo uma lindíssima canção tocada ecantada ao piano, uma reinterpretação que criou um ambiente algo intenso e emocionante, sem nunca deixar de lado a delicadeza. Confere...
Figura de proa dos míticos Long Way To Alasca, Gonçalo Alvarez acaba de estrear o seu projeto a solo no formato disco com Boavista, nove cançoes que sucedem a QUIM, o EP que este músico bracarense lançou em 2014 pela Lovers & Lollypops, a mesma etiqueta que abriga este registo. Este disco chega após uma recente participação com Castello Branco, num projeto com o nome de Mar Nenhum, colaboração proposta e promovida pela webzine Bodyspace e que contou com a participação de vários músicos lusófonos.
Gravado e produzido por Gonçalo e João Moreira e com várias participações de relevo, nomeadamente André Simão (La La La Ressonance), Filipe Azevedo (Sensible Soccers), João Moreira, João Pereira (Guilty Ones), Jorge Queijo (Torto), Pedro Oliveira (peixe : avião) e Sérgio Alves (Marta Ren), Boavista é um raio de luz e de cor que flameja com vigor no inverno cinzento e fusco que tem caraterizado os dias mais recentes. Feito com uma instrumentação diversificada que, numa mesma canção, é capaz de ir do simples dedilhar de um par de cordas até à inserção de uma miríade heterogénea de efeitos sintetizados, cruzados por sopros e percurssão de várias proveniências, Boavista é um caldeirão sonoro vivo e tremendamente comunicativo. Carrosséis, com exuberância e Lorosae, de modo mais contido, mas também contundente, mostram-nos, logo a abrir, o esplendor deste receituário estilístico, uma pop refinada, plena de charme e impressiva porque se deixa enlear quase de modo intuitivo pelas memórias que Gonçalo pretende transmitir a quem se predispuser a ser seu confidente íntimo.
O piano é também figura de proa deste sentido quadro, o rei de vários temas, como é o caso de Pianda, uma espécie de divagar soturno por aquele céu onde os sonhos ganham uma leveza irreal, mas também de Bonanza, canção onde a bateria contrasta, parecendo martelar em visões que desvendam algo misterioso e que não é deste mundo, para depois nos aconchegar em Bravo!, uma canção a conter uma acusticidade inicial um pouco sombria, mas simultaneamente festiva e onde uma viola paira delicadamente enquanto debita uma melodia pop simples e muito elegante, para depois se eletrificar sem pudor, proporcionando-nos uma assombrosa sensação de conforto. Mas é na graciosidade algo pueril de Champagna que ficamos definitivamente ofuscados pelo brilho incomensurável de um registo ímpar que não permite entrelinhas ou hesitações.
Boavista é, em suma, uma espécie de pintura sonora carregada de imagens evocativas, pintadas com melodias bastante virtuosas e arrumadas com arranjos meticulosos e lúcidos, que provam a sensibilidade do autor para expressar pura e metaforicamente a fragilidade humana. Gonçalo combina aqui, com uma perfeição raramente ouvida, a música pop com sonoridades mais progressivas e experimentais, provocando um efeito devastador e que torna este álbum numa espécie de disco híbrido perfeito. Espero que aprecies esta sugestão...
Em Are These The Questions That We Need To Ask os Paperhaus aprimoram o seu espetro sonoro, mostrando-nos um som corrosivo, hipnótico e contundente, um clarividente exemplar da habitual cartilha sonora que este coletivo da costa leste costuma guardar na sua bagagem. Há neles uma aúrea de grandiosidade indisfarçável e um notável nível de excelência no modo como conseguem ser nostálgicos e na forma como mutam a sua música e adaptam-na a um público ávido de novidades refrescantes, mas que também recordem os primórdios das primeiras audições musicais que alimentaram o nosso gosto pela música alternativa. Este projeto caminha sobre um trilho aventureiro calcetado com um experimentalismo ousado, que parece não conhecer tabus ou fronteiras e que nos guia propositadamente para um mundo onde reina uma certa megalomania e uma saudável monstruosidade agressiva, aliada a um curioso sentido de estética. Esta cuidada sujidade ruidosa que os Paperhaus produzem, concebida com justificado propósito e usando a distorção das guitarras como veículo para a catarse, é feita com uma química interessante e num ambiente simultaneamente denso e dançável, despido de exageros desnecessários, mas que busca claramente a celebração e o apoteótico.
