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Paperhaus - Paperhaus

Quinta-feira, 23.04.15

Oriundos de Washington, os norte americanos Paperhaus são Alex Tebeleff, Eduardo Rivera, Johnny Fantastic e Brandon Moses, uma banda de indie rock bastante seguida e apreciada no cenário alternativo local, até porque gerem um espaço de diversão noturna onde costumam decorrer concertos, com o mesmo nome da banda. Ainda no ano passado decorreu um festival de bandas nesse local chamado In It Together, dinamizado pelo grupo, mas depois foi tempo de se concentrarem na sua música. E esta música, imponente, visionária e empolgante, assenta no típico indie rock atmosférico, que vai-se desenvolvendo e nos envolvendo, com vários elementos típicos do krautrock e do post punk a conferirem a estes Paperhaus uma dinâmica e um brilho psicadélico incomum.

Cairo, o primeiro single divulgado de Paperhaus, o novo disco homónimo deste projeto, editado a dez de fevereiro último e produzido por Peter Larkin e onde também participam os músicos Tarek Mohamed, Alexia Gabriella, Ben Schurr e Dave Klinger, além dos elementos da banda, é um exemplo corrosivo, hipnótico e contundente da cartilha sonora que os Paperhaus guardam na sua bagagem, com a guitarra a assumir, desde logo, um amplo plano de destaque no processo de condução melódica, eficazmente acompanhada por um baixo vigoroso e uma bateria entusiasmante e luminosa. As mudanças de ritmo com que a mesma abastece Untitled e o modo como as quebras e mudanças de ritmo acompanham as variações que ela produz, ampliam a perceção fortemente experimental, numa canção que ilustra o quanto certeiros e incisivos os Paperhaus conseguiram ser na replicação do ambiente sonoro que escolheram.

Em temas como a intrigante Surrender ou o fuzz pop de So Slow, o som destes Paperhaus é encorpado, decidido, seguro e luminoso e surpreende o modo como transformam uma hipotética rispidez visceral em algo de extremamente sedutor e apelativo, com uma naturalidade e espontaneidade curiosas. Depois, escuta-se I'll Send It To You e percebe-se não só o modo como a voz de Tebeleff é um trunfo declarado dos Paperhaus por causa do modo como transmite uma sensação de emotividade muito particular e genuína, mas também como determinados arranjos como aquele que, neste caso, é proporcionado pelo trompete, plasmam com precisão as virtudes técnicas do quarteto e o modo como conseguem abarcar vários géneros e estilos do universo sonoro indie e alternativo e comprimi-los em algo genuíno e com uma identidade muito própria.

Mas mesmo quando se apresentam mais sombrios e introspetivos, nomeadamente em 432, esses conceitos não se desvanecem por completo, porque se é impossível ficar indiferente à emotividade que transborda do efeito da guitarra e da linha de violino que abastecem essa canção, também nos atinge no âmago de modo contundente o modo como o tema progride e a bateria a guitarra se expandem quase sem limites. Já Misery surpreende pelo minimalismo inicial algo boémio, como se a banda estivesse dominada por uma aúrea psicotrópica lisérgica que lhe tolheu os sentidos, para deixarem os instrumentos se expressarem livremente, de modo quase anárquico, até que na reta final, quando os Paperhaus se libertam e tomam de novo as rédeas e conta da canção, desenvolve-se uma verdadeira espiral de fuzz rock, rugoso, visceral e psicadélico, cheio de efeitos e flashes, numa ordenada onda expressiva relacionada com o espaço sideral, que oscila entre o rock sinfónico e guitarras experimentais, com travos de krautrock.

Há nestes Paperhaus uma aúrea de grandiosidade indisfarçável e um notável nível de excelência no modo como conseguem ser nostálgicos reavivando no ouvinte outros projetos que foram preponderantes nas últimas décadas do século passado e na forma como mutam a sua música e adaptam-na a um público ávido de novidades refrescantes, mas que faça recordar os primórdios das primeiras audições musicais que alimentaram o nosso gosto pela música alternativa. Este projeto caminha sobre um trilho aventureiro calcetado com um experimentalismo ousado, que parece não conhecer tabús ou fronteiras e que nos guia propositadamente para um mundo onde reina uma certa megalomania e uma saudável monstruosidade agressiva, aliada a um curioso sentido de estética. Esta cuidada sujidade ruidosa que os Paperhaus produzem, concebida com justificado propósito e usando a distorção das guitarras como veículo para a catarse, é feita com uma química interessante e num ambiente simultaneamente denso e dançável, despida de exageros desnecessários, mas que busca claramente a celebração e o apoteótico. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 22:56

