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Deerhunter – Breaker

Quarta-feira, 16.09.15

Deerhunter - Breaker

Após um hiato de dois anos, os Deerhunter de Bradford Cox já têm sucessor para os muito aclamados Halcyon Digest e Monomania. É já em outubro que vai ver a luz do dia, à boleia da insuspeita 4AD, Fading Frontier, o sexto e próximo disco desta banda nova iorquina, um trabalho poroduzido por Ben H. Allen III (Animal Collective, Washed Out) e que será mais um agregado de canções que irão certamente contar com transições entre o harmonioso e o caótico, sempre com um pano de fundo sonoro cru e pujante.

As guitarras sujas e o som assertivamente rugoso de Snakeskin constituiram o primeiro avanço divulgado de Fading Frontier, tema que transportava consigo, além da sonoridade rock setentista, um funk psicadélico particularmente alegre e bastante dançável, com as distorções e os ruídos de fundo constantes, que já são uma imagem de marca dos Deerhunter, testada desde o versátil Microcastle (2008), a conduzirem a canção por um ambiente claramente festivo.

Se esse ambiente mais anguloso de Snakeskin incomodou um pouco os mais puristas relativamente à essência sonora dos Deerhunter, Breaker é um título feliz para colocar um travão na euforia, já que estamos na presença de um tema leve e arejado, cheio de arranjos de cordas carregados de brilho e onde as vozes de Cox e Lockett Pundt se entrelaçam num delicado e acolhedor dueto sobre o amor e a religião. Confere...

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publicado por stipe07 às 16:00

Gaz Coombes – Matador

Terça-feira, 15.09.15

Quem esteve atento à luta fraticida pelo domínio da brit pop durante a década de noventa, recorda-se imediatamente da dupla Blur vs Oasis e depois acrescenta-lhe os Suede e os Pulp, os The Charlatans e talvez os Supergrass, sem dúvida o grupo britânico mais negligenciado nessa altura. Gaz Coombes, antigo líder desta banda britânica, estreou-se numa carreira a solo em 2012 e em boa hora o fez com o fabuloso Here Come The Bombs. Pouco mais de dois anos depois desse início prometedor, Coombes regressou mais uma vez à boleia da Hot Fruit Recordings, com Matador, um disco produzido pelo próprio autor e gravado no seu estúdio caseiro em Oxford.

Matador conta com as participações especiais de Loz Colbert, baterista dos Ride e Charly Coombes e evidencia elevadas ambições sonoras, quer estruturais, quer estilísticas, com um elevado sentido pop e de modo mais profundo e heterogéneo, não só relativamente à estreia, como à propria carreira dos Supergrass, que desde sempre balizaram vincadamente o seu adn sonoro.

Liberto das amarras conceptuais que o formato banda muitas vezes impôe, Gaz Coombes tem a possibilidade de a solo deixar fluir livremente o seu apurado sentido estético, com um interessante grau de criatividade e inedetismo, até. Logo na abertura de Matador, os efeitos ecoantes de Buffalo e o suspiro minimal do teclado, ao deixarem-se, pouco depois, dominar pela majestosidade da bateria e das distorções da guitarra, mostram uma relação pouco vista entre eletrónica e rock progressivo, com o universo muito específico dos conterrâneos Radiohead a ser, certamente, uma referência e uma baliza no momento de percorrer vias mais experimentais e menos óbvias, sem descurar um intenso sentido melódico.

