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Oberhofer - Chronovision

Segunda-feira, 31.08.15

Depois de no início de 2012 ter revelado Time Capsules e um ano depois o EP Notalgia, Brad Oberhofer, um músico, compositor e multi-instrumentista de vinte e dois anos, natural de Tacoma e agora residente em Brooklin e lider dos Oberhofer, está de regresso em 2015 com Chronovision, um disco que viu a luz do dia a vinte e um de agosto, à boleia da Glassnote Records. Brad é um músico extremamente criativo e já com um assinalável cardápio sonoro na bagagem, juntando-se a ele nesta aventura Dylan Treleven, Ben Weatherman Roth e Pete Sustarsic.

Os Oberhofer impressionam, logo à partida, pelo modo como se mostram confortáveis e musicalmente assertivos dentro do género sonoro que escolheram e que não descurando as guitarras, também coloca alguma sintetização e o piano na linha da frente do processo de composição melódica, sendo a herança das últimas décadas do século passado a grande força motriz do cardápio sonoro que já criaram e também do alinhamento de Chronovision.

Memory Remains, o primeiro avanço divulgado de Chronovision, plasma o charme efervescente do líder, Brad Oberhofer, cuja voz impulsiona até aos píncaros da luminosidade uma canção plena de guitarras cheias de distorção e reverb e uma percurssão bastante vincada. Excelente porta de entrada para o álbum, esta canção é acompanhada nessa ode ao lado colorido e animado da existência humana, pela surf pop de Together Never, outro tema onde a voz adoçicada de Oberhofer impôe-se com extrema naturalidade, enquanto dissera acerca da morte de um amigo e de como estas e outras inevitabilidades não devem desviar o nosso foco da ânsia de ser-se feliz.

É realmente curioso constatar-se que sendo Chronovision um trabalho tão animado e resplandescente, liricamente se debruce sobre alguns aspetos menos bonitos da vida. Isso sucede porque este disco funciona para o autor como uma espécie de terapia, um instrumento de ajuste e de orientação para aquilo que ralmente improrta. Esta é a grande mensagem que a sonoridade vintage de Me 4 Me, ou o fuzz pop das emotivas Sun Halo e Someone Take Me Home, além dos dois temas citados anteriormente, nos oferece, convidando-nos a perceber que o otimismo deve reinar sempre e que mesmo nos instantes mais sombrios há sempre uma saída. Esta concepção sonora já era, aliás, a grande pedra de toque de Time Capsules II, o antecessor, um disco muito luminoso e assente em guitarras estonteantes e pianos e que falava de sentimentos simples, expressos com paixão e sinceridade. Apesar de muitas das canções falarem do lado menos bom do amor e de relações falhadas, eram cantadas com uma voz que acabava por lhes emprestar alegria e boa disposição.

Obra de catarse, assente no charme efervescente do líder que impulsiona o disco com uma ingenuidade cativante, Chronovision instrumentalmente sabe ao frenesim da exuberância juvenil, mas também mostra que Oberhofer se rodeou de musicos bastante treinados e que aperfeiçoaram muito as suas habilidades musicais, num alinhamento cheio de potenciais sucessos já suficientemente maduros para não serem levados demasiado a sério. Confuso? Espero que aprecies a sugestão...

1. Chronovision
2. Nevena
3. Together/ Never
4. Memory Remains
5. Someone Take Me Home
6. Sea of Dreams
7. Ballroom Floor
8. White Horse, Black River
9. Me 4 Me
10. Sun Halo
11. What You Know
12. Listen To Everyone
13. Earplugs

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publicado por stipe07 às 20:07

The Mowgli's - Kids in Love

Domingo, 30.08.15

Sedeado em Los Angeles, o coletivo norte americano The Mowgli's segue o trilho da herança deixada por nomes como os Byrds, os Beach Boys, ou os mais contemporâneos Grouplove e Edward Shape & The Magnetic Zeros, através de uma indie folk vibrante e luminosa. Formados em 2010 pelo cantor e compositor Colin Dieden, os The Mowgli's são um grupo extenso, formado atualmente por David Applebaum, Spencer Trent, Matt Di Panni, Josh Hogan, Andy Warren e Katie Earl, além de Dieden.