01. Told You What To Say 02. Go Cozy 03. Nanana 04. Walk Through the Woods 05. It’s Not There 06. Needle Song 07. Serentine 08. Bismillah
Lingering é um lugar mágico para onde podemos canalizar muitos dos nossos maiores dilemas, porque tem um toque de lustro de forte pendor introspetivo, livre de constrangimentos estéticos e que nos provoca um saudável torpor, num disco que, no seu todo, contém uma atmosfera densa e pastosa, mas libertadora e esotérica. Acaba por ser um compêndio de canções que nos obriga a observar como é viver num mundo onde somos a espécie dominante e protagonista, mas também observadora de outros eventos e emoções, um trabalho experimentalista naquilo que o experimentalismo tem por génese: a mistura de coisas existentes, para a descoberta de outras novas.
01. Figures 02. The Missing Steps 03. Fainting Spell 04. Salix And His Soil 05. Lingering Eyes 06. Dissensions (Feat. Luster) 07. Limitations 08. The Sound Of His Daughter 09. The Sun Will Open Its Core 10. We Are There Together (Feat. Beth Hirsch) 11. Odd Forms 12. Vivid Dream
Com um forte cariz urbano e atual, Exit Index é um daqueles trabalhos em que há uma interligação latente entre os temas e não faz grande sentido escutá-los de forma isolada. É um disco que procura gravitar em torno de diferentes conceitos sonoros e esferas musicais, que transmitem, geralmente, sensações onde a nostalgia do nosso quotidiano facilmente se revê. Todos os temas são arrebatadores banquetes de sedução, languidez e luxúria, feitos com um indie rock sem fronteiras, desapegos ou concessões e que se servem também, em bandeja de ouro, com um forte entusiasmo lírico, certamente com o propósito de contornar todas as amarras que prendem a nossa alma e apresentar, desse modo, a notável disponibilidade dos Grooms para nos fazerem pensar, mexendo com os nossos sentimentos e tentando dar-nos pistas para uma vida mais feliz. Há neste alinhamento quase uma pueril simplicidade, que plasma uma notável capacidade de reinventar, reformular ou simplesmente replicar o que de melhor tem o indie rock psicadélico nos dias de hoje, oferecendo-nos, enquanto se vai num abrir e fechar de olhos do nostálgico ao glorioso, uma caldeirada de estilos e emoções cozinhada por mestres de um estilo sonoro carregado de um intenso charme.
01. The Directory 02. Horoscopes 03. Turn Your Body 04. Magistrate Seeks Romance 05. End 06. Dietrich 07. Softer Now 08. Some Fantasy 09. They Can Tell 10. Thimble
American Dream talvez reflita, no fundo, a realidade atual de uma América onde não existem, nos dias de hoje, muitas razões para celebrar ou motivos que inspirem à criação musical que exale, de modo evidente, a gloriosa celebração do que é viver num país que nunca se cansa de apregoar que lidera os destinos do mundo. De um modo mais particular, talvez aquele que mais interesse, ensina-nos que nunca é tarde para recomeçar, que os anos podem passar por nós, mas o nosso espírito pode manter-se amplamente jovial e criativo, mesmo que isso suceda de modo menos intuitivo, mas mais refletido, maduro e consciente. É assim, de certo modo, a melhor descrição que se pode fazer destes renovados LCD Soundsystemcomo entidade.
01. Oh Baby 02. Other Voices 03. I Used To 04. Change Yr Mind 05. How Do You Sleep? 06. Tonite 07. Call The Police 08. American Dream 09. Emotional Haircut 10. Black Screen
Disco muito desejado por todos os seguidores e não só e que quebra um longo hiato, Slowdive é um lugar mágico para onde podemos canalizar muitos dos nossos maiores dilemas, porque tem um toque de lustro de forte pendor introspetivo, livre de constrangimentos estéticos e que nos provoca um saudável torpor, num disco que, no seu todo, contém uma atmosfera densa e pastosa, mas libertadora e esotérica. Acaba por ser um compêndio de canções que nos obriga a observar como é viver num mundo onde o amor é tantas vezes protagonista, mas onde também subsistem outros eventos e emoções capazes de nos transformar positivamente.
01. Slomo 02. Star Roving 03. Don’t Know Why 04. Sugar For The Pill 05. Everyone Knows 06. No Longer Making Time 07. Go Get It 08. Falling Ashes
Somersault eleva os Beach Fossils a um novo patamar criativo, com as canções a abrigarem-se à sombra de uma filosofia estilística bastante marcada e homogéna, o que faz com que funcionem, individualmente, como vinhetas climáticas que vão servindo para marcar o ambiente e a cadência do mesmo. Mas, um dos maiores atributos do alinhamento é a quase indivisibilidade entre os temas, que podem ser apreciados como um todo, já que, liricamente, debruçando-se sobre as agruras de uma América cada vez mais confusa, garantem a formatação de uma obra de maior alcance e até, do modo como estão alinhados, engrandecem algumas canções menores. É o caso de Be Nothing, composição posicionada no final de Somersault e que, no modo como cresce e progride, além de personificar aquele grito de raiva que muitas vezes é imprescindível soltar no clímax de um instante reflexivo, acaba também por fazer uma súmula de todo o ideário, quer sentimental, quer sonoro, subjacente à intimidade que exala de toda a obra e que nos envolve de um modo muito particular.