Com um início tão prometedor, torna-se impossível virar os ouvidos a um disco que nos oferece tantos lugares diferentes, uma ambição salutar e diferentes texturas e possíveis leituras das mesmas. Em 20/20, por exemplo, apreciamos uma música que subsiste num agregado de guitarras melodiosas, uma percussão cheia de variações que pretendem vincar uma epicidade muito própria, um baixo minimal mas omnipresente e outros arranjos de cordas, de mãos dadas com uma voz capaz de converter uma arena inteira a uma causa impossível. Depois, no frenesim do piano de The English Ruse, no clima acústico delicioso e emotivo de Oscillate, no intimismo do single Detroit e em momentos mais soturnos e melancólicos, como To The Wire, canção com um travo gospel indisfarçável, ou Seven Walls, um instante sonoro mágico, que navega entre a luz e a escuridão e o sintético e o orgânico, Gaz Coombes não se entrega nunca à monotonia e mostra ser sábio a criar temas que apesar de poderem ser fortemente emotivos e se debruçarem em sonhos por realizar, também servem para mostrar que é perfeitamente possível criar um disco que seja intrigante, sem deixar de ser acessível.

Se os Supergrass não sobreviveram à evolução e não se adaptaram, pelo menos Gaz Coombes não virou a cara à luta, absorveu as novas pinceladas mais eletrónicas e desprovido da responsabilidade coletiva que é fazer parte de uma banda onde há o dever de partilha artística, escreveu novamente excelentes canções pintadas com um experimentalismo pop que merece toda a nossa atenção. Espero que aprecies a sugestão...

Gaz Coombes - Matador

01. Buffalo
02. 20/20
03. The English Ruse
04. The Girl Who Fell To Earth
05. Detroit
06. Needle’s Eye
07. Seven Walls
08. Oscillate
09. To The Wire
10. Is It On?
11. Matador
12. One Of These Days
13. This Time Tomorrow

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publicado por stipe07 às 17:22

City Calm Down – Rabbit Run

Terça-feira, 15.09.15

City Calm Down - Rabbit Run

Jack Bourke, Sam Mullaly, Jeremy Sonnenberg e Lee Armstrong são os City Calm Down, um quarteto australiano oriundo de Melbourne e que se prepara para a estreia nos lançamentos discográficos com A Restless House, um álbum que vai ver a luz do dia a seis de novembro, através da etiqueta I OH YOU.

Rabbit Run é o primeiro avanço divulgado de A Restless House, uma canão que assenta os seus pilares instrumentais e melódicos em algumas das caraterísticas fundamentais do indie rock alternativo de cariz mais sombrio, que fez escola em finais da década de setenta do século passado e que tem atualmente nos nova iorquinos The National um dos expoentes máximos. Se a voz dos City Calm Down nos recorda claramente a postura de Matt Berninger, já os instrumentos clamam pela simplicidade, mas à medida que a teia sonora se diversifica e se expande, dão vida a um conjunto volumoso de versos sofridos, sons acinzentados e um desmoronamento pessoal que nos arrasta sem dó nem piedade para um ambiente épico e nostálgico que se recomenda. Confere...

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publicado por stipe07 às 14:53

Beirut - No No No

Segunda-feira, 14.09.15

Gravado em Nova Iorque, em pouco mais de um mês, durante um período do último inverno particularmente frio, No No No é o novo compêdio de canções dos Beirut de Zach Condon, ao qual se juntam Nick Petree, Paul Collins, Ben Lanz e Kyle Resnick, um trabalho que viu a luz do dia a onze de setembro através da etiqueta 4AD.

Os portugueses têm uma relação muito especial com Zach Condon e este quatro disco da carreira dos Beirut era aguardado por cá com uma expetativa que o conteúdo, na minha modesta opinião, não defrauda minimamente. A verdade é que as nove canções de No No No reforçam a impressão forte e emotiva que qualquer amante de boa música terá de ter relativamente a este projeto liderado por um músico norte americano que fala a nossa língua e que em tempos abandonou os estudos para viajar pela Europa onde bebeu alguns dos aspetos fundamentais da sua sonoridade típica e que tem influências tão diversas quanto as canções fúnebres sicilianas, cantores franceses como Jacques Brel e Serge Gainsbourg ou os ritmos tradicionais dos balcãs.

