man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Guy Garvey – Courting The Squall
Vocalista dos britânicos Elbow, Guy Garvey acaba de se estrear nos registos a solo com Courting The Squall, um trabalho que viu a luz do dia no final do passado mês de outubro e imbuído com um som épico e eloquente, mas particularmente intimista e luminoso e que exige profunda dedicação. Com as participações especiais de Nathan Sudders (The Whip), Pete Jobson (I Am Kloot), Ben Christophers e Alex Reeves, Courting The Squall foi, de acordo com algumas crónicas, etilicamente bem regado durante o período de gravação e a verdade é que o seu conteúdo verbaliza sonoramente uma necessidade quase biológica de se viver a ressaca emocional que as partidas e as chegadas de várias pessoas ao núcleo da nossa existência provocam no equilíbrio emocional de cada um, da autoria de um músico, compositor e enorme poeta que faz questão de ser profundo e conciso na hora de cantar a vida, mesmo que ela tenha menos altos que baixos, como quem precisa de viver um período menos positivo e de quebrar para voltar a unir.
Num disco perfeito para ser escutado num dia sem compromissos e em que sentimos necessidade de pensar em nós mesmos e no que nos rodeia, Guy Garvey mostra-se cada vez mais seguro na sua prestação vocal e fora do casulo sonoro que tipifica o adn sonoro dos Elbow, arrisca novos registos, mais expostos e enaltecidos. Apesar da recente dolorosa separação de Guy da escritora Emma Jane Unsworth, ainda é no amor e nas emoções fortes que esse sentimento exala, embrulhadas em temas simples, adornados com enorme versatilidade e um elevado pendor pop, que este autor sustenta um cosmos sonoro que o distingue dos demais. E isso encontra-se plasmado quer no ambiente clássico e charmoso do irrepreensível tema homónimo, assim como no esplendor da preciosa e inocente Harder Edges e na intensidade das cordas e do acordeão de Juggernaut. Mas é, no entanto, na crueza do blues e do jazz, exemplarmente replicada na graciosa Angelas's Eyes e de modo mais intimista e até algo boémio e lo fi, no dueto sensual que partilha com Jolie Holland na calorosa e aconchegante Electricity, canção que transforma o nosso leitor digital num antigo transistor de bobines, que Garvey se transforma num apurado artista, disposto a sair do nicho indie e alternativo para procurar atingir um universo mais abrangente e onde vão reinando várias referências obrigatórias da história da música da segunda metade do século passado, algures entre Paul Simon, Randy Newman e Sinatra. Seja como for, é no cinzento quase erótico que transpira do baixo de Unwind que, na minha opinião, se confere o momento maior de Courting The Squall, canção onde o minimalismo é apenas sinónimo de aparência, desfilando nela e perante os nossos sentidos uma coleção irrepreensível de sons inteligentes e solidamente construídos, enquanto Garvey nos sussurra ao ouvido tanto daquilo que carateriza a passagem de qualquer comum mortal por este mundo e, acima de tudo, a celebração da vida como uma dádiva que, tantas vezes com uma linha ínfima a separar o gozo supremo da perca mais dolorosa, deve ser aproveitada ao máximo.
Em dez canções onde abunda uma virtuosa complexidade no processo de composição e nos arranjos que as sustentam, Guy Garvey transforma as suas histórias pessoais em canções, numa cruzada sonora intensa, próxima e subtilmente encantadora e que faz deste músico britânico um poeta exímio a entender os mais variados sentimentos e confissões humanas, que sabe, de forma bastante peculiar e única, como converter simples sentimentos em algo grandioso, épico e ainda assim delicadamente confessional. Espero que aprecies a sugestão...
01. Angela’s Eyes
02. Courting The Squall
03. Harder Edges
04. Unwind
05. Juggernaut
06. Yesterday
07. Electricity
08. Belly Of The Whale
09. Broken Bottles And Chandeliers
10. Three Bells