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Twinsmith – Alligator Years

Domingo, 31.05.15

Sedeados em Omaha, no Nebraska, os Twinsmith são Jordan Smith, Matt Regner, Bill Sharp e Oliver J. Morgan e um dos grandes segredos escondidos da Saddle Creek. Lançado a cinco de maio último, Alligator Years é o novo registo discografico de um quarteto que se estreou nos discos com um homónimo em 2013 e que colocou alguma crítica em sentido com um indie rock animado e festivo, com um toque de psicadelia pop e sem deixar de conter um saudável pendor experimental.

O modo como os Twinsmith cruzam as guitarras,o baixo e abateria no seu processo de criação musical é, à primeira vista, semelhante a tantos outros projetos contemporâneos que dominam o indie noise atual, mas há neles um estranho equilibrio, quanto a mim bem sucedido, entre ruído e rugosidade por um lado e limpidez e luminosidade, por outro. Logo em Seventeen, o single de abertura de Alligator Years, cerramos os punhos e pulamos freneticamente com o efeito da guitarra e o balanço da bateria, mas depois, quando a distorção amaina, há alguns efeitos que não deixam resvalar o tema para um precipício punk que lhe poderia oferecer uma certa vulgaridade. E este acaba por ser o grande segredo destes Twinsmith e o motivo pelo qual vale a pena dar-lhes alguma atenção, já que é neste notável balanço que Alligator Years subsiste enquanto disco, atravessando todos os caminhos imaginários, turtuosos ou em linha reta, entre o rock progressivo e a pop mais luminosa. Aliás, a passagem entre Seventeen e a composição homónima tem essa curiosidade de, em poucos segundos, saltarmos de um universo visceral noturno e urbano para uma praia cheia de jovens despreocupados que dançam sem terem noção exata do que será o amanhã e que, quase no ocaso, em Haunts, voltam a ser protagonistas maiores de um caos intenso e animado.

A demanda por vários espetros sonoros continua, quando em Is It Me os Twinsmith piscam o olho ao melhor punk rock nova iorquino, com o efeito da guitarra habitual em Julian Casablancas a ser, neste tema, uma influência difícil de esconder e no jogo entre o grave do baixo e o falsete da voz de Jordan Smith em Shut Me Out, assim como na percussão sintetizada de Constant Love, canção que melodicamente nos transporta até ao pop rock alternativo dos anos oitenta. Este ambiente sonoro nostálgico e vintage mantém-se no sintetizador e no baixo de Said and Done, uma canção que pode entrar diretamente no top das melhores para se escutarem num dos por do sol mais majestosos do verão que se aproxima.

Para o ocaso de Alligator Years estão reservados os momentos mais contemplativos e intimistas com as baladas Dust e Carry On, sendo a primeira de cariz mais épico e conduzida por um delicioso efeito de guitarra que vai conduzindo um imponente arsenal instrumental estrada fora, numa viagem sem destino rumo a um portal que nos transporta para o mundo daqueles sonhos que queremos a toda a força tornar reais e a segunda um manto atmosférico sonoro intenso, iluminado por um piano lindíssimo e a melhor inyerpretação vocal do falsete de Smith em todo o disco. Espero que aprecies a sugestão...

Twinsmith - Alligator Years

01. Seventeen
02. Alligator Years
03. Is It Me
04. Shut Me Out
05. Constant Love
06. Said And Done
07. Lost Time
08. Haunts
09. Dust
10. Carry On

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publicado por stipe07 às 21:45

Noiserv @ Castelo de Paiva

Sábado, 30.05.15

Uma das mentes mais brilhantes e inspiradas da música nacional chama-se David Santos e assina a sua música como Noiserv. Vindo de Lisboa, Noiserv trará na bagagem um compêndio de canções que fazem parte dos EPs  56010-92 e A Day in the Day of the Days , dos álbuns One Hundred Miles from Thoughtless e Almost Visible Orchestra e do DVD Everything Should Be Perfect Even if no One's There, uma já assinalável discografia, ímpar no cenário musical nacional, de um artista que trouxe uma nova forma de compôr e fazer música e que gosta de nos deixar no limbo entre o sonho feito com a interiorização da cor e da alegria sincera das suas canções e a realidade às vezes tão crua e que ele também sabe tão bem descrever.