No No No abre com a pop clássica, charmosa e com uma pitada de tropicália de Gibraltar, um título feliz para uma canção que sabe ao nosso sol e irradia a típica luz mediterrânica e nela embarcamos numa viagem otimista e solarenga pelo universo muito particular de um músico que plasma neste disco a nova fase positiva da sua vida, já que reencontrou novamente o amor e ultrapassou definitivamente o colapso físico e mental que sofreu em 2013, na Austrália, devido ao seu processo de divórcio. Aliás, o modo sofrido como Condon canta no tema homónimo do disco que tem o seu coração novamente pronto para viver intensamente o amor, é uma metáfora feliz desta nova realidade e do modo como a sua vida pessoal evoluiu nos últimos anos. Podemos chamar então a No No No um álbum de redenção? Certamente que sim, mas este é também um trabalho de exorcização definitiva de alguns fantasmas, vivido com um certo travo de espontaneidade e um sentido de urgência que transborda não só do piano, o instrumento de eleição dos Beirut para o extravasar de emoções simples, mas profundas, mas também no caos inédito que os metais, os intensos trompetes, esplendorosos na canção homónima, a postura jazzística da bateria e o registo vocal de Condon, no caso dessa mesma música, ampliam.

Há aqui um desejo claro de mudança que se saúda, numa roupagem mais pop e sofisticada, com o piano a ser, como referi, a grande força motriz deste caldeirão feliz e ligeiro em que No No No foi cozinhado. At Once e August Holland acabam por mostrar o modo abrangente como as teclas dão generosamente vida aos pensamentos bonitos com que os Beirut nos contagiam, havendo uma postura mais melancólica e introspetiva no primeiro caso e, no segundo, uma luminosidade que irradia da cortina sonora em que esse piano, mas também a bateria, a flauta e a viola subsistem, numa fanfarra agridoce, porque é o tom nostálgico da voz de Condon que coloca um certo travão na desmesurada euforia das teclas. Quase no ocaso do disco, em Fener, as variações rítmicas das teclas além de personificarem a diversidade de sentimentos que a componente lírica do tema contém, ao deixarem-se rodear de arranjos com metais, dão cor a algumas pinceladas de jazz contemporâneo que poucos igualam e replicam com a mesma profundidade, alegria e vivacidade.

E já que falámos de cordas, há que realçar que as mesmas também procuram ser protagonistas e interlocutoras privilegiadas das sensações quentes que as melodias de No No No transmitem com argúcia e intensidade. O abraço fraterno que a viola e o contrabaixo dão na introdução de As Needed e, pouco depois, ainda nesse instrumental, a postura planante do violino em redor do piano e da bateria e o efeito robusto mas charmoso que conduz Perth e Pachecosão dois exemplos que nos oferecem o enorme consolo que é estarmos certos que os Beirut permanecem nutridos com a melhor bagagem que a pop lhes pode oferecer na hora de compor, sem nunca perderem o norte nem a capacidade de nos emocionar mesmo que o arsenal instrumental seja diverso e potencialmente antagónico e difícil de articular.

Ao quarto tomo da carreira os Beirut mantêm ileso o seu charme inconfundível e renovam-se guiados por uma mente fortemente criativa, única no modo como mescla o brilho literário que cria, com a destreza melódica e a agilidade estilística dos arranjos que inventa. No No No reforça a mestria genética deste projeto único e delicioso na hora de sobrepor não só diferentes camadas de instrumentos e arranjos, mas também variações rítmicas e, consequentemente, sentimentais, que muitas das suas composições exalam, desta vez com uma justificada euforia, que nunca perde a lucidez, sendo essa é uma das principais ideias que este disco invulgar, fortemente contemporâneo e intenso nos permite disfrutar. Espero que aprecies a sugestão...

