man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Cigarettes After Sex – Cigarettes After Sex
Oriundos de El Paso, no Texas, os norte americanos Cigarettes After Sex são uma das novas coqueluches da indie pop de cariz mais ambiental. Passaram por cá há poucos dias pelo Vodafone Primavera Sound, num concerto que apanhou muitos espectadores deprevenidos, mas que deixou logo impressa a marca indistinta de uma banda que se baptizou com felicidade, já que compôe com todos os sentidos apontados à alcova, criando temas que tanto servem para o jogo de sedução, como para (traduzindo à letra) aquele cigarro que muitos gostam de queimar depois do coito.
Liderados por Greg Gonzalez, ao qual se juntam Jacob Tomsky, Phillip Tubbs e Randy Miller, os Cigarettes After Sex abrigam a sua filosofia estilística numa sonoridade simples e nebulosa, mas bastante melódica e etérea. Os temas arrastam-se com complacência e sem pressas, espraiando-se no tempo certo, envoltos por cordas de forte pendor acústico e orgânico e muitas vezes com uma subtil vibração metálica particularmente charmosa, mas também em redor de sintetizadores assertivos e guitarras com efeitos recheados de eco, nuances que fazem sobressair a aura melancólica e mágica de um projeto que também vive da voz doce e algo andrógena de Greg.
Logo na viola e nas teclas de K., canção que abre o disco homónimo destes Cigarettes After Sex e o motivo desta análise crítica, encontra-se muito presente a marca da tal indie pop contemporânea, mas com traços de shoegaze, que tem vivido suportada pela mestria na simbiose minimal entre alguns detalhes típicos do melancólico rock oitocentista e a sensualidade onírica do melhor r&b e da eletrónica ambiental. Se projetos como os Beach House pendem um pouco a balança para o primeiro lado e os The XX para o segundo, só para citar dois entre tantos outros exemplos, estes Cigarettes After Sex equilibram-se no meio dos dois pratos, muitas vezes com uma fragilidade que chega a ser comovente. Prova disso está no modo como na brisa etérea de Each Time You Fall In Love pretendem ensinar-nos a lidar com o aparecimento desse estranho sentimento chamado amor nos nosssos corações, e como na batida de Sunsetz e nos efeitos sintéticos que rodeiam esse tema colocam em prática essa alternância contínua e quase impercetível entre diferentes estilos e com uma dose de experimentalismo bastante vincada, sendo comum o timbre de uma corda ou o flash de um botão divagarem, de mãos dadas, na mesma direção melódica.
Um dos instantes particularmente encantadores deste álbum acaba por ser Flash, canção onde um efeito de guitarra ecoante e onírico, uma batida sincopada e o timbre doce de Greg que a acompanha, nos esclarecem que se saborearmos condignamente este álbum, só nos resta deixarmos a nossa mente e o nosso espírito irem à boleia desta proposta estética assente num clima abstrato e meditativo, presente em praticamente todo o trabalho, mas com um impacto verdadeiramente colossal e marcante. Depois, em Opera House, no arrastar do ritmo da bateria quase até ao infinito e no esoterismo do efeitos de uma guitarra que marca o traço melódico do tema, contemplamos mais dois aspetos marcantes deste alinhamento e percebemos como, apesar do minimalismo constante, todos os detalhes mais eletrificados que nos vão surgindo, nesta e noutras canções, nunca defraudam o ambiente contemplativo fortemente consistente do trabalho. O efeito da guitarra no single Truly e, paralelamente, o aparecimento da bateria, um pouco mais afoita, além de consolidar essa impressão conceptual, mostra o modo exímio como o quarteto consegue que as texturas e as atmosferas que criam, transitem, muitas vezes, entre a euforia e o sossego, de modo quase sempre impercetível, mas que inquieta todos os poros do nosso lado mais sentimental e espiritual.
Há nos Cigarettes After Sex um assomo de elegância contida, mas que não esconde um consciente exibicionismo de uma banda que é dona e senhora de uma superior sapiência melódica. Os floreados percussivos, os acordes a transbordar de cândura, mas épicos e deslumbrantes, e algumas belíssimas letras entrelaçadas com melodias minuciosamente construídas com diversas camadas de instrumentos, fazem com que seja atraente e hipnotizadora esta estranha escuridão interestelar mas marcadamente soul que, mesmo no caso de John Wayne, sendo cantada em jeito de lamúria ou desabafo, nunca deixa de encarnar um notório marco de libertação. Espero que aprecies a sugestão...
01. K.
02. Each Time You Fall In Love
03. Sunsetz
04. Apocalypse
05. Flash
06. Sweet
07. Opera House
08. Truly
09. John Wayne
10. Young And Dumb