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Vague - Tempdays EP

Sábado, 31.01.15

Nova aposta da Siluh Records, os austríacos Vague são cinco jovens rapazes de Viena impregnados por um manancial de efeitos e distorções alicerçadas em trinta anos de um indie rock feito, neste caso, com três guitarras bastante inspiradas e um enorme bom gosto. Obscuros e melancólicos, mas plenos de energia e focados numa enorme dedicação à causa, estes Vague não complicam na altura de exaltar o retro, mesmo que nos dias de hoje exista já alguma saturação relativamente ao vintage e são um claro exemplo de que quando a música é boa, esse tipo de projeções e comporações tornam-se inócuos e a data da gravação pouco importa, sendo apenas um mero detalhe formal sem qualquer valor.

Formados por Gabriel Hyden (guitarra e voz), Simon Dallaserra (guitarra e voz), Konstantin Heidler (guitarra e voz), Juan Marhl (baixo) e Gregor Apfalter (bateria), os Vague são cinco músicos na casa dos vinte anos, com a nuance interessante de praticamente todos os elementos gostam de escrever letras, nomeadamente os guitarristas. Tempdays, o EP de estreia do grupo, viu a luz do dia a dezasseis de janeiro e contém cinco canções, com os créditos das letras a distribuirem-se do seguinte modo: Konstantin Heidler escreveu Black Sheep, Simon Dallaserra escreveu Nothing Again e Take It Still e Gabriel Hyden escreveu Vain City e Space Addict.

Logo no baixo e no fuzz e no efeito da guitarra de Nothing Again percebemos claramente que estes Vague são uma banda que tem colado a si, como seria de esperar, o indie rock de cariz mais alternativo e que aposta no revivalismo de outras épocas, nomeadamente os primórdios do punk rockmais sombrio que fez furor nos finais da década de setenta e início da seguinte. O próprio registo vocal grave e lo fi de Gabriel aponta para a memória de Ian Curtis ou Richard Reilly.

Já o single, Vain City, inflete num sentido mais luminoso e relaxado, apesar do baixo introdutório, sendo um belo instante sonoro pop onde a voz é colocada em camadas, sempre lado a lado com as guitarras e o baixo vibrante, criando uma atmosfera contemplativa, com uma forte vertente experimental nas guitarras e uma certa soul na secção rítmica.

Até ao ocaso de Tempdays torna-se ainda imprescindível e especial deleitar os nossos ouvidos com o ritmo sempre crescente, até à inevitável explosão sónica, da épica Take It Still. A solarenga guitarra de Black Sheep e a relação progressiva que o baixo e a bateria constroem na canção, com um início algo inocente mas que depois ganha uma tonalidade muito vincada, são outros excelentes tónicos para potenciar a capacidade de Gabriel, o vocalista, em soprar na nossa mente e envolvê-la com uma elevada toada emotiva e delicada, que faz o nosso espírito facilmente levitar e que provoca um cocktail delicioso de boas sensações. Esta mesma sensação ganha um fôlego ainda maior em Space Addict, um tema onde a voz atinge o auge açucarado qualitativo, uma canção que ilustra o quanto certeiros e incisivos os Vague conseguiram ser na replicação do ambiente sonoro que escolheram.

Tempdays carimba uma certa ideia de maturidade de um coletivo que parece caminhar confortavelmente por cenários que descrevem dores pessoais e escombros sociais, com uma toada simultaneamente épica e aberta, fazendo-o demonstrando a capacidade eclética dos Vague em compôr boas letras e oferecer-lhes belíssimos arranjos, assentes num baixo vibrante adornado por uma guitarra jovial e pulsante e com alguns dos melhores efeitos e detalhes típicos do rock alternativo e do indie punk vintage mais sombrio. Espero que aprecies a sugestão...

1. Nothing Again
2. Vain City
3. Black Sheep
4. Space Addict
5. Take It Still

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publicado por stipe07 às 21:15

Kyle Cox - The Plan, The Mess

Sexta-feira, 30.01.15

Natural de Orlando, na Flórida, o norte americano Kyle Cox é um músico que gosta de enfatizar a importância de uma interligação clara e objetiva entre a componente melódica e a escrita das letras das canções, considerando que deve haver uma correspondência entre a luminosidade das canções e o grau de positividade da mensagem que pretendem transmitir. Um pouco na linha identitária de nomes como Bob Dylan ou o  Bruce "Boss" Springsteen, Cox vai beber à indie folk e ao típico indie rock clássico nativo, alternando gitarras acústicas e elétricas com um baixo encorpado, uma bateria com um registo predominantemente ritmado e grave e, adornando o pacote com arranjos particularmente deslumbrantes e cheios de luz.

Editado no início do outono de 2014 e gravado com as participações especiais do produtor e baterista Mike Marsh (Avett Brothers, Dashboard Confessional), The Plan, The Mess é o seu mais recente registo, um trabalho disponível para audição no bandcamp do autor e que plasma a sua dedicação efetiva a um género sonoro que diz muito aos seus conterrâneos e onde o foco é colocado, de modo enfático, no cariz acessivel e das canções. Na sequência feita com o rock clássico alegre e incisivo de You Got That Something ou na balada folk Never Looking Back, um tema que transborda uma luminosa e majestosa melancolia, num belíssimo tratado de folk acústica onde a simplicidade melódica coexiste com uma densidade sonora suave que deslumbra e corrói, mesmo os corações mais empenedridos e também no suave e encantador instante pop chamado I Found Love, encontramos três temas que sintetizam com exatidão o modo de pensar a música por Cox, abundam neste disco as imagens deslumbrantes, feitas com uma linda e mágica paleta sonora de cores, com uma edição inspirada e delicada.