Beirut - No No No

01. Gibraltar
02. No No No
03. At Once
04. August Holland
05. As Needed
06. Perth
07. Pacheco
08. Fener
09. So Allowed

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publicado por stipe07 às 21:50

Silversun Pickups – Circadian Rhythm (Last Dance)

Segunda-feira, 14.09.15

Silversun Pickups - Circadian Rhythm (Last Dance)

Os californianos Silversun Pickups de Brian Aubert, Nikki Monninger, Christopher Guanlao e Joe Lester estão de regresso aos discos com Better Nature, um trabalho que irá ver a luz do dia no final deste mês de setembro, através da New Machine Records, a própria editora da banda.

Nightlight, o primeiro avanço divulgado desse álbum, era um tema onde o habitual shoegaze dos Silversun Pickups estava dominado por uma guitarra com efeitos que criavam uma sonoridade vigorosa e visceral particularmente épica. Agora chegou a vez de conhecermos Circadian Rhythm (Last Dance), uma canção com uma toada mais pop, onde não falta a predominância das cordas eletrificadas, mas com os teclados e a própria bateria, com as suas variações de ritmo, cadência e andamento, a contribuirem decisivamente para o cariz contemplativo e contemporâneo da mesma. Confere...

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publicado por stipe07 às 12:48

The Mynabirds - Lovers Know

Domingo, 13.09.15

Os The Mynabirds são um coletivo indie pop encabeçado pela cantora e compositora Laura Burhenn. Depois de What We Lose in the Fire We Gain in the Flood (2010) e Generals, (2012),  estão de regresso com Lovers Know, o terceiro disco da carreira da banda, lançado no início de agosto através da Saddle Creek Records. Gravado em Los Angeles, Joshua Tree, Nashville e Auckland, na Nova Zelândia, Lovers Know foi produzido por Bradley Hanan Carter e contém uma variada paleta de sons, replicados por sintetizadores, guitarras elétricas, uma percussão eminentemente sintética e uma voz que encaixa claramente numa sonoridade que bebe no indie rock do final do século passado e se mistura com alguns dos tiques fundamentais do R&B e até do hip-hop.

Disco claramente confessional, com uma componente autobiográfica quase óbvia e declarada, com a autora a afirmar logo em All My Heart que não se arrepende de nada daquilo que o seu coração viveu no passado, mesmo que não tenha corrido bem, Lovers Know contém uma forte atmosfera sintética, que é agora o grande ponto de partida da sua música, mas conjugada com uma orgânica sentimental e emotiva que guiou o processo de produção musical deste trabalho. E como costuma suceder nos discos dos The Mynabirds, a voz é, mais uma vez, um dos aspetos que mais sobressai. A produção está melhor do que nunca, com Laura a aperfeiçoar tudo o que já havia mostrado anteriormente, também na componente lírica e sem violar a essência de quem adora afogar-se em metáforas sobre o amor, a saudade, a dor e a mudança, no fundo tudo aquilo que tantas vezes nos provoca angústia e que precisa de ser musicalmente desabafado através de uma sonoridade simultaneamente frágil e sensível, mas também segura e equilibrada.

Assim, estamos na presença de um álbum que na profundidade épica de canções como Semantics sustenta um catálogo sonoro envolvente, climático e tocado pela melancolia, mas que não descura a visceralidade típica do indie rock mais portentoso. Mesmo a delicadeza de Orion e Omaha atestam esse vínculo forte com um ambiente sedutor, particularmente feminino e intenso, mas sem colocar de lado a presença de uma distorção ou um detalhe mais rugoso.

