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Afonso Pais - Terra Concreta

Sábado, 18.04.15

Afonso Pais, nascido em Lisboa em 1979, tem formação em piano e bateria, mas escolheu a guitarra, intensificando os estudos na escola de jazz do Hot Clube de Portugal e na New School University, nos Estados Unidos. Gravado em estúdios de gravação ao ar livre, em Parques Naturais nacionais e no Vale de Darnum, na ilha do Borneu, com a captação de instantes sonoros únicos e, por isso, irrepetíveis, Terra Concreta é a nova menina dos olhos deste músico, um documento sonoro invulgar, mas particularmente belo, nascido com o propósito firme de transportar o ouvinte para esses locais e de levar a música de regresso às suas origens, sendo a natureza fonte de inspiração e, simultaneamente, protagonista, dividindo esse papel com a viola e com as vozes de Albert Sanz, Luísa Sobral, Beatriz Nunes, Joana Espadinha, Rita Martins e João Firmino, além do próprio Afonso.

Capaz de colocar o ouvinte no meio da natureza, contemplando-a usando o sentido da audição e depois, o próprio olfato e a visão, Terra Concreta é, na minha opinião, um compêndio de música com cheiros e cores muito próprios. Ponto simultâneo de partida e chegada, sempre, mas nunca de passagem, o disco permite-nos contactar com instantes de manifestação musical espontâneos, que exalam a profunda delicadeza e sensibilidade do autor e o modo tremendamente eficaz como ele transporta essas duas facetas intrínsecas à sua capacidade criativa para a música que produz, com a felicidade de também nos mostrar, à sua maneira, locais naturais no seu estado mais puro, consciencializando-nos para a presrvação dos mesmos, quase sem darmos por isso.

A natureza acaba por se tornar grata a Afonso, já que se revela esplendorosa e bastante participativa ao longo do diso, revelando uma generosidade heróica através de instantes lindíssimos, não só audíveis no chilrear de algumas aves, mas também nos sons que o movimento do ar, feito vento, consegue criar e que o excelente trabalho de gravação e produção captou. São instantes sonoros naturais subtis, alguns audíveis de forma quase impercetível, outros parecendo deliberadamente sobrepostos de forma aparentemente anárquica, percebendo-se que a sonoridade geral de Terra Concreta exala uma sensação vincadamente experimental.

Escutar Terra Concreta é, sem dúvida, um exercício muito agradável e reconfortante, mas também intrigante e melancólico. Este é um documento que não tem apenas as cordas como protagonistas maiores do processo melódico, já que a própria natureza e o chilrear constante das aves são, realmente, parte integrante e de pleno direito das emoções que os diversos temas transmitem.

Terra Concreta sucede a Onde mora o mundo, disco que Afonso Pais editou com JP Simões, em 2011. Da discografia do músico fazem parte ainda Terranova (2004), Subsequências (2008) e participações em álbuns de Paula Sousa, Joana Machado ou Paulo Bandeira. Confere abaixo a entrevista que gentilmente o autor concedeu ao blogue e espero que aprecies a sugestão...

Gravado em estúdios de gravação ao ar livre, em Parques Naturais nacionais e no Vale de Darnum, na ilha do Borneu, com a captação de instantes sonoros únicos e, por isso, irrepetíveis, Terra Concreta é um documento sonoro invulgar, mas particularmente belo, capaz de colocar o ouvinte no meio da natureza, contemplando-a usando o sentido da audição e depois, o próprio olfato e a visão, já que esta é, na minha opinião música com cheiros e cores muito próprios. Como surgiu a ideia de gravar um disco assim?

Surgiu da regularidade com que visito zonas naturais remotas, sempre acompanhado do meu instrumento musical, a guitarra. Em determinado momento quis experimentar registar o momento natural combinado com a inspiração que dele advém, ao tocar e criar trechos musicais associados ao meio envolvente. Adorei o resultado, e a forma como a música progride de forma diferente neste enquadramento.