Em instantes como I Ain't Been Lonely, Until I Meet You ou Old City Train, o contraste que o artista consegue propôr e que resulta, principalmente, da conjugação entre uma instrumentação eminentemente acústica e clássica, com a contemporaneidade da guitarra elétrica, num resultado final sempre vibrante e com uma energia bastante particular, que o pormenor da harmónica, um instrumento que serve, frequentemente, de ponto de encontro entre diferentes canções amplia, demonstra que estamos na presença de um artista inspirado capaz de empolgar uma pequena multidão que o escuta numa sala de estar, ou uma grande e efusiva audiência num amplo espaço aberto, sempre com o mesmo graude emoção e dedicação.

O efeito na voz em Honey, Let's Run Away e o modo como a pandeireta acompanha a viola, são um dos instantes mais curiosos de um disco obrigatório para os apreciadores deste tipo de sonoridade, criado por um artista que demonstra enorme capacidade para escrever canções que tocam fundo e que transmitem mensagens profundas e particularmente bonitas, com uma energia intensa e uma versatilidade imensa.

Kyle Cox gosta de nos deixar no limbo entre o sonho feito com a interiorização da cor e da alegria sincera das suas canções e esta realidade às vezes tão crua e que ele também sabe tão bem descrever, enquanto embala os nossos ouvidos com simples acordes, várias vezes dispostos em várias camadas sonoras, é mostrada com uma naturalidade que impressiona os mais incautos, à semelhança da naturalidade com que a nossa realidade encaixa na melodia destas canções. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 13:19

Belle And Sebastian – Girls In Peacetime Want To Dance

Quinta-feira, 29.01.15

Os escoceses Belle & Sebastian estão de regresso aos discos com um novo álbum intitulado Girls In Peacetime Want To Dance, um trabalho que viu a luz do dia a vinte de janeiro através da Matador Records, sendo o primeiro da banda em quatro anos, desde Write About Love e produzido por Ben H. Allen (Animal Collective, Washed Out).

Nono disco de uma banda ativa desde 1996 e que já foi simbolo do indie pop e que, de certa forma, ainda tem um lugar reservado, de pleno direito, no pedestal do universo sonoro alternativo, Girls In Peacetime Want to Dance é, de acordo com o vocalista Stuart Murdock, sobre o que as pessoas fazem depois de desistirem da vida e do romance, um trabalho aguardado com enorme expetativa pelos fãs, já que quebra um hiato de cinco anos sem lançamentos por parte deste coletivo escocês, apesar da compilação The Third Eye Centre lançada em 2013.

Logo na abertura do disco fica, de algum modo, explícita a intenção concetual confessada por Stuart; Nobody's Empire, já um dos single retirados do trabalho, está recheado de versos confessionais que falam da infância do vocalista e da necessidade que muitas vezes sentimos de regressar às origens para dar um novo impulso à nossa existência. A canção conduz-nos de volta ao indie pop mais orelhudo, com aquele requinte vintage que revive os gloriosos anos oitenta e, por isso, é uma excelente porta de entrada para um alinhamento instrumentalmente irreprrensível, sem atropelos ou agressividade desnecessária. Já Allie, funcionando como complemento, agarra-nos pela mão e coloca-nos na pista de dança, numa sequência ampliada pelos detalhes sintéticos de The Party Line e pela pop contagiante, cheia de belos arranjos de The Power Of Three?.

The Cat With The Cream permite fazer uma pausa melancólica e introspetiva, sendo mais um convite direto à reflexão pessoal e ao desarme, que não tem de ser necesssariamente triste e depressivo, já que a melodia é luminosa e implicitamente otimista. Este ambiente mais climático e que impressiona pela criatividade com que os diferentes arranjos vão surgindo à tona, evidencia-se no modo como a guitarra complementa o refrão em The Book Of You e no modo como Today (This Army's For Peace) emociona e trai quem insiste em residir num universo algo sombrio e fortemente entalhado numa forte teia emocional amargurada.

Os quase sete minutos de Enter Sylvia Plath são o auge da agitação de Girls In Peacetime Wnt To Dance, aquele momento da festa em que tudo fica ao rubro e a pop folk, de travo balcânico, de The Everything Muse e as influências africanas de Perfect Couples, mais duas provas do grau de maturidade dos Belle And Sebastian e do modo como são bem sucedidos em fugir de uma possível queda na redundância convencional ou na repetição aborrecida.

Com a pop simples, delicada e feminina de Ever Had A Little Faith? e a teia sonora convidativa, rica e trabalhada da épica Play For Today, Girls In Peacetime Want To Dance aproxima-se do ocaso e torna-se clara a tomada de consciência de um meritório retorno, feito de melodias complexas e simples e letras românticas e densas, de uma banda que já funcionou em algum momento das nossas vidas como uma espécie de rede de segurança e que insiste em ser preponderante e firmar uma posição na classe daquelas que basicamente só melhoram com o tempo. Espero que aprecies a sugestão...