Profundo e expansivo, como se exige a um trabalho com a tal faceta confessional acima referida, em Lovers Know é audível a procura de uma sonoridade intimista e reservada, que constitui um verdadeiro passo em frente no aumento dos índices qualitativos do catálogo dos The Mynabirds. As palmas e o falsete de Last Time, tema assente na primazia da sintetização e que também impressiona pelo uso de alguns arranjos inéditos, é um acrescento claro a esse cardápio, até pelo inedetismo do seu arquétipo, olhando para outras composições do grupo. E Velveteen, por exemplo, é conduzida por uma batida hipnótica envolvente e um piano insinuante, mas os arranjos vocais e de cordas que flutuam pela canção, dão ao tema uma cândura que transborda fragilidade em todas as notas, mas também nas sílabas e nos versos. Já o single Wildfire, com uma toada mais rock, com as guitarras a serem acompanhadas por uma melodia sintetizada vintage e um baixo cheio de efeitos, são outras manifestações audíveis e concretas deste jogo dual em que o disco encarreira, à medida que o alinhamento escorre pelos nossos ouvidos e uma mistura de força e fragilidade, nas vozes, na letra e na instrumentação, se equilibra de forma vincada e segura.

Tesouro escondido, rico, belo e que merece ser mais incensado e divulgado, Lovers Know é mais um olhar contemporâneo sobre uma sonoridade claramente vintage, sem rodeios, medos ou concessões, com um espírito aberto e criativo. Os The Mynabirds são um nome a ter em conta no universo musical onde se inserem e estão no ponto e prontos a contrariar quem acha que já não há bandas à moda antiga e a fazer música de qualidade. Espero que aprecies a sugestão...

The Mynabirds - Lovers Know

01. All My Heart
02. Believer
03. Semantics
04. Say Something
05. Orion
06. Velveteen
07. Shake Your Head Yes
08. Wildfire
09. Omaha
10. One Foot
11. Hanged Man
12. Last Time

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publicado por stipe07 às 15:06

Widowspeak - All Yours

Sexta-feira, 11.09.15

Molly Hamilton & Robert Earl Thomas são os Widowspeak, dois músicos com raízes em Tacoma e Chicago, mas atualmente sedeados em Brooklyn, Nova Iorque. Depois de vários singles lançados no início da presente década e disponíveis no bandcamp da banda e do disco homónimo de estreia, editado em 2011, chegou, em 2013, Almanac, sendo o sucessor desse disco All Yours, um trabalho que viu a luz do dia a quatro de setembro através da Captured Tracks.

Quando iniciaram carreira os Widowspeak andavam algures entre a pop de finais dos anos oitenta e não restam dúvidas que é nas construções musicais lançadas há cerca de três décadas que se inspiram, mas sem deixarem de lado sonoridades mais contemporâneas e renovadas. All Yours, o novo registo discográfico da duplaé mais um avanço porque, apesar de ainda próximos das mesmas experiências consolidadas nos últimos anos, deixaram de lado as massas elétricas de distorção para viajar no tempo, interagir com maior acerto com a folk e acomodar de forma mais inteligente a tal pop de finais dos anos oitenta, com detalhes sonoros que nos remetem a décadas anteriores. No fundo, sem descurarem a bitola que os orienta, tornaram-se mais abrangentes.

A dream pop e os acertos típicos do rock alternativo de cariz mais urbano ditam as regras em All Yours, tema homónimo deste novo disco dos Widowspeak e canção com um forte cariz bucólico. A presença das guitarras, logo desde o início, ajuda a canção a assumir uma representação curiosa e bem estruturada de tudo o que marca o atual momento desta dupla nova iorquina; Enquanto a voz de Hamilton, bastante orgânica, representa a busca do campestre, as cordas tocadas por Thomas fazem a ponte com o passado da dupla e a verdade é que essa canção acaba por ter uma importância fulcral para a compreensão de um disco que, logo a seguir, no auge contemplativo de Narrows, convida a nossa mente e o nosso espírito a se deixarem envolver por uma proposta estética assente num clima abstrato e meditativo, presente em praticamente todo o trabalho, com um impacto verdadeiramente colossal e marcante.