No próximo dia dezanove de junho, Noiserv estará em Castelo de Paiva, no auditório municipal, a partir das 21:30, para nos embalar com os seus acordes, num espetáculo organizado em parceria por este blogue, a Academia de Música de Castelo de Paiva, a Rádio Paivense FM e a Câmara Municipal de Castelo de Paiva.

Este espetáculo servirá também para homenagear Sérgio Vieira, uma figura incontornável do universo musical paivense, que recentemente nos deixou e que era leitor assíduo deste blogue, além de um grande fã de Noiserv e da sua música.

Os bilhetes, com um preço único de 5 euros e limitados a uma lotação de duzentos lugares, podem ser já adquiridos através do contacto 962751689, nas instalações Rádio Paivense, no Posto de Turismo local, no Café Central ou, caso ainda existam disponíveis no dia do concerto, na bilheteira do Auditório Municipal. Oportunamente serão divulgados mais locais de venda.

Contamos com a tua presença numa noite que será certamente muito bonita e inesquecível! Para já, fiquemos com uma pequena amostra do que poderá ser este concerto único...

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publicado por stipe07 às 16:03

Tanlines - Highlights

Sexta-feira, 29.05.15

Oriundos de Brooklyn, Nova Iorque, os Tanlines são Jesse Cohen e Eric Emm, uma dupla que se distinguiu em 2012 com Mixed Emotions, um extraordinário disco de estreia que já tem, finalmente, sucessor. Chegou a dezanove de maio aos escaparates, por intermédio da True Panther Sounds, Highlights, o novo trabalho de um projeto que impressiona pela pop experimental que sugere e que mistura sintetizadores e a eletrónica com uma base de percussão sempre vibrante, muitas vezes a piscar o olho ao chamado afrobeat, numa espécie de indietrónica, adornada com alguns dos habituais detalhes da chillwave e da música de dança.

Capazes de atingir uma bitola qualitativa superior a alguns projetos que também abordam sonoridades eletrónicas que podem piscar o olho a alguns aspetos significativos do indie rock, reza a lenda que quando os Tanlines se sentaram no estúdio para começar a produzir os temas deste novo disco o computador que guardava as demos explodiu literalmente e que, por isso, as guitarras e a bateria acabaram por passar para a linha da frente da condução melódica dos novos temas da dupla, em deterimento de uma superior primazia dos sintetizadores, algo que sucedeu na estreia e que teria continuidade nas intenções iniciais deste sucessor. E na verdade, logo em Pieces se percebe que Highlights é um portentoso e contemporâneo convite à dança sem restrições e de peito aberto até que o cansaço nos faça sucumbir, à boleia de cordas presentes em guitarras distorcidas e um baixo vincado e teclados sintetizados, num efeito amiúde agridoce e indiossincrático. Com este arsenal disponível em todo o seu esplendor e alinhados por uma batida quente e um andamento melódico único e fortemente inebriante, os Tanlines agarram-nos imediatamente pelos colarinhos e colocam-nos, mesmo que não se queira, na pista de dança mais próxima, não importando que ela se situe, por exemplo, no recanto mais secreto da nossa mente.

Chega aos nossos ouvidos Slipping Away, o primeiro avanço divulgado de Highlights, um single disponivel para download na página oficial da dupla, e ficamos definitivamente convencidos que o tal indie rock vibrante e festivo, coabitando lado a lado, em deteminados instantes, com alguns dos detalhes mais sombrios do universo punk, é, realmente, já uma marca importante dos Tanlines, que desse modo alargam horizontes de forma ressonante e exótica, com elevação, reflexão, método e entusiasmo, não faltando um toque acústico a ampliar essa perceção, envolvido pela tradicional voz sobreposta de Eric Emm. Mesmo em Palace, uma canção com um elevado pendor emocional e que mostra um outro lado mais reflexivo dos Tanlines, há um convite à dança e simultaneamente ao canto, com toda a alma, convidando-nos a uma postura corporal diferente, mas fisicamente com um grau semelhante de lisergia daquele que exala de temas mais festivos do disco.

A nostálgica e melancólica Invisible Ways ou a sincera e emocionada Bad Situations, são outros exemplos sonoros que mostram que a música de dança não tem de ser apenas e só frenética e ruidosa, já que estas duas canções também nos abanam sem pudor, mas á boleia de um charme sofisticado, onde efeitos flamejantes e uma percussão sintética cheia de variações, foram retirados de uma sedutora receita que nos coloca na linha da frente de um universo particularmente radioso e onde vintage e contemporaneidade se confundem de modo provocador e certamente propositado.