Belle And Sebastian - Girls In Peacetime Want To Dance

01. Nobody’s Empire

02. Allie
03. The Party Line
04. The Power Of Three
05. The Cat With The Cream
06. Enter Sylvia Plath
07. The Everlasting Muse
08. Perfect Couples
09. Ever Had A Little Faith?
10. Play For Today
11. The Book Of You
12. Today (This Army’s For Peace)

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publicado por stipe07 às 22:03

The Dodos – Individ

Quarta-feira, 28.01.15

Os norte americanos The Dodos de Meric Long e Logan Kroeber já têm sucessor para Carrier (2013). O novo álbum da dupla de São Francisco chama-se Individ e viu a luz do dia ontem, através da Polyvinyl Records nos Estados Unidos, da Morr Music na Europa e a Dine Alone no Canada. Individ foi o disco mais escutado na redação fixa e móvel de Man On The Moon durante o mês de janeiro e impressionou, seduziu e conquistou, tendo exigido repetidas e sempre dedicadas e aprazíveis audições.

Os The Dodos têm uma carreira já bastante cimentada no universo alternativo e são respeitados,sendo notória a influência que já representam para muitos outros projetos. Com seis discos já editados desde 2005, são exemplo de fidelidade aos seus instintos primários, de não se reduzirem a uma simples brisa quando podem caminhar tornado dentro, a grande imagem conceptual deste Individ, de acordo com a própria banda.

Individ começou a ser idealizado logo em finais de 2013, após o lançamento de Carrier, o belíssimo antecessor, um álbum que gravitava em redor da necessidade de quebrar os hábitos e as rotinas que tornam a nossa vida num corropio infernal, com a capa a querer transmitir a ideia de alguém que quis fazer uma pausa e agora observa um tornado, que não é mais do que a sua própria vida. Individ é a aceitação daquilo que somos e, depois de um exercício de auto expiação e plenamente revigorados e renovados, uma reentrada nesse tornado, mas mais preparados e fortalecidos para enfrentar os dilemas da nossa existência.

Exímios no modo como conjugam as cordas com uma percussão vibrante e donos de uma distorção típica, imponente, contínua e com um efeito metálico muito caraterístico, os The Dodos mostram, logo na eloquente, ampla, vigorosa e visceral Precipitation o seu inconfundível truque que alia a típica sonoridade metálica das cordas com instrumentos percussivos do mesmo timbre, com o baixo a colocar o indispensável manto, tudo com uma inspirada melodia. É assim a música dos The Dodos, tão simples como a vontade de usar imensos adjetivos para elogiar este indie rock direto e incisivo, cheio de alma e caráter, sempre apresentado de forma assertiva e bem produzida.

O deambulante efeito da guitarra de Tide e o fuzz da mesma em Bubble e o modo como este instrumento aparece eletrificado sempre de mãos dadas com alguma dose de reverb sem perder um implícito travo acústico, indispensável para o tal efeito imagem de marca metálico, entrelaça-se, nestes dois registos, com uma bateria incessante, que ganha em mestria o modo como consegue exprimir uma calculada alternância de fulgor, criando assim com perfeição o clima melódico que os The Dodos procuram recriar, o indicado para um disco que, como já foi referido, pretende contar histórias muito concretas, relacionadas com a vida comum e os conflitos psicológicos que ela frequentemente provoca. Um pouco adiante, em Goodbyes and Endings, este casamento entre as cordas e a percussão, é mais um instante feliz de exploração de um som amplo, épico e alongado, sustentado no abraço constante que cria uma atmosfera verdadeiramente nostálgica, sedutora e hipnotizante.

Chega-se a Competition, a bateria continua a ter as rédeas e dançamos vigorosamente enquanto a canção é conduzida por uma melodia que explode em cordas eletrificadas que clamam por um enorme sentido de urgência e caos, um incómodo sadio que o primeiro single retirado de Individ suscita e nos recorda que já não há possibilidade de regresso enquanto não se der o ocaso de um disco abrangente no modo como cruza a leveza onírica da dream pop, bem presente na balada Darkness, canção onde o esplendor da vertente acústica das cordas tem o seu momento alto e o cariz mais rugoso do rock alternativo, com outros espetros sonoros, mais progressivos e experimentais, que a imponente e bizarra Retrevier nos oferece em forma de roleta russa, numa dupla que não se deixa enlear por regras e imposições herméticas. Bom exemplo disso são também os mais de sete minutos de Pattern/Shadow, uma canção cheia de detalhes preciosos, com destaque para o dedilhar inicial do baixo e que parece funcionar como uma sobreposição contínua e simultânea de dois temas isolados e que, ao contar com a participação especial, na voz, de Brigid Dawson, dos Thee Oh Sees, cria uma manta sonora particularmente feliz para o encaixe do pendor mais orgânico e psicadélico que faz parte da positividade contagiante destes The Dodos, sempre fieis aos seus instintos mais primários, que exigem a constante quebra de estruturas e padrões e a fuga a categorizações que balizem em excesso o ADN do projeto.

Disco muito coeso, maduro, impecavelmente produzido e um verdadeiro manancial de melodias lindíssimas, Individ é mais um tiro certeiro na carreira desta dupla de São Francisco e talvez o melhor álbum dos The Dodos até ao momento, não só por causa das suas caraterísticas assertivas, mas também por ser capaz de nos transportar para um universo particularmente melancólico, sensível e confessional. Espero que aprecies a sugestão...

The Dodos - Individ

01 Precipitation
02 The Tide
03 Bubble
04 Competition
05 Darkness
06 Goodbyes And Endings
07 Retriever
08 Bastard
09 Pattern/Shadow

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publicado por stipe07 às 17:13

Death Cab For Cutie – Black Sun

Quarta-feira, 28.01.15

Death Cab For Cutie - Black Sun

Os norte americanos Death Cab For Cutie relevaram recentemente o primeiro single de Kintsugi, o novo álbum desta banda de Seattle, que tem edição agendada para o dia 31 de Março.