The Espionne – In Colour

Quarta-feira, 22.04.15

Corre ou esconde-te, é este o aviso que recebemos no tema de abertura de In Colour, porque não há como escapar ileso à passagem pelos teus ouvidos destes The Espionne, uma banda natural de Lucerna, na Suiça, formada por Roger Schaffner, Jonas Walker, Manuel Mahler, Simon Hafner, Tino Schaffner e que se estreia nos discos com um trabalho disponivel para audição integral na página da banda e que encontra no indie rock orelhudo e festivo, mas também com alguns traços de melancolia, os traços identitários essenciais do edificio sonoro em que sustenta.

In Colour faz juz ao título do disco pois é abrangente a paleta instrumental e assertivo o modo como a mesma enche de cor e substância a música destes The Espionne, com as típicas caraterísticas do indie rock europeu, que dá bastante primazia a uma vertente mais pop e épica do que o usual. A já citada Run Or Hide e as mudanças de ritmo e de volume em Brick Wall plasmam logo quer a abrangência quer a heterogeneidade de um alinhamento onde cada tema tem traços próprios, que conseguem dar uma atmosfera diversificada ao álbum.

Não é usual encontrar uma banda estreante e com pouco tempo de estrada já com tanta carga emocional e com a maturidade musical que estes The Espionne revelam; O jogo que se estabelece entre a guitarra e o efeito sintetizado em Heavy Sand e o constante desfilar de um borbulhante efeito em Back On My Feet, por cima das cordas e de uma bateria ritmada, exalam uma delicadeza notável e uma sensibilidade incomum. E em temas como Out Of The Night ou Upper Class Hero, sendo mais introspetivos e profundos, é igualmente reconfortante conferiro o modo como é expressa uma melancolia doce e positiva, pelo que escutar sequencialmente In Colour acaba por ser uma experiência de contacto direto com uma narrativa principal definida, num álbum circular e onde cada canção se interliga com a seguinte. O modo como o grupo distribui os arranjos, ampliando os refrões e dando-lhes em quase todas as canções uma grandiosidade invulgar, faz com que o álbum nunca resvale para um clima perrigosamente sombrio, havendo arte no modo como é separada a melancolia da severidade, sendo a tristeza tratada de forma leve e elegante e na dose perfeita.

Não são muitas as bandas que conseguem à partida surpreender de modo tão imediato com um som tão acessível e maduro tocado com virtuosas guitarras que soam eufóricas ou tímidas, na medida certa e uma bateria que sabe como ser discreta enquanto conduz com fluidez temas plenos de arranjos sintetizados que nunca exageram nem desvirtuam o cariz indie rock pretendido. Todas as canções são singles em potência e a música destes The Espionne simplesmente flui, sem grandes segredos e complicações, num disco que vale a pena ouvir muitas vezes e aproveitar cada audição de forma diferente.

Até à fria mas acolhedora Steps In December, uma canção que exprime na perfeição as diferentes sensações climáticas e físicas que o rigor do mês referido geralmente contém, com as consequências positivas que também daí advêm para a nossa existência que procura momentos mais acolhedroes, quentes e reconfortantes nesse período temporal, estamos na presença de um disco que desperta múltiplas sensações e que demonstra que esta banda suiça já se sente bastante à vontade e confortável dentro da sonoridade criativa que pretende seguir. Espero que aprecies a sugestão...

The Espionne - In Colour

01. Run Or Hide
02. Brick Wall
03. Heavy Sand
04. Out Of The Night
05. Back On My Feet
06. Blurry Lines
07. Cecilia
08. Hello Dreams
09. Upper Class Hero
10. Kaleidoscope
11. Steps In December

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publicado por stipe07 às 22:43

American Wrestlers - American Wrestlers

Terça-feira, 21.04.15

American Wrestlers é um projeto liderado por Gary McClure, um escocês que vive atualmente nos Estados Unidos, em St. Louis, no estado do Missouri. Tendo crescido em Glasgow, no país natal, mudou-se há alguns anos para Manchester, na vizinha Inglaterra, onde conheceu a sua futura esposa, com quem se mudou entretanto para o outro lado do Atlântico.

Depois de em Manchester ter feito parte dos míticos Working For A Nuclear Free City, juntamente com o produtor Philip Kay, um projeto que chegou a entrar em digressão nos Estados Unidos e a chamar a atenção da crítica e a ser alvo de algumas nomeações, a verdade é que nunca conseguiu fugir do universo mais underground acabando por implodir.

