man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Cemeteries – Barrow
Lançado no passado dia vinte e oito de julho pelo consórcio Track and Field / Snowbeast Records, Barrow é o segundo disco do cardápio sonoro de Cemeteries, um projeto liderado por Kyle J. Reigle. Falo-vos de um músico norte americano natural de Buffalo, nos arredores de Nova Iorque, mas a viver atualmente em Portland e ao qual se juntam, nas atuações ao vivo, Jonathan Ioviero e Kate Davis.
Barrow é reflexo não só da referida mudança recente na vida pessoal do artista, a passagem de uma grande metrópole da costa leste para as montanhas do Oregon, mas também um reviver de memórias antigas relacionadas com verões felizes que Kyle passou junto a um lago próximo do local onde residia à época, mas também uma forma que encontrou de demonstrar o seu fascínio por The Fog, um clássico do cinema da autoria de John Carpenter.
O mar sempre foi sinónimo de imensidão, poder, vida e grandiosidade e começar e terminar um disco com o conteúdo de Borrow com o som do contacto de um imenso oceano com a costa é uma forma perfeita de balizar nove canções ousadas no modo como conjugam texturas claramente etéreas com belíssimas letras entrelaçadas com deliciosos acordes, uma receita que resultou em doces melodias minuciosamente construídas com diversas camadas de instrumentos.
O piano parece ser o aliado de eleição de Cemeteries quando se trata de criar a base melódica das suas canções e o single Luna (Moon Of Claiming) é uma demonstração clara do modo assertivo como Kyle usa as teclas para emocionar. Mas já antes, em Nightjar e pouco depois, em Cicada Howl, quando um apenas aparente minimalismo tornou-se na principal arma de arremesso do músico nessas duas canções, na demanda a que se propôs de nos obrigar a acusar o toque do seu ambiente sonoro no recanto mais escondido do nosso peito, foi óbvio que o simples toque na tecla certa e no instante oportuno, conjugado com arranjos felizes na forma como fazem vibrar o coração mais empedrenido, tornou-se suficiente para nos oferecer uma sobriedade sentimental que acaba por servir de contraponto à sonoridade algo sombria e, em alguns instantes, tipicamente lo-fi que carateriza o conteudo de Barrow. Esta evidência desarma completamente Cemeteries e além de embrulhar o seu mentor numa intensa aúrea vincadamente orgânica e, por isso, fortemente sensual, despe-o de todo aquele mistério, tantas vezes artificial, que o poderia envolver, para mostrar, com ousadia, a verdadeira personalidade do agregado sentimental que o carateriza e que justifica, plenamente, a obtenção plena do referencial temático acima descrito que caraterizou a conceção deste seu segundo trabalho.
Na verdade, algo que impressiona claramente em Barrow é o modo como as canções seguem a sua dinâmica natural e mesmo assumindo aquela faceta algo negra e obscura que carateriza um ambiente sonoro fortemente etéreo e melancólico, não deixam de, em alguns instantes, de se assumir como defensoras de um álbum implicitamente rock, onde até não faltam alguns instantes esculpidos com cordas ligas à eletricidade. Mas, como se percebe, por exemplo, em I Will Run From You, apesar da distorção das cordas, o que domina claramente neste alinhamento são canções cheias de uma fragilidade incrivelmente sedutora e alicerçadas numa certa timidez que não é mais do que um assomo de elegância contida, uma exibição consciente de uma sapiência melódica.
Seja como for, há também que aludir à importância da percussão como elemento igualmente preponderante na música de Cemeteries, principalmente quando se alia às cordas para ditar as regras no andamento de uma canção. Se a grandiosidade de Sodus depende quase única e exclusivamente das mudanças rítmicas da bateria e do encadeamento feliz que a guitarra traça com as baquetas e os tambores, já as batidas sintéticas de Empty Camps acomodam uma espécie de euforia apoteótica, que não se vê, mas que ecoa ao longo da canção, como um manto que a cobre, mesmo que de forma quase inaudível, numa espécie de silêncio que, ao contrário da maior parte dos silêncios, é um silêncio que se escuta e que sem esse pulsar rítmico não existiria.
Barrow é um notório marco de experimentação, terra firme onde nos podemos acomodar e contemplar um universo pop feito com uma sonoridade tão preciosa, bela, silenciosa e estranha como a vastidão imensa e simultaneamente diversificada das paisagens que Reigle pretendeu recriar e que submergem à boleia de uma fórmula inventada para temporizar, adicionar e remover diferentes tipos de sons e, como se as canções fossem um puzzle, construir, a partir de uma aparente amálgama de vários detalhes sonoros, peças sonoras sólidas particularmente ousadas e inebriantes. Espero que aprecies a sugestão...
01. Procession
02. Nightjar
03. Luna (Moon Of Claiming)
04. Can You Hear Them Sing?
05. Cicada Howl
06. I Will Run From You
07. Empty Camps
08. Sodus
09. Our False Fire On Shore