A dupla confessou recentemente que depois de nos dois trabalhos anteriroes se terem preocupado demasiado com o que os outros poderiam pensar da sua escrita, resolveram agora deixarem-se levar pelo instinto, tendo, de certa forma, reaprendido a compor. De facto, não faltam neste álbum belíssimas letras entrelaçadas com deliciosos acordes, em melodias minuciosamente construídas com diversas camadas de instrumentos, mas onde a guitarra de Robert dita as principais regras, com as cordas a deixarem-se envolver numa melancolia épica algo inocente, mas com uma tonalidade muito vincada e que sopra na nossa mente de modo a fazer o nosso espírito facilmente levitar, algo que provoca um cocktail delicioso de boas sensações. Em canções como Dead Love (So Still), ou Cosmically Aligned, só para citar dois exemplos opostos mas que entroncam numa mesma filosofia, fica claro que a pop experimental dos Widowspeak está cada vez mais elaborada e charmosa, com o fuzz de guitarra na primeira, ou os devaneios do mesmo instrumento na segunda, a marcarem o traço melódico dos temas e tornando-se detalhes marcantes de uma notória evolução, onde o eletrificado assume dimensões díspares sem defraudar, quer numa que noutra canção, o ambiente contemplativo e emotivo fortemente consistente. O próprio efeito desse instrumento em Girls, juntamente com a harmónica e a bateria, além de consolidar essa impressão concetual, sendo balizada pela doçura da voz de Molly, mostra o modo exímio como a dupla consegue que as texturas e as atmosferas que criam, transitem, muitas vezes, entre a euforia e o sossego, de modo quase sempre impercetível, mas que inquieta todos os poros do nosso lado mais sentimental e espiritual.

Com uma sobriedade e um polimento que, neste caso, se saúdam, os Widowspeak já não conseguem escapar de uma maior aproximação ao grande público devido ao conteúdo de All Yours, mais acessível do que os trabalhos anteriores. Neste caso concreto, a banda sai airosamente desse risco já que a nova proposta instrumental e lírica que revelam vai de encontro ao movimento atual que resgata de forma renovada as principais marcas e particularidades sonoras de décadas anteriores. Por exemplo, temas como Stoned e My Baby’s Gonna Carry On, representam com beleza e qualidade toda essa transformação e, nesta espécie de recomeço, é audível que este projeto encontrou um plano qualitativo superior. Espero que aprecies a sugestão...

Widowspeak - All Yours

01. All Yours
02. Narrows
03. Dead Love (So Still)
04. Stoned
05. Girls
06. Borrowed World
07. Cosmically Aligned
08. My Baby’s Gonna Carry On
09. Coke Bottle Green
10. Hands

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publicado por stipe07 às 22:28

Love Nor Money - Money

Sexta-feira, 11.09.15

Sedeada em Londres, a etiqueta britânica Lost In The Manor vai regressar aos lançamentos discográficos com Money, mais um single retirado do EP de estreia dos Love Nor Money, uma banda também da capital de Terras de sua Majestade. Money vai ver a luz do dia a vinte e oito deste mês, numa edição em vinil limitada e em formato digital, mas já pode ser escutado por cá, uma canção da autoria de um projeto feminino formado por Bess Cavendish, Anna Tosh e Jayna Cavendish e às quais se junta o produtor Dan Clarke.

Um verdadeiro cocktail digital que mistura batidas com efeitos de guitarra volumosos, Money tem um cariz algo contemplativo e reflexivo, masimpressiona pela grandiosidade, patente nos samples, nos teclados e nos sintetizadores inebriantes, assim como no jogo de vozes que se vai estabelecendo entre as três intérpretes ao longo da canção. Este é mais um bom exemplo de uma banda capaz de ser genuína no modo como manipula o sintético, de modo a dar-lhe a vida e a retirar aquela faceta algo rígida que a eletrónica muitas vezes intui, convertendo tudo aquilo que poderia ser compreendido por uma maioria de ouvintes como meros ruídos em produções volumosas e intencionalmente orientadas para algo épico. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:44