Highlights mantém-nos debaixo da bola de espelhos e marca-nos pela melancolia discreta e pelo charme maduro e inteligente que exala de uma cúpula incisiva entre rock e eletrónica, uma relação quente e assertiva que nos convoca para uma verdadeira orgia entre sub-géneros da pop, que ao longo das dez canções vão aguardando pacientemente a sua vez de entrar em cena e substituindo-se entre si, com talento e energia, mostrando que estes Tanlines possuem uma perspectiva musical do universo sonoro que os satisfaz, bastante interessante e bem executada. Espero que aprecies a sugestão...

Tanlines - Highlights

01. Pieces
02. Slipping Away
03. Palace
04. Two Thousand Miles
05. Invisible Ways
06. Bad Situations
07. Running Still
08. Thinking
09. If You Stay
10. Darling Dreamer

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publicado por stipe07 às 21:51

Oberhofer – Memory Remains

Sexta-feira, 29.05.15

Oberhofer - Memory Remains

Depois de no início de 2012 ter revelado Time Capsules e um ano depois o EP Notalgia, Brad Oberhofer, um músico, compositor e multi-instrumentista de vinte e dois anos, natural de Tacoma e agora residente em Brooklin e lider dos Oberhofer, está de regresso em 2015 com Chronovision, um disco que vai ver a luz do dia a vinte e um de agosto àboleia da Glassnote Records. Brad é um músico extremamente criativo e já com um assinalável cardápio sonoro na bagagem, jnutandose a ele nesta banda Dylan Treleven, Ben Weatherman Roth e Pete.Sustarsic.

Memory Remains, o primeiro avanço divulgado de Chronovision, plasma o charme efervescente do líder, Brad Oberhofer, que impulsiona o processo de criação musical num projeto onde o rock alternativo é a tendência principal, replicado, neste tema, com guitarras cheias de distorção e reverb e uma percurssão bastante vincada. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:12

Hot Chip - Why Make Sense?

Quinta-feira, 28.05.15

Lançado a dezoito de maio por intermédio da Domino Records e produzido por Mark Ralph e pelos próprio Hot Chip, Why Make Sense? é já o sexto álbum da carreira desta banda londrina absolutamente essencial, quando se quer fazer um ponto de situação rigoroso sobre o estado atual da música de dança. Atualmente formados por Alexis Taylor e John Goddard, Owen Clarke, Felix Martin, Al Doyle, Rob Smoughton e Sarah Jones, os Hot Chip têm esse cariz de banda indispensável porque, além de serem um dos nomes mais consensuais e proficuos do universo sonoro em que navegam, são agora também mais ecléticos e, se quisermos ser justos, antes de uma análise mais aprofundada, convém afirmar, previamente, que Why Make Sense? é o disco mais abrangente do historial discográfico do grupo.

Huarache Lights é um portentoso e contemporâneo convite à dança sem restrições e de peito aberto até que o cansaço nos faça sucumbir, um tema que impressiona pela grandiosidade e pelo modo como os efeitos exalam um saudável espontaniedade, desde os flashes sintetizados ao efeito robótico da voz, alinhados por uma batida quente e um andamento melódico único e fortemente inebriante. Logo nessa abertura se percebe a elevada maturidade dos Hot Chip e o modo convincente como escolheram abrir o disco com uma composição que agarra o ouvinte pelos colarinhos e o coloca, mesmo que não queira, na pista de dança mais próxima, mesmo que ela se situe no recanto mais secreto da sua mente.

Fisica ou espiritualmente não há como não dançar ao som de Huarache Lights e nem o modo como os Hot Chip piscam o olho ao hip hop e ao R&B mais retro, assim como ao discosound dos anos oitenta, em Love Is The Future, refreia os ânimos, convidando-nos antes a uma postura corporal diferente, mas fisicamente com um grau semelhante de lisergia. A festa prossegue e em Cry For You as plumas e biquinis já se confundem e ancas abanam sem pudor ao som do charme sofisticado do indie pop festivo de uma canção que mistura vozes robóticas com efeitos flamejantes e uma percussão sintética cheia de variações, numa receita que se estende, de modo mais sedutor e novamente com o R&B aos comandos a Started Right e nos coloca na linha da frente de um universo particularmente radioso e onde vintage e contemporaneidade se confundem de modo provocador e certamente propositado, à boleia de um sintetizador luminoso. Esta insistência em sonoridades mais negras e que atualmente agradam ao público mais jovem e que se repetem, adiante, em Easy to Get, é um dos marcos mais inéditos de Why Make Sense?, asim como a tremenda fluidez que todos os músicos partilham entre si, são  uma das principais justificações para a tal maior amplitude sonoroa deste grupo londrino e para a justa concessão de uma elevada bitola qualitativa ao conteúdo geral do disco.