Black Sun é o nome desse primeiro avanço e pela amostra, um indie rock épico, luminoso e assente em guitarras inspiradas será, certamente, o referencial sonoro do disco. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:06

Menace Beach - Ratworld

Terça-feira, 27.01.15

Ryan Needlham e Liza Violet são os Menace Beach, uma dupla britânica oriunda de Leeds, que estreou-se nos discos a dezanove de janeiro com Ratworld, um trabalho com um dos artworks mais insólitos que vi ultimamente e que chegou aos escaparates através da Memphis Industries.

Apesar de serem britânicos, os Menace Beach puseram os ouvidos no outro lado do atlântico, visto a sua sonoridade ser fortemente influenciada pelo rock alternativo americano dos anos noventa. Ratworld é, portanto, uma porta aberta para um mundo paralelo feito de guitarras distorcidas e governado pela nostalgia do grunge e do punk rock impregnado daquela visceral despreocupação juvenil relativamente ao ruído e à crueza melódica e à temática das canções, com os problemas típicos da juventude a fazerem parte da lírica de grande parte do compêndio.

A receita é simples e ganha vida em canções simples e diretas, sem artifícios desnecessários e que se esfumam mais depressa do que um cigarro, com os principais ingredientes típicos do tal grunge e do punk rock direto e preciso, a misturarem-se com um travo de shoegaze e alguma psicadelia lo fi, num resultado final que não é tão pesado e visceral como o grunge, mas que também não é apenas delírio e pura experimentação e que, como bónus, ainda tem a própria surfpop na mira. Esta apenas parente amálgama prova que os Menace Beach estão bem documentados e têm gostos musicais muito ecléticos.

As vocalizações de Liza, de cariz aspero e lo fi, com um ligeiro efeito reverberado noa voz, encantam pelo modo como ela consegue salvaguardar aquela delicadeza tipicamente feminina, sem ser ofuscada pela distorção das guitarras, quase sempre aceleradas e empoeiradas e que fluem livres de compromissos e com uma estética muito própria.

Logo em Come On Give Up, o single que antecipou Ratworld, e em Elastic, somos sugados para o ambiente mais direto do punk rock, que tem também no baixo de Dropout e no fuzz de Lowtalkin, dois instantes que clarificam o que vem adiante e onde é possível vislumbrar um cuidado melódico e etéreo que permite às canções espreitar e ir um pouco além das zonas de influência sonora inicialmente previstas. O disco prossegue quase sem darmos por isso e, de seguida, chega-nos Blue Eye, uma canção inicialmente mais introspetiva e lo fi e onde os Sonic Youth se fazem sentir com uma certa intensidade, até que chega o potente refrão de Dig It Up e instala-se novamente um caldeirão sonoro onde também está o clima mais pop e acessivel de Tennis Court, outro single já retirado do trabalho, e o tema homnónimo, impregnado com mudanças de ritmo constantes e de guitarras em looping e que disparam em todas as direções, acompanhadas por uma bateria que não desarma nem dá descanso.

Até ao ocaso, não podemos deixar de salientar o reverb algo tóxico da guitarra de Tastes Like Medicine e o groove de Infinite Donut, uma das canções mais interessantes de Ratworld e que nos remete para uma espécie de fuzz rock, que se mantém em Pick Out The Pieces, talvez o tema mais psicadélico e etéreo da rodela.

Ratworld é um exercício festivo e ligeiro, mas bastante inspirado, de uma dupla que quer ser apreciada pela sua visão atual do que realmente foi o rock alternativo, feito com as guitarras barulhentas e os sons melancólicos do início dos anos noventa, assim como todo o clima sentimental dessa época e as letras consistentes, que confortavam e destruiam o coração num mesmo verso. E o grande brilho de Ratworld é, ao ouvi-lo, ter-se a perceção das bandas que foram usadas como inspiração, não como plágio, mas em forma de homenagem. Uma homenagem tão bem feita que apreciá-la é tão gratificante como ouvir uma inovação musical da semana passada, feita com canções caseiras e perfumadas pelo passado, a navegarem numa espécie de meio termo entre o rock clássico, o shoegaze e a psicadelia. Espero que aprecies a sugestão...

Menace Beach - Ratworld

01. Come On Give Up
02. Elastic
03. Drop Outs
04. Lowtalkin
05. Blue Eye
06. Dig It Up
07. Tennis Court
08. Ratworld
09. Tastes Like Medicine
10. Pick Out The Pieces
11. Infinite Donut
12. Fortune Teller

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publicado por stipe07 às 21:21

Passenger Peru - The Best Way To Drown

Terça-feira, 27.01.15

Oriunda de Brooklyn, Nova Iorque, a dupla norte americana Passenger Peru editou o seu trabalho de estreia no início de 2014, uma edição apenas em cassete e em formato digital, através da Fleeting Youth Records e que foi dissecada já por cá. Formados por Justin Stivers (baixista dos The Antlers no álbum Hospice) e pelo virtuoso multi-instrumentista Justin Gonzales, estão de regresso em 2015 com Light Places, um compêndio de doze novas canções da dupla, que irá ver a luz do dia a vinte e quatro de fevereiro e que já podes encomendar.