Já no lado de lá do atlântico, Gary começou a compôr e a gravar numa mesa Tascam de oito pistas e assim nasceram os American Wrestlers. Recentemente o projeto deu um grande passo em frente, ao assinar pela insuspeita Fat Possum. Esta etiqueta editou já o single I Can Do No Wrong, uma peça sonora magnífica, principalmente por ser difícil de descrever. O ambiente sonoro que cria tem um teor lo fi algo futurista, devido à distorção e à orgânica do ruído em que assenta. Depois, alguns arranjos claramente jazzísticos e uma voz num registo em falsete com um certo reverb, acentuam o charme rugoso da mesma. E com esta descrição de um tema magnífico está dado o mote para um álbum que nos oferece uma viagem que nos remete para a gloriosa época do rock independente, sem rodeios, medos ou concessões, porporcionada por um autor com um espírito aberto e criativo.

Inspirada numa noticía que Gary leu sobre um doente mental que foi espancado até à morte e pelo respetivo video que circulou com imagens do acontecimento, Kelly, um dos outros destaques de American Wrestlers, é uma belissima ode por parte de Gary a todos os Kellys deste mundo que são vitimas de abusos e de atitudes incompreensiveis, feita com uma melodia frenética que oscila entre o épico e o hipnótico, o lo-fi e o hi-fi, com a repetitiva linha de guitarra e oferecer um realce ainda maior ao refrão e as oscilações no volume a transformar a canção num hino pop, que funciona como um verdadeiro psicoativo sentimental com uma caricatura claramente definida e que agrega, de certo modo, todas as referências internas presentes na sonoridade de American Wrestlers.

Mas se este disco não sobrevive sem estas duas canções, o restante alinhamento não merece ser descurado e exige também audição dedicada. A exploração de uma ligação estreita entre a psicadelia e o rock progressivo, através de um sentido épico pouco comum e com resultados práticos extraordinários em There's No One Crying Over Me Either, assim como o festim sonoro acelerado e difícil de travar de Holy, à boleia de um efeito de guitarra ácido e extremamente melódico, exemplarmente acompanhado pelo piano, pelo baixo e pela bateria e o devaneio folk bastante sentimental de Wild Wonder abrem um disco curioso e desafiante, que impressiona pela forma livre e espontânea como os vários instrumentos, mas em espcial as guitarras, se expressam, guiadas pela nostalgia e pelas emoções que Gary pretende transmitir. Depois, o transe libidinoso que nos oferece a festiva The Rest Of You e a folk psicadélica, com uma considerável vertente experimental associada, que domina Cheapshot, são mais dois exemplos felizes do arsenal bélico com que American Wrestlers nos sacode e traduzem, na forma de música, a mente criativa de Gary e que parece, em determinados períodos, ir além daquilo que ele vê, pensa e sente, nomeadamente quando questiona alguns cânones elementares ou verdades insofismáveis do nosso mundo.

Gary confessou recentemente que apesar de toda a atenção e mediatismo que tem tido com este seu trabalho e que estado umbilicalmente ligado a uma etiqueta tão insuspeita como a Fat Possum, continua a ter dificuldades em pagar as contas vivendo apenas e só da música e que, além da carriera artística, trabalha diariamente, quase de sol a sol, numas docas. Se American Wrestlers não consegue viver apenas e só da música que compôe, algo de muito errado se passa no universo sonoro discográfico e este artista merece claramente uma maior notoriedade e recompensa pelo seu génio criativo. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 23:48

Unknown Mortal Orchestra - Can't Keep Checking My Phone

Terça-feira, 21.04.15

Os Unknown Mortal Orchestra vêm da Nova Zelândia e são liderados por Ruban Nielsen, vocalista e compositor, ao qual se juntaram, Jake Portrait e Greg Rogove. II, o segundo álbum da banda, viu a luz há cerca de dois anos e catapultou o projeto para o estrelato, ao reforçar de forma comercial e ainda assim específica o que havia de mais tradicional e inventivo na trajetória da banda, estreitando os laços entre a psicadelia e o R&B.

