man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
André Barros - Soundtracks Vol. I
Estudante de direito, André Barros resolveu, em boa hora, aprender a tocar piano, de modo autodidata e numa idade considerada por muitos como tardia mas que, pelos vistos, tendo em conta a beleza da tua música, resultou na perfeição. O passo seguinte, acabou por ser estudar produção musical e para isso rumou à Islândia para trabalhar alguns meses no Sundlaugin Studio dos Sigur Rós, uma das minhas bandas preferidas, num espaço que eu adorava visitar.
Particularmente apaixonado por música instrumental, André Barros sempre adorou escutar bandas sonoras e a facilidade com que tocou um dos temas de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Yann Tiersen, num piano acústico de uma amiga, acabou por ser o click final para o arranque de uma carreira, feita muitas vezes de improviso e que acaba de ter um enorme fòlego intitulado Soundtracks Vol. I, o seu rerceiro registo de originais e que, gravado entre Lisboa e Paço de Arcos, viu a luz do dia a dezoito de maio, por intermédio da Omnichord Records.
Soundtracks Vol. I contém, entre outros, os temas do filme Our Father, de Linda Palmer, que renderam ao autor um galardão para melhor banda sonora no Los Angeles Independent Film Festival Awards e que, depois de ter alcançado boas críticas e alguns prémios em vários festivais, chegou também à edição de 2015 do Festival de Cannes.
Não só no conceito que pretendeu, pelos vistos, criar sons tendo em conta a trama que se desenrola no grande ecrã, sons do momento e, por isso irrepetíveis, mas também na materialização, onde não faltam instantes sonoros subtis proporcionados por alguns arranjos que, confesso, só uma audição atenta com headphones me permitiu conferir, já que alguns são audíveis de forma quase impercetível, percebe-se que a sonoridade geral de Soundtracks Vol. 1 exala uma sensação, quanto a mim, vincadamente experimental e tem tudo o que é necessário para, finalmente, o André Barros ter o reconhecimento público que merece. Confere a entrevista que André Barros concedeu a Man On The Moon e espero que aprecies a sugestão...
Gravado em Lisboa e em Paço de Arcos, Soundtracks Vol. 1 é um documento sonoro invulgar, mas particularmente belo, capaz de colocar o ouvinte no meio da ação dos filmes e documentários que utilizam as várias composições do alinhamento, contemplando-os usando o sentido da audição e depois, o próprio olfato e a visão, já que esta é, na minha opinião, música com cheiros e cores muito próprios. Como surgiu a ideia de gravar um disco assim?
Agradeço imenso estas palavras! Diria que não houve, inicialmente, qualquer intenção de gravar um disco assim pois aquando da composição das várias bandas sonoras a que estes temas pertencem (portanto, desde final de 2013) eu não antevia que, juntamente com a editora, viríamos posteriormente a tomar a decisão de os compilar num CD e passar a ter esta mostra do meu trabalho nesta área dividida por volumes. No entanto, depois de termos os temas prontos, depois de terminadas as bandas sonoras, tudo fez sentido e dado que continuarei a trabalhar com afinco neste mundo da música para imagem, então que melhor forma de o partilhar com o público do que criar estas compilações ao longo do tempo?
Pessoalmente, penso que Soundtracks Vol. 1 tem tudo o que é necessário para, finalmente, o André Barros ter o reconhecimento público que merece. Quais são, antes de mais, as tuas expetativas para este teu novo fôlego no teu projeto a solo?
É extraordinário sentir isso, e sinto-me muito grato por até hoje ter recebido um bom feedback deste trabalho de que tanto me orgulho. Espero tão somente que possa continuar a partilhar as minhas criações com as pessoas, seja gravando mais bandas sonoras, seja pelos concertos, seja pelo lançamento de um novo álbum de originais (que não para filmes). Para o fazer, certamente que terei de influenciar positivamente quem escuta o meu trabalho para que possa ter as condições para continuar, e estou convicto de não defraudarei as expectativas de quem, tão gentilmente, tem seguido o meu percurso.