01. This Year 02. Tangerine (Feat. Rachel Goswell) 03. Saint Ivy 04. May 1st 05. Rise (Feat. Cities Aviv) 06. Sugar 07. Closer Everywhere 08. Social Jetlag 09. Down The Line 10. Be Nothing 11. That’s All For Now
A Deeper Understanding é um trabalho que, do vintage ao contemporâneo, consegue encantar-nos e fazer-nos imergir na intimidade de um Gradunciel sereno e bucólico, através de uma viagem aos universos de Dylan e Kurt Vile, passando por Springsteen, com canções cheias de versos intimistas que flutuam livremente. É um disco simultaneamente amplo e conciso sobre as experiências pessoais do músico, mas também sobre o presente, a velhice, o isolamento, a melancolia e o cariz tantas vezes éfemero dos sentimentos, em suma, sobre a inquietação sentimental, ou seja, o existencialismo e as perceções humanas de uma América que parece ter encalhado e não saber como voltar novamente ao rumo certo.
01. Up All Night 02. Pain 03. Holding On 04. Strangest Thing 05. Knocked Down 06. Nothing To Find 07. Thinking Of A Place 08. In Chains 09. Clean Living 10. You Don’t Have To Go
Sedutor, cativante, profundamente engenhoso e com todos os atributos para ser um verdadeiro diabo vestido de anjo, John Tillman aprofunda neste seu novo trabalho, que é já, claramente, um dos melhores discos do ano, o refinado e oportuno sentido de humor que tão bem o carateriza e a sagacidade das suas letras, cada vez mais inteligentes e enigmáticas. E Father John Mistyleva a cabo esta demanda com um elevado sentido críptico e desafiante, já que não é óbvia, em alguns instantes, a descodificação célere das suas reais intenções relativamente a todos aqueles que se deixam inebriar pelos seus sermões e fazer parte de um rebanho que se assanha sempre que o pastor investe no seu tema recorrente, o amor.
1. Pure Comedy 2. Total Entertainment Forever 3. Things It Would Have Been Helpful to Know Before the Revolution 4. Ballad of the Dying Man 5. Birdie 6. Leaving LA 7. A Bigger Paper Bag 8. When the God of Love Returns There'll Be Hell to Pay 9. Smoochie 10. Two Wildly Different Perspectives 11. The Memo 12. So I'm Growing Old on Magic Mountain 13. In Twenty Years or So
Aos quarenta anos de idade, os The Feelies deslumbram intensamente pelo à vontade com que, nas várias inflexões e variações, quer de sons quer de arranjos, que colocam nas suas músicas, ainda navegam em segurança e vigor nos meandros intrincados e sinuosos de um indie rock que entre uma toada maisgrunge, progressiva e psicadélica e uma leveza pop mais intimista, nunca deixam de exalar um sedutor entusiasmo lírico, uma atmosfera amável mesmo no meio de algum fuzz constante e um clima geral luminoso, enérgico e até algo frenético, num disco que flui bem, não só porque tem um conjunto de belíssimas canções, que nos oferecem camadas sofisticadas de arranjos criativos e bonitos, mas também porque é um álbum que reforça o traço de honestidade de uma banda cada vez mais protagonista no universo sonoro em que se move.
01. In Between 02. Turn Back Time 03. Stay The Course 04. Flag Days 05. Pass The Time 06. When To Go 07. Been Replaced 08. Gone, Gone, Gone 09. Time Will Tell 10. Make It Clear 11. In Between (Reprise)
Os Ulrika Spacek levam-nos a sorrir e a abanar a anca ao som de canções que se insinuam continuamente por causa do modo algo desconexo como se vão desenvolvendo ritmíca e melodicamente, acabando este disco por ser a expressão máxima de um modo bastante textural, orgânico e imediato de criar música e de fazer dela uma forma artística privilegiada na transmissão de sensações que não deixam ninguém indiferente. Modern English Decoration atesta a segurança, o vigor e o modo criativamente superior como este grupo britânico entra em estúdio para compôr e criar um shoegaze progressivo que se firma com um arquétipo sonoro sem qualquer paralelo no universo indie e alternativo atual. O melhor disco do ano, claramente.
