man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Beliefs – Leaper
Toronto, no Canadá, é o poiso dos Beliefs de Jesse Crowe e Josh Korody, dupla que lançou no passado mês de novembro um compêndio de indie rock absolutamente obrigatório intitulado Leaper, tendo-o feito à boleia da insuspeita Hand Drawn Dracula. É um disco imponente, visionário e empolgante, que assenta no típico indie rock atmosférico, que vai-se desenvolvendo e nos envolvendo, com vários elementos típicos do shoegaze, da dream pop e do post punk lo fi, a conferirem a estes Beliefs uma dinâmica e um brilho psicadélico incomum.
Tidal Wave, o contundente tema que abre este disco, é um exemplo corrosivo, hipnótico e contundente da cartilha sonora que os Beliefs guardam na sua bagagem, com o eco da guitarra a assumir, desde logo, um amplo plano de destaque no processo de condução melódica, eficazmente acompanhada por um baixo vigoroso e uma bateria entusiasmante e luminosa. As mudanças de ritmo com que a mesma abastece 1992 e o modo como acompanham o efeito abrasivo da guitarra, ampliam a perceção fortemente experimental e algo soturna, mas intensa e sedutora, de uma canção que ilustra o quanto certeiros e incisivos os Beliefs conseguiram ser na replicação do ambiente sonoro que escolheram.
À medida que Leaper avança, em composições tão díspares como a etérea Drown ou a caótica e impulsiva Morning Light, torna-se claro que o som destes Beliefs, sendo mais ou menos luminoso, conforme as sensações que cada tema pretende extravasar, é sempre encorpado, decidido e seguro e surpreende o modo como a dupla transforma uma hipotética rispidez visceral em algo de extremamente sedutor e apelativo, com uma naturalidade e espontaneidade curiosas. Depois, escuta-se o rock incisivo de Ghosts e percebe-se não só o modo como o efeito da voz de Jess é um trunfo declarado dos Beliefs, até porque transmite uma sensação de emotividade muito particular e genuína, mas também fica plasmado como determinados arranjos, como aquele que, neste caso, é proporcionado pelo baixo, plasmam com precisão as virtudes técnicas da dupla e o modo como conseguem abarcar vários géneros e estilos do universo sonoro indie e alternativo e comprimi-los em algo genuíno e com uma identidade muito própria. Na verdade, é impossível, ao longo de todo o alinhamento, ficar indiferente à emotividade que transborda do efeito das guitarras, mas também nos atinge no âmago e de modo contundente o modo como os temas progrides, orientados pela secção percussiva, apoiada numa bateria e num baixo que expandem criatividade e arrojo quase sem limites. Parece, frequentemente, que a dupla foi dominada por uma aúrea psicotrópica lisérgica que lhe tolheu os sentidos, para deixar os instrumentos se expressarem livremente, como é o caso do tema homónimo, numa verdadeira espiral de fuzz rock, rugoso, visceral e psicadélico, cheio de efeitos e flashes, uma ordenada onda expressiva relacionada com o espaço sideral, que oscila entre o rock sinfónico e guitarras experimentais, com travos de krautrock.
Há nestes Beliefs uma aúrea de grandiosidade indisfarçável e um notável nível de excelência no modo como conseguem ser nostálgicos reavivando no ouvinte outros projetos que foram preponderantes nas últimas décadas do século passado e na forma como mutam a sua música e adaptam-na a um público ávido de novidades refrescantes, mas que faça recordar os primórdios das primeiras audições musicais que alimentaram o nosso gosto pela música alternativa. Este projeto caminha sobre um trilho aventureiro calcetado com um experimentalismo ousado, que parece não conhecer tabús ou fronteiras e que nos guia propositadamente para um mundo onde reina uma certa megalomania e uma saudável monstruosidade agressiva, aliada a um curioso sentido de estética. Esta cuidada sujidade ruidosa que os Beliefs produzem, concebida com justificado propósito e usando a distorção das guitarras como veículo para a catarse, é feita com uma química interessante e num ambiente simultaneamente denso e dançável, despida de exageros desnecessários, mas que busca claramente a celebração e o apoteótico. Espero que aprecies a sugestão...
01. Tidal Wave
02. 1992
03. Colour Of Your Name
04. Drown
05. Leaper
06. Ghosts
07. Morning Light
08. Go Ahead And Sleep
09. Leave With You
10. Swooner