man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Caged Animals – The Overnight Coroner EP
Depois de Eat Their Own, um disco que divulguei há pouco mais de dois anos e, já em 2013, do sucessor, The Land Of Giants, os nova iorquinos Caged Animals, uma banda psych pop indie de Brooklyn liderada por Vincent Cacchione, lançaram nos primeiros dias do último mês de março, um EP concetual, com quatro canções que relatam instantes da vida de uma personagem chamada Ryan, um homem de vinte e três anos natural de Nova Jersey e que trabalha como guarda noturno numa morgue. A última faixa do EP é a narração da história por parte do músico.
A música de Cacchione é perfeita para funcionar como estímulo para que acreditemos sempre nos nossos desejos e na capacidade de speraão intrínseca ao ser humano, já que, com mestria, propôe-nos uma eletrónica cintilante com uma voz que única e que parece, a qualquer momento, poder vir a explodir emocionalmente, mesmo quando se refere a um ser comum, com uma profissão que não é propriamente inspiradora para a criação de odes alegóricas e luminosas, mas que permite abrir imensas portas sobre aquilo que poderá pensar e querer do mndo que o rodeia, uma mente habituada a liderar diariamente com a morte e com tudo aquilo que ela tem de triste e sombrio.
Sabendo, de antemão, a temática do EP, não é complicado deixarmo-nos envolver pela teia emocional que dele transborda, proporcionada por uma sonoridade pop com forte pendor eletrónico, alicerçada em sons sintetizados e cheios de detalhes deslumbrantes, que incubaram de um intrincado conjunto de gostos eclécticos, retro e futuristas e que vão do experimentalismo lo-fi às insinuações folk new-wave, passando pelo rock e a soporífera chillwave. É um caldeirão sonoro que no permite sentir toda a fantasia e a magia que a música de Vincent quer transmitir, mesmo que alicerçada numa estranha narrativa, profunda e carregada de psicadelia. Em suma, The Overnight Coroner é um trabalho cheio de palavras esperançosas, embrulhadas com tiques sonotos peculiares, que misturam de tudo um pouco com uma exuberância caleidoscópica, para nos dar a conhecer um mundo dos adultos através de uma retórica sonora que não eixa de se imbuir de uma ingenuidade e uma melacolia quase infantis, uma sensação dicotómica que a capa do EP tão bem ilustra. Espero que aprecies a sugestão...
01. The Overnight Coroner Attends A Party
02. Working On The Downfall
03. The Turnaround
04. The Last One At The Party
05. The Overnight Coroner Finds What He Is Looking For
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Fleeting Youth Records - Blooming (A Fuzz- Fucked Compilation w. r/cassetteculture)
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DRLNG - Icarus EP

Icarus, o tema homónimo, permite-nos desde logo dissecar diferentes vias e infuências, já que, ao mesmo tempo que há uma paisagem sonora que transparece calma e serenidade, também existe na guitarra uma tensão constante, numa melodia amigável e algo psicadélica, que se arrasta até ao final num longo diálogo entre a distorção e o timbre do baixo. My Gipsy tem um formato intímo e marcadamente nostálgico e Playground Punk usa a bateria para brincar com os nossos sentidos, sempre à espera do momento certo para explodir. Para o ocaso ficou Seattle, um tema cantado em francês e onde o fio condutor parece incialmente ser o jazz e a folk, mas com o indie rock mais progressivo a ser o grande suporte de uma canção que mostra uns DRLNG que parecem também querer apostar, no futuro, em ambientes sonoros mais ruidosos.
Há uma enorme sensação de conforto durante a audição de Icarus, possibilitada por uma atmosfera rítmica e sonora claramente orientada para permitir aos autores expressarem-se de forma melancólica e, desse modo, exaltarem cenários e sensações que se expressam com particular envolvência e que expõem sentimentos com genuína entrega e sensibilidade extrema. Este EP tem uma expressividade única e claramente intencional, que abrange, de forma reconfortante, o espaço onde é ouvido, como se fosse um manto que permanece sempre cativante, mas também feliz e carregado de esperança. Espero que aprecies a sugestão...
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Tashaki Miyaki – The Beautiful Ones (Prince Cover)
A vocalista Lucy Miyaki e o guitarrista Tashaki formam os Tashaki Miyaki, uma dupla oriunda de los Angeles, que navega nas águas turvas e profundas da dream pop de pendor psicadélico. Em digressão com os Allah-Las durante este outono, resolveram gravar algumas covers para a ocasião, um trabalho que irá ser editado com o sugestivo nome The Covers EP.
