man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
DIIV - Is The Is Are
Os DIIV (lê-se Dive) são um grupo do nova iorquino Zachary Cole Smith, músico dos Beach Fossils e que tem como companheiros de banda neste projeto Andrew Bailey (guitarra), Devin Ruben Perez (baixo) e Colby Hewitt (bateria). O disco de estreia chamou-se Oshin e viu a luz do dia há pouco mais de três anos através da Captured Tracks, mas já tem sucessor. Is The Is Are, o novo trabalho dos DIIV, foi escrito na íntegra por Zachary, gravado em Brooklyn e chegou recentemente aos escaparates à boleia da mesma etiqueta.
Se em Oshin Zachary se deixou envolver pelo garage rock e dialogou incansavelmente com a recente tendência surf rock que ocupa boa parte do panorama alternativo norte americano, principalmente no modo como incorpora doses indiscretas de uma pop suja e nostálgica, Is The Is Are não renega totalmente estes atributos essenciais para a definição justa do adn do grupo, mas basta ouvir o single ouvir Bent (Roi’s Song) para se perceber que esta nova trip deambulante dos DIIV, proporcionada pelas guitarras e pela voz melódica do autor, conduzindo-nos a esse rock alternativo de cariz mais lo fi, privilegia, desta vez, o confronto amigavel com uma pop particularmente luminosa e com um travo a maresia muito peculiar. E por tudo isto torna-se claro que em 2016 Zachary Cole quer reclamar uma posição quer de destaque quer de abrangência junto da massa crítica, enquanto alarga o potencial do seu cardápio relativamente à agregação de um maior leque de apreciadores do mesmo e, já agora, limpa a imagem pessoal e de uma banda que acumulou alguns episódios menos positivos nos últimos tempos e que agora não importa enumerar, mas que conotaram os DIIV de um grupo de músicos homofóbicos e dependentes de substâncias ilícitas.
Chegamos a Dopamine, canção que versa exatamente sobre a questão da adição às drogas, assim como, mais adiante, a homónima, e nela o autor além de se referir à sua experiência pessoal, procura influenciar o ouvinte para que não repita os seus erros (Fixing now to mix the white and brown, Buried deep in a heroin sleep). Neste tema, conduzidos por uma bateria frenética, um baixo vibrante e uma guitarra estratosférica e luminosa, deparamo-nos com o ponto mais alto de Is The Is Are, canção que além de assegurar algum ideal de continuidade relativamente a Oshin, algo que mais adiante o ambiente sonhador e cristalino de Loose Ends também consegue transmitir com eficácia, é um daqueles excelentes instantes sonoros que merecem figurar em lugar de destaque na indie contemporânea. Esta canção, mas também depois o fuzz da guitarra e os efeitos sombrios do teclado de Valentine, o hipnotismo incisivo da guitarra de Blue Boredom (Sky’s Song), canção que conta com a participação vocal de Sky Ferreira, companheira de Cole e o piscar de olhos do baixo de Yr Not Far a um ambiente mais punk e progressivo, puxam os autores para um patamar superior de abrangência, não só pela miríade sonora que abrangem, mas também, e principalmente, por estarmos a falar de canções que misturam acessibilidade, diversidade e intrincado bom gosto, tudo com enorme eficácia.
Compêndio que privilegia então uma sensibilidade pop inédita nos DIIV e que em alguns momentos é atingida com um forte cariz épico e monumental, como se infere, por exemplo, nas derivações melódicas e na majestosidade instrumental de Take Your Time, Is The Is Are contém uma mágica melancolia que trespassa e que nos permite obter um completo alheamento de tudo aquilo que nos preocupa ou pode afetar em nosso redor. E além destes aspetos, transversais a grande parte do historial do grupo e que se misturam e se sublimam em vários temas deste novo álbum, com o já citado riff alegre e sonhador do single Dopamine a ser talvez aquele que melhor consegue juntar toda a amálgama que hoje define o adn dos DIIV, há outros traços também expressos com intensidade e requinte superiores, nomeadamente um piscar de olhos objetivo aquela crueza orgânica que aqui faz questão de viver permanentemente de braço dado com o experimentalismo e em simbiose com a psicadelia e que em Mire (Grant’s Song) atinge um patamar particularmente turtuoso.
Is The Is Are é um daqueles registos discográficos onde a personalidade de cada uma das canções do alinhamento demora um pouco a revelar-se nos nossos ouvidos, mas é incrivelmente compensador experimentar sucessivas audições para destrinçar os detalhes precisos e a produção impecável e intrincada que as distingue e que sustenta a bitola qualitativa de um disco incubado por um grupo que procura redimir-se do seu passado, mas que também quer mostrar que vive no pico da sua produção criativa, porque exige e consegue navegar sem parcimónia em diferentes campos de exploração. A imprevisibilidade é, afinal, algo de valor no mundo artístico e Zachary Cole, uma dos personagens mais excêntricas no mundo da música de hoje, continua a jogar com essa evidência a seu favor, à medida que apresenta diferentes ideias e conceitos de disco para disco, tendo, neste caso, excedido favoravelmente todas as expetativas e criado um dos álbuns essenciais do ano. Espero que aprecies a sugestão...
01. Out Of Mind
02. Under The Sun
03. Bent (Roi’s Song)
04. Dopamine
05. Blue Boredom (Sky’s Song)
06. Valentine
07. Yr Not Far
08. Take Your Time
09. Is The Is Are
10. Mire (Grant’s Song)
11. Incarnate Devil
12. (Fuck)
13. Healthy Moon
14. Loose Ends
15. (Napa)
16. Dust
17. Waste Of Breath