De acordo com o press release do álbum, Terra Concreta foi feito sem geradores, só com instrumentos acústicos e com a textura irrepetível dos sons naturais como mote. O registo em disco representa cerca de um ano de incursões no campo, resultando na selecção de temas que melhor representa o momento espontâneo e consequente do meio-envolvente. Logisticamente como foi gravar um disco assim? Como se consegue levar um estúdio “lá para fora”?

Há já muitos anos que se fazem documentários de vida selvagem, como aqueles que vemos na televisão, onde parece que tudo acontece de forma fácil e coordenada, e o meio natural se revela exposto e solícito. Na verdade, esta ilusão de fluxo resulta de horas e horas, meses e meses de tentativas e erros… No contexto do "Terra Concreta", usei um gravador de alta fidelidade daqueles que registam sons nesses documentários mais celebrados, e gravei um ano de incursões musicais nas zonas mais remotas das nossas reservas naturais, das quais escolhi apenas o material que representa absolutamente a melhor combinação entre o meio-envolvente e a prestação musical.

Pessoalmente, penso que Terra Concreta tem tudo o que é necessário para, finalmente, o Afonso Pais ter o reconhecimento público que merece. Quais são, antes de mais, as tuas expetativas para este teu novo fôlego no teu projeto a solo?

Não sinto que haja uma falta de reconhecimento, mas sim barreiras e obstáculos inventados por uma indústria musical permeável ao consensual e dependente das vendas quase imediatas, bastante alheada do propósito cultural que todos partilhamos; sem mesmo atender ao facto de que os movimentos culturais são cada vez mais gerados à sua margem (indústria e "mainstream" artístico), mas sim dinamizados por pequenas comunidades artísticas de tendências convergentes. Se algum projecto meu no qual acredito, como é o caso de "Terra Concreta", for exposto aos ouvintes, conto que a entrega e adesão se baseie só na simples premissa: gosto ou não gosto.

Ouvir Terra Concreta foi, para mim, um exercício muito agradável e reconfortante que tenho intenção de repetir imensas vezes, confesso. Intrigante, melancólico, é realmente um documento que não tem apenas as cordas como protagonistas maiores do processo melódico e a própria natureza e o chilrear constante das aves são, realmente, parte integrante e de pleno direito das emoções que os diversos temas transmitem. Esta supremacia do natural corresponde ao que pretendeste transmitir sonoramente neste projeto?

A supremacia do natural a que se refere é também a supremacia do manancial humano de inspiração, no sentido de levar a cabo as suas tarefas de auto-superação, que nos trouxeram enquanto espécie à descoberta das leis da física, do lazer, da genética, e da confiança na infinitude da criatividade que caracteriza Hermeto Pascoal, Salvador Dali ou Fernando Pessoa, nas artes. Só espero não estagnar na minha procura, audácia à parte, no sentido de viabilizar tudo o que justifique uma procura por um elo inabalável com algo que nos sustenta: a natureza tem esse papel para mim, dia após dia, apenas lhe prestei a homenagem que esteve ao meu alcance, com a noção de que a qualidade supera o desejo de concretização.

Não só no conceito que pretendeu, pelos vistos, captar sons no momento e, por isso irrepetíveis, mas também na materialização, onde não faltam instantes sonoros naturais subtis, alguns audíveis de forma quase impercetível, outros parecendo deliberadamente sobrepostos de forma aparentemente anárquica, percebe-se que a sonoridade geral de Terra Concreta exala uma sensação, quanto a mim, vincadamente experimental. Houve, desde o início do processo de gravação, uma rigidez no que concerne às opções que estavam definidas, nomeadamente o tipo de sons a captar e a misturar com as cordas e as vozes, ou durante o processo houve abertura para modelar ideias à medida que o barro se foi moldando?

