man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Eleanor Friedberger – New View
A cidade que nunca dorme é o habitat natural de Eleanor Friedberger, de regresso aos lançamentos discográficos com New View, onze canções que viram a luz do dia a vinte e dois de janeiro, através da Frenchkiss Records e que voltam a deliciar-nos com uma simbiose feliz entre as vertentes mais clássicas e alternativas do rock, com a folk a fazer a ponte entre dois universos que, replicados em baladas como Open Season e na luminosa Your World quase se fundem, sem fronteiras claramente definidas, o que faz deste registo uma coleção de canções que superou, na minha opinião, tudo aquilo que a autora já tinha conseguido apresentar no seu catálogo.
pic by Philip Cosores
Gravado do outro lado do continente americano, na cidade dos anjos, New View contém esse aspeto mais solarengo e descontraído da costa do pacífico, em oposição à maior frieza do atlântico que banha a costa leste de onde provém. Esta é logo uma das impressões mais fortes do terceiro registo a solo de uma mulher apaixonada, persistente e impulsiva, que não desiste de perseguir os seus sonhos mais verdadeiros e raramente se envergonha por amar e por usar a música como forma de exorcizar os seus fantasmas e dar vida aos seus maiores devaneios, ela que já foi namorada, por exemplo, de Britt Daniel ds Spoon e Alex Kapranos, vocalista dos Franz Ferdinand. Esta atração pelo lado mais afetivo da música transparece nas suas canções, que letra após letra, verso após verso, servem para a autora abrir-se connosco enquanto discute consigo mesma e coloca-nos na primeira fila de uma vida, a sua, que acontece mesmo ali, diante de nós.
Na verdade, escuta-se New View e o que mais impressiona é uma enorme sensação de sinceridade e o cariz fortemente genuíno das canções. A cantora construiu belíssimas melodias que se entrelaçaram com as letras e com a sua voz marcante com enorme mestria e, ao mesmo tempo, palpita uma notória sensação instintiva, como se ela tivesse deixado fluir livremente tudo aquilo que sente e assim potenciado a possibilidade de nos emocionarmos genuinamente com estas canções. A cândura folk desarmante de Never Is A Long Time e o sussurro de uma voz que nos adverte para as adversidades e os contratempos da vida e o piano deambulante e a brisa jazzística que sobressai da percussão de Cathy, With The Curly Hair, numa canção sobre o lado mais espontâneo e impulsivo do amor, são duas faces desta mesma moeda chamada sinceridade, provando que neste disco Eleanor deu tudo, não se escondeu nem se poupou, melodicamente e sentimentalmente e, por isso, este é um alinhamento que causa impacto e está carregado de sentimento. Ela foi simples e assertiva, sem deixar de nos tocar e de construir algo que podemos usar para explicar as nossas próprias angústias e dores.
No ocaso do disco, a monumentalidade das teclas de A Long Walk clarifica que às vezes mais difícil do que murmurar sobre o amor é enfrentar o amor em si e aceitar o cariz frequentemente finito do mesmo, enquanto sentimento com contornos tantas vezes ambíguos e irracionais. O amor tem múltiplas facetas e este disco serve para nos nos ensinar como abrir o sotão onde guardamos as nossas dores e receios. Muitas vezes, vivemos uma vida inteira sem tocar nele com receio dos fantasmas que possamos despertar. Talvez seja mais fácil fazê-lo ao som deste disco. A única certeza do amor é mesmo ser sempre incerto. Espero que aprecies a sugestão...
01. He Didn’t Mention His Mother
02. Open Season
03. Sweetest Girl
04. Your Word
05. Because I Asked You
06. Never Is A Long Time
07. Cathy With The Curly Hair
08. Two Versions Of Tomorrow
09. All Known Things
10. Does Turquoise Work?
11. A Long Walk