man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Cross Record – Wabi-Sabi
Emily Cross e Dan Duszynski são o casal de esposos que estende o manto em redor de Cross Record, um projeto que gravou o seu disco de estreia, intitulado Wabi-Sabi, num rancho de dezoito hectares, chamado Moon Phase, arrendado por ambos, perto de uma reserva de aves, em Dripping Springs, a trinta minutos de Austin, em pleno Texas, para onde se mudaram da metrópole Chicago. E a verdade é que este álbum soa a um disco incubado, concebido e gravado num rancho, tal é a força e a dimensão de um alinhamento de canções que plasma, com particular minúcia, uma simbiose feliz entre a naturalidade e a pureza que se observa no contraste do cinza e do laranja que dominou os céus durante a sua gravação, porque sucedeu, quase sempre, nas fases iniciais e finais dos dias e o ruído e o rigor estrutural de uma grande cidade. Steady Waves, o grandioso single já retirado de Wabi-Sabi, demonstra esta junção na simplicidade das cordas da viola e a imponência da distorção da guitarra de High Rise amplifica-a, só para citar dois exemplos que sustentam o universo fortemente cinematográfico e imersivo destes Cross Record, exímios a dar asas às emoções que exalam desde as profundezas do refúgio bucólico onde agora residem e que, pelos vistos, os inspira de modo particularmente sensorial.
Tendo visto a luz do dia abrigado pela sempre recomendável Ba Da Bing Records, Wabi-Sabi impressiona, portanto, pela dinâmica fortemente ambiental, como se percebe dede logo nas várias camadas de efeitos e sopros sintetizados de The Curtains Part, canção que lança o disco numa espiral emotiva e onde tudo é quase sempre filtrado de modo bastante orgânico, amplo e rugoso.
Depois dos dois temas acima referidos, ficamos logo esclarecidos que, partindo do princípio que aceitamos uma audição atenta e dedicada deste disco, somos naturalmente convocados para uma viagem que nos conduz a diferentes universos sonoros, sempre na óptica da tal relação simbiótica bastante sedutora e que, sonoramente, se firma entre indie rock, punk e post rock, por um lado e folk e dream pop, por outro. E logo a seguir, a indisfarçável toada folk de de Something Unseen Touches A Flower To My Fore, que nem o pedal de uma guitarra e os tambores disfarçam, proporciona-nos um momento de rara frescura e pureza sonora, com o charme lo fi dos ruídos de fundo por baixo das cordas de The Depths, pouco depois, a fazerem-nos levitar rumo a uma nuvem repleta de sensações fortemente nostálgicas e contemplativas, enquanto atestam o feliz encontro entre sonoridades que surgiram há décadas e se foram aperfeiçoando ao longo do tempo e ditando regras que hoje consagram algumas tendências sonoras mais atuais, onde muitas vezes o minimalismo se confunde com aquilo que é esculpido e complexo, sendo ténue a fronteira entre ambos e real um claro encadeamento entre dois pólos aparentemente opostos e que nos obrigam a um exercício exigente de percepção fortemente revelador e claramente recompensador.
Até ao final deste trabalho absolutamente maravilhoso, em Basket ouve-se estranheza, ouve-se escuridão. Mas também se ouve harmonias de vozes de outro planeta. E logo depois, em Wasp In A Jar, há sensualidade em jeito de lamúria ou desabafo e a certeza que ouvir Wabi-Sabi é uma experiência diferente e revigorante e a oportunidade de contatar com um conjunto de canções que transbordam uma aúrea algo mística e espiritual, reproduzidas por um grupo que sabe como o fazer de forma direta, pura e bastante original. Espero que aprecies a sugestão...
01. The Curtains Part
02. Two Rings
03. Steady Waves
04. High Rise
05. Something Unseen Touches A Flower To My Forehead
06. The Depths
07. Basket
08. Wasp In A Jar
09. Lemon