A banda estreou-se em 2012 nos discos com Sound the Drum, juntamente com o EP Love's Not Dead. Regressaram rapidamente aos lançamentos um ano depois com Waiting for the Dawn e agora, em 2015, estão de regresso com Kids in Love, o terceiro álbum, produzido por Captain Cuts e Matt Radosevich e que contém a típica vibração veraneante e iluminada de uma Califórnia cujo sol invulgar é capaz de inspirar, neste caso, um corpo de canções contagiante e com um elevado fulgor, naturalmente pop.

Logo no início do disco, a festiva You're Not In Love e o encorpado e grandioso single I'm Good colocam-nos de chinela no pé, no meio de um areal animado e cheio de gente bonita e bastante animada. O sunset está na moda, é simples imaginar o piano de Whatever Forever enterrado numa duna e estes The Mowgli's parecem inspirar-se nessa ideário para criar canções que possam servir para deixar uma turba imensa de adolescente em pleno êxtase, enquanto o sol desce no pscífico ou noutro oceano qalquer, descansado porque o amanhã não deixará de ser, na mesma latitude, igualmente lascivo, relaxado e contagiante.

Kids In Love é um catalizador energético sugerido por um coletivo que se conhece desde os tempos de escola e com um sentido de camaradagem contagiante. E isso reflete-se no modo harmonioso como estes músicos selecionam os efeitos da guitarra e os encadeiam com constantes variações percussivas e uma voz sempre nos píncaros da emoção, debitando frases simples, mas com uma certa profundidade, sobre os típicos problemas da adolescência e todas as dúvidas que a entrada na vida adulta sempre coloca nos dias de hoje. Mesmo quando em canções como Through The Dark, os The Mowgli's mostram-se um pouco mais fechados no seu casulo e instrumentalmente menos elétricos, não deixam de exalar um particular entusiasmo e uma energia salutar.

Disco alegre, colorido e intenso, Kids In Love merece referência por não ser, claramente, um disco com propósitos grandiosos, mas que consegue mostrar a união de um grupo de amigos que juntos fazem, com elevada bitola qualitativa, a musica que mais gostam e que os faz sentir verdadeiramente felizes. Não é esse um dos maiores propósitos da música? Espero que aprecies a sugestão...

Album cover: The Mowgli’s – Kids In Love

01. You’re Not Alone
02. I’m Good
03. Bad Dream
04. What’s Going On
05. Through The Dark
06. Whatever Forever
07. Make It Right
08. Love Me Anyway
09. Shake Me Up
10. Home To You
11. Kids In Love
12. Sunlight

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publicado por stipe07 às 20:22

Beach House - Depression Cherry

Sábado, 29.08.15

Ontem chegou às lojas, através da Sub Pop, Depression Cherry, o quinto álbum da dupla Beach House, um projeto sedeado em Baltimore, no Maryland, formado pela francesa Victoria Legrand e pelo norte americano Alex Scally e que anteriormente havia lançado Beach House (2006), Devotion (2008), Teen Dream (2010) e Bloom (2012). Gravado em Bogalusa, no Louisiana, entre catorze de novembro e quinze de janeiro últimos, um período de tempo em que ocorreram as datas que marcam as partidas de John Lennon e Roy Orbison, dois nomes consensuais e influentes no seio da dupla, Depression Cherry assenta numa sonoridade simples e nebulosa, bastante melódica e etérea, plena de sintetizadores assertivos e ruidosos e guitarras com efeitos recheados de eco, que mantêm intacta a aura melancólica e mágica de um projeto que vive em redor da voz doce de Victoria e da mestria instrumental de Alex e se aproxima cada vez mais de algumas referências óbvias de finais do século passado.

Depois do sucesso de Teen Dream e Bloom, seria de esperar que os Beach House mantivessem a progressão sonora e a evolução do contexto comercial que vinham a firmar, optando por um som amplo e ruidoso. Mas aquilo que nos oferece Depression Cherry é uma espécie de retorno às origens, à boleia de nove canções que exalam o contínuo processo de transformação que a dupla procura sempre mostrar, com a marca do indie pop muito presente, mas com uma dose de experimentalismo superior aos dois antecessores citados.