Ouvir Soundtracks Vol. 1 foi, para mim, um exercício muito agradável e reconfortante que tenho intenção de repetir imensas vezes, confesso. Intrigante e melancólico, é realmente um documento que não tem apenas as teclas do piano como protagonistas maiores do processo melódico, com as cordas, quer de violas, quer de violinos, a serem, também, parte integrante e de pleno direito das emoções que os diversos temas transmitem. Esta supremacia do cariz fortemente orgânico e vivo que esta miríade instrumental constituída por teclas e cordas por natureza confere à música que replica, corresponde ao que pretendeste transmitir sonoramente neste trabalho?
Sem dúvida! Estes temas, todos eles, vivem muito da intenção aquando da sua interpretação, e não apenas de todo o aparato técnico que montamos quando os criamos em estúdio. Este é um aspecto crucial que influenciará certamente a escuta atenta de quem põe o disco a tocar, é também um aspecto que vou tentando aprimorar a cada trabalho que vou produzindo, sendo que por vezes se pode tornar um desafio enorme partilhar com os músicos exactamente a intenção que pretendo que coloquem em cada frase, mas tudo isto é uma aprendizagem e felizmente vejo-me rodeado de músicos bem talentosos e maduros, apesar da sua (nossa!) juventude!
Em traços gerais, como foram sendo selecionados os filmes e documentários onde se podem escutar estas canções? Recebeste convites para participares na banda-sonora ou tu próprio abordaste alguns realizadores com essa intenção?
Até agora, todos os filmes nos quais tive o prazer de participar com o meu trabalho (tirando somente produções para filmes institucionais e corporativos/publicidade) surgiram graças ao meu trabalho de pesquisa (uma parte fundamental da minha actividade!) que desenvolvo incessantemente, procurando projectos de filmes em fases de pré-produção para os quais acha uma futura possibilidade de vir a integrar enquanto compositor. Uma vez captado o interesse de um realizador/produtores, desenvolvo os contactos por forma a mostrar que consigo atingir a sonoridade que pretendem, enviando demos com base em guiões ou outro material já disponível, até que (nos casos em que fui bem sucedido) recebo a confirmação do outro lado para integrar oficialmente a equipa de produção.
Não só no conceito que pretendeu, pelos vistos, criar sons tendo em conta a trama que se desenrola no grande ecrã, sons do momento e, por isso irrepetíveis, mas também na materialização, onde não faltam instantes sonoros subtis proporcionados por alguns arranjos que, confesso, só uma audição atenta com headphones me permitiu conferir, já que alguns são audíveis de forma quase impercetível, percebe-se que a sonoridade geral de Soundtracks Vol. 1 exala uma sensação, quanto a mim, vincadamente experimental. Houve, desde o início do processo de gravação, uma rigidez no que concerne às opções que estavam definidas, nomeadamente o tipo de sons a captar no piano e a misturar com as cordas e as vozes, ou durante o processo houve abertura para modelar ideias à medida que o barro se foi moldando?
Sim, há sempre uma certa flexibilidade que me dão durante o processo de amadurecimento dos temas, e que me permite experimentar novos sons ou novos efeitos que poderão enriquecer o resultado final do trabalho. Acredito que tais pormenores, e claro muitos deles apenas perceptíveis se escutados atentamente, acabam por contribuir para uma identidade mais vincada de cada projecto, ajudando-me a enriquecer e a complementar uma melodia.
Além de ter apreciado a riqueza sonora natural, gostei particularmente do cenário melódico das canções, que achei muito bonito. Em que te inspiras para criar as melodias?
Muito obrigado! De facto, tento sempre que o meu trabalho tenha uma boa estrutura melódica pois acabou por ser esta a razão que me levou a entrar no universo da música, da composição... é muito inglório atribuir a este ou outro aspecto/acontecimento o papel de fonte de inspiração pois será sempre uma resposta subjectiva e incompleta, na medida em que sinto que há uma infinidade de factores de certamente contribuirão para a génese do meu trabalho de composição, muitos deles claramente intuitivos e difíceis de racionalizar!
Valter Hugo Mãe escreveu propositadamente o poema de Gambiarras, um tema em que ele próprio também colabora com a voz. Como surgiu a possibilidade de trabalhar com este escritor ilustre no disco? De quem partiu a iniciativa desta colaboração?
Eu conheci o Valter e enderecei-lhe o convite, sendo que já vinha a amadurecer este tema há algum tempo, e com ele também a ideia de cruzar a poesia (ainda que não declamada, apenas lida) com o este meu trabalho. E quem melhor do que o Valter, que aliás tem imensas colaborações com projectos musicais, para me ajudar a concretizar este devaneio?