No próximo dia vinte e seis de maio vai chegar aos escaparates Multi-Love, o novo disco dos Unknown Mortal Orchestra, um trabalho que verá a luz do dia por intermédio da Jagjaguwar e depois de ter sido conhecido o tema homónimo, chegou agora a vez de ser divulgado Can't Keep Checking My Phone, canção que contém a impressão firme da sonoridade típica da banda, catupultando-a ainda para uma estética mais abrangente, que além de reviver marcas típicas do rock nova iorquino do fim da década de setenta, ressuscita referências mais clássicas, consentâneas com a pop psicadélica dos anos sessenta. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:26

Cobalt Cranes – Days In The Sun

Segunda-feira, 20.04.15

Editado em agosto de 2014 pela Lolipop Records, Days In The Sun é o último registo de originais dos Cobalt Cranes, uma banda norte americana oriunda da costa oeste e que tem no seu núcleo duro uma dupla formada por Kate Betuel e Tim Foley que, em apenas oito músicas e quase meia hora de audição, nos oferecem uma viagem lisérgica gratuita rumo à pop luminosa e psicadélica dos anos sessenta, aquela sonoridade tão solarenga como o estado norte americano de onde a banda é oriunda.

Reviver sonoramente tempos passados parece ser uma das principais permissas da esmagadora maioria dos projetos musicais norte amricanos que vêm da costa oeste. Enquanto que às portas do Atlântico procura-se mergulhar o indie rock em novas tendências e sonoridades mais contemprâneas, basta ouvir-se as cordas de Flowers On Your Grave ou o efeito da guitarra de In A Daze ou Dark Star para se perceber que do outro lado da route 66, em São Francisco e Los Angeles, os ares do Pacífico fazem o tempo passar mais lentamente, mesmo quando o pedal das guitarras descontrola-se em Last Horizon ou procura ambientes melódicos mais nostálgicos e progressivos.

Esta sonoridade pop e psicadélica dos anos sessenta e setenta, dois períodos localizados no tempo e que semearam grandes ideias e nos deram canções inesquecíveis, lançaram carreiras e ainda hoje são matéria prima de reflexão e os Cobalt Cranes são genuínos guardiões de um som que deve muito à composição psicotrópica dos substantivos aditivos que famigeravam à época pelos estúdios de gravação, mas que hoje certamente dispensa tais extras, para replicar a contemporaneidade vintage nada contraditória dos acordes sujos e do groove do baixo de Heavy Heart, assim como do experimentalismo instrumental num registo mais progressivo de Sun Down, que se aproxima do blues marcado pela guitarra em Fall In, além da percussão orgânica e de alguns ruídos e vozes de fundo que assentam muito bem na canção.

Cheio de canções com referências bem estabelecidas, numa arquitetura musical que garante aos Cobalt Cranes a impressão firme da a sonoridade típica que também contém margem de manobra para várias experimentações transversais e diferentes subgéneros que da surf pop, ao indie rock psicadélico, passando pela típica folk norte americana, não descuram um sentimento identitário e de herança, Days In The Sun é mais um ensaio de assimilação de heranças, como se da soma que faz o seu alinhamento nascesse um mapa genético que define o universo que motiva os Cobalt Cranes. É um apanhado sonoro vintage, fruto do psicadelismo que, geração após geração, conquista e seduz, com as suas visões de uma pop caleidoscópia e o seu sentido de liberdade e prazer juvenil e suficientemente atual, exatamente por experimentar  tantas referências do passado. Espero que aprecies a sugestão...

Cobalt Cranes - Days In The Sun

01. Flowers On Your Grave
02. In A Daze
03. Last Horizon
04. Dark Star
05. Fall In
06. Heavy Heart
07. Sundown
08. Sleepwalk

Website
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publicado por stipe07 às 19:36

Zero 7 – EP3

Domingo, 19.04.15

Depois do EP Simple Science, editado a dezoito de agosto do ano passado por intermédio da Make Records, os britânicos Zero 7, um dos nomes fundamentais da eletrónica downtempo e da chillwave, estão de regresso com um novo EP intitulado EP3, que dá continuidade à filosofia que orientou EP1 (1999) e EP2 (2000), dois trabalhos lançados quando a dupla ainda estava vinculada a etiquetas menores.

Com a participações especiais de nomes como José González, Only Girl e o australiano Danny Pratt, EP3 contém quatro originais e uma remistura, composições que, de acordo com os Zero 7, foram sendo compostas ao longo do ano anterior e como não se incluiam no arquétipo sonoro de Simple Science, acabaram por ficar na gaveta à espera do melhor momento para verem a luz do dia. Como a banda achou que a sonoridade de 400 Blows tinha um certo paralelismo com uma cover que fizeram de The Colour Of Spring, um original de Mark Hollis, então estava encontrado o mote para este EP3.