Holy Holy – When The Storms Would Come

Quinta-feira, 10.09.15

A Austrália é o poiso dos Holy Holy, uma dupla formada por Tim Carroll e o guitarrista e compositor Oscar Dawson, dois músicos oriundos de Brisbane e Melbourne, respetivamente e, em tempos, professores de inglês no sudoeste da Ásia. Ambos mudaram-se para a Europa em 2011, com Carroll a fixar-se em Estocolmo, na Suécia e Dawson em Berlim, na Alemanha. Depois, num reencontro de ambos na primeira cidade, resolveram fazer música juntos, tendo sido criadas aí as primeiras demos em conjunto, depois aprimoradas já na Austrália e que deram origem a estes Holy Holy. Em 2014 o baterista Ryan Strathie juntou-se ao projeto assim como o baixista Graham Richie e o convidado especial Matt Redlich, um produtor conceituado com uma fixação única pelos primórdios do rock alternativo do século passado.

Os Holy Holy situam-se então, sonoramente, algures entre Neil Young, Crosby, Stills & Nash, Bruce Springsteen, Pink Floyd e Dire Straits, assim com outros projetos e bandas mais contemporâneoas, como os Midlake, Band Of Horses ou Grizzly Bear e esta miríade de influências está na base de When The Storms Would Come, o novo disco da banda, um conjunto de canções que misturam uma escrita clássica com o indie rock contemporâneo, em dez canções produzidas com um certo instinto, com particular crueza e cheias de melodias sublimes no modo como agregam guitarras poderosas e uma voz imponente com uma percussão densa e ritmada, com uma crueza distinta.

Disco moldado então pelo espírito do rock clássico, When The Storms Come Home inicia com Sentimental and Monday, canção inspirada num diálogo virtual entre Carroll e a sua namorada sueca e que fala daquilo que muitas vezes deixamos para trás quando tomamos opções de vida importantes. Depois, com a guitarra acústica e o piano que conduzem Outside Of The Heart Of It ficamos plenamente convencidos da energia nostálgica e algo vintage deste Holy Holy de olhos e ouvidos afiados e direcionados para aquele período setentista do século passado que hoje, claramente, orienta e está presente em alguns dos melhores trabalhos discográficos que juntam guitarras vibrantes com uma toada psicadélica indisfarçável. Aliás, a incrível mistura de influências que se confere no single You Cannot Call For Love Like A Dog, canção que soa com uma contemporaneidade única, mas que nas suas fundações contém algum do referencial sonoro criado há umas quatro décadas, em especial no que diz respeito ao modo como as guitarras e a bateria ampliam o cariz algo dramático da canção, comprova o modo como estes Holy Holy são exímios em conseguir confundir-nos com um celebração indulgente e inspirada dos melhores sons do passado sem ousar afastar-se do melhor clima indie do rock atual.

Depois de ter contactado inicialmente com estes três temas é que me dediquei, posteriormente, à audição integral do disco e a verdade é que durante a audição do mesmo aquilo que melhor transpareceu foi a leveza onírica das canções e uma clara busca do simples e do prático, assim como a precepção clara de que terá existido uma elevada fluidez no processo de construção melódica e uma inestimável honestidade na escrita e inserção das letras. Quer a crueza da guitarrra de History, a simplicidade pop apenas aparente da rica e intrincada Wanderer, uma canção sobre a beleza que está sempre adjacente a qualquer relação amorosa, o intrincado jogo que se estabelece entre um piano acústico e duas guitarras elétricas em Pretty Strays For Hopeless Lovers e a esponteneidade indisfarçável de The Crowd ampliam e atestam um resultado final que acaba, na minha opinião, por ser bastante assertivo e agradável.

É fácil concluir no final da audição de When The Storms Would Come que passou pelos nossos ouvidos um alinhamento de canções com um fôlego ímpar, tipificado por canções marcantes, que impressionam pela alegria e pelo modo poético, corajoso, denso e sofisticado com que os Holy Holy se deram a conhecer ao mundo logo na  estreia. Espero que aprecies a sugestão...