01. Mimi Pretend 02. Silvertonic 03. Dead Museum 04. Ziggy 05. Everything, All The Time 06. Modern English Decoration 07. Full Of Men 08. Saw A Habit Forming 09. Victorian Acid 10. Protestant Work Slump
Hang é um verdadeiro tratado sonoro carregado de emoção, cor e alegria, uma verdadeira viagem no tempo, mas também um disco intemporal na forma como plasma com elevada dose de criatividade o que de melhor recria atualmente o vintage. MasHang também aponta caminhos para o futuro não só da dupla, como de todo um género musical que não se deve esgotar apenas na recriação de algumas das referências fundamentais do passado, mas também subsistir numa demanda constante por algo genuíno e que depois sirva de modelo e de referencial sonoro. O modo como o misticismo exótico dos Foxygen recria a música de outrora, faz já deles um modelo a seguir para outros projetos que queiram trilhar este caminho sinuoso e claramente aditivo, principalmente pelo modo como, não só neste disco, mas mesmo em cada música, conseguem ser transversais e estabelecer pontes entre o passado e o futuro.
01. Follow the Leader 02. Avalon 03. Mrs. Adams 04. America 05. On Lankershim 06. Upon a Hill 07. Trauma 08. Rise Up
Lotta Sea Lice é um exercício de aceitação plena por parte dos autores de um estado de consciência sobre uma vida que ambos saboreiam em constante rebuliço, mas constante no modo como lidam com os diferentes sentimentos e emoções estejam em que local do mundo estiverem. É, em suma, um conjunto de canções que mostram dois seres humanos profundamente reflexivos, mas também auto confiantes e que servem-se da viola e da guitarra, seus fiéis companheiros nestas jornadas únicas e sentimentais sobre as vidas de dois músicos transportadas para uma contemporaneidade cheia de encruzilhadas e dilemas.
01. Over Everything 02. Let It Go 03. Fear Is Like A Forest 04. Outta the Woodwork 05. Continental Breakfast 06. On Script 07. Blue Cheese 08. Peepin’ Tom 09. Untogether
Edifício sonoro brilhante e cheio de vida e cor, Orc possibilita aosOh Seesatravessarem novamente as barreiras do tempo e manterem-se, ao mesmo tempo, joviais e coerentes. Para delírio dos fiéis seguidores, o grupo mantém intata a sua insana cartilha de garage folk e rock blues com uma capacidade inventiva que se pronuncia instantaneamente, através de um desejo inato de proporcionar o habitual encantamento sem o natural desgaste da contínua replicação do óbvio. A verdade é que o som deste grupo é, cada vez mais, uma espécie de roleta russa e um caldeirão de originalidade, que acaba por transportar o ouvinte para uma espécie de bad trip musical, através de um veículo sonoro que se move através de uma sucessão de loopings bizarros, mas ainda assim dançantes.
01. The Static God 02. Nite Expo 03. Animated Violence 04. Keys to the Castle 05. Jettisoned 06. Cadaver Dog 07. Paranoise 08. Cooling Tower 09. Drowned Beast 10. Raw Optics
Álbum desafiante porque só revela todo o seu potencial instrumental e todos os detalhes e nuances que o trespassam após repetidas audições, Painted Ruins é uma verdadeira obra de arte por isso e porque mantém acesa a chama algo angustiante e nebulosa de uns Grizzly Bear que mais do que se preocuparem em agradar ao mainstream e à radiofonia, preferem estar na linha da frente daqueles que compõem com o firme propósito de deixar algo que marque e exercite a mente de quem aceita ouvir e deliciar-se com os seus sermões.
01. Wasted Acres 02. Mourning Sound 03. Four Cypresses 04. Three Rings 05. Losing All Sense 06. Aquarian 07. Cut-Out 08. Glass Hillside 09. Neighbors 10. Systole 11. Sky Took Hold
Nada subtil, confiante, decidido e até, em certos momentos, algo descarado, Hadreas renova em No Shape o seu firme propósito de utilizar a música não apenas como um veículo de manifestação artística, mas, principalmente, como um refúgio explícito para uma narrativa que, sendo feita quase sempre na primeira pessoa, materializa o desejo de alguém que já confessou não conseguir fazer música se ela não falar sobre si próprio e que amiúde admite guardar ainda muitos segredos dentro de si. Se nos apraz partir nesta viagem de descoberta da mente de um homem cheio de particularidades, devemos estar também imbuídos da consciência de que temos, com igual respeito e apreço, de conhecer o lado mais obscuro da sua personalidade, um verdadeiro manancial que se em alguns provoca um sentimento de repulsa, noutros causa uma atração intensa, como se o uso da dor para transformar a intimidade de alguém em algo universal fosse afinal uma das estratégias mais bem sucedidas de abordar de modo genuíno as relações e a fragilidade humana. No Shape lança os holofotes não só sobre Mike, mas também sobre nós próprios, já que ajuda ao contacto e à tomada de consciência de muito do que guardamos dentro de nós e tantas vezes nos recusamos a aceitar e passamos a vida inteira a renegar.