Um pouco dos dois. Por cada faixa escolhida para o disco houve talvez dez faixas gravadas, em média. Desejei que a qualidade final de execução, interpretação e improviso (quando aplicável) não fossem vitimas de uma escolha que pudesse por em causa o propósito do disco: fundir e homogeneizar a música e o meio natural. E assim aconteceu, houve para cada canção pelo menos um "take" que tornou possível a inclusão da canção correspondente no disco. 

Relativamente às vozes, Terra Concreta conta com as participações especiais de Albert Sanz, Luísa Sobral, Beatriz Nunes, Joana Espadinha, Rita Martins e João Firmino. Foram escolhas pessoais tuas desde o início e as primeiras, ou após teres a parte instrumental dos temas pronta, estudaste as melhores opções?

Houve um processo de selecção a três variáveis, no qual decidi combinando as três:

1 - O local adequado para a gravação.

2- A pessoa que quis convidar para esse lugar

3 - A canção que compus pensando na pessoa que quis convidar cantando no lugar designado.

Além de ter apreciado a riqueza sonora natural, gostei particularmente do cenário melódico das canções, que achei particularmente bonito. Em que te inspiras para criar as melodias?

No efeito que algum lugar verdadeiramente natural exerce em nós e na nossa condição humana enquanto seres singulares, e no desejo de que a originalidade seja um desígnio a nós  predestinado, consequente da nossa proveniência natural, e passível de ser descoberto e potenciado pela nossa curiosidade. A profundidade com que nos relacionamos com as nossas origens não tem fundo.

Adoro a canção Desaire. O Afonso tem um tema preferido em Terra Concreta?

Obrigado. Tenho de dizer que a sucessão de temas e sons naturais presente na colecção de temas do disco perfaz a estória. Quis porém que cada pessoa ou potencial ouvinte pudesse entrar no universo de cada canção, de forma a nomear a sua favorita. Como foram gravadas em espaços diferentes, com instrumentações distintas e sons naturais tão distintos, coube a cada composição o seu lugar na minha estima, mas só a sua sucessão conta a viagem que pretendo apresentar.

Em relação ao futuro, após Terra Concreta, já está definido o próximo passo na tua carreira?

Gravei já outro repertório, de volta aos estúdios, mas quero dizer que "Terra Concreta" é um trabalho discográfico que não se esgota nas canções que o conduzem nem se revê na venda desenfreada de actuações e CD´s. "Terra Concreta" é um cartão de visita, uma forma de expor a música e criatividade a novas premissas, um registo "on-going", que vou querer continuar sob a forma de novas intervenções na natureza que disponibilizarei on-line ao longo de futuros trabalhos discográficos e do meu percurso, dos quais este CD é um primeiro marco e representação física de viabilidade e bom presságio.

Agradeço a entrevista, foi sem dúvida a mais desafiante de todas, e por isso agradeço.

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publicado por stipe07 às 22:09

Wild Beasts – Woebegone Wanderers II

Sábado, 18.04.15

O quarteto britânico Wild Beasts regressou em 2014 aos discos com o excelente Present Tense e, quase no ocaso desse ano, revelou um single com dois temas, que resultaram de uma parceria com um ilustrador francês, natural de Paris, chamado Mattis Dovier. Juntos criaram uma história interativa, da qual faziam parte os dois lados do single, Soft Future, o primeiro tema instrumental do cardápio sonoro da banda e Blood Knowledge.

Agora, alguns meses depois, o produtor John Hopkins divulgou na rádio inglesa BBC uma nova canção intitulada Woebegone Wanderers II. Este II no título implica que será uma sequência da canção com o mesmo nome lançada no disco Limbo, Panto, de 2008 e continua a mostrar uns Wild Beasts apostados em mergulhar num universo que abrange alguns elementos específicos das novas propostas que vão surgindo no campo da dream pop. Confere...

Wild Beasts - Woebegone Wanderers II

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publicado por stipe07 às 21:34






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