man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Dear Telephone - Cut
Inspirados pela curta metragem de Peter Greenway intitulada Dear Phone, realizada em 1976, os Dear Telephone vêem de Barcelos e formaram-se há pouco mais de meia década, tendo na sua formação gente que nos tem sempre mostrado, em todos os projectos em que se envolvem, uma inegável qualidade enquanto músicos e que provam que na música se pode fazer sempre algo de inovador e diferente daquilo que o mainstream habitualmente nos oferece. Falo de Graciela Coelho, André Simão, Pedro Oliveira e Ricardo Cibrão, os membros deste grupo obrigatório no panorama sonoro contemporâneo indie nacional. Em março de 2011 os Dear Telephone estrearam-se com o EP Birth Of A Robot, um conjunto de canções com uma abordagem sonora algo crua, intimista e minimalista e que foi muito bem recebido pela crítica e apresentado ao vivo em algumas das mais importantes salas de espetáculos do país. Mas também chegaram ecos desse EP ao estrangeiro, com os Dear Telephone a fornecerem um tema para a banda sonora do filme brasileiro Contramão de Fabio Menezes e a representarem Portugal em agosto desse ano no evento Music Alliance Pact. Dois anos depois, em 2013, estrearam-se no formato longa-duração com Taxi Ballad, um disco onde mergulharam sem concessões no assumido fascínio pelo quotidiano e suas contradições, no discurso directo e desconcertante das personagens que as vozes encarnam e numa instrumentação dura e sem artifícios. Agora, quase no ocaso de 2017, o grupo minhoto está de regresso aos discos com Cut, um compêndio com nove canções alicerçadas em diferentes linguagens e esferas de influência sonora, um disco que experimenta a pop e pisca o olho ao rock, sempre com mestria e com os ingredientes certos.
No simultaneamente envolvente e enigmático clima cinematográfico do efeito da guitarra que sustenta Fur e no modo como em Slit é piscado o olho ao rock, num formato eminentemente blues, com mestria e com os ingredientes certos, dos quais se destacam essa tal guitarra que agora se entranha, de forma sofisticada, inteligente a até corajosa, banda e ouvinte entram logo em comunhão íntima, conduzidos por este dois trunfos jogados para cima da mesa pelos primeiros que obrigam, forçosamente, os segundos, naturalmente mais incautos, a conferir o disco até ao fim e, desse modo, a perceberem rapidamente que essa opção algo instintiva acabou por ser tremendamente recompensada.
O compasso firme da bateria de Automatic e o modo como nesse tema essa habilidade percurssiva é acompanhada pela guitarra e por um efeito sintetizado inebriante, a luminosidade optimista e sorridente que transborda de todos os poros do single homónimo Cut e o pendor mais reflexivo e indutor, mas algo psicadélico, de Nighthawks, são outros três exemplos do modo sublime como este álbum nos proporciona uma mistura criativa de ritmos que ao início pode soar algo estranha, mas que com o tempo descobre um delicioso ponto de equilíbrio, com o prazer da audição deste registo a crescer e a entranhar-se sem exigir grande esforço.
Em Cut há uma aparente mas consciente indecisão estilística entre um lado mais pop e radiofónico e outro mais progressivo e lisérgico, um certo assumir de um risco que, por neste caso ter resultado, acaba por ser a maior mais valia de um álbum que finta alguns dos habituais cânones da pop nacional, sem deixar de apresentar temas com instantes melódicos particularmente soporíferos e aditivos e outros que poderão ter um invejável airplay no próprio inconsciente de cada um de nós, ou seja, este é um exemplo típico daquele tipo de discos que muitas vezes sentimos necessidade de ouvir sem motivo aparente, mas com acerteza que esse ato será objeto do maior usufruto. Espero que aprecies a sugestão...