01. Otherside 02. Slip Away 03. Just Like Love 04. Go Ahead 05. Valley 06. Wreath 07. Every Night 08. Choir 09. Die 4 You 10. Sides 11. Braid 12. Run Me Through 13. Alan
Com uma sonoridade cada vez mais sóbria e adulta, Lucy e Tashaki criaram em The Dream um catálogo sonoro envolvente, climático e tocado pela melancolia, através de uma instrumentação que tem como pano de fundo essencial o clássico rock abarcado pela típica herança da América do Norte, que serve-se de guitarras sobriamente eletrificadas e distorcidas para obter uma mistura sem fronteiras definidas, entre esse grande universo sonoro e o blues, a folk, e, implicitamente, alguns pilares fundamentais da eletrónica ambiental. É, em suma, um compêndio sonoro que surpreende pelo bom gosto como apresenta de forma sombria e introspetiva, mas superiormente frágil e sedutora, a visão dosTashaki Miyaki sobre alguns temas que sempre tocaram a dupla, mas, principalmente, pela forma madura e sincera como tentam conquistar o coração de quem os escuta com melodias doces e que despertam sentimentos que muitas vezes são apenas visíveis numa cavidade anteriormente desabitada e irrevogavelmente desconhecida do nosso ser.
01. L.A.P.D. Prelude 02. City 03. Girls On T.V. 04. Out Of My Head 05. Anyone But You 06. Cool Runnings 07. Tell Me 08. Facts Of Life 09. Keep Me In Mind 10. Get It Right 11. Somethin Is Better Than Nothin 12. L.A.P.D. Finale 13. L.A.P.D.
Sempre encantadores, aditivos e simultaneamente amplos e grandiosos e detalhados e impressivos no modo como falam e cantam sobre o amor, no fundo a grande força motriz de toda a pafernália de sensações e acontecimentos que fui descrevendo até aqui, os Elbow provam em Little Fictions que estão num elevado e excitante momento criativo e intactos e genuínos a expôr-se e a desarmar-nos. Afirmo-o convictamente porque este disco tem alguns momentos que, sendo devidamente absorvidos, não deixarão de nos provocar aquelas reações físicas que muitas vezes tentamos refrear, porque há quem considere que a cena dos sentimentalismos, do sorriso sem razão aparente e das lágrimas felizes ou infelizes (e aqui há as duas possibilidades) é só para os fracos de coração e de espírito.
01. Magnificent (She Says) 02. Gentle Storm 03. Trust The Sun 04. All Disco 05. Head For Supplies 06. Firebrand And Angel 07. K2 08. Montparnasse 09. Little Fictions 10. Kindling
Sun Bridge é um disco que não nos dá tempo para recuperar o fôlego, porque são imensos os momentos que proporcionam prazer, conforto e admiração durante a sua escuta. É um trabalho para ser ouvido e contemplado, um alinhamento onde há momentos animados e luminosos, mas também instantes de pausa, de sossego e melancolia, esta, muitas vezes, quase absurda. Tal sofreguidão deve-se, em suma, à consistência com que, música após música, somos confrontados e confortados por melodias maravilhosamente irresistiveis e ternurentas.
01. Early Rivers 02. Everything At The End Of Everything 03. Destination Memory 04. Don’t Listen To Your Heart 05. None In A Million 06. William Campbell 07. Curtain Calls 08. New Sun 09. Wintersweet 10. Relive
Write In é outro clímax de todo o ideário processual que timbra o som identitário dos Happyness, que nos oferecem um álbum que, sendo um belo psicoativo sentimental, encarna uma viagem até à gloriosa época do rock independente, sem rodeios, medos ou concessões, proporcionada por uma banda com um espírito aberto e criativo e atravessada por um certo transe libidinoso.