O sintetizador onírico que introduz Levitation e o falsete doce de Victoria que o acompanha, conseguem o efeito pretendido e que o título deste primeiro tema de Depression Cherry encarna. Se realmente pretendemos saborear condignamente este álbum, só nos resta deixarmos a nossa mente e o nosso espírito irem à boleia desta proposta estética assente num clima abstrato e meditativo, presente em praticamente todo o trabalho, com um impacto verdadeiramente colossal e marcante.

Esta pop experimental dos Beach House está cada vez mais elaborada e charmosa. A introdução do fuzz de guitarra nesta canção inicial, ou os devaneios do teclado em Space Song, que marcam o traço melódico do tema, são apenas dois aspetos marcantes desta evolução e todos os detalhes mais eletrificados que nos vão surgindo, nesta e noutras canções, nunca defraudam o ambiente contemplativo fortemente consistente do trabalho. O efeito desse instrumento no single Sparks e, paralelamente, o aparecimento da bateria, além de consolidar essa impressão concetual, sendo balizada pelos sintetizadores, mostra o modo exímio como a dupla consegue que as texturas e as atmosferas que criam, transitem, muitas vezes, entre a euforia e o sossego, de modo quase sempre impercetível, mas que inquieta todos os poros do nosso lado mais sentimental e espiritual.

Há nos Beach House uma certa timidez que não é mais do que um assomo de elegância contida e uma exibição consciente da sua sapiência melódica. Os floreados percussivos do baixo e da bateria de 10:37 e os acordes iniciais épicos e deslumbrantes de PPP são também perfeitos para clarificar essa impressão, não faltando belíssimas letras entrelaçadas com deliciosos acordes, nestas melodias minuciosamente construídas com diversas camadas de instrumentos. E a estranha escuridão das melodias interestelares e a soul da secção rítmica de Wildflower, um tema cantado em jeito de lamúria ou desabafo, encarnam um notório marco de libertação e de experimentação, numa canção onde não terá havido um anseio por cumprir um caderno de encargos alheio, mas que nos agarra pelos colarinhos sem dó nem piedade e que nos suga para um universo pop feito com uma sonoridade tão preciosa, bela, silenciosa e fria, como a paisagem que rodeou os Beach House durante o período de gestação desta e de todas as outras composições de Depression Cherry. Já agora, convém enfatizar que a escrita carrega neste trabalho uma sobriedade sentimental que acaba por servir de contraponto à sonoridade algo sombria e, em alguns instantes, tipicamente lo fi da sonoridade, mas que, na minha modesta opinião, envolve os Beach House numa intensa aúrea sexual, despindo-os de todo aquele mistério, tantas vezes artificial, que os poderia envolver, para mostrar, com ousadia, a verdadeira personalidade da dupla.

Depression Cherry é tudo menos um disco igual a tantos outros ou um compêndio sonoro comum. Nele viajamos bastante acima do solo que pisamos, numa pop com traços de shoegaze e embrulhada numa melancolia épica algo inocente, mas com uma tonalidade muito vincada e que sopra na nossa mente de modo a envolvê-la com uma elevada toada emotiva e delicada, uma receita que faz o nosso espírito facilmente levitar e que provoca um cocktail delicioso de boas sensações.

Enquanto muitas bandas procuram a inovação na adição de uma vasta miríade de influências e tiques sonoros, que muitas vezes os confundem e dispersam enquanto calcorreiam um caminho que ainda não sabem muito bem para onde os leva, os Beach House, ao quinto trabalho, parecem ter balizado com notável exatidão o farol que querem para o seu percurso musical, iluminado por este excelente disco que atesta a maturidade e a capacidade que a dupla possui de replicar a sua sonoridade típica e genuína sem colocar em causa um alto nível de excelência, conseguindo também mutar a sua música, disco após disco, e adaptá-la a um público ávido de novidades, que procura constantemente algo de novo e refrescante e que alimente o seu gosto pela música alternativa. Espero que aprecies a sugestão...

