man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Viet Cong – Viet Cong
Os Viet Cong são uma banda formada por Matt Flegel e Mike Wallace, dois músicos dos extintos Women, um grupo norte americano de Calgary, que terminou a carreira há alguns anos, mas que deixou saudades no universo sonoro alternativo. À dupla juntou-se, entretanto, Scott Monty Munro e Danny Christiansen. No último verão os Viet Cong editaram, através da Mexican Summer, Cassette, um EP que incluia no seu alinhamento Static Wall, uma incrível canção que nos levava numa viagem do tempo até à psicadelia dos anos setenta e agora, pouco mais de meio ano depois, chegou finalmente o primeiro longa duração do grupo, um compêndio com sete novas canções, que viu a luz do dia por intermédio da conceituada Jagjaguwar.
O punk rock dos Viet Cong tem uma originalidade muito própria e um acentuado cariz identitário, por procurar, em simultâneo, uma textura sonora aberta, melódica e expansiva e não descurar o indispensável pendor lo fi e uma forte veia experimentalista, percetivel na distorção das guitarras, no vigor do baixo de Matt Flengel e, principalmente, na bateria de Wallace. Este instrumento é frequentemente chamado para a linha da frente na arquitetura sonora de Viet Cong, ficando com as luzes da ribalta e um elevado protagonismo em várias canções, com particular destaque logo para a percussão tribal de Newspaper Spoons e, no epílogo, para o modo como é tocado em Death, como vamos ver adiante.
É perigoso dizer-se que os Viet Cong são apenas e só mais uma banda de punk rock, apesar de Continental Shelf, um dos singles já retirados de Viet Cong, ser um espetacular tratado sonoro aditivo do género, rugoso e viciante, até porque, em Bunk Buster, a sensibilidade do efeito metálico abrasivo de uma guitarra que corta fino e rebarba, em contraste com a pujança do baixo e a amplitude épica da melodia, que nos leva rumo ao rock alternativo dos anos novemtna e os solos e riffs da guitarra de Scott e Daniel, em Silhouettes, a exibirem linhas e timbres com um clima marcadamente progressivo e rugoso, alicerçado num garage rock, ruidoso e monumental, também se exibem no cardápio deste coletivo.
No fundo, o que os Viet Cong fazem é combinar algum do melhor post punk atual com o shoegaze, numa fórmula já pessoal e muito deles, onde o ruído não funciona com um entrave à expansão das canções, sendo, principalmente, um veículo privilegiado para lhes dar um relevo muito próprio que, sem esse mesmo ruído, os temas certamente não teriam. Fazer barulho também é uma arte que nem todas as bandas dominam, mas os Viet Cong sabem como harmonizá-lo e torná-lo agradável aos nossos ouvidos, fazendo da rispidez visceral algo de extremamente sedutor e apelativo. A viagem lisérgica que o quarteto nos oferece nas reverberações ultra sónicas de March Of Progress, inicialmente à boleia de uma melodia hipnótica sintetizada, depois por um efeito luminoso em tudo semelhante ao som da harpa e, finalmente, num agregado instrumental clássico, despido de exageros desnecessários mas apoteótico, é a demonstração cabal do modo como este coletivo se disponibiliza corajosamente para um saudável experimentalismo que não os inibe de se manterem concisos e diretos. Além deste exemplo, a arquitetura sonora variada e sempre crescente de Death, um longo tema, mas nada monótono, cheio de mudanças de ritmo, com a junção crescente de diversos agregados e que atinge o auge interpretativo numa bateria esquizofrénica e fortemente combativa, mas incrivelmente controlada, num resultado de proporções incirvelmente épicas, é algo bem capaz de proporcionar um verdadeiro orgasmo volumoso e soporífero, a quem se deixar enredar na armadilha emocionalmente desconcertante que os Viet Cong construiram neste tema.
O efeito robótico da voz na inspirada e soporífera Pointless Experience e o modo como esse registo cola no timbre algo agudo e cru da bateria e no rigor inflamado do baixo, mostra ainda mais atributos e elevada competência no modo como os Viet Cong separam bem os diferentes sons e os mantêm isolados e em posição de destaque, durante o processo de construção dos diferentes puzzles que dão substância às canções, mas depois, no resultado final, tudo resulta de forma coesa e o ruído abrasivo fascina e seduz.
Viet Cong é uma estreia em grande estilo de um coletivo irreverente e inspirado, uma irrepreensível coletânea que aposta numa espécie de hardcore luminoso, uma hipnose instrumental abrasiva e direta, mas melodiosa e rica, que nos guia propositadamente para um mundo criado específicamente pelo grupo, onde reina uma certa megalomania e uma saudável monstruosidade agressiva, aliada a um curioso sentido de estética. Esta cuidada sujidade ruidosa que os Viet Cong produzem, feita com justificado propósito e usando a distorção das guitarras como veículo para a catarse é feita com uma química interessante e num ambiente simultaneamente denso e dançável, despida de exageros desnecessários, mas que busca claramente a celebração e o apoteótico. Espero que aprecies a sugestão...
01. Newspaper Spoons
02. Pointless Experience
03. March Of Progress
04. Bunker Buster
05. Continental Shelf
06. Silhouettes
07. Death
Autoria e outros dados (tags, etc)
Shirley Said - Merry Go Round (video)
Uma das novas apostas da etiqueta Lost In The Manor é a dupla italiana Shirley Said, natural de Latina, nos arredores de Roma e formada por Giulia Scarantino e Simone Bozzato. A eletrónica experimental, que chega a raiar a fronteira do techo minimal, é a pedra de toque destes Shirley Said, uma eletrónica sensual e algo abstrata, mas bastante sofisticada e de forte cariz ambiental.
A dupla acaba de divulgar o vídeo de Merry Go Round, um filme dirigido e produzido por Gabriel Beretta e com Yin Lee a ficar a cargo da maquilhagem espetacular de Giulia. Na canção tudo se movimenta como uma massa de som em que o mínimo dá lugar ao todo, ou seja, os detalhes são, sem dúvida, parte fundamental da funcionalidade e da beleza da obra da dupla, sendo impecável o modo como exploram essa unidade e as várias nuances sonoras que aplicam, de um modo que instiga, hipnotiza e emociona. Confere...
Autoria e outros dados (tags, etc)
Gengahr - She's A Witch
Oriundos de Londres, os britânicos Gengahr causaram sensação no meio alternativo local quando em outubro último divulgaram Powder, por intermédio da Trasngressive records, uma canção que os posicionou, desde logo, no universo da indie pop de pendor mais psicadélico, com nomes tão importantes como os MGMT, Tame Impala ou os Unknown Mortal Orchestra a servirem como referências para a análise por parte da crítica.
Agora, alguns meses depois, os Gengahr acabam de desvendar mais um belíssimo segredo intitulado She's A Witch, o tema homónimo do EP do grupo, que chegará aos escaparates a dez de março através da mesma Transgressive. A canção é uma peça musical magistral, uma pop futurista com o ritmo e cadência certas, conduzida por teclas inebriantes e arranjos sintetizados verdadeiramente genuínos e criativos, capazes de nos enredar numa teia de emoções que nos prende e desarma sem apelo nem agravo. A forma como o falsete da voz se entrelaça com a melodia, enquanto metais, bombos, cordas e teclas desfilam orgulhosas e altivas, mais parece uma parada de cor, festa e alegria, onde todos os intervenientes comungam o privilégio de estarem juntos, do que propriamente um agregado de sons no formato canção. Ficarei muito atento a este projeto e regressarei aos Gengahr para a análise crítica do EP. Confere...