Se a toada abranda em White Wine And Fried Chicken e, pouco depois, também à boleia do teclado sintetizado de So Much Further To Go, isso não significa que seja momento de regressar ao sofá e ao quotidiano comum que tantas vezes nos engole. É momento, sim, de procurar alguém que comungue connosco a sensação sedutora que os efeitos da guitarra e o jogo de vozes provocam no nosso íntimo e num abraço profundo, nos acompanhe pista fora sem destino previamente traçado, até porque depois é hora de ir buscar as plumas e viajar novamente até aos anos oitenta ao som do ambiente leve, épico e envolvente que marca os alicerces de Dark Night.

Até ao ocaso de Why Make Sense? há ainda que realçar as portas também algo inéditas que os Hot Chip abrem rumo ao trip-hop em Need You Now, uma canção que nos mantém debaixo da bola de espelhos, mas que marca pela melancolia discreta e por um charme maduro e inteligente que se repete, no tema final do alinhamento, mas noutro registo sonoro. Falo de uma cúpula incisiva entre rock e eletrónica, uma relação quente e assertiva que o tema homónimo transpira, encerrando deste modo sugestivo um alinhamento que nos convoca para uma verdadeira orgia entre sub-géneros da pop, que ao longo das dez canções vão aguardando pacientemente a sua vez de entrar em cena e substituindo-se entre si, estendidos numa almofada junto à piscina, enquanto saboreiam mais um copo e apreciam um final de tarde glamouroso. Espero que aprecies a sugestão...

Hot Chip - Huarache Lights

01. Huarache Lights
02. Love Is The Future
03. Cry For You
04. Started Right
05. White Wine And Fried Chicken
06. Dark Night
07. Easy To Get
08. Need You Now
09. So Much Further To Go
10. Why Make Sense?

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publicado por stipe07 às 22:46

Elbow – What Time Do You Call This?

Quinta-feira, 28.05.15

Elbow - What Time Do You Call This

Depois de The Take Off And Landing Of Everything , o sexto álbum da carreira dos britânicos Elbow de Guy Garvey, um trabalho que viu a luz do dia há pouco mais de um ano através da Fiction, What Time Do You Call This é o novo sinal de vida do grupo, um tema que faz parte da banda sonora do filme Man Up, que conta nos principais papéis com Simon Pegg e Lake Bell.

A banda sonora de Man Up foi editada há poucos dias pelo mesmo selo dos Elbow, a etiqueta Fiction e, de acordo com o diretor Ben Palmer, What Time Do You Call This encaixa perfeitamente no enredo do filme. A canção bonita e delicada, tem uma sonoridade tipicamente Elbow, ou seja, tem algo de grandioso e encorpado, com todos os espaços da canção a serem exemplarmente preenchidos pelos instrumentos e pelas voz. Confere...

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publicado por stipe07 às 21:44

Pfarmers – Gunnera

Quarta-feira, 27.05.15

Nome de planta gigante que abunda, por exemplo, nas margens do biblíco Rio Jordão e que se tornou personagem principal de um sonho que invadiu em tempos o descanso sagrado de Danny Seim (Menomena e Lackthereof), Gunnera é o trabalho de estreia do super projeto Pfarmers, que além desse músico conta também com Bryan Devendorf (The National) e Dave Nelson (David Byrne, St. Vincent, Sufjan Stevens).

Apesar da enorme notoriedade dos seus membros, Gunnera não soa a nada do que tenham produzido antes nos projetos de origem. Benthos, o tema de abertura de Gunnera, é uma longa composição instrumental de cariz fortemente ambiental, sustentada por várias camadas de sopros sintetizados e lança o disco numa espiral pop onde não falta o marcante estilo percurssivo de Devendorf, ou algum do cardápio de efeitos que Danny apresentou nos Lackthereof, mas onde tudo é filtrado de modo bastante orgânico, amplo e rugoso. A voz grave de Seim é outro atributo fundamental para a criação de um som profundo, assim como o seu baixo pleno de groove.

