man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Joana Barra Vaz - Mergulho em Loba
Quando no início do passado mês de setembro foi divulgado o tema Tanto Faz, ficou logo bem patente a enorme emotividade, charme e bom gosto de Mergulho Em Loba, o novo disco de Joana Barra Vaz. Contando com a participação especial vocal de Selma Uamusse na voz, a meias com Joana, uma colaboração que surgiu de uma estreita afinidade entre ambas, essa canção foi, portanto, uma excelente porta de entrada para um alinhamento com mais sete temas e que é mais um capítulo da trilogia f l u m e iniciada com Passeio Pelo Trilho (Ed. Azáfama 2012).
Na música de Joana Barra Voz tudo é cor, alegria e movimento. O modo como ela se comunica connosco corporalmente, não só através da voz mas também da expressividade com que se embrenha nas diferentes personagens que parecem levitar nas suas canções, fazem desta artista um caso sui generis no panorama musical nacional contemporâneo. Nela, como esse single nos mostra, há muito de uma África que imprimiu no nosso adn traços que nunca se extinguirão, mas basta ouvir as cordas que lacrimejam em Margem de Lá para também se entender como Joana transporta no seu âmago muito daquele melancólico virtuosismo lusitano, decalcado séculos a fios por uma ancestralidade escrita a granito e terra preta. Suite I, a curiosa agregação de composições que abre o disco, acaba por concretizar toda esta mistura que, no fundo, é a síntese identitária deste pequeno retângulo, tão rico em multiculturalidade, luz, alegria e esperança, mas também ainda tão impregnado de tudo aquilo que de bom e menos bom têm a bonomia, o cinzentismo, o desânimo fácil e aquela ideia de fatalismo irracional que tantas vezes nos diz presente.
Personificando um universo bucólico bastante impressivo e sentimentalmente rico, Mergulho em Loba presenteia-nos com uma espécie de súmula de toda uma amálgama de elementos e referências sonoras, como se todo o arsenal instrumental que Joana Barra Vaz utilizou servisse para, no momento certo, assim como uma linha de costura, unir pedaços separados e que precisavam de ser agregados. São oito peças sonoras que nos embalam num casulo de seda, criadas por uma virtuosa que possui uma soul claramente envolvente e uma espiritualidade invulgarmente quente, mas também reflexiva.
Mergulho em Loba foi gravado por Bernardo Barata, que foi assistido por Diogo Rodrigues nos Estudios Iá, Luís Nunes e Joana Barra Vaz na SMUP e conta com a participação dos músicos David Pires (Bateria, Arranjos ritmo e sopros, coro), Ricardo Jacinto (Violoncelo), David Santos (Baixo eléctrico), Ana Nagy (Coros), Mário Amândio (Trombone) e Gabriel Correia (Trompa), tendo sido composto, arranjado, e produzido pela própria Joana Barra Vaz, co-produzido por Luís Nunes e misturado por Tiago Sousa. Espero que aprecies a sugestão...
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Alt-J (∆) – In Cold Blood
Gwil Sainsbury, Joe Newman, Gus Unger-Hamilton e Thom Green conheceram-se na Universidade de Leeds em 2007. Gus estudava literatura inglesa e os outros três belas artes. No segundo ano de estudos, Joe tocou para Gwil várias canções que criou, com a ajuda da guitarra do pai e de alguns alucinogéneos; Gwil apreciou aquilo que ouviu e a dupla gravou de forma rudimentar várias canções, nascendo assim esta banda com um nome bastante peculiar. Alt-J (∆) pronuncia-se alt jay e o símbolo do delta é criado quando carregas e seguras a tecla alt do teu teclado e clicas J em seguida, num computador Mac. O símbolo é usado em equações matemáticas para representar mudanças e assenta que nem uma luva à banda que se estreou em junho de 2012 nos discos com An Awesome Wave, e que, pouco mais de dois anos depois e já sem o contributo de Gwil Sainsbury, confirmou a excelente estreia com This Is All Yours, um álbum que além de não renegar a identidade sonora distinta da banda, ainda a elevou para um novo patamar de novos cenários e experiências instrumentais.
Agora, três anos depois desse excelente registo, os Alt-J (∆) vão regressar aos álbuns com Relaxer, oito canções, das quais conheceu-se, em primeiro lugar 3WW, tema que abre o alinhamento e agora In Cold Blood, a canção seguinte, uma composição que alarga um vasto leque de referências e que da pop ambiental contemporânea ao art-rock clássico, passando pelo R&B, é uma epopeia onde se acumula um amplo referencial de elementos típicos desses diversos universos sonoros e que se vão entrelaçando entre si de forma particularmente romântica e até, diria eu, objetivamente sensual. Confere In Cold Blood e o artwork de Relaxer...