01. Falling Down 02. The Reel Starts Again (Man As Ostrich) 03. HAnytime 04. Through Windows 05. Uptrend / Style Raids 06. Bigger Glass Less Full 07. Victor Lazarros Heart 08. Anna, Lisa Calls 09. The C Is A B A G 10. Tunnel Vision On Your Part
Já com um acervo único e peculiar e que resulta da consciência que os músicos que compôem este coletivo têm das transformações que abastecem a música psicadélica atual, os POND são umbilicalmente responsáveis por praticamente tudo aquilo que move e se move neste género e já se assumiram como referências essenciais para tantos outros. Querendo estar mais perto do grande público e serem comercialmente mais acessíveis, nesta parada psicotrópica explicitamente aberta ao experimentalismo que é The Weather, além de não colocarem em causa a sua própria integridade sonora ou descurarem a essência do projeto, propôem mais um tratado de natureza hermética e não se cansando de quebrar todas as regras e até de desafiar as mais elementares do bom senso que, no campo musical, quase exigem que se mantenha intocável a excelência, conseguem conquistar novas plateias com distinção. Os POND sabem como impressionar pelo arrojo e mesmo que incomodem em determinados instantes da audição, mostram-se geniais no modo como dão vida a mais um excelente tratado sonoro do melhor revivalismo que se escuta atualmente relativamente aorock psicadélico do século passado.
01. 30000 Megatons 02. Sweep Me Off My Feet 03. Paint Me Silver 04. Colder Than Ice 05. Edge Of The World, Pt. 1 06. A / B 07. Zen Automaton 08. All I Want For Xmas (Is A Tascam 388) 09. Edge Of The World, Pt. 2 10. The Weather
Uma das bandas fundamentais do cenário indie das duas últimas décadas são, com toda a justiça, os britânicos Elbow de Guy Garvey, uma banda natural de uma pequena localidade inglesa chamada Salford e de regresso aos discos com um Best Of, uma excleente súmula de todo o trabalho discográfico de um grupo honesto, coeso e com uma fleuma muito própria e sua, que tarda em obter no panorama internacional o mesmo reconhecimento que já tem, como projeto de topo, em terras de sua majestade.
Donos de um som épico, eloquente e que exige dedicação, os Elbow têm em quase duas décadas de carreira verbalizado sonoramente uma necessidade quase biológica de nos elucidar como enfrentar a habitual ressaca emocional que os normais eventos de uma vida em sociedade provocam no equilíbrio emocional de qualquer mortal, razão pela qual são um daqueles grupos com os quais tanta gente acaba por se identificar, principalmente quem, de modo mais ou menos devoto, vai procurando destrinçar a escrita apurada de Garvey.
Mostrando-se, de álbum para álbum, cada vez mais maduros e sempre a fazerem questão de serem profundos e poéticos na hora de cantar a vida, mesmo que ela tenha menos altos que baixos, como quem precisa de viver um período menos positivo e de quebrar para voltar a unir, este quinteto manteve sempre uma sonoridade elaborada que terá tido talvez o momento mais alto da carreira no maravilhoso The Seldom Seen Kid (2008), apesar do extraordinário conteúdo do último compêndio de originais, o Little Fictions, editado a dois de fevereiro deste ano.
Na verdade, os Elbow acertaram sempre, trabalho após trabalho e conseguiram neste Best Of um alinhamento bonito e emotivo, cheio de sentimentos que refletem não só os ditos desabafos de Garvey, mas também a forma como ele entende o mundo hoje e as rápidas mudanças que sucedem, onde parece não haver tempo para cada um de nós parar e refletir um pouco sobre o seu momento e o que pode alterar, procurar, ou lutar por, para ser um pouco mais feliz. Canções como a optimista e orquestral Magnificient (She Says), a luminosidade intimista e charmosa de Mirrorball, a cândura arrebatadora que transborda da emotivaMy Sad Captains ou a sedutora reflexão acerca de uma infância que nunca termina, plasmada em Lippy Kids, constituem a banda sonora ideal para essa paragem momentânea, que para todos nós deveria ser obrigatória e que pode muito bem servir-se deste Best Of, deixando-o ali a tocar, a meio volume e em pano de fundo.
Sempre encantadores, aditivos e simultaneamente amplos e grandiosos e detalhados e impressivos no modo como falam e cantam sobre o amor, no fundo a grande força motriz de toda a pafernália de sensações e acontecimentos que fui descrevendo até aqui, os Elbow provam nesta súmula da sua maravilhosa carreira que possuem uma elevada e excitante veia criativa intacta e genuína a expôr-nos e a desarmar-nos. São, claramente, uma daquelas bandas capazes de criar momentos que, sendo devidamente absorvidos, não deixam de nos provocar aquelas reações físicas que muitas vezes tentamos refrear, porque há quem considere que a cena dos sentimentalismos, do sorriso sem razão aparente e das lágrimas felizes ou infelizes (e aqui há as duas possibilidades) são só para os fracos de coração e de espírito. Quanto a mim, o verdadeiro e o mais recompensador é exatamente o contrário e aqueles que se expôem assim, é que são os fortes... E a música dos Elbow, disco após disco, tem-me ajudado a perceber nas últimas duas décadas como cimentar e vivenciar esta minha certeza, da qual não me envergonho minimamente. Espero que aprecies a sugestão...