You Shall Know The Spirit lança-nos definitivamente no universo fortemente cinematográfico e imersivo destes Pfarmers, que parecem tocar submergidos num mundo subterrâneo de onde debitam música através de tunéis rochosos revestidos com placas metálicas que aprofundam o eco das melodias e dão asas às emoções que exalam desde as profundezas desse refúgio bucólico e denso onde certamente se embrenharam, pelo menos na imaginação, para criar estas sete músicas que impressionam pela orgânica e pelo forte cariz sensorial. No caso deste tema, apresentam-nos um som esculpido e complexo, onde é forte a dinâmica entre os sopros e o baixo, num encadeamento que nos obriga a um exercício exigente de percepção fortemente revelador e claramente recompensador. A mesma receita, mas de modo ainda mais grandioso e hipnótico repete-se em How To Build A Tube, canção que impressiona pela grandiosidade, patente nos samples, nos teclados e nos sintetizadores inebriantes, não havendo regras ou limites impostos para a inserção da mais variada miríade de arranjos, detalhes e ruídos. Mais um bom exemplo de uma banda capaz de ser genuína no modo como manipula o sintético, de modo a dar-lhe a vida e a retirar aquela faceta algo rígida que a eletrónica muitas vezes intui, convertendo tudo aquilo que poderia ser compreendido por uma maioria de ouvintes como meros ruídos em produções volumosas e intencionalmente orientadas para algo épico.

Os feitos que borbulham de Work For Me, uma canção onde os flashes metálicos projetados em várias direções e a percussão inebriante e irregular criam um cenário idílico para os apreciadores do punk blues mais enérgico e libertário, a insanidade desconstrutiva em que alicerçam as camadas de sons das guitarras e do baixo que dão vida a El Dorado e a incontestável beleza e coerência dos detalhes orgânicos dos sopros e dos flashes sintetizados que nos fazem levitar no single The Ol' river Gang, justificam, sem qualquer sombra de dúvida, a atribuição de um claro nível de excelência aos diferentes fragmentos que os Pfarmers convocaram nos vários universos sonoros que os rodeiam e que da eletrónica, à folk, passando pela pop e o rock progressivo criam uma relação simbiótica bastante sedutora, enquanto partem à descoberta de texturas sonoras que podem muito bem servir de referência para projetos futuros.

Gunnera termina com Promised Land, um ribeiro sonoro por onde confluem vários sons da mais diversa estirpe e de diferentes proveniências, mas todos cheios de vida e prestes a desaguar na Terra Prometida idealizada pelos Pfarmers. Aí são arremessadas para longe todas aquelas manhãs dominadas pelo nevoeiro e pelo frio intenso, que parecem muitas delas ter vindo do tal universo submerso, escuro e entalhado quase no ventre da terra mãe, para se passar a viver rodeados de sons fortemente apelativos e luminosos, sendo Gunnera a banda sonora perfeita desse território tremendamente sensorial, feita com uma arrebatadora coleção de trechos sonoros cuja soma resulta numa grande melodia linda e inquietante. Para chegarem a este resultado único, os Gunnera não recearam entregar-se de corpo e alma ao instrumentos que mais apreciam mas também ao mundo das máquinas, numa simbiose corajosa e sem entraves ou inibições, acabando cada um dos músicos por ser aquele detalhe orgânico que dá alma a todas as ligações de fios e transístores que tiveram que criar nestas sete canções e que transportam um infinito catálogo de sons e díspares referências que parecem alinhar-se apenas na cabeça e nos inventos nada óbvios de cada um deles. Espero que aprecies a sugestão...

Pfarmers - Gunnera

01. Benthos
02. You Shall Know The Spirit
03. Work For Me
04. El Dorado
05. The Ol’ River Gang
06. How To Build A Tube
07. Promised Land

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publicado por stipe07 às 22:09

Destroyer – Dream Lover

Quarta-feira, 27.05.15

Destroyer - Dream Lover

O clássico Kaputt (2011) e o extraordinário EP Five Spanish Songs (2013), as duas últimas obras discográficas de Destroyer, já têm finalmente sucessor. O novo disco deste projeto que emana da mente criativa de Dan Bejar chama-se Poison Season e será lançado a vinte e oito de agosto pelos selos Marge e Dead Oceans.