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Slowdive – Sugar For The Pill
Mestres e pioneiros do shoegaze e uma referência ímpar do indie rock alternativo de final do século passado, os britânicos Slowdive voltam vinte e dois anos depois de Pygmalion (1995) a dar sinais de vida com Sugar For The Pill, o primeiro avanço para um homónimo que irá ver a luz do dia a cinco de maio próximo.
O guitarrista e vocalista dos Slowdive, Neil Halstead, tinha já dito recentemente que a banda estava a trabalhar em novas canções, por isso esta era uma novidade já aguardada, mas que não deixa de causar um certo espanto e uma forte impressão, ampliada pelo cariz eminentemente rugoso e contemplativo de Sugar For The Pill, uma lindíssima canção, já com direito a um vídeo inspirado no artwork do anunciado disco dos Slowdive que, por sua vez, é inspirado na animação Heaven And Heart Magic, datada de 1957 e da autoria de Harry Smith. Confere...
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Mark Kozelek – Night Talks EP
Mark Kozelek, o cérebro por trás do projeto Sun Kil Moon (referência a um boxeur coreano, morto aos vinte e três anos), é um verdadeiro workaholic, um artista que em duas décadas e meia de carreira já gravou mais de quarenta discos, se à banda atual juntarmos os seus trabalhos a solo e o papel fundamental que teve nos míticos Red House Painters. Este músico simplesmente não pára e entra em 2017 a explorar ao máximo algumas das melhores virtudes de Common as Light and Love Are Red Valleys of Blood, o seu último registo de originais. E fá-lo através de Night Talks, um novo ep de cinco canções.
Este pequeno compêndio de canções conta no seu alinhamento com uma versão acústica de I Love Portugal, um dos pontos altos de Common as Light and Love Are Red Valleys of Blood, além de uma cover de Famous Blue Raincoat, um original de Bob Dylan, outra de Pretty Little Flowers, de Kath Bloom, um original homónimo e um curioso inédito intitulado Astronomy, em que Kozelek disserta sobre Trump e os novos traumas de uma América cada vez mais confusa e dividida (And as the adults talked about colonoscopies and stints and arteries and cholesterol medications, suddenly we looked around and we lost the children off to the rooms in their own little worlds doing whatever it is that children get into, while us old people talk about old boring people things like Trump banning flights into the United States, and we watch it on TV, series like Eugene Levy’s “Schitt’s Creek,” and my God, my dad snores pretty loud when he falls asleep).
Lançado através da Caldo Verde Records, etiqueta do próprio Mark Kozelek, Night Talks é um belíssimo tratado de folk acústica onde a simplicidade melódica coexiste com uma densidade sonora suave e canções como as já mencionadas Astronomy ou a versão acústica de I Love Portugal, são exemplos extraordinários de temas que transbordam uma majestosa e luminosa melancolia.
Se os Red House Painters eram uma instituição da expressão indie, a solo Mark Kozelek afirma-se como um compositor com uma sonoridade ainda mais frágil e cândida e neste Night Talks, à semelhança do que tem feito nos últimos registos, é a guitarra com cordas de nylon usada com mestria, que logo no tema homónimo consegue enriquecer as harmonias sem complicar, criando um ambiente sonoro descontraído e algo minimal, mas extremamente rico. E à medida que a sua voz se estende pelas melodias desta e das outras canções, sem pressas ou amarras, solidão, melancolia e inadaptação aos cânones sociais estabelecidos desfilam por letras que versam sobre estes e outros temas comuns, algo que até nem é de estranhar já que é normal encontrar Kozelek, a antítese de uma estrela rock, numa loja da esquina, a fazer a sua vida rotineira, como um cidadão comum.
Kozelek tem como virtude maior o facto de compor valendo-se, acima de tudo, das suas próprias experiências. É curioso, intenso e impressivo o modo como escreve assumindo-se como cobaia dos seus próprios pensamentos, além de servir-se da família, dos amigos, das namoradas, de figuras políticas de relevo e ícones da cultura pop também como testemunhas e referências do seu cardápio, quer lírico quer sonoro, sempre com um resultado final avassalador e tremendamente reflexivo. Espero que aprecies a sugestão...