CD 1 01. Grounds For Divorce 02. Magnificent (She Says) 03. Lippy Kids 04. One Day Like This 05. The Bones Of You 06. My Sad Captains 07. Leaders Of The Free World 08. Mirrorball 09. Fugitive Motel 10. New York Morning 11. Great Expectations 12. The Birds 13. Scattered Black And Whites 14. Golden Slumbers
CD 2 01. Any Day Now 02. Fly Boy Blue / Lunette 03. Weather To Fly 04. Station Approach 05. Switching Off 06. Little Fictions 07. This Blue World 08. Kindling (Fickle Flame) (Feat. John Grant) 09. Newborn 10. The Night Will Always Win 11. Starlings 12. Puncture Repair 13. The Loneliness Of A Tower Crane Driver 14. Dear Friends
Muito em breve as suecas First Aid Kit editam Ruins, o seu novo álbum. O disco irá ver a luz do dia a dezoito de janeiro próximo e dele já se conhecem os temas It's A Shame, Postcard e Fireworks.
Entretanto a dupla deu um salto aos estúdios da BBC para gravar ao vivo alguns temas, dois deles alusivos ao Natal. Um deles é uma versão de Perfect Places, um original de Lorde com o qual o artista termina o seu clássico álbum Melodrama e o outro Have Yourself A Merry Little Christmas, uma das canções mais conhecidas desta época e que surgiu pela primeira vez em 1944 no filme de Judy Garland, Meet Me In St. Louis. Em ambas as composições a instrumentação tem como pano de fundo a música folk e a herança da América do Norte relativamente a esse espetro sonoro, sendo audível a procura daquela sonoridade intimista e reservada que nesta época do ano tão bem sabe contemplar. Confere...
Com o aproximar do Natal é usual haverem alguns lançamentos discográficos alusivos à época e Tom Chaplin, vocalista dos Keane, acabou por aderir a esta tendência com Twelve Tales Of Christmas, um alinhamento de doze canções, oito temas originais e quatro versões, os clássicos Walking In The Air de Howard Blake e River de Joni Mitchell e ainda uma versão para 2000 Miles dos The Pretenders e Stay Another Daydos East 17. Produzido por David Kosten e gravado nos míticos Abbey Road e ainda em Muttley Ranch e nos Snap Studios, este disco sucede ao seu aclamado registo de estreia, um trabalho intitulado The Wave, que viu a luz do dia há pouco mais de um ano, com enorme sucesso, em particular no Reino Unido.
O Natal é a época do ano preferida de Chaplin que guarda memórias frutuosas da sua infância relativamente a esta efeméride. O músico confessa que nos anos mais recentes foi perdendo alguma da magia do natal, também por causa dos problemas pessoais por que passou na última década, mas que o simples facto de poder estar com a família nesta altura sempre o ajudou a despertar algumas das melhores memórias que guarda dentro de si relativamente ao Natal. E este Twelve Tales Of Christmas acaba por refeletir um pouco isso, já que é um daqueles registos de Natal ideais para serem escutados em família ou num grupo de amigos, servindo de banda-sonora da noite mais especial do ano. Canções como Under A Million Lights ou Midnight Mass ou a magnificiência da versão dos The Pretenders contêm essa virtude do apelo à união e à cantoria em uníssono e captam na perfeição a essência de uma época que se pretende que seja alegre e festiva. E a voz de Chaplin, quando acompanhada por efeitos etéreos e arranjos delicados, acaba por criar sempre uma atmosfera muito bonita e envolvente.
Twelve Tales Of Christmas é um aconchegante compêndio sonoro, perfeito para tocar naquela pausa entre o levantar das espinhas do bacalhau da mesa e a ascensão do leite creme ao primeiro plano da mesma, com uma elevada toada nostálgica e uma luminosidade muito peculiar. Contém canções por natureza otimistas, compostas por um intérprete num estágio superior de sapiência que se coloca à boleia de arranjos tensos, dramáticos e melódicos e assim nos conta histórias sobre uma época única, de união e partilha, sem mostrar um superior pretensiosismo ou tiques desnecessários de superioridade. Espero que aprecies a sugestão...