E que sonoridade é esta que se interliga entre os diferentes temas deste novo capítulo discográfico dos Zero 7? Uma eletrónica sofisticada e ambiental, com um cariz quase minimal e cheia de detalhes preciosos, que dão às canções uma toada densa, mas bastante agradável. Das passagens de piano do primeiro tema, aos sons da natureza que se escutam em The Colour Of Spring, passando pela excelência das vozes de Pratt e de Only Girl e no modo como encaixam de modo fluente no conceito sonoro dos Zero 7, são vários os pontos de contacto entre as várias músicas. E depois há José González e a sua participação especial na enigmática e sombria Last Light, que oferece à dupla britânica uma performance vocal irreprensível numa canção de forte cariz cinematográfico, num registo muito quente e a apelar à soul.

EP3 encerra com um belíssimo instrumental eletrónico, que se destaca pela percurssão orgânica ritmada, com as pistas de dança na mira, acoplada a detalhes sintéticos absolutamente deliciosos e que exalam aquele charme típico dos Zero 7, que dão à dupla aquele ambiente fashion que sempre os caraterizou.

Disponível no formato físico vinil e em formato digital, EP3 é um extraordinário momento de puro relaxamento e de contemplação sonora que nos permite embarcar numa curta mas profunda viagem ao universo musical típico dos Zero 7 e do seu cardápio sonoro. Em EP3 tudo soa muito polido e nota-se a preocupação por cada mínimo detalhe, o que acaba por gerar num resultado muito homogéneo e conseguido, alicderçado em criações sonoras versáteis e que resultam de uma fórmula legítima e louvável de uma dupla que está sempre aberta a encontrar um sopro de renovação. Espero que aprecies a sugestão...

Zero 7 - EP3

01. 400 Blows
02. The Colour Of Spring
03. Last Light (Feat. José Gonzalez)
04. Crush Tape
05. 400 Blows (John Wizards Remix)

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publicado por stipe07 às 18:14

Afonso Pais - Terra Concreta

Sábado, 18.04.15

Afonso Pais, nascido em Lisboa em 1979, tem formação em piano e bateria, mas escolheu a guitarra, intensificando os estudos na escola de jazz do Hot Clube de Portugal e na New School University, nos Estados Unidos. Gravado em estúdios de gravação ao ar livre, em Parques Naturais nacionais e no Vale de Darnum, na ilha do Borneu, com a captação de instantes sonoros únicos e, por isso, irrepetíveis, Terra Concreta é a nova menina dos olhos deste músico, um documento sonoro invulgar, mas particularmente belo, nascido com o propósito firme de transportar o ouvinte para esses locais e de levar a música de regresso às suas origens, sendo a natureza fonte de inspiração e, simultaneamente, protagonista, dividindo esse papel com a viola e com as vozes de Albert Sanz, Luísa Sobral, Beatriz Nunes, Joana Espadinha, Rita Martins e João Firmino, além do próprio Afonso.

Capaz de colocar o ouvinte no meio da natureza, contemplando-a usando o sentido da audição e depois, o próprio olfato e a visão, Terra Concreta é, na minha opinião, um compêndio de música com cheiros e cores muito próprios. Ponto simultâneo de partida e chegada, sempre, mas nunca de passagem, o disco permite-nos contactar com instantes de manifestação musical espontâneos, que exalam a profunda delicadeza e sensibilidade do autor e o modo tremendamente eficaz como ele transporta essas duas facetas intrínsecas à sua capacidade criativa para a música que produz, com a felicidade de também nos mostrar, à sua maneira, locais naturais no seu estado mais puro, consciencializando-nos para a presrvação dos mesmos, quase sem darmos por isso.

A natureza acaba por se tornar grata a Afonso, já que se revela esplendorosa e bastante participativa ao longo do diso, revelando uma generosidade heróica através de instantes lindíssimos, não só audíveis no chilrear de algumas aves, mas também nos sons que o movimento do ar, feito vento, consegue criar e que o excelente trabalho de gravação e produção captou. São instantes sonoros naturais subtis, alguns audíveis de forma quase impercetível, outros parecendo deliberadamente sobrepostos de forma aparentemente anárquica, percebendo-se que a sonoridade geral de Terra Concreta exala uma sensação vincadamente experimental.