The Best Way To Drown é o primeiro single retirado de Light Places, um tema cheio de arranjos e detalhes que facilmente nos deslumbram e que plasma as virtudes técnicas que os Passenger Peru possuem para criar música e a forma como conseguem abarcar vários géneros e estilos do universo sonoro indie e alternativo e comprimi-los em algo genuíno e com uma identidade muito própria. Esta é uma excelente opção para quem aprecia aquela sonoridade pop rock, algo cósmica, mas ligeiramente lo fi, cheia de arranjos detalhados, que nomes tão influentes como os Yo La Tengo, Neutral Milk Hotel, Early Animal Collective, entre outros, tão bem replicam sonoramente. Como é habitual neste projeto, o single está disponivel para download gratuito. Confere...

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publicado por stipe07 às 13:22

Björk – Vulnicura

Segunda-feira, 26.01.15

Quatro anos após o projeto audiovisual Biophilia, a islandesa Björk, para muitos a rainha do universo indie, está de regresso com Vulnicura, um novo disco composto por nove canções, tendo quatro delas sido produzidas pela própria Björk e as restantes por Arca ou The Haxan Cloak.

Trabalho lançado pela One Little Indian, Vulnicura debruça-se, sem rodeios e falsas mensagens implícitas ou figuras de estilo desnecessárias, na separação de Björk do artista Matthew Barney, com a curiosidade de as seis primeiras canções do alinhamento terem o subtítulo Five Months Before, Two Months After e por aí fora, numa cronologia emocional precisa, redigida, de acordo com a artista, durante cerca de um ano. O processo de composição destas músicas, retratando o antes, o depois e a cura, acabou por ser um apoio e uma terapia e a prova biológica de um processo de cura de uma ferida, psicologica e fisicamente, como o extraordinário artwork de Vulnicura tão bem retrata.

Cada vez menos afastada do experimentalismo pop e eletrónico que caraterizou sempre a sua carreira e a posicionar-se com maior ênfase em territórios sonoros mais clássicos e eruditos, em Vulnicura Björk apresenta nove sinfonias impecavelmente produzidas, com uma sonoridade ampla e quase sempre eloquente e grandiosa, havendo mesmo instantes em que existe aquela sensação curiosa, mas estranha, de a própria música parecer fugir um pouco ao controle de quem a cria e ganhar vida própria, como é o caso de Black Lake, que termina com um lindíssimo arranjo de cordas. 

Com os sintetizadores a terem interessante protagonismo no processo de composiçãol melódica, mas a não serem, nem por sombras, atores únicos do disco, Vulnicura tem como maior atributo, a elevada heterogeneidade instrumental, dentro de uma matriz estilística bem definida. History of Touches acaba por ser o tema onde o sintético predomina claramente e de modo isolado, fazendo com que essa canção sobressaia, mas a viagem musical que este disco nos proporciona oferece-nos instantes em que há uma orgânica instalada que deslumbra, com a particularidade das já referidas cordas e a multiplicidade de instrumentos que delas se servem, a serem responsáveis por alguns dos arranjos mais bonitos. O modo como o som dos violinos cresce e nos faz levitar em Family (Existe algum lugar onde eu possa deixar condolências para a morte da minha família?) e como depois o violoncelo embala a voz de Björk despertando-nos, para, finalmente, regressarmos ao estágio inicial de suspensão, é , claramente, o ponto mais alto desta intensidade algo intimista, que as cordas proporcionam e do modo como elas conseguem levar-nos ao encontro de emoções fortes e explosivas, outrora adormecidas, para depois nos serenar, representando, do modo que estão orquestradas, o porto seguro da artista.

Mas regressando ao conceito do disco, se na primeira canções como a confessional Stonemilker, o eufórico desespero de Lion Song e os sintetizadores agressivos da já referida History of Touches, retratam os momentos mais angustiantes, tocantes e surpreendentes, até pelo modo como nos introduzem uma Björk que nunca foi tão clara e direta a expressar a sua vida íntima e privada, acaba por ser na metade final de Vulnicura que a voz da islandesa e a alma e o esplendor do disco melhor sobressaiem, com a soul experimental de Atom Dance, que cruza o que de melhor há na música clássica com a pop e a coabitação entre ritmo e voz em Mouth Mantra, a serem perfeitas. Nesta última, é clara a sensação da transposição da dor de um coração que foi partido para o próprio corpo de Björk e percebe-se que chega a ser difícil para ela até respirar, devido à influência dessa dor. Aliás, em alguns momentos de Vulnicura chega a ser surpreendente o modo como a voz da islandesa conversa connosco e nos confidencia, fazendo-nos sofrer com ela. Por mais depressivos que possam soar as melodias entoadas pela sua voz, é inegável que a cantora nunca antes tinha apresentado um registo vocal tão belo e tão doce.

Em Quicksand é selado o fim de uma grande história de amor e a audição de um exemplar álbum de coerência, impecavelmente e homogéneo, com todos os elementos a convergirem para a audição de uma espécie de diário, com as melodias das canções a serem um simbolismo para páginas rabiscadas, amassadas, rasgadas e marcadas por lágrimas. Em Vulnicura Björk rende-se à sua própria vulnerabilidade, para se livrar dos demónios que a assombram e seguir em frente, curando-se através da composição de música de excelência. Espero que aprecies a sugestão...