Beach House - Depression Cherry

01. Levitation
02. Sparks
03. Space Song
04. Beyond Love
05. 10:37
06. PPP
07. Wildflower
08. Bluebird

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publicado por stipe07 às 14:08

Foals - What Went Down

Quinta-feira, 27.08.15

Gravado em França e produzido pelo excelente James Ford, músico dos Simian Mobile Disco e uma mente inspirada que já colocou as mãos em obras primas de Jessie Were, Florence + The Machine ou os Arctic Monkeys, What Went Down é o quarto disco de estúdio dos britânicos Foals, um disco que vai ver a luz do dia amanhã, vinte e oito de agosto, através da Transgressive Records e que, de acordo com Yannis Philippakis, o líder da banda, é o trabalho mais pesado que o grupo já gravou.

Os Foals têm sido uma banda em constante mutação sonora. Da transposição das guitarras experimentais de Antidotes para o ambiente claustrofóbico de Total Life Forever, esse sempre difícil segundo disco, até ao clima mais animado e até dançável de Holy Fire, este quinteto natural de Oxford nunca se sentiu confortável com o ideal de continuidade e preferiu, disco após disco, romper de algum modo com as propostas anteriores e saciar uma vontade constante de inovação, transformação e desenvolvimento do referencial sonoro que carateriza a banda. What Went Down é um novo passo nesta caminhada triunfante e rumo a um território mais negro, sombrio e encorpado, com pistas que a banda já tinha deixado em alguns temas de discos anteriores, mas que é agora assumido e torna-se transversal ao alinhamento das dez canções de What Went Down, a começar, logo no início, com o tema homónimo, uma das canções mais cruas e selvagens com que os Foals nos brindaram na sua carreira e que dará ainda mais potência aos já lendários concertos da banda.

O papel de James Ford terá sido também decisivo para esta opção, quanto a mim feliz e que assenta em guitarras eloquentes e que aceleram a fundo. Elas não reprimem nenhum impulso na hora de puxar pelo red line, mas também sabem deliciar-nos com aqueles efeitos de inspiração oriental que ao longo do tempo foram tipificando a identidade sonora dos Foals. Mountain At My Gates e a exótica e quente Birch Tree são duas canções que contam com efeitos que justificam tal percepção, com a primeira a ter ainda o bónus de contar com o elevado protagonismo do baixo na arquitetura melódica que a sustenta.

Chega-se a Give It All e a cândura deste tema cheio de efeitos borbulhantes e coloridos, torna-se no bálsamo retemperador perfeito para recuperarmos o fôlego de um início tão intenso, mas What Went Down volta a rugir nos nossos ouvidos, deixando-nos novamente à mercê do fogo incendiário que alimenta o disco, com o tribalismo percussivo e a rugosidade instrumental de Albatross, a epicidade frenética, crua e impulsiva de Snake Oil e a sensualidade lasciva de Night Swimmers, a melhor sequência do álbum. Estes temas agitam ainda mais a nossa mente e forçam-nos a um abanar de ancas intuitivo e capaz de nos libertar de qualquer amarra ou constrangimento que ainda nos domine.

Até ao ocaso de What Went Down, o sentimentalismo penetrante e profundo de London Thunder, a delicadeza cativante de Lonely Hunter e mais um exemplo da tal intensidade visceral e progressiva, plasmado em A Knife In The Ocean, cimentam este compêndio aventureiro, mas também comercial, na prateleira daqueles trabalhos que são de escuta essencial para se perceber as novas e mais inspiradas tendências do indie rock contemporâneo, além de ser, claramente, um daqueles discos que exige várias e ponderadas audições, porque cada um dos seus temas esconde texturas, vozes, batidas e mínimas frequências que só são percetíveis seguindo essa premissa. Espero que aprecies a sugestão...