Escutar Terra Concreta é, sem dúvida, um exercício muito agradável e reconfortante, mas também intrigante e melancólico. Este é um documento que não tem apenas as cordas como protagonistas maiores do processo melódico, já que a própria natureza e o chilrear constante das aves são, realmente, parte integrante e de pleno direito das emoções que os diversos temas transmitem.

Terra Concreta sucede a Onde mora o mundo, disco que Afonso Pais editou com JP Simões, em 2011. Da discografia do músico fazem parte ainda Terranova (2004), Subsequências (2008) e participações em álbuns de Paula Sousa, Joana Machado ou Paulo Bandeira. Confere abaixo a entrevista que gentilmente o autor concedeu ao blogue e espero que aprecies a sugestão...

Gravado em estúdios de gravação ao ar livre, em Parques Naturais nacionais e no Vale de Darnum, na ilha do Borneu, com a captação de instantes sonoros únicos e, por isso, irrepetíveis, Terra Concreta é um documento sonoro invulgar, mas particularmente belo, capaz de colocar o ouvinte no meio da natureza, contemplando-a usando o sentido da audição e depois, o próprio olfato e a visão, já que esta é, na minha opinião música com cheiros e cores muito próprios. Como surgiu a ideia de gravar um disco assim?

Surgiu da regularidade com que visito zonas naturais remotas, sempre acompanhado do meu instrumento musical, a guitarra. Em determinado momento quis experimentar registar o momento natural combinado com a inspiração que dele advém, ao tocar e criar trechos musicais associados ao meio envolvente. Adorei o resultado, e a forma como a música progride de forma diferente neste enquadramento.

De acordo com o press release do álbum, Terra Concreta foi feito sem geradores, só com instrumentos acústicos e com a textura irrepetível dos sons naturais como mote. O registo em disco representa cerca de um ano de incursões no campo, resultando na selecção de temas que melhor representa o momento espontâneo e consequente do meio-envolvente. Logisticamente como foi gravar um disco assim? Como se consegue levar um estúdio “lá para fora”?

Há já muitos anos que se fazem documentários de vida selvagem, como aqueles que vemos na televisão, onde parece que tudo acontece de forma fácil e coordenada, e o meio natural se revela exposto e solícito. Na verdade, esta ilusão de fluxo resulta de horas e horas, meses e meses de tentativas e erros… No contexto do "Terra Concreta", usei um gravador de alta fidelidade daqueles que registam sons nesses documentários mais celebrados, e gravei um ano de incursões musicais nas zonas mais remotas das nossas reservas naturais, das quais escolhi apenas o material que representa absolutamente a melhor combinação entre o meio-envolvente e a prestação musical.

Pessoalmente, penso que Terra Concreta tem tudo o que é necessário para, finalmente, o Afonso Pais ter o reconhecimento público que merece. Quais são, antes de mais, as tuas expetativas para este teu novo fôlego no teu projeto a solo?

Não sinto que haja uma falta de reconhecimento, mas sim barreiras e obstáculos inventados por uma indústria musical permeável ao consensual e dependente das vendas quase imediatas, bastante alheada do propósito cultural que todos partilhamos; sem mesmo atender ao facto de que os movimentos culturais são cada vez mais gerados à sua margem (indústria e "mainstream" artístico), mas sim dinamizados por pequenas comunidades artísticas de tendências convergentes. Se algum projecto meu no qual acredito, como é o caso de "Terra Concreta", for exposto aos ouvintes, conto que a entrega e adesão se baseie só na simples premissa: gosto ou não gosto.

Ouvir Terra Concreta foi, para mim, um exercício muito agradável e reconfortante que tenho intenção de repetir imensas vezes, confesso. Intrigante, melancólico, é realmente um documento que não tem apenas as cordas como protagonistas maiores do processo melódico e a própria natureza e o chilrear constante das aves são, realmente, parte integrante e de pleno direito das emoções que os diversos temas transmitem. Esta supremacia do natural corresponde ao que pretendeste transmitir sonoramente neste projeto?

A supremacia do natural a que se refere é também a supremacia do manancial humano de inspiração, no sentido de levar a cabo as suas tarefas de auto-superação, que nos trouxeram enquanto espécie à descoberta das leis da física, do lazer, da genética, e da confiança na infinitude da criatividade que caracteriza Hermeto Pascoal, Salvador Dali ou Fernando Pessoa, nas artes. Só espero não estagnar na minha procura, audácia à parte, no sentido de viabilizar tudo o que justifique uma procura por um elo inabalável com algo que nos sustenta: a natureza tem esse papel para mim, dia após dia, apenas lhe prestei a homenagem que esteve ao meu alcance, com a noção de que a qualidade supera o desejo de concretização.