01. Night Talks
02. I Love Portugal (Acoustic Version)
03. Astronomy
04. Pretty Little Flowers (Feat. Kath Bloom)
05. Famous Blue Raincoat
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Feist - Pleasure (single)
Seis anos depois de Metals, o seu último registo de originais, a canadiana Feist regressa em 2017 aos discos com Pleasure, um compêndio de onze canções gravado ao longo de três meses, entre Stinston Beach, Nova Iorque e Paris. Pleasure foi produzido pela própria autora, com a ajuda dos habituais colaboradores Renaud Letang e Mocky e chegará aos escaparates a vinte e oito de abril, à boleia da Interscope Records.
Descrito pela própria autora e compositora como um trabalho em que explorou até aos limites todas as emoções que foi sentindo nos anos mais recentes e onde sensações de solidão, vergonha, rejeição, perca e até falta de auto- estima foram presença assídua, Pleasure tem como single de apresentação o tema homónimo, uma canção que impressiona pela tonalidade rock, simultaneamente agreste e sedutora, confirmando que Feist, além de excelente compositora, é também uma das guitarristas mais versáteis da atualidade. Confere...
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The Jesus And Mary Chain - Damage And Joy
Banda icónica do punk rock alternativo de final do século passado, os escoceses The Jesus And Mary Chain acabam de lançar o seu primeiro registo de originais do século XXI. O sucessor de Munki (1998) chama-se Damage And Joy, viu a luz do dia hoje à boleia da ADA/Warner Music e concretiza o regresso às luzes da ribalta de um projeto essencial para o relato da hitória do rock das últimas décadas e que, à semelhança do que acontece no seio de tantas outras bandas, é feito de desavenças, nomeadamente entre os irmãos Jim e William, dois egos que sempre pareceram demasiado grandes para coabitarem pacificamente, mas cujos desencontros, nomeadamente os conceptuais e estilísticos, acabaram por ser a grande força motriz dos The Jesus And Mary Chain.
Em Damage And Joy desfilam catorze canções de forte índole nostálgica, como se o hiato temporal que separa este registo do antecessor quase não tivesse sucedido. E esta fidelidade aos cânones essenciais do adn da banda, se por um lado plasma a sua integridade e a opção válida por apostar numa forma estilística eminentemente vencedora, poderá ser vista pelos retratores como uma espécie de mais do mesmo ou, pior do que isso, uma ausência de coragem ou inabilidade para colocar nas canções alguns dos detalhes que definem o rock alternativo atual. Pessoalmente considero que os The Jesus And Mary Chain optaram corretamente por não enveredar numa arriscada inflexão sonora e, defeito meu talvez, ainda sou daqueles que apoia a pureza e a firme opção por uma identidade própria, independentemente da longevidade da banda. Assim, este é um trabalho feito com músicos já perto dos sessenta anos mas ainda longe de poderem estar acabados, ou seja, para mim they are not a rock n'roll amputation.
Ao longo do alinhamento de Damage And Joy encontramos excelentes canções, que merecem figurar na listagem futura dos melhores clássicos deste grupo escocês. Logo no fuzz da guitarra de Amputation é evidente o espírito jovial, mas também firme e arrebatador do grupo, em particular de Jim e depois nos efeitos que piscam o olho a territórios mais psicadélicos em War On Peace, na percussão coesa e bastante ritmada de Always Sad, no ambiente mais sombrio, progressivo e sussurrante de Mood Rider, nas exuberância das cordas que elevam aos píncaros Black And Blues, um tema que conta com a participação especial vocal de Sky Ferreira, até aos efeitos siderais que enfeitam a toada mais pop de Get On Home, desfila um esqueleto instrumental e lírico eminentemente melancólico, mas também realista e fortemente impressivo, fazendo com que neste último tema a frase I've got a pistol in my pocket, fique a ecoar dentro de nós com tal ênfase só possível de replicar por quem reside num universo emotivo e, amiúde, fortemente entalhado numa forte teia emocional amargurada, como poderá atestar quem conhece minimamente o percurso atribulado destes irmãos Reid.