Foals - What Went Down

01. What Went Down
02. Mountain At My Gates
03. Birch Tree
04. Give It All
05. Albatross
06. Snake Oil
07. Night Swimmers
08. London Thunder
09. Lonely Hunter
10. A Knife In The Ocean

 

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publicado por stipe07 às 21:28

Vows – Soon Enough Love

Quarta-feira, 26.08.15

O indie rock psicadélico está na ordem do dia e não há volta a dar. Rebocado pelo sucesso de nomes como os The Flaming Lips, The Blank Tapes, Tame Impala, POND, MGMT e tantos outros, é um espetro sonoro que floresce da Austrália ao sol da Califórnia e agora também em Burlington, nos arredores de Nova Jersey, à boleia dos Vows, um trio formado por Jeff Pupa, James Hencken e Sabeel Azam e que editou a quinze de junho, com a ajuda inestimável da Section Sign RecordsSoon Enough Love, o terceiro álbum da carreira deste projeto.

Tal como sucedeu com os dois trabalhos atecessores, Winter’s Grave em 2011 e Stranger Things em 2013, Soon Enough Love foi gravado e produzido num ambiente eminentemente caseiro, desta vez numa sala de estar em Vermont e numa cave de Nova Jersey. Sem pressões editoriais e uma data pré-estabelecida para ver a luz do dia, o disco foi sendo incubado através da troca de ficheiros entre os músicos, com os temas a florescerem e a ganharem vida própria num ambiente tipicamente lo fi, sem hesitações, de modo espontâneo e sem artifícios exteriores aos Vows.

Envolvente, quente, épico, mas também intimista e acolhedor, Soon Enough Love é um tratado de pop psicadélica, pleno de fuzz e reverb e que redefine o som dos autores para um patamar superior de lisergia. Com a participação especial de Sabeel Azam na guitarra elétrica em alguns temas, o trabalho flui de modo homogéneo e no universo próprio da banda e da sonoridade em que se insere, rebocado pela mestria vocal de Pupa e pela multiplicidade de efeitos que cria com a guitarra elétrica, assim como o groove que oferece ao baixo e pela habilidade inata de Hencken à frente dos sintetizadores e da percussão.

Temas como a estratosférica e exuberante Day To Day, canção que ressuscita alguns detalhes que elevaram em tempos os The Beach boys a um grau superior de devoção, o charme de Candy, o festim eletrónico em que se desmultiplica Futuis Eam e que encarna uma faceta mais pop em Come To Your Senses, ou o cariz sedutor de Letter From The Sun, mostram-nos uns Vows a procurar recriar uma luta constante entre guitarra e sintetizador, sendo quase indefinivel o grau de primazia de um dos dois componentes quer na componente melódica, quer na arquitetura não só destas, mas também de outras composições do disco. Na verdade, estamos na presença de uma verdadeira trip sonora tumultuosa, mas também aditiva, com as canções a tentarem, a todo o custo, sair da espécie de colete de forças lo fi em que se encontram enclausuradas, em busca de um sol que, neste caso, poderá ser nefasto, já que se as iluminar em demasiado irá retirar-lhes a crueza e o reverb que molda a personalidade de um alinhamento que tem nesta penumbra constante o seu atributo maior, um alinhamento feito de canções cheias de sons poderosos e tortuosos, sintetizadores flutuantes e vozes abafadas.

Para amadurecer não é preciso parecer demasiado complicado e criar sons e melodias intrincadas. Consegui-lo é ser agraciado pelo dom de se fazer a música que se quer e ser-se ouvido com particular devoção. Para que isso suceda a fórmula correcta é feita com uma quase pueril simplicidade, a melhor receita para demonstrar essa formatação adulta, assim como a capacidade de reinventar, reformular ou simplesmente replicar o que de melhor têm alguns projetos bem sucedidos na área sonora em que uma banda se insere. Assim, Soon Enough Love é mais um trabalho que faz uma espécie de simbiose entre a pop e o experimentalismo, temperado com variadas referências típicas do shoegaze e da psicadelia e carregadas de ácidos. No fundo, é uma espécie de caldeirão sonoro feito por mais uma dupla que sabe como recortar, picotar e colar o que de melhor vai sendo sugerido hoje no chamado electropsicadelismo. Espero que aprecies a sugestão...