Björk - Vulnicura

01. Stonemilker
02. Lionsong
03. History Of Touches
04. Black Lake
05. Family
06. Notget
07. Atom Dance (Feat. Antony)
08. Mouth Mantra
09. Quicksand

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publicado por stipe07 às 23:21

Vitorino Voador - O dia em que todos acreditaram

Domingo, 25.01.15

Depois do EP de estreia, Vitorioso Voo, O dia em que todos acreditaram é o primeiro disco de longa duração de Vitorino Voador, o projecto a solo de João Gil (membro dos Diabo na Cruz, You Can't Win Charlie Brown, entre outros projectos), um trabalho produzido e gravado pelo próprio João Gil e que conta com participações de diversos convidados, entre eles: David "Noiserv" Santos, António Vasconcelos Dias (Tape Junk, Hombres con Hambre) e José Joaquim de Castro. Já agora, em jeito de curiosidade, recordo que o nome Vitorino apareceu por acaso, devido ao erro num cartaz, mas acabou por ser o evento feliz que despoletou a escolha do alter ego. Quanto ao Voador, bastou uma fotografia dos Diabo Na Cruz em que João aparece a saltar para se dar o click.

Conheci o Vitorino Voador por causa de Vitorioso Voo e logo nesse instante percebi que o panorama musical português acabava de ganhar um novo projeto refrescante e um fazedor irrepreensível de emoções que se entranham, na altura um pouco em contra ciclo com o ambiente de crise e de angústia social instalado. Essa paisagem humana um pouco depressiva e angustiada que preenche as nossas cidades foi uma boa fonte de inspiração e esse EP de Vitorino Voador um veículo previligiado para afugentar medos e renovar com esperança e cor esta tal cor que mal nos ilumina.

Agora, dois anos depois, O dia em que todos acreditaram pode funcionar como uma espécie de catarse para todos aqueles que passaram mais ou menos incólumes pela tempestade e que vislumbram, finalmente, uma réstia de luz nas suas vidas prontas a uma renovação que se exige e que canções como Venha Ele ou O Caminho, por relatarem histórias carregadas de honestidade, intimidade e atualidade, enchem-nos a alma e, por isso, dão um forte contributo a este desiderato, diria-se que nacional, de alegrar quem se predispõe a conhecer este projeto e, através dele, ter consigo uma banda sonora da qual se pode apropriar e usar sempre que necessite de inspiração na busca de um novo rumo.

Disco com uma gestação atribulada já que o músico fraturou as duas mãos na mesma altura em momentos diferentes e quando teve a possibilidade de voltar a trabalhar a sério percebeu que tinha vontade de recomeçar de novo já que algum do material não fazia, algum tempo depois, igual sentido, O dia em que todos acreditaram está cheio de letras pessoais, que contam histórias na primeira pessoa de uma pessoa que também se apropria das histórias dos outros para as contar como se fossem suas, quando também são suas. Genuíno e eloquente no modo como dá vida a sentimentos, desejos e emoções de um ser humano que gosta de viver a vida ao máximo e que assume estar num período feliz da sua existência, este é um trabalho que quer fazer-nos felizes e que tem sempre, em cada uma das suas histórias, duas versões, a do Vitorino Voador e a do João Gil, com o músico a arranjar forma de uni-las às duas e isso continuar a fazer sentido na sua cabeça e depois, na de cada um de nós. O trabalho acaba por ser, apenas e só, uma grande música, já que, de acordo com aquilo que o João confessa na entrevista que me concedeu e que podes ler a seguir, a forma como as musicas se ligam entre si, os finais e os inícios de cada música pensados na música anterior e posterior, os fade ins e outs, a forma como os instrumentos se concentram por blocos ao longo do disco, a razão de ter cordas no início, a meio e no fim, tudo procurou essa razão.

Vitorino Voador não tem qualquer problema em confessar a sua timidez; É junto do piano, do teclado, do sintetizador e no palco  que ela se desvanece, por culpa da música que cria e que lhe permite desabafar as suas experiências pessoais e alguns dos seus segredos. Essa é uma das grandes razões pela qual O dia em que todos acreditaram enche-nos a alma e nos faz acreditar que é possível ser-se verdadeiramente feliz apreciando uma espécie de pintura sonora carregada de imagens evocativas, pintadas com melodias acústicas bastante virtuosas e cheias de cor e arrumadas com arranjos meticulosos e lúcidos, que provam a sensibilidade do Vitorino Voador para expressar pura e metaforicamente a fragilidade humana. E não restam dúvidas que ele combina com uma perfeição raramente ouvida a música pop com sonoridades mais clássicas. Espero que aprecies a sugestão...

Já lá vão dois anos desde que te entrevistei pela primeira vez a propósito do excelente EP Vitorioso Voo. Na altura confessaste-me que o teu disco de estreia, este o dia em que todos acreditaram, estava praticamente pronto, mas só irá ver a luz do dia agora em janeiro de 2015. Porque é que teve de ser para nós, teus fãs, tão longa a espera?

Olá. É verdade, nessa altura já havia um disco praticamente pronto e eu desatei a gabar-me dele sempre que me lembrava disso, o problema é que pouco depois disso consegui fazer a maior proeza do mundo que foi partir as duas mãos em situações completamente diferentes, ambas bastante parvas… O que levou a um atraso gigante no disco e que me fez repensar num disco (quase) todo diferente. Quando voltei a poder trabalhar a sério, já não fazia sentido o que tinha e comecei a fazer um novo alinhamento, algumas musicas como o single ficaram mas outras tantas desapareceram e entraram novas musicas. Foi uma lição muito grande para mim, lição essa: não falar antes de tempo. Já agora, muito obrigado pelo “excelente” e por serem meus fãs, é muito bom saber que há realmente gente que gosta do que faço e que se preocupa, fazem-me querer fazer mais musica todos os dias!