01. Walking In The Air 02. Midnight Mass 03. 2000 Miles 04. Under A Million Lights 05. River 06. London Lights 07. We Remember You This Christmas 08. Stay Another Day 09. For The Lost 10. Another Lonely Christmas 11. Follow My Heart 12. Say Goodbye
Com mais de meio século de carreira e um fantástico clássico editado nos nos sessenta intitulado The Nightmare of J. B. Stanislas, Nick Garrie ainda anda por aí a compôr músicas pop românticas e melodiosas e a influenciar nomes tão essenciais como os Teenage Fanclub, Wilco, Camera Obscura, The Trembling Bells, Ladybug Transistor e BMX Bandits, entre outros. Em 2009, Nick Garrie editou um novo disco, 49 Arlington Gardens e o mundo constatou que nenhum dos seus talentos tinha desaparecido após estes anos todos e agora, quase no ocaso de 2017, há um novo alinhamento do músico, por sinal de grande e rara beleza. Intitula-se The Moon And The Villagee mostra um Nick Garrie mais introspectivo e em clara reflexão.
Tendo por base instrumental a viola e as teclas, assim como outros instrumentos de forte pendor orgânico, nomeadamente o piano e o violino, as onze canções de The Moon And The Villagetransmitem sentimentos e emoções com uma crueza e uma profundidade simultaneamente vigorosas e profundas. Os arranjos que sustentam o trabalho primam por um salutar minimalismo que tem sempre a folk na mira, incubando da mente incansável de um músico maduro e capaz de nos fazer despertar com um simples dedilhar de cordas aquelas recordações que guardamos no canto mais recôndito do nosso íntimo e que em tempos nos proporcionaram momentos reais e concretos de verdadeira e sentida felicidade, ou, no sentido oposto, de angústia e depressão e a necessitarem de urgente exercicío de exorcização para que consigamos seguir em frente.
Canções como a contemplativa Lois' Diary ou a mais impressiva homónima são bons exemplos do modo como Garrie é capaz de nos colocar a olhar o sol de frente com um enorme sorriso nos lábios, mas a inebriante e àspera Boy Soldier ou a delicada Music From A Broken Violin também desafiam o nosso lado mais sombrio e os nossos maiores fantasmas, algo que é ampliado no convite que o músico nos endereça à consciência do estado atual do nosso lado mais carnal em Bacardi Samuel e no desarme total que torna inerte o lado mais humano do nosso peito na realista e racional Got You On My Mind.
The Moon And The Village é alma e emoção, um documento sonoro que nos ajuda a mapear as nossas memórias e ensina-nos a cruzar os labirintos que sustentam todas as recordações que temos guardadas, para que possamos pegar naquelas que nos fazem bem, sempre que nos apetecer. Basta deixarmo-nos levar pelos sussurros do autor, para sermos automaticamente confrontados com a nossa natureza, à boleia de uma sensação curiosa e reconfortante, que transforma-se, em alguns instantes, numa experiência ímpar e de ascenção plena a um estágio superior de letargia. Espero que aprecies a sugestão...
Pouco mais de quatro anos depois de um homónimo, a dupla norte-americana MGMT formada por Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser, está prestes a regressar aos discos com Little Dark Age, o quarto trabalho destes já veteranos do indie rock psicadélico, que desde o espetacular disco de estreia Oracular Spectacular nos habituaram a uma espécie de rock psicadélico algures entre os Pink Floyd das décadas de sessenta e setenta e uns mais contemporâneos Flaming Lips, mas também com os olhos e ouvidos postos em projetos mais atuais e até, de algum modo, concorrentes, nomeadamente os Tame Impala ou os Animal Collective.
Depois do ambiente sonoro algo cinzento e eminentemente sintético de Little Dark Age, a canção homónima do trabalho, divulgada em outubro último, When You Die é o mais recente tema conhecido do registo, uma canção com uma toada mais luminosa e cheia de sons poderosos adornados por sintetizadores flutuantes e com direito a um video bastante curioso. Protagonizado por Alex Karpovsky e Lucy Kaminski mostra um mágico que dia apósdia repete a sua paresentação num bar, uma cena que dia após dia se torna numa experiência verdadeiramente surreal. Confere..
Depois de ter editado dois álbuns no espaço de um ano, o norte-americano Moby continua bastante ativo e prepara-se para lançar mais um alinhamento de canções no início de 2018.
O novo álbum do músico, produtor e compositor nova iorquino irá chamar-se Everything Was Beautiful, And Nothing Hurt e dele já se conhece o primeiro single. É uma canção intitulada Like A Motherless Child e que apalpa terrenos onde o rock de cariz mais experimental e progressivo é rei, mas também onde não falta um clima melancólico que dá um aspecto algo sombrio à música, o que combina bem com a escolha do intérprete, um especialista na replicação de ambientes mais negros. Confere...