Holy Holy - When The Storms Would Come

01. Sentimental And Monday
02. Outside Of The Heart Of It
03. A Heroine
04. History
05. If I Were You
06. You Cannot Call For Love Like A Dog
07. Wanderer
08. Holy Gin
09. Pretty Strays For Hopeless Lovers
10. The Crowd

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publicado por stipe07 às 20:53

Grandchildren – Zuni

Quarta-feira, 09.09.15

Oriundos de Filadélfia, os norte americanos Grandchildren trazem na sua bagagem uma já assinalável reputação, principalmente pelo modo como agregam e depois misturam alguns elementos essenciais da folk, da pop e da eletrónica para criar canções animadas, positivas e com uma vibração única. Formados em 2008 por Aleks Martray e tendo já sofrido algumas transformações na constituição da equipa, os Grandchildren têm conseguido revitalizar constantemente as suas propostas sonoras, à custa de uma discografia iniciada em dois mil e dez com Everlasting. O sempre difícil segundo disco, intitulado Golden Age, viu a luz do dia em maio de 2013 e agora, pouco mais de dois anos depois, chegou a vez de ser editado Zuni, mais um compêndio de temas enérgicos e cheios de arranjos intrincados e assertivos.

O ecletismo sonoro destes Grandchildren explica-se, em parte, pelo espírito nómada de Martray, que tendo viajado pela Europa e a América Latina, além do seu próprio país, foi bebendo muita música e assimilando detalhes instrumentais e melódicos que suportam e adornam as composições criadas pelos Grandchildren. Esta jornada sónica definiu imenso o conteúdo dos dois primeiros trabalhos do grupo e mantem-se em Zuni, nove canções que mostram a habilidade enorme que este coletivo possui para criar um balanço poético entre o íntimo e o épico.

A grandiosidade percussiva de Make It, ampliada por alguns efeitos flamejantes curiosos, a complexidade inspiradora e luminosa de Nothing, um tema que nos oferece distorções de guitarra incríveis e algo inéditas, o piscar de olhos à pop sessentista californiana em The War e, de um ângulo algo distinto, o groove tribal de The Answer, canção por onde deambulam alguns isntrumentos de sopro quase sem controle, são exemplos que celebram esta batalha intensa e sedutora entre beleza e escuridão, plasmada no confronto simbiótico entre uma sonoridade geralmente explosiva, majestosa e impulsiva e uma escrita algo sombria que se debruça sobre os sentimentos, muitas vezes algo surreais, que nos invadem a todos em alguns instantes da nossa vida em que parece que fomos colocado de lado pela fortuna.

Inspiração por um lado e desespero por outro, ou então apenas e só um modo mais lúcido e racional que os Grandchildren nos oferecem para analisar a existência humana, Zuni suporta uma exploração exaustiva de narrativas que nos mostram com detalhe o que pode suceder em momentos de dor, por muito inconveniente que a perceção lúcida da realidade às vezes possa ser. A escrita de temas como Things They Buried ou Turn Away está impregnada com este ideário de certo modo desconfortável, mas isso não impede que Zuni esteja repleto de paisagens feitas com ritmos complexos e melodias intrincadas, cobertas por um vasto arsenal instrumental, sintetizadores, guitarras precisas e batidas que moldam melodias cujo clima soturno apela claramente a uma pop que se acomoda num ambiente repleto de luzes coloridas e projeções frenéticas que, curiosamente, servem para ampliar o tom sombrio do álbum. Espero que aprecies a sugestão...

Grandchildren - Zuni

01. Nothing
02. The War
03. Things They Buried
04. Make It
05. Walking Dead
06. The Answer
07. Turn Away
08. The Roads
09. You Know It All

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publicado por stipe07 às 21:27







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