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Glass Vaults – Sojourn

Domingo, 18.10.15

Os Glass Vaults são uma banda oriunda de Wellington, na Nova Zelândia e em cujo regaço melancolia e lisergia caminham lado a lado, duas asas montadas em canções que nos oferecem paisagens multicoloridas de sons e sentimentos, arrepios que nos provocam, muitas vezes, autênticas miragens lisérgicas e hipnóticas enquanto deambulam pelos nossos ouvidos num frágil balanço entre uma percussão pulsante, uma eletrónica com um vincado sentido cósmico e uma indulgência orgânica que se abastece de guitarras plenas de efeitos texturalmente ricos e a voz de Larsen que, num registo ecoante e esvoaçante, coloca em sentido todos os alicerces da nossa dimensão pessoal mais frágil e ternurenta. E tudo isto sente-se com profundo detalhe, numa banda que por vir dos antípodas parece carregar nos seus ombros o peso do mundo inteiro e não se importar nada com isso, algo que nos esclarece com veemência Sojourn, o longa duração de estreia destes Glass Vaults, editado à boleia da Flying Out e que sucede a Glass (2010) e Into Clear (2011), dois eps que colocaram logo alguma crítica em sobressalto.

Life Is The Show, uma exuberância de cor e movimento marcial, numa espiral instrumental desmedida e isenta de qualquer pudor, lança o disco numa espiral pop onde não falta um marcante estilo percurssivo e onde tudo é filtrado de modo bastante orgânico, amplo e rugoso. E depois, em West Coast, os efeitos circenses e as cordas que parecem ser capazes de reproduzir toda a magnificiência deste e de outro mundo num qualquer arraial bucólico de aldeia, com o seu centro nevrálgico no coreto da praça principal defronte da igreja matriz, lançam-nos definitivamente no universo fortemente cinematográfico e imersivo destes Glass Vaults, que mudam de cenário com uma naturalidade invulgar, sem colocarem em causa a homogeneidade de um alinhamento rico e muitas vezes surreal. No tema homónimo, eles já tocam içados no topo monte Aoraki, o ponto mais alto da Nova Zelândia, de onde debitam esta canção arrebatadora através de tunéis rochosos revestidos com placas metálicas que aprofundam o eco das melodia e dão asas às emoções que exalam desde o sopé desse refúgio bucólico e denso, onde certamente se embrenharam, pelo menos na imaginação, para criar quase oito miutos que impressionam pela orgânica e pelo forte cariz sensorial. Ponto alto do disco, Sojourn contém um som esculpido e complexo, num encadeamento que nos obriga a um exercício exigente de percepção fortemente revelador e claramente recompensador.

A mesma receita, mas de modo ainda mais barroco e hipnótico, repete-se em Sacred Heart, uma alegoria pop que impressiona pela grandiosidade, patente nos samples, nos teclados e nos sintetizadores inebriantes, não havendo regras ou limites impostos para a inserção da mais variada miríade de arranjos, detalhes e ruídos. Depois, o minimalismo contagiante da guitarra em que se sustenta Ancient Gates, mais um tema que nos desarma devido ao registo vocal e ao banquete percussivo que contém e a riqueza sintética que sobressai da tela por onde escorre uma amalgama de efeitos e ruídos em Come and Be Beautiful, são extraodinários exemplos do modo como esta banda é capaz de ser genuínaa manipular o sintético, de modo a dar-lhe a vida e a retirar aquela faceta algo rígida que a eletrónica muitas vezes intui, convertendo tudo aquilo que poderia ser compreendido por uma maioria de ouvintes como meros ruídos, em produções volumosas e intencionalmente orientadas para algo épico.

Muitas vezes o inexplicável surge diante de nós e escorre pelos nossos ouvidos em forma de música e Sojourn peca e não merece sequer perdão pelo modo como desarma o ouvinte impossibilitando-o de utilizar expressões e vocábulos comuns e claramente entendíveis para descrever e classificar o seu conteúdo. Disco quase indeçifrável e com uma linguagem pouco usual mas merecedora de devoção, é capaz de projetar nos nossos ouvidos uma tela cheia de sonhos e sensações que muitas vezes apenas pequenos detalhes ou amplos arranjos conseguem proporcionar. Com nuances variadas e harmonias magistrais, tudo se orienta com o propósito de criar um único bloco de som, fazendo do disco um corpo único e indivisível e com vida própria, com os temas a serem os seus orgãos e membros e a poderem personificar no seu todo, se quisermos, uma projeção do lado apenas bom de cada um de nós. 

Na verdade, estes Glass Vaults oferecem-nos gratuitamente a possibilidade de usarmos a sua música para expor dentro de nós sentimentos de alegria e exaltação, mas também de arrepio e um certo torpor perante a grandiosidade de uma receita sonora cujos fundamentos lhes foram revelados em sonhos, já que só eles conseguem descodificar com notável precisão o seu conteúdo. Espero que aprecies a sugestão...

Glass Vaults - Sojourn

01. Intro
02. Life Is The Show
03. West Coast
04. Sojourn
05. Everyone’s An Artisan Now
06. Sacred Heart
07. Ancient Gates
08. Come And Be Beautiful
09. Slow Down
10. Your Blood
11. Don’t Be Shy

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publicado por stipe07 às 20:10






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