Adoro a composição Wounds Of Waziristan, por sinal o single do disco. O André tem um tema preferido em Soundtracks Vol. 1?
É-me sempre difícil responder a esta questão, pois tenho muito carinho por todos os temas do álbum... mas se realmente tivesse de eleger um e distingui-lo como uma espécie de “single” do disco, de facto escolheria precisamente o Wounds of Waziristan pois trata-se do primeiro tema que alguma vez compus para filme, logo terá sempre um espaço especial no meu trajecto e nas minhas memórias!
Em relação ao futuro, após Soundtracks Vol. 1, já está definido o próximo passo na tua carreira?
Continuar a trabalhar nesta área das bandas sonoras pois, para além de me dar imenso prazer, dá-me também um certo conforto financeiro para que me possa continuar a aventurar sem receios nesta indústria! Continuar com os concertos de apresentação tanto deste álbum como do anterior e ir pensando em temas para um eventual álbum a solo (isto é, que não de temas para bandas sonoras).
Em tempos, quando estudavas Direito, resolveste aprender a tocar piano, pelos vistos de modo autodidata, numa idade que muitos podem considerar tardia mas que, pelos vistos, tendo em conta a beleza da tua música, resultou na perfeição. Como se deu esse click?
Sim! Agradeço a simpatia. Eu já ouvia imensa música instrumental e nomeadamente de bandas sonoras pela altura em que estava perto de terminar o curso de Direito, pelo que um dia lembrei-me de tentar tocar um dos temas da banda sonora do filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” de Yann Tiersen... pesquisei no Youtube como tocar o tema e pedi a uma amiga que me deixasse tentar fazê-lo num piano acústico que ela tinha em casa. Quando percebi que o fiz com relativa facilidade, apaixonei-me de imediato pelo toque e pela sonoridade do piano, daí até comprar um piano digital passaram uns dias e desde logo me aventurei no improviso até construir os meus temas!
Depois, o passo seguinte, acabou por ser estudar produção musical e para isso rumaste à Islândia para trabalhar alguns meses no Sundlaugin Studio dos Sigur Rós, uma das minhas bandas preferidas, num espaço que eu adorava visitar. Como é, em traços gerais, o ambiente nesse estúdio? Como foi essa experiência?
Sim, estive naquele estúdio maravilhoso durante 3 meses, no Verão de 2012. Foi uma experiência inesquecível, aprendi imenso, contactei com músicos e técnicos extraordinários e seria ridículo não dizer que foi o concretizar de um sonho poder partilhar aquele ambiente com músicos e projectos que tanto admiro. São todos extremamente profissionais e pessoas muito dedicados a esta arte. Reina a calma e a boa disposição e procura-se sempre a perfeição sonora respeitando-se todo e cada instrumento e músico para que transpareça nas gravações a paixão que se sente pelo que fazem.
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Paper Beat Scissors - Go On
Vocalista, compositor e instrumentista, Tim Crabtree é o lider dos Paper Beat Scissors, um projeto que chega de Halifax, no Canadá e que se prepara para lançar um novo registo de originais intitulado Go On. Esse álbum vai ser editado no próximo dia catorze de agosto, através da Forward Music Group/Ferryhouse, depois do disco de estreia, um homónimo lançado em 2012, que foi dissecado por cá.
Go On, o tema homónimo do segundo disco de Paper Beat Scissors e primeiro avanço divulgado do trabalho, disponível para download gratuíto, é mais um exemplo feliz desta visão poética em que as tesouras representam a agressão e o papel algo suave e delicado mas, no caso deste projeto, a delicadeza e a candura vencem a agressividade e a rispidez, se as canções de Paper Beat Scissors servirem de banda sonora durante o combate fraticida entre estes dois opostos.
Go On é uma compilação dramática de uma folk que nos tira o fôlego, com um falsete que nos deixa sem reação e toca profundamente no nosso coração e um dedilhar de uma guitarra acústica, que depois recebe pequenos detalhes sonoros e que aqui fazem toda a diferença, demonstrando a abundância de talento de Crabtree, que se prepara, certamente, para nos deliciar com mais uma belíssima paleta de cores sonoras, com uma atmosfera envolvente, suave e apaixonada. Confere...