Bejar não gosta de lutar contra o tempo e não aprecia estipular prazos, preferindo que a música escorra na sua mente e depois nas partituras e nos instrumentos de modo fluído, no devido tempo e com a pressa que merece. No entanto, Dream Lover, o primeiro avanço divulgado de Poison Season, parece querer afirmar-se em sentido contrário a esse travo de espontaneidade, à boleia do elevado sentido de urgância que exala no frenesim das guitarras, agora menos sedutoras e mais ríspidas, estabelecendo um caos inédito que os metais, os intensos trompetes, as batidas e a postura vocal de Destroyer ampliam.

Há aqui um desejo claro de mudança que se saúda, numa roupagem menos pop e sofisticada e mais orgânica, com o rock vintage a afastar Dan Bejar da sua zona de conforto canadiana e de uma certa inércia artística em que se sentia. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:45

Landfork - Koreatown Station

Terça-feira, 26.05.15

A viver atualmente em Calgary, no Canadá, Jon Gant é Landfork, uma espécie de alter-ego de um músico que tem na chamada synth pop uma grande paixão. Por isso, a sonoridade do projeto assenta num forte predomínio da eletrónica e dos sintetizadores. Descobri-o quando editou em agosto de 2013 Nights At The Kashmir Burlesk, um trabalho que sucedeu a Tiománaí, o disco de estreia do projeto, editado em outubro de 2011. No passado dia oito de julho de 2014 Landfork editou Trust, o seu terceiro álbum e já está de volta com Koreatown Station, o quarto tomo de uma exemplar carrreira discográfica onde a mistura lo fi e os sintetizadores que definiam a magia da pop há uns trinta anos atrás, são reis e senhores do respetivo conteúdo.

Parece fácil vislumbrar o período aúreo da synth pop dos anos oitenta à boleia da aúrea nostálgica que circunda a música de Landfork. Basta escutar-se a toada épica e reconfortante de Wild Love ou o charme de Staring At The Movie, para se perceber o modo como o autor se movimenta confortavelmente pelos meandros da pop mais introspetiva, mas a percussão frenética da bateria, o efeito em eco da voz e os flashes sintetizados de California Gold ou o sintetizador rugoso de Running Wild, continuando a replicar com enorme bom gosto os traços identitários e mais melancólicos da pop de cariz eminentemente eletrónico, também mostram vigor e um interessante apelo às pistas de dança, não faltando aqui material sonoro capaz de nos fazer abanar a anca. 

Koreatown Station acaba por viver da busca de equilibrio entre estes dois pólos previsivelmente opostos, com o núcleo duro do trabalho a ser um enorme oceano de sons e ecos que nos convidam à auto análise interior, mas que também não descuram a busca de sons de outras latitudes mais quentes. O processo de composição melódica acaba por se sustentar tendo os teclados como maiores protagonistas, em redor dos quais foram surgindo diferentes efeitos e arranjos, muitas vezes dominados por cordas e por uma percussão bastante inspirada.

Com a espiral sintetizada e o baixo de Can't Stop a piscarem já o olho a alguns dos traços identitários da génese do punk rock mais sombrio e o tema homónimo a espreitar ambientes mais progressivos e pesados, o groove e a natureza contagiante do arsenal instrumental de Grey Bandana acaba por funcionar como uma súmula deste agregado de tendências, quer rítmicas, quer melódicas que revivem o que de melhor se podia escutar há uns bons trinta anos, feitas por um artista que além de tocar todos os instrumentos de base, também manuseiam o sintetizador.

Afundado num colchão de sons eletrónicos e que satirizam de certa forma a eletrónica retro, feita com VHS, Landfork leva-nos num passeio divertido, mas também introspetivo, cheio de charme e bom gosto por uma década ímpar no cenário musical conjugando e recriando com distinção o que de melhor foi feito numa época em que era proporcional o abuso da cópula entre os sintetizadores e o spray para o cabelo. Mas em abono da verdade, também fará algum sentido afirmar que poderão estar aqui algumas pistas interessantes sobre o próximo de parte da eletrónica. Espero que aprecies a sugestão...