Não só no conceito que pretendeu, pelos vistos, captar sons no momento e, por isso irrepetíveis, mas também na materialização, onde não faltam instantes sonoros naturais subtis, alguns audíveis de forma quase impercetível, outros parecendo deliberadamente sobrepostos de forma aparentemente anárquica, percebe-se que a sonoridade geral de Terra Concreta exala uma sensação, quanto a mim, vincadamente experimental. Houve, desde o início do processo de gravação, uma rigidez no que concerne às opções que estavam definidas, nomeadamente o tipo de sons a captar e a misturar com as cordas e as vozes, ou durante o processo houve abertura para modelar ideias à medida que o barro se foi moldando?

Um pouco dos dois. Por cada faixa escolhida para o disco houve talvez dez faixas gravadas, em média. Desejei que a qualidade final de execução, interpretação e improviso (quando aplicável) não fossem vitimas de uma escolha que pudesse por em causa o propósito do disco: fundir e homogeneizar a música e o meio natural. E assim aconteceu, houve para cada canção pelo menos um "take" que tornou possível a inclusão da canção correspondente no disco. 

Relativamente às vozes, Terra Concreta conta com as participações especiais de Albert Sanz, Luísa Sobral, Beatriz Nunes, Joana Espadinha, Rita Martins e João Firmino. Foram escolhas pessoais tuas desde o início e as primeiras, ou após teres a parte instrumental dos temas pronta, estudaste as melhores opções?

Houve um processo de selecção a três variáveis, no qual decidi combinando as três:

1 - O local adequado para a gravação.

2- A pessoa que quis convidar para esse lugar

3 - A canção que compus pensando na pessoa que quis convidar cantando no lugar designado.

Além de ter apreciado a riqueza sonora natural, gostei particularmente do cenário melódico das canções, que achei particularmente bonito. Em que te inspiras para criar as melodias?

No efeito que algum lugar verdadeiramente natural exerce em nós e na nossa condição humana enquanto seres singulares, e no desejo de que a originalidade seja um desígnio a nós  predestinado, consequente da nossa proveniência natural, e passível de ser descoberto e potenciado pela nossa curiosidade. A profundidade com que nos relacionamos com as nossas origens não tem fundo.

Adoro a canção Desaire. O Afonso tem um tema preferido em Terra Concreta?

Obrigado. Tenho de dizer que a sucessão de temas e sons naturais presente na colecção de temas do disco perfaz a estória. Quis porém que cada pessoa ou potencial ouvinte pudesse entrar no universo de cada canção, de forma a nomear a sua favorita. Como foram gravadas em espaços diferentes, com instrumentações distintas e sons naturais tão distintos, coube a cada composição o seu lugar na minha estima, mas só a sua sucessão conta a viagem que pretendo apresentar.

Em relação ao futuro, após Terra Concreta, já está definido o próximo passo na tua carreira?

Gravei já outro repertório, de volta aos estúdios, mas quero dizer que "Terra Concreta" é um trabalho discográfico que não se esgota nas canções que o conduzem nem se revê na venda desenfreada de actuações e CD´s. "Terra Concreta" é um cartão de visita, uma forma de expor a música e criatividade a novas premissas, um registo "on-going", que vou querer continuar sob a forma de novas intervenções na natureza que disponibilizarei on-line ao longo de futuros trabalhos discográficos e do meu percurso, dos quais este CD é um primeiro marco e representação física de viabilidade e bom presságio.

Agradeço a entrevista, foi sem dúvida a mais desafiante de todas, e por isso agradeço.

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publicado por stipe07 às 22:09

Wild Beasts – Woebegone Wanderers II

Sábado, 18.04.15

O quarteto britânico Wild Beasts regressou em 2014 aos discos com o excelente Present Tense e, quase no ocaso desse ano, revelou um single com dois temas, que resultaram de uma parceria com um ilustrador francês, natural de Paris, chamado Mattis Dovier. Juntos criaram uma história interativa, da qual faziam parte os dois lados do single, Soft Future, o primeiro tema instrumental do cardápio sonoro da banda e Blood Knowledge.

Agora, alguns meses depois, o produtor John Hopkins divulgou na rádio inglesa BBC uma nova canção intitulada Woebegone Wanderers II. Este II no título implica que será uma sequência da canção com o mesmo nome lançada no disco Limbo, Panto, de 2008 e continua a mostrar uns Wild Beasts apostados em mergulhar num universo que abrange alguns elementos específicos das novas propostas que vão surgindo no campo da dream pop. Confere...

