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Björk – Vulnicura

Segunda-feira, 26.01.15

Quatro anos após o projeto audiovisual Biophilia, a islandesa Björk, para muitos a rainha do universo indie, está de regresso com Vulnicura, um novo disco composto por nove canções, tendo quatro delas sido produzidas pela própria Björk e as restantes por Arca ou The Haxan Cloak.

Trabalho lançado pela One Little Indian, Vulnicura debruça-se, sem rodeios e falsas mensagens implícitas ou figuras de estilo desnecessárias, na separação de Björk do artista Matthew Barney, com a curiosidade de as seis primeiras canções do alinhamento terem o subtítulo Five Months Before, Two Months After e por aí fora, numa cronologia emocional precisa, redigida, de acordo com a artista, durante cerca de um ano. O processo de composição destas músicas, retratando o antes, o depois e a cura, acabou por ser um apoio e uma terapia e a prova biológica de um processo de cura de uma ferida, psicologica e fisicamente, como o extraordinário artwork de Vulnicura tão bem retrata.

Cada vez menos afastada do experimentalismo pop e eletrónico que caraterizou sempre a sua carreira e a posicionar-se com maior ênfase em territórios sonoros mais clássicos e eruditos, em Vulnicura Björk apresenta nove sinfonias impecavelmente produzidas, com uma sonoridade ampla e quase sempre eloquente e grandiosa, havendo mesmo instantes em que existe aquela sensação curiosa, mas estranha, de a própria música parecer fugir um pouco ao controle de quem a cria e ganhar vida própria, como é o caso de Black Lake, que termina com um lindíssimo arranjo de cordas. 

Com os sintetizadores a terem interessante protagonismo no processo de composiçãol melódica, mas a não serem, nem por sombras, atores únicos do disco, Vulnicura tem como maior atributo, a elevada heterogeneidade instrumental, dentro de uma matriz estilística bem definida. History of Touches acaba por ser o tema onde o sintético predomina claramente e de modo isolado, fazendo com que essa canção sobressaia, mas a viagem musical que este disco nos proporciona oferece-nos instantes em que há uma orgânica instalada que deslumbra, com a particularidade das já referidas cordas e a multiplicidade de instrumentos que delas se servem, a serem responsáveis por alguns dos arranjos mais bonitos. O modo como o som dos violinos cresce e nos faz levitar em Family (Existe algum lugar onde eu possa deixar condolências para a morte da minha família?) e como depois o violoncelo embala a voz de Björk despertando-nos, para, finalmente, regressarmos ao estágio inicial de suspensão, é , claramente, o ponto mais alto desta intensidade algo intimista, que as cordas proporcionam e do modo como elas conseguem levar-nos ao encontro de emoções fortes e explosivas, outrora adormecidas, para depois nos serenar, representando, do modo que estão orquestradas, o porto seguro da artista.

Mas regressando ao conceito do disco, se na primeira canções como a confessional Stonemilker, o eufórico desespero de Lion Song e os sintetizadores agressivos da já referida History of Touches, retratam os momentos mais angustiantes, tocantes e surpreendentes, até pelo modo como nos introduzem uma Björk que nunca foi tão clara e direta a expressar a sua vida íntima e privada, acaba por ser na metade final de Vulnicura que a voz da islandesa e a alma e o esplendor do disco melhor sobressaiem, com a soul experimental de Atom Dance, que cruza o que de melhor há na música clássica com a pop e a coabitação entre ritmo e voz em Mouth Mantra, a serem perfeitas. Nesta última, é clara a sensação da transposição da dor de um coração que foi partido para o próprio corpo de Björk e percebe-se que chega a ser difícil para ela até respirar, devido à influência dessa dor. Aliás, em alguns momentos de Vulnicura chega a ser surpreendente o modo como a voz da islandesa conversa connosco e nos confidencia, fazendo-nos sofrer com ela. Por mais depressivos que possam soar as melodias entoadas pela sua voz, é inegável que a cantora nunca antes tinha apresentado um registo vocal tão belo e tão doce.

Em Quicksand é selado o fim de uma grande história de amor e a audição de um exemplar álbum de coerência, impecavelmente e homogéneo, com todos os elementos a convergirem para a audição de uma espécie de diário, com as melodias das canções a serem um simbolismo para páginas rabiscadas, amassadas, rasgadas e marcadas por lágrimas. Em Vulnicura Björk rende-se à sua própria vulnerabilidade, para se livrar dos demónios que a assombram e seguir em frente, curando-se através da composição de música de excelência. Espero que aprecies a sugestão...

Björk - Vulnicura

01. Stonemilker
02. Lionsong
03. History Of Touches
04. Black Lake
05. Family
06. Notget
07. Atom Dance (Feat. Antony)
08. Mouth Mantra
09. Quicksand

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publicado por stipe07 às 23:21






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