Afirmas que Venha Ele é uma canção que compuseste há bastante tempo, ainda no período do EP de estreia e que, de certa forma, faz a ponte entre essa estreia e este teu primeiro longa duração. A escolha desse tema como single e primeiro avanço do álbum, deve-se a isso?

Sim, penso que sim. A música Venha Ele começou a entrar no meu alinhamento muito cedo, cheguei mesmo a não tocar o single do meu EP e a tocar sempre esta música, sempre me deu gozo. Não tendo entrado no EP, achei que fazia todo o sentido trazê-la comigo para o disco e assim foi. Sempre achei que era uma música orelhuda, que ficava no ouvido, por ser simples e bonita, isso fez com que a escolha para o single do disco fosse fácil. O segundo single não será tão fácil, mas posso estar enganado.

Nesta canção, David "Noiserv" Santos tem uma participação especial e relevante. Mas além dele também aparecem nos créditos de O dia em que todos acreditaram nomes tão importantes como António Vasconcelos Dias e José Joaquim de Castro. Meteste cunha para fazerem parte do disco apenas por serem teus amigos ou porque musicalmente correspondiam aquilo que pretendias para a sua sonoridade? Resumindo, a participação deles teve apenas em conta o teu trabalho prévio e as tuas ideias ou foi numa base democrática em que as sugestões deles também foram válidas e fizeram sentido para ti?

Eu adoro tocar com amigos, aliás, penso que só toco com amigos, sou um sortudo. Estes convidados são todos amigos próximos mas não foi só isso que me fez convidá-los. Cada um deles tem uma razão de ser muito grande para cada uma das músicas em que participou, quase como peças de um puzzle que encaixam naquelas musicas perfeitamente. Cada um teve carta-branca para fazer o que quisesse nas músicas em que participou, depois era só uma questão de discutirmos essas ideias até estarmos todos felizes.

Confessas também que O dia em que todos acreditaram é, entre muitas outras coisas, sobre promessas quebradas e outras cumpridas. Canções como Ser alguém, Sem Ninguém, ou Viver Bem Ou Morrer Mal falam muito, na minha opinião, de uma ideia de urgência em viver e de estar vivo e procurar, o mais possível, ser-se autêntico e não deixarmos que as rotinas nos absorvam. É correto imaginar que compuseste estas canções em redor de um desejo profundo pessoal e teu de veres todos aqueles que te rodeiam escutarem-nas de modo que elas façam com que, de algum modo, acordemos para a vida, a verdadeira e plena vida? O dia em que todos acreditaram é o dia em todos te escutaram e procuraram ser mais felizes por causa das tuas canções? Recordo que há dois anos me confessaste que irias surgir neste disco como um super-herói que já se afirmou e com o qual as pessoas podem contar...

Eu escrevo de uma forma muito pessoal, as histórias que conto são as minhas ou então aquelas que não são minhas mas que vivi quase como minhas. O que falei no início conta como uma dessas promessas quebradas, tanto falei e depois não cumpri, senti-me um mau político, mas ao mesmo tempo depois de uma luta grande consegui ver o disco cá fora e isso é uma promessa cumprida, faz-me feliz. Eu tenho uma necessidade grande de viver a vida ao máximo, se calhar todos temos, eu é que se calhar torno isso demasiado publico porque nem sempre a vivo dessa forma e falando sobre isso, sinto que estou novamente a encarrilar pelo caminho certo. Se eu fizer as pessoas mais felizes através da musica que faço, então atingi sem duvida um dos meus maiores objectivos de vida. Quando falámos sobre este disco, eu já tinha uma história na minha cabeça para essa personagem que é o Vitorino Voador, história essa que vai muito além deste disco. O que tento explicar às pessoas é que existem sempre duas versões da história na minha cabeça, a do Vitorino Voador e a minha como João Gil, o que tento fazer é arranjar forma de uni-las às duas e isso continuar a fazer sentido na minha cabeça, é um desafio, mas nada como um bom desafio.

Sentes-te bem junto do piano, das cordas e do sintetizador e, realmente, acho que o alinhamento demonstra-o já que, se nas primeiras canções há um predomínio do piano e do sintetizador na base melódica, a partir de Ser Alguém, Sem Ninguém parecem-me ser as cordas a tomar as rédeas das canções. A forma como o alinhamento do disco está estruturado procurou obedecer a esta ideia de sequencialidade, ou eu estou a ver as coisas de uma forma completamente errada e o espírito foi outro?

O alinhamento do disco foi mudando ao longo do tempo, aquilo que posso dizer é que o que ficou, cumpriu na perfeição aquilo que tinha sonhado antes de ter as musica, o sonho era ter um disco que soasse a uma grande musica (grande no sentido de ser longa) na minha cabeça, como muitos discos que adorei ao longo da minha vida, era um sonho que tinha e que quis também tentar fazer. A forma como as musicas se ligam entre si, os finais e os inícios de cada música pensados na música anterior e posterior, os fade ins e outs, a forma como os instrumentos se concentram por blocos ao longo do disco, a razão de ter cordas no início, a meio e no fim, tudo teve uma razão de ser e posso dizer com grande orgulho que consigo ouvir o disco do início ao fim e ter essa sensação, é apenas uma grande música.

Presumo que o João Gil que surge nos créditos como produtor do disco sejas tu. A que se deveu a opção de teres sido tu próprio a assumir essa responsabilidade? Era algo que querias muito fazer desde o início ou acabou por acontecer naturalmente?