Banda consensual e única no panorama indie punk das últimas três décadas, os The Jesus And Mary Chain saíram-se bem neste regresso às luzes da ribalta, ancorados por um disco que além de comprovar o facto de estarem no apogeu da carreira e num grau de maturidade superior, acabam por atestar aquela ideia comum a vários projetos que procuram inteligentemente replicar ao longo da carreira zonas de conforto, porque tal sucede sempre com elevada bitola qualitativa. E a verdade é que com este Damage And Joy os The Jesus And Mary Chain firmam a sua posição na classe dos artistas que basicamente só melhoram com o tempo. Com o grupo escocês a encerrar este alinhamento à boleia do manifesto Can’t Stop The Rock, estou certo que com regressos destes acho que isso será impossível.Espero que aprecies a sugestão...
01. Amputation
02. War On Peace
03. All Things Pass
04. Always Sad
05. Songs For A Secret
06. The Two Of Us
07. Los Feliz (Blues And Greens)
08. Mood Rider
09. Presidici (Et Chapaquiditch)
10. Get On Home
11. Facing Up To The Facts
12. Simian Split
13. Black And Blues
14. Can’t Stop The Rock
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Gorillaz - Saturn Barz (feat Popcaan)
Depois de há alguns dias atrás a página oficial do órgão Phonographic Performance Limited, entidade que no Reino Unido regista novas canções de artistas do país, ter criado enorme alarido ao informar que novos temas dos Gorillaz de 2-D, Murdoc, Noodle e Russel, estariam prestes a ver a luz do dia, eis que acaba de ser divulgado o título do novo álbum deste projeto liderado por Damon Albarn, assim como a sua data de lançamento e respetivo alinhamento de canções.
Assim, Humanz, o próximo disco dos Gorillaz, produzido pelo próprio Damon Albarn e primeiro da banda desde The Fall (2011), irá ver a luz do dia a vinte e oito de abril e terá dezanove canções e seis interlúdios, que incluirão a participação especial de nomes tão relevantes como Mavis Staples, Carly Simon, Grace Jones, De La Soul, Jehnny Beth das Savages, Pusha T, Danny Brown, Vince Staples, Kelela e D.R.A.M., entre outros. Humanz foi gravado em cinco locais diferentes, nomeadamente Londres, Paris, Nova Iorque, Chicago e na Jamaica.
Com o anúncio destes detalhes do novo disco dos Gorillaz, foi também dado a conhecer o vídeo integral, realizado por Jamie Hewlett, de Saturnz Barz, o primeiro single retirado de Humanz e que conta com a participação especial vocal de Popcaan, assim como excertos de Ascension, Andromeda e We Got The Power, outras três canções do álbum, também já disponíveis para audição integral, abaixo.
1. Ascension feat. Vince Staples
2. Strobelite feat. Peven Everett
3. Saturnz Barz feat. Popcaan
4. Momentz feat. De La Soul
5. Submission feat. Danny Brown & Kelela
6. Charger feat. Grace Jones
7. Andromeda feat. D.R.A.M.
8. Busted and Blue
9. Carnival feat. Anthony Hamilton
10. Let Me Out feat. Mavis Staples & Pusha T
11. Sex Murder Party feat. Jamie Principle & Zebra Katz
12. She’s My Collar feat. Kali Uchis
13. Hallelujah Money feat. Benjamin Clementine
14. We Got The Power feat. Jehnny Beth
Bonus material on Deluxe:
15. The Apprentice feat. Rag’n’ Bone Man, Zebra Katz & RAY BLK
16. Halfway To The Halfway House feat. Peven Everett
17. Out Of Body feat. Kilo Kish, Zebra Katz & Imani Vonshà
18. Ticker Tape feat. Carly Simon & Kali Uchis
19. Circle Of Friendz feat. Brandon Markell Holmes
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Temples - Volcano
Naturais de Kettering, no Reino Unido, os Temples são uma banda de rock psicadélico formada por James Edward Bagshaw (vocalista e guitarrista), Thomas Edison Warsmley (baixista), Sam Toms (baterista) e Adam Smith (teclista e guitarrista) e que se estreou nos discos em 2014 com o excelente Sun Structures, um trabalho que viu a luz do dia através da Fat Possum. Agora, três anos depois e abrigados pela mesma etiqueta, os Temples dão a conhecer ao mundo o seu sempre difícil segundo disco, um álbum intitulado Volcano e que chegou aos escaparates no início deste mês de março.
