man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Everything Everything - A Fever Dream
A Fever Dream é o nome do novo disco dos britânicos Everything Everything, o quarto registo de originais desta banda oriunda de Manchester e que sucede ao aclamado Get to Heaven, o álbum que o quarteto lançou há cerca de dois anos. Depois de terem trabalhado em Get To Heaven com o consagrado Stuart Price (Kylie Minogue, The Killers e Scissor Sisters), neste A Fever Dream contaram, na gravação e produção, com a ajuda de James Ford, habitual colaborador de bandas como os Arctic Monkeys, Depeche Mode ou os Foals.
Desde 2010 que os Everything Everything abordam a condição humana contemporânea e a espécie de miserabilismo que se tem apoderado de um ocidente onde recentemente o brexit, a mudança política no outro lado do atlântico e o terrorismo são eventos algo traumáticos e que marcam negativamente uma realidade fortemente competitiva, frenética e até egoísta para cada entidade individual que luta por um lugar ao sol. Em suma, os Everything Everything têm sabido estar sintonizados com o absurdo sociológico e político dos nossos tempos, numa carreira bastante marcada por momentos de profunda reflexão sobre aquilo que os rodeia e agora fazem-no novamente, de modo ainda mais incisivo e abrigados numa pop hiperativa e fortemente sintetizada, a filosofia sonora fundamental que sustenta este A Fever Dream, onze canções que mostram o quanto o nosso mundo se parece cada vez mais, na óptica do grupo, um lugar pouco convidativo e demasiado instável, porque está repleto de aramadilhas e ziguezagues. A título de exemplo, se a saída do Reino Unido da União Europeia e o aumento da xenofobia nesse país são retratados em Put Me Together, já Big Game aborda os perigos da propensão humana para o autoritarismo e para o individualismo compulsivos, com ambas as canções a constituirem-se como dois bons exemplos do foco que o grupo coloca nestas questões existenciais.
Os Everything Everything sempre procuram replicar um som intuitivo, mas que também fosse desafiante. E Se Get To Heaven foi, logo à partida, um trabalho brilhante no modo como demorava a entrar no âmago dos fãs, em A Fever Dream a digestão do conteúdo sonoro parece ser mais acessível, mas sem quebrar o encanto que se sente sempre que um alinhamento nos faz o convite inconsciente e viciante para uma nova audição. Esta permissa já ficou de algum modo explícita quando há algumas semanas foi divulgado Can't Do, o single de apresentação, uma canção que piscando o olho a um vasto leque de influências que vão da dream pop ao rock progressivo, passando pela eletrónica e o indie rock contemporâneo, plasma um refinado e cuidadoso processo de corte e costura de todo o espetro musical que seduz o grupo. Tematicamente, é um tema que, de acordo com Jonathan Higgs, o líder dos Everything Everything, pretende alertar as consciência para a noção de normalidade, porque, de acordo com ele, esse é um conceito que ninguém sabe definir com exatidão e, por isso, nenhuma entidade ou indíviduo se pode apropriar do mesmo e apresentar-se como tal e as outras canções confirmam a impressão inicial que o tema causou. A distorção abrasiva da guitarra e as várias nuances rítmicas de Ivory Tower ou o modo como em Run The Numbers passamos, numa fração de segundos, de uma atmosfera contemplativa para um rodopio eletrificado carimbam este modo apenas aparentemente irrefletido de compôr, numa espécie de anarquia minuciosamente planeada que no tema homónimo ganha uma dimensão única devido a um piano cheio de solenidade acompanhado por uma electrónica explosiva feita de beats vincados e o falsete único de Higgs, também extraordinário a refletir uma vincado humor negro à medida que acompanha os sintetizadores de Night Of The Long Knives.
Disco indutor, frenético e provocante, A Fever Dream é um passo seguro e maduro dos Everything Everything rumo ao estrelato, um agregado interessante e improvável de análise psicológica e sociológica do estado atual do mundo, mas que pode sempre encontrar algum conforto e até, quem sabe, a esperada redenção e salvação nas pistas de dança nele espalhadas. Talvez possa ser a música o elemento conciliador e libertador das civilizações e os Everything Everything parecem querer voluntariar-se para levar a cabo essa cruzada inolvidável. Espero que aprecies a sugestão...
01. Night Of The Long Knives
02. Can’t Do
03. Desire
04. Big Game
05. Good Shot, Good Soldier
06. Run The Numbers
07. Put Me Together
08. A Fever Dream
09. Ivory Tower
10. New Deep
11. White Whale