Vows - Soon Enough Love

01. Futuis Eam
02. Day To Day
03. Candy
04. Sound Island
05. The Snake
06. Shrinking Violet
07, Letter From The Sun
08. Come To Your Senses
09. Kemps Ridley
10. Nothing to Prove

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publicado por stipe07 às 21:41

Gardens & Villa – Music For Dogs

Terça-feira, 25.08.15

Depois de Dunes, disco lançado no início de 2014, os Gardens & Villa, um quarteto norte americano de Santa Bárbara, na Califórnia, formado por Chris Lynch, Adam Rasmussen, Shane McKillop e Dustin Ineman, estão de regresso aos lançamentos discográficos com Music For Dogs, um álbum que foi produzido por Jacob Portrait, contou com as participações especiais de Dusty Ineman (bateria) e Shane McKillop (baixo) e viu a luz do dia há poucos dias através da insuspeita Secretly Canadian.

Oriundos de uma Santa Barbara que funciona um pouco como uma espécie de subúrbio rico da Los Angeles cosmopolita, os Gardens & Villa destacaram-se logo em 2011 quando lançaram o disco de estreia, um homónimo que foi muito bem aceite pela crítica. Agora já na grande metrópole, Music for Dogs, um trabalho gravado em Frogtown, perto de Los Angeles, num local que a banda batizou de Space Command, é um novo passo em frente na carreira de um grupo que confessa sentir-se influenciado pela anos setenta do século passado, com Bowie e Eno a serem balizas decisivas no momento de decidir a etética sonora que orienta o cardápio sonoro.

Lynch e Rasmussen são o núcleo duro dos Gardens & Villa e têm uma intenção artística que vai muito além da música, já que consideram-na como uma manifestação de vida essencial para se perceber as variadas nuances que constroem os alicerces do nosso quotidiano, que ultrapassa tantas vezes a intrincada relaçºao entre isntrumentos pautas e notas musciais. Na verdade, algures entre o andrógeno e o poético, Chris Lynch usa a sua voz para dar cor a sequências melódicas, neste caso em onze temas onde as guitarras de Rasmussen são o fio condutor de praticamente todas as músicas, havendo também outros instrumentos que remodelam musicalmente a banda, num indie pop avant garde onde música, cultura e prazer se debruçam acerca dos avanços teconlógicos dos dias de hoje, colhendo a energia criativa que as mesmas nos oferecem.

O reverb da guitarra, a percussão frenética e o piano descontrolado de Maximize Results, uma canção que parece flutuar entre a estrutura de composição típica dos Foals e a pop madura dos Phoenix e os sintetizadores, metais, vozes em coro e a bateria intensa e crua da surf pop sessentista de Fixations, são detalhes e particularidades musicais que ampliam consideravelmente os horizontes dos Gardens & Villa e nos mostram, logo no início, que estamos na presença de um álbum pop bem sucedido, um tratado com um propósito comercial, algo também patente no blues do single Everybody.

Até ao ocaso do trabalho, o experimentalismo sintético, sentimental e confessional de Alone In The City, a alegoria eletropop de Express, que pisca o olho ao discosound dos anos oitenta e Jubilee, são apenas mais três exemplos que comprovam que Music For Dogs é um disco melódico e acessível a vários públicos, que busca uma abrangência, mas que não resvala para um universo de banalidades sonoras que, em verdade se diga, alimentam há anos a indústria fonográfica. Este é um trabalho onde os Gardens & Villa fazem crescer em cada nota, verso ou vocalização, todos os ingredientes que definem as referências principais da pop e destacam-se porque a tudo isto acrescentam aspetos da música negra, brincam com a eletrónica de forma inédita e conduzem-nos para a audição de um disco doce e, na mesma medida, pop. Melódicos e intencionalmente nen sempre acessíveis, transformam cada uma das canções deste trabalho em criações duradouras, ricas em texturas e versos acolhedores que ultrapassam os limites do género. A pop mantém-se na moda e não há vergonha nenhuma em constatá-lo. Espero que aprecies a sugestão...