Em 2014, numa época em que vivia em plena orgia com o álbum homónimo de estreia dos TOY e cimentava a minha profunda relação de afecto com os The Horrors, não foi nada difícil para mim receber de braços abertos Sun Structures, o disco de estreia destes Temples, que logo me conquistaram pelo modo como me mostravam uma faceta mais luminosa e arejada de toda a vibe psicadélica em que navegava. E essa foi, desde logo, a firme impressão que eles me deixaram. Adorava e ainda hoje aprecio imenso o modo como as duas bandas acima citadas me mostram aquele lado mais contemplativo, misterioso e visceral do rock psicadélico e admiro a maneira como estes Temples conseguem mostrar-nos que há também algo de festivo e de certo modo mais descomprometido e descontraído neste subgénero do indie rock, eminentemente nostálgico.
Volcano, o segundo disco dos Temples, amplia ainda mais esta impressão, já que, mantendo a filosofia estética da estreia, contém uma produção mais cuidada e polida e uma maior insistência no sintetizador, como instrumento privilegiado de condução melódica das canções. Há uma aúrea pop mais acentuada na nova personalidade da banda e são vários os instantes em que fica plasmada com evidência nos nossos ouvidos tal intenção. A alegoria algo barroca e classicista das teclas que introduzem a pulsante (I Want To Be Your) Mirror, o modo como um efeito sideral plana, amiúde, na secção rítmica que conduz Strange Or Be Forgotten e a tonalidade desconcertante e aguda da sintetização que introduz Open Air são bons exemplos disso, três dos maiores catalizadores de efervescência ambiental e de criação do ambiente psicadélico que sustenta Volcano. Depois, o constante fuzz de fundo da guitarra ao longo do alinhamento, particularmente impressivo no groove de Roman God-like Man e, sendo mais específico relativamente a esse instrumento, o modo como a mesma gravita em redor do baixo e dos arranjos sintetizados da já referida Open Air e a forma como o riff que constrói dá as mãos ao piano em Mystery Of Pop, explicita a capacidade que nos Temples as cordas têm de orientar canções onde a intimidade também se centra no baixo e na guitarra, geralmente com extremo charme e classe, muito à moda daquele estilo alinhado, que dá alma à essência da melhor tradição do rock britânico.
Registo animado, festivo, imponente e contagiante, principalmente no modo como faz-nos, com grande eficácia, o convite para uma majestosa viagem no tempo, Volcano são pouco mais de quarenta minutos de pura lisergia sonora, que numa espécie de cruzamento entre Tame Impala, Pink Floyd e MGMT, nos oferecem um desfile de electricidade e de fuzz, rematado pela belíssima voz etérea de James, tendo tudo para se tornar num verdadeiro clássico que incorpora o melhor do rock psicadélico dos anos sessenta. Espero que aprecies a sugestão...
01. Certainty
02. All Join In
03. (I Want To Be Your) Mirror
04. Oh The Saviour
05. Born Into The Sunset
06. How Would You Like To Go?
07. Open Air
08. In My Pocket
09. Celebration
10. Mystery Of Pop
11. Roman God-like Man
12. Strange Or Be Forgotten
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Real Estate - In Mind
Depois do excelente Atlas, editado em 2014, os norte americanos Real Estate de Martin Courtney, Alex Bleeker, Jackson Pollis e Matthew Kallman, acabam de regressar aos discos com In Mind, um trabalho que viu a luz do dia a dezassete de março através da Domino Records e que foi gravado em Los Angeles. São onze canções que tornam ainda mais impressa a personalidade e o som típico deste projeto oriundo de Rodgewood, nos arredores de Nova Jersey e que se assume cada vez mais como um dos mais interessantes e inovadores do cenário indie atual.
Compêndio de canções feitas com guitarras levemente distorcidas e harmoniosas, banhadas pelo sol dos subúrbios e misturadas com arranjos luminosos e com um certo toque psicadélico, In Mind contém ,como seria expectável, os traços identitários que têm construído o cardápio sonoro de um grupo que, disco após disco, olha cada vez mais e com maior atenção para o rock alternativo de final do século passado e, servindo-se de uma vincada vertente sintética, fá-lo quase sempre com um cariz algo urbano e sempre atual. Logo nos acordes iniciais da guitarra de Matthew que conduz a solarenga Darling, mas também no baixo de Bleeker e na bateria de Jackson, fica patente todo este receituário inédito no panorama sonoro atual e depois, à medida que o alinhamento prossegue, conseguimos, com indubitável clareza, perceber os diferentes elementos sonoros que vão sendo adicionados e que esculpem as canções, com as guitarras, melodicamente sempre muito próximas da voz de Martin e alguns arranjos sintéticos a sobressairem, não porque ficam na primeira fila daquilo que se escuta, mas porque suportam aqueles simples detalhes que, muitas vezes com uma toada lo fi, fazem toda a diferença no cariz que uma canção toma e nas sensações que transmite.