O João Gil está cá sempre, mesmo quando não quero e só quero o Vitorino Voador, mas para o bem e para o mal está cá sempre. O que faço é uma coisa tão pessoal que acabo por fazer tantas funções diferentes, felizmente estive sempre rodeado de outras pessoas que pensam pelas suas próprias cabeças e que não tiveram medo de dizer o que pensavam, isso influenciou muito as decisões que fui tomando e o caminho que o disco seguiu. Por isso, foi um disco produzido por mim, mas não só por mim. Para responder à pergunta, foi uma coisa que aconteceu naturalmente, sendo também uma coisa que sempre gostei de fazer.

Como vai ser a promoção deste teu álbum? Onde poderemos ver e ouvir o Vitorino Voador num futuro próximo?

Segundo as minhas contas, as apresentações ao vivo devem começar em Fevereiro, gostava de dar tempo às pessoas para ouvirem o disco e perceberem se gostam ou não e depois poderem ir para os concertos conhecendo o novo trabalho e percebendo melhor o que vai acontecer em palco. As datas ainda estão a ser fechadas mas não tarda já devo ter essas informações todas online.

Fiz-te esta pergunta há dois anos e não resisto a repeti-la... O que podemos esperar do futuro do Vitorino Voador? Será paralelo ao do João Gil, como músico noutros projetos, ou a aventura do Vitorino Voador  terminará aqui?

O Vitorino Voador veio para ficar, isto é só o início da aventura. Esta é uma daquelas promessas que não posso quebrar.

Para terminar, ainda escreves cartas de amor foleiras ou tentas escrever sempre qualquer coisa que saiba a uma canção saída de um anúncio de televisão?

Escrevo muitas cartas de amor, foleiras que é como eu gosto delas, quanto mais foleiras mais bonitas. Canções de anúncio de televisão também são bonitas por isso podem esperar mais umas quantas assim!

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publicado por stipe07 às 20:57

Diagrams – Chromatics

Sábado, 24.01.15

Sam Genders é a mente pensante por trás dos Diagrams, uma banda londrina que se estreou nos discos no início de 2012 com Black Light. Agora, três anos depois, Sam está de regresso, novamente através da Full Time Hobby, com Chromatics, um trabalho produzido por Leo Abrahams (Wild Beasts, David Byrne, Brian Eno, Jon Hopkins, Ed Harcourt, Marianne Faithful ) e que mantém Sam num registo sonoro diferente dos Tunnga, um projeto do qual fez parte e cuja sonoridade era mais virada para a folk. Nos Diagrams, Genders mostra-se menos lo fi, embora a sua voz e as escolhas de arranjos confiram às músicas de Black Light um certo ar soturno.

Em três anos muito se alterou na vida de Sam; mudou-se de Londres para Sheffield, levando consigo uma nova esposa, fez novos amigos e vive uma dinâmica existencial diferente, estando estas temáticas bem presentes no conteúdo de Chromatics. Este é, então, um disco que, de acordo com o próprio o autor, debruça-se sobre  a dinâmica das relações e mostra que nunca devemos perder a fé em nós próprios, neste caminho que todos trilhamos chamado vida e que é feito de altos e baixos. (Relationships are a constant thread. In all their frustrating, exciting, mundane, beautiful, wonderful, sexy, scary glory. (...) And there’s lots of hope in the songs. They shouldn’t be taken too literally mind you… in my head Chromatics is life in Technicolor; with all its ups and downs).

Para a abordagem desta temática, Diagrams inspirou-se não só na sua experiência pessoal, mas também na escrita sobre o assunto, com ênfase particular para os escritores David Schnarch e Ester Perel e um livro intitulado Division Street, da autoria da poeta local Helen Mort. A rotina mais pacata de Sheffield, a permanência num novo local, fisicamente mais amplo e aberto, a natureza circundante, um estúdio em casa e a possibilidade de Sam compôr sem pressão e quando a inspiração chegasse, foram fundamentais para a génese sonora de Chromatics, uma coleção de onze canções que refletem toda esta conjuntura, bastante multifacetada e com vários exemplos de audição obrigatória.

Do indie rock angular de Desolation, à eletrónica com detalhes implícitos da folk de Serpent, a canção que melhor cruza a herança dos Tunng com a matriz Diagrams, passando pelo groove de Dirty Broken Bliss e a pop vintage de The Light And The Noise, Chromatics mistura e expôe as diferentes cores que observou pela janela do seu estúdio no jardim das traseiras, conseguindo ser simultaneamente experimental e acessível. Tão depressa deparamos com batidas eletrónicas minimalistas, usadas sempre como tónica e não regra, como escutamos sintetizadores e guitarras limpas, acompanhadas de toda uma gama de camadas de instrumentos inseridos meticulosamente, que surpreendem sem cansar, envolvidos por uma clara elegância vocal, resultando em algo excitante e ao mesmo tempo acolhedor.

Jovial e envolvente, Chromatics seduz pela forma genuína e simples como retrata eventos e relacionamentos de um quotidiano rotineiro, enquanto estabelece pontes brilhantes entre momentos de maior intensidade com outros mais intimistas, levando-nos, dessa forma, ao encontro de emoções fortes e explosivas, outrora adormecidas, para depois nos serenar. Sem dúvida, um trabalho fantástico para ser escutado num dia de sol acolhedor. Espero que aprecies a sugestão...

Diagrams - Chromatics

01. Phantom Power
02. Gentle Morning Song
03. Desolation
04. Chromatics
05. You Can Talk To Me
06. Shapes
07. Dirty Broken Bliss
08. Serpent
09. The Light And The Noise
10. Brain
11. Just A Hair’s Breadth

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publicado por stipe07 às 19:00


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