Gardens And Villa - Music For Dogs

01. Intro
02. Maximize Results
03. Fixations
04. Everybody
05. Paradise
06. Alone In The City
07. General Research
08. Express
09. Happy Times
10. Jubilee
11. I Already Do

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publicado por stipe07 às 21:37

Leo Abrahams - Halo Effect

Terça-feira, 25.08.15

O músico, produtor e guitarrista Leo Abrahams é uma das novas coqueluches da independente londrina Lo Recordings e reconhecido pela sua participação em discos de Brian Eno, Pulp, Florence + The Machine e Roxy Music, entre outros, além de ter produzido artistas tão reconhecidos como os Wild Beasts, Brett Anderson (Suede) e Karl Hyde (Underworld).

Já no outono Abrahams irá editar o seu quinto registo de originais e o instrumental Halo Effect é o primeiro avanço desse trabalho cujo título ainda não foi divulgado. De um músico que já se movimentou por espetros sonoros tão vastos e díspares como a folk, o rock progressivo, a música clássica contemporânea ou a eletrónica, é de esperar quase tudo desse disco. Seja como for, não há como acender as luzes de néon e sentirmo-nos teletransportados para uma movimentada ruda de Tóquio à boleia de um tema impregnado de batidas e efeitos sintetizados que disparam em diferentes direções, de mãos dadas com alguns acordes de guitarra deslumbrantes e luminosos. Confere...

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The Maccabees – Marks To Prove It

Segunda-feira, 24.08.15

Os britânicos The Maccabees de Orlando, Felix, Hugo, Rupert e Sam tiveram um início auspicioso em 2007 com Colour In It o disco de estreia, que além de ter vendido bem, conseguiu várias nomeações nas listas dos melhores álbuns daquele ano e inúmeras críticas positivas. Depois disso, trabalhos como Wall Of Arms(2009) ou Given To The Wild (2012) fizeram a banda firmar uma posição de relevo junto do universo indie e alternativo internacional, apoiados num cardápio sonoro sempre sofisticado, maduro e algo intrincado, carregado de detalhes sonoros que surpreenderam muitas vezes pela elegância, com a banda a mostrar-se sempre inovadora e a procurar sair, de disco para disco, da zona de conforto firmada pelo antecessor. Agora, três anos depois e à boleia da Universal Music, o quinteto londrino está de regresso com Marks To Prove It, onze canções que revelam uma nova inflexão na sonoridade do projeto, agora perto do indie rock de cariz mais experimental e progressivo.

Depois de três trabalhos que consolidaram uma evolução constante e progressiva e onde os The Maccabees se dispuseram a experimentar quase tudo aquilo que é possível replicar dentro do espetro sonoro em que se orientam, Marks to Prove It é uma espécie de disco de ressaca, um trabalho maduro, impecavelmente produzido e que não renegando as marcas e as cicatrizes profundas que o trajeto discográfico da banda já lhe conferiu, exala um maior realismo acerca do modo como estes artistas, já na casa dos trinta anos, vêm o mundo que os rodeia, deixando para trás todo aquele otimismo juvenil, para enveredarem por um indie rock mais sombrio e introspetivo, mas com um cariz bastante épico e eloquente.

Este disco é um bom exemplo de como o teor mais sofrido e direto de alguns poemas pode aliar-se eficazmente como melodias luminosas e sorridentes, até, num indie rock que acaba por funcionar, neste caso, como catarse de algumas desilusões que a banda viveu. Versos como Break it up and make it better, make it better (...) Swings a bottle to send him on his way down em Dawn Chorus, ou There’s one to wash it down, One to wash it out em Spit It Out e Drinking when you’re drunken, To chase down the evening (...) No-one says a word, because it breaks her heart, em Kamakura, demonstram este cariz biográfico e confessional. Na letra desta última canção fica claro que se a bebida era antes uma fonte de diversão para o grupo, agora funciona mais como um escape e um remédio para colocar de lado as situações mais adversas e oferecer um estado de alienação típico de quem parece viver sem outra saída ou escape. A própria melodia de Kamakura exala uma certa raiva, mas sempre controlada, com as guitarras a assumirem, naturalmente, a linha da frente na estrutura melódica da canção, mas permitindo que outros arranjos sintetizados ou percussivos também assumam a sua quota parte nas sensações que brotam do tema. Depois, River Song e Slow Sun são dois bons exemplos de como alguns efeitos que replicam instrumentos de sopro e as teclas do piano, em especial no segundo tema, encontram o seu próprio espaço de destaque, mesmo que as cordas e a bateria assumam, constantemente, a condução dos temas. Se, no final do alinhamento, Dawn Chorus oferece luz e cor no dedilhar da viola, mas também no charme do trompete, a já referida Spit It Out, já agora, mesmo sendo uma canção que vai crescendo progressivamente à medida que a guitarra amplia o riff e a bateria acelera a cadência, apenas subsiste como canção fortemente indutora de sentimentos fortes e intensos, porque o piano nunca se esconde e, num registo melodicamente feliz, acaba por ser a principal fonte sensitiva da canção.