Wild Beasts - Woebegone Wanderers II

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publicado por stipe07 às 21:34

Only Real - Jerk At The End Of The Line

Sexta-feira, 17.04.15

O projeto britânico Only Real estreou-se nos discos através da Virgin/EMI em final de março com Jerk At The End Of The Line e Pass The Pain e Cadillac Girl, um álbum produzido por Dan Carrey e Ben Allen e os dois avanços primeiros divulgados do trabalho, mostraram desde logo que Niall Gavin, o grande mentor deste projeto, é um fazedor nato de canções que mostram o indie rock como um trunfo explorado positivamente até à exaustão e um artista que domina diferentes vertentes e se expressa em múltiplas linguagens artísticas e culturais, sendo a música mais um dos códigos que ele utliza para expressar o mundo próprio em que habita e dar-lhe a vida e a cor, as formas e os símbolos que idealizou.

Na verdade, a antecipação dessas duas canções deixou logo avisada a crítica e os potenciais fãs para o furacão que estaria prestes a entrar pelos nossos ouvidos, em pleno início de primavera. E basta ouvir, logo após Intro (Twist It Up), o teclado planante, a percussão tropical e a voz grave que dominam Jerk para perceber que, realmente, essa exaltação inicial tinha sentido, já que Only Real comunica connosco através de um código específico, tal é a complexidade e a criatividade que estão plasmadas nas suas canções, usando como principal ferramenta alguns dos típicos traços identitários de uma espécie de pop ácida e psicadélica, inspirada em alguns dos detalhes identitários da britpop mais genuína, com uma considerável vertente experimental associada e que ganha um realce ainda maior quando, logo de seguida, em Yesterday, as guitarras distorcidas e turvas têm a capacidade de proporcionar uma aúrea algo mística e ampliada, não só à voz, como também, no fundo, à própria mensagem das canções.

Estando dado este mote logo nos intantes iniciais do disco, fica claro para o ouvinte que Jerk At The End Of The Line exalta cenários e sensações que se expressam com particular envolvência e que expõem sentimentos com genuína entrega e sensibilidade extrema e com uma expressividade única e claramente intencional. Niall é fortemente irónico, sem ser sarcástico, tanto pisca o olho à energia juvenil de um Damon Albarn em início de carreira como aos The Streets auto-depreciativos, mas mantém sempre impecável o seu adn identitário e um charme que dispensa amarguras e abraça a lisergia, sem apelar, mesmo que implicitamente, a qualquer tipo de reforço psicotrópico para ser devidamente apreciado.

Only Real homenageia, no fundo, uma vasta miríade de nomes conterrâneos e mais ou menos contemporâneos, exaltando as virtudes da escola musical indie britânica, sendo possível conferir nuances típicas de projetos como os Gorillaz e de artistas como os já citados ou um Jamie T no seu cardápio. Todo o arsenal bélico instrumental e já acima referido na sua grande parte, com que ele nos sacode, traduz, na forma de música, a mente criativa que nele vive e que parece, em determinados períodos, ir além daquilo que Niall vê, pensa e sente, nomeadamente quando questiona alguns cânones elementares ou verdades insofismáveis do nosso mundo, sendo os próprios tons neon da capa do disco, uma representação feliz das diferentes colagens de experiências assumidas por Only Real, um talento prematuro que soube aproveitar o melhor da sua juventude e da sua criatividade nesta estreia verdadeiramente auspiciosa. Espero que aprecies a sugestão... 

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Only Real: Jerk At The End Of The Line (Signed)

1-Intro (Twist It Up)
2-Jerk
3-Yesterdays
4-Break It Off
5-Can't Get Happy
6-Blood Carpet
7-Petals
8-Cadillac Girl
9-Daisychained
10-Pass the Pain
11-Backseat Kissers
12-When This Begins

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publicado por stipe07 às 22:01

Editors - No Harm

Sexta-feira, 17.04.15

Os Editors de Tom Smith estarão de regresso aos discos ainda este ano e No Harm, uma canção encontrada por um fã numa compilação da PIAS Recordings, a editora do grupo, é o primeiro avanço divulgado pela banda britânica que volta a mostrar a pretensão de se assumir definitivamente como uma banda de massas e deixar de vez o universo mainstream para fazer parte da primeira liga do campeonato mundial do indie rock. Confere...

 

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publicado por stipe07 às 13:10







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