 

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publicado por stipe07 às 21:15

Thee Oh Sees - Mutilator Defeated At Last

Segunda-feira, 25.05.15

Viu a luz do dia a dezoito de maio, através da Castle Face, a editora do prório John Dwyer, Mutilator Defeated At Last, o nono álbum da carreira dos norte americanos Thee Oh Sees, que são liderados por este músico e ao qual se juntam ataulmente Tim Hellman (baixo), Nick Murray (bateria), Brigid Dawson (teclados) e Chris Woodhouse (enginheiro de som). Este é um regresso aos lançamentos discográficos que se saúda desta banda californiana que tem impressionado pelo modo como sugere uma sonoridade que explode em cordas eletrificadas que clamam por um enorme sentido de urgência e caos, num incómodo sadio que já não nos deixa duvidar acerca do ADN destes Thee Oh Sees, que também sabem surpreender quando adicionam belíssimos arranjos orquestrais, onde não faltaram, nomeadamente em Drop (2014), o antecessor, inéditos instrumentos de sopro.

Com a guitarra eletrificada debaixo do braço e o garage rock a escorrer por veias salutarmente contaminadas por um vírus lisérgico que o atrai compulsivamente ao universo da psicadelia, John Dwier é já uma referência obrigatória do bem sucedido cenário indie norte americano, de mãos dadas com Ty Segall ou Mikal Cronin, outros exemplos, ainda que com abordagens díspares, desta fixação pela criação de canções simples mas empolgantes e a transbordar de fuzz e de distorção, numa viagem que leva-nos do noise, ao grunge, passando pelo punk, o rock psicadélico, o surf rock e o rock lo fi típico da década de noventa.

Mutilator Defeated At Last é mais um capítulo bem sucedido desta saga que, no caso dos Thee Oh Sees e, diga-se em abono da verdade, também no de Ty Segall, se mostra bastante profícua, com a edição, em média, de um disco por ano. E esta elevada bitola qualitativa sobrevive à custa do modo astuto como o grupo continua a abanar-nos com riffs agressivos e esplendorosos que, quer se prolonguem por músicas completas, ou por instantes das composições, têm sempre uma forte vertente hipnótica e uma ilimitada ousadia visceral.

Os Thee Oh Sees sabem quais são os seus pontos fortes e exploram-nos até à exaustão e de modo cada vez mais ousado e tecincamente perfeito; Logo no ritmo frenético de Web, passando pela enraivecida e emotiva toada de Whitered Hand ou a atrrebatadora intensidade de Lupine Ossuary, torna-se claro que a guitarra de John Dwier está mais solta, viva e criativa do que nunca e os músicos que o acompanham vivem no auge do seu virtuosismo interpretativo e no modo como o colocam ao serviço deste abraço constante que junta o punk com a psicadelia, de modo a criar uma atmosfera verdadeiramente hipnotizante.

A voz sempre aguda e nem sempre percetível de Dwier surge, neste disco, mais bem acompanhada pelos sintetizadores do que em qualquer registo anterior, numa exploração de novas tendências paricularmente feliz e estes dois aspetos assim como o modo como o baixo surge com um maior protagonismo no sustento melódico e a bateria plasma um inédito sentido de urgência, como é o caso de Whitered Hand, comprovam esse auge progressivo do grupo, sempre com o blues ali ao virar da esquina, que o frenesim punk de Rogue Planet e Turned Out Light, a contundente Pour Queen e um caldeirão sonoro chamado Lupine Ossuary, também carimbam. Mesmo os orgãos de Sticky Hulks ou o dedilhar acústico das cordas em Holy Smoke não destoam da toada geral de Mutilator Defeated At Last, nem colocam em causa a centelha que guia e ilumina o ritmo empolgante do disco. 

Escuta-se Mutilator Defeated At Last e a sensação que fica é que os The Oh Sees atravessaram novamente as barreiras do tempo até há umas décadas atrás mas, ao mesmo tempo, mantêm-se joviais e coerentes. Para delírio dos fiéis seguidores, o grupo mantém intata a sua insana cartilha de garage folk e rock blues com uma capacidade inventiva que se pronuncia instantaneamente, através de um desejo inato de proporcionar o habitual encantamento sem o natural desgaste da contínua replicação do óbvio. A verdade é que o som deste grupo é, cada vez mais, uma espécie de roleta russa e um caldeirão de originalidade, que acaba por transportar o ouvinte para uma espécie de bad trip musical, através de um veículo sonoro que se move através de uma sucessão de loopings bizarros, mas ainda assim dançantes. Espero que aprecies a sugestão... 

Web
Withered Hand
Poor Queen
Turned Out Light
Lupine Ossuary
Sticky Hulks
Holy Smoke
Rogue Planet
Palace Doctor

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publicado por stipe07 às 23:01


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