Na verdade, mesmo que haja abordagens díspares a alguns territórios sonoros mais dispersos, nomeadamente a country em Diamond Eyes, um piscar de olhos ao rock psicadélico em Time, ou ao mais clássico em Two Arrows, canções do calibre da já citada Darling ou a agridoce e radiofónica White Light levam-nos, num abrir e fechar de olhos, do nostálgico ao glorioso, numa espécie de indie-folk-surf-suburbano, feito por mestres de um estilo sonoro carregado de um intenso bom gosto e que parecem não se importar de transmitir uma óbvia sensação de despreocupação, algo que espalha um charme ainda maior pela peça em si que este disco representa.
Escutar os Real Estate é um elixir revitalizador para o espírito, aconchega a alma e faz esquecer, nem que seja por breves instantes, aquelas atribulações que de algum modo nos afligem, tal é a afabilidade e suavidade desta espécie de nostalgia melodiosa e açucarada, impressa num disco extraordinariamente jovial, que seduz pela forma genuína e simples como retrata eventos e relacionamentos de um quotidiano rotineiro, um trabalho fantástico para ser escutado num dia de sol acolhedor. Espero que aprecies a sugestão...
01. Darling
02. Serve the Song
03. Stained Glass
04. After the Moon
05. Two Arrows
06. White Light
07. Holding Pattern
08. Time
09. Diamond Eyes
10. Same Sun
11. Saturday
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Spoon - Hot Thoughts
Um dos trabalhos discográficos mais aguardados no início deste ano é, claramente, Hot Thoughts, o nono álbum de originais dos Spoon de Britt Daniel, dez canções que marcam o regresso da banda deste coletivo a uma casa que bem conhece, a Matador Records, que em 1996 editou Telephono, o disco de estreia destes texanos. Produzido pela banda e por Dave Fridmann, Hot Thoughts tem também a curiosidade de ser o primeiro disco dos Spoon a não contar com Mick Harvey, que abandonou o projeto depois da digressão de suporte a They Want My Soul (2014), o antecessor deste Hot Thoughts.
Há quem considere os Spoon como a banda indie mais relevante dos últimos vinte anos e se afirmações deste calibre apenas encontram razão de ser na liberdade que cada um tem de exprimir livremente a sua opinião, a verdade é que este Hot Thoughts é um trunfo de peso para os defensores dessa tese. E ao longo do alinhamento do registo são vários os instantes sonoros que deslumbram o ouvinte mais incauto; O efeito metálico da guitarra que conduz, com bravura, o tema homónimo que disserta sobre a extrema sensualidade de uma rapariga misteriosa, o groove libidinoso e festivo de Can I Sit Next To You, o clima algo narcótico e desafiante de Do I Have To Talk Into It, canção que se sustenta num curioso diálogo sonoro entre dois dos grandes pilares instrumentais dos Spoon, o baterista Jim Eno e o teclista Alex Fischel e que também brilham em First Caress, composição que vagueia à tona de alguns dos demónios que afligem a mente de Britt Daniel (Coconut milk, coconut water, You still like to tell me they’re the same, And who am I to say?), os sinos e o saxofone de Us ou os arranjos exóticos que adornam Pink Up, tema sobre uma viagem de comboio com destino à cidade marroquina de Marraquexe, são, talvez, os melhores fragmentos sonoros de um registo cheio de vida e cor, ecléctico, abrangente e contundente no modo como agrega grandes canções de modo directo, orgânico e enérgico.
Se a música é vista hoje em dia por Britt Daniel como uma experiência sensual e física e que apela diretamente às emoções, este é então o disco certo para qualquer um de nós poder sentir na pele tal permissa, de preferência comungando tal experiência com alguém predisposto a deixar-se levar com o mesmo grau de devoção por dez canções que representam um enorme salto qualitativo em frente na carreira dos Spoon e que acabam por colocar um enorme e excitante ponto de interrogação nos fãs e apreciadores da banda relativamente ao seu futuro sonoro. Espero que aprecies a sugestão...
01 Hot Thoughts
02 WhisperI’lllistentohearit
03 Do I Have to Talk You Into It
04 First Caress
05 Pink Up
06 Can I Sit Next to You
07 I Ain’t the One
08 Tear It Down
09 Shotgun
10 Us