Em suma, em Marks To Prove It o som dos The Maccabees mostra-se mais direto e imediato, algo que lhes confere uma crueza que não é tipicamente lo fi, mas que não deixa de conter um charme e uma aspereza que, de certo modo, personificam as marcas que a inexoravel passagem do tempo foi dexiando na pele destes músicos, mais gastos fisicamente, mas inteletualmente melhor preparados para enfrentar as agruras da vida e os desafios que a vivência no seio de uma banda reconhecida internacionalmente, com as rotinas e desafios constantes que isso exige, naturalmente provocam. Espero que aprecies a sugestão...

The Maccabees - Marks To Prove It

01. Marks To Prove It
02. Kamakura
03. Ribbon Road
04. Spit It Out
05. Silence
06. River Song
07. Slow Sun
08. Something Like Happiness
09. WW1 Portraits
10. Pioneering Systems
11. Dawn Chorus

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Au Revoir Simone - Red Rabbit

Segunda-feira, 24.08.15

Au Revoir Simone - Red Rabbit

Editado no princípio de outubro de 2013 pela Moshi Moshi Records. Move In Sprectrums, o quarto disco das Au Revoir Simone de Erika Spring, Annie Hart e Heather D'Angelo, continua a dar dividendos ao projeto já que ainda não se vislumbra sucessor. No entanto, tal não significa que não haja novidades desta banda oriunda de Brooklyn, Nova Iorque.

Red Rabbit é o novo original das Au Revoir Simone, uma canção que faz parte do alinhamento da banda sonora de Love, Marilyn e a sensualidade colorida e etérea do tema encaixa no espírito do filme e da musa que o inspirou. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:15

Dreams Never End - A Tribute To New Order

Sábado, 22.08.15

Qualquer pessoa em uma pista de dança já vibrou com algum sucesso dos New Order, aquela banda de Manchester que nasceu após o suicídio de Ian Curtis, líder dos Joy Division. A publicação brasileira The Blog That Celebrates Itself de Renato Malizia tomou a iniciativa de criar uma compilação de tributo aos New Order, curiosamente, ou talvez não, numa altura em que esta icónica banda britânica está de regresso aos lançamentos discográficos com Music Complete, um álbum que chegará às lojas a vinte e cinco de setembro, à boleia da Mute Records.

Primeiro disco desta banda fundamental e pioneira na mistura de indie rock com a eletrónica sem o baixista Peter Hook, em compensação Music Complete contará com a teclista Gillian Gilbert, esposa do baterista Stephen Morris, de regresso à banda, de onde tinha saído em 2001 para cuidar dos filhos do casal.

A compilação está diponível gratuitamente ou com a posibilidade de doares um valor pela mesma e contém clássicos da banda como Ceremony, Blue Monday, Waiting For The Siren's Call ou Bizarre Love Triangle, revisitados por nomes tão importantes como Babbling April, Ambros Chapel, Pure os DRLNG de Eliza Brown e Martin Newman, bandas que conseguiram respeitar a essência pós-punk dos New Order, com o cunho pessoal e contemporâneo que ofereceram às canções. Estes últimos são mesmo, na minha opinião, o grande destaque deste tributo, pela aúrea mística, intima e marcadamente nostálgica que recriaram em Bizarre Love Triangle. Confere...

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publicado por stipe07 às 21:33


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