Uma das canções que os Tashaki Miyaki resolveram revisitar com a ajuda do produtor Joel Jerome foi o clássico The Beautiful Ones, um original de Prince, tendo-o feito de forma bastante original e assertiva e criado uma atmosfera densa e particularmente sensual e hipnótica. A versão está disponivel para download gratuito. Confere...
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Allah-Las – Worship The Sun
Naturais de Los Angeles, os norte americanos Allah-Las são Miles, Pedrum, Spencer e Matt e têm um novo disco intitulado Worship The Sun, um trabalho lançado por intermédio da Innovative Leisure no último dia dezasseis de setembro e que sucede a um homónimo que foi o disco de estreia da banda, editado em 2012.
Os Allah-Las estão atrasados ou adiantados quase meio século, depende da perspetiva que cada um possa ter acerca do conteúdo sonoro que replicam. Se na década de sessenta seriam certamente considerados como uma banda vanguardista e na linha da frente e um exemplo a seguir, na segunda década do século XXI conseguem exatamente os mesmos pressupostos porque, estando novamente o indie rock lo fi e de cariz mais psicotrópico na ordem do dia, são, na minha modesta opinião, um dos projetos que melhor replica o garage rock dos anos sessenta e a psicadelia da década seguinte.
Depois de terem impressionado com o búzio de Allah-Las, estes californianos mantêm a toada no sucessor e trazem o mesmo horizonte vasto de referências e as inspirações da estreia, mas trabalhadas de forma ainda mais abrangente e eficaz. Levam-nos novamente numa viagem que espelha fielmente o gosto que demonstram relativamente aos primórdios do rock e conseguem apresentar, em simultâneo, algo inovador e diferente, através de uma sonoridade muito fresca e luminosa, assente numa guitarra vintage, que de Creedance Clearwater Revival a Velvet Underground, passando pelos Lynyrd Skynyrd, faz ainda alguns desvios pelo blues dos primórdios da carreira dos The Rolling Stones e pela irremediável crueza dos The Kinks.
Começa-se a escutar De Vida Voz e cá vamos nós a caminho da praia ao som dos Allah-Las e de volta à pop luminosa dos anos sessenta, aquela pop tão solarenga como o estado norte americano onde a banda reside. E vamos com eles enquanto nos cruzamos com os veraneantes cor de salmão e de arca frigorífica na mão, que lutam interiormente ao chegar ao carro, sem saberem se a limpeza das chinelas deve ser exaustiva, ou se os inúmeros grãos de areia que se vão acumular no tapete junto aos pedais do Mégane justificam um avanço de algumas centenas de metros na fila de veículos que regressam à metrópole. A praia dos Allah-Las, na costa oeste, começa com o pôr do sol e uma fogueira e continua noite dentro até o vidrão ficar cheio e a areia se confundir com as beatas que proliferam, numa festa feita de cor, movimento e muita letargia.
Quem acha que ainda não havia um rock n' roll tresmalhado e robotizado nos anos sessenta ou que a composição psicotrópica dos substantivos aditivos que famigeravam à época pelos estúdios de gravação não permitia grande rigor melódico, ficará certamente impressionado com a contemporaneidade vintage nada contraditória dos acordes sujos de No Werewolf e do groove da guitarra e de uma voz que parece planar sobre Artifact e Recurring, dois dos melhores temas do disco. Depois, o tema homónimo tem um experimentalismo instrumental que se aproxima do blues marcado pela guitarra acústica, além dos metais e de alguns ruídos que assentam muito bem na canção. Had It All, o single já retirado do disco, obedece integralmente à toada revivalista, com um certo travo folk, numa canção que funde Bob Dylan e Jimmy Hendrix, numa sonoridade simultaneamente grandiosa e controlada. Já as cordas de Nothing To Hide e o efeito que as acompanham, assim como a percurssão groove do tema homónimo e os efeitos hipnóticos da guitarra, sustentam duas das mais belas melodias de um disco que até abraça a folk e o country sulista americano em Better Than Mine.
Uma das canções mais curiosas do álbum é 501-415, a peça mais psicadélica e sintética do disco e com um timbre pouco usual, estado aqui o momento mais experimental de um trabalho que mesmo nos momentos puramente instrumentais, como Ferus Gallery, Yemeni Jade e a já citada No Werewolf, não desilude.
Buffalo Nickel tem o melhor refrão de Worship The Sun, uma balada que obedece à sonoridade pop dos anos sessenta e Follow You Down tem um experimentalismo instrumental que se aproxima do blues marcado pelo baixo e pelas guitarras, além dos metais e de alguns ruídos que assentam muito bem na canção, uma atmosfera que se repeate no surf rock de Every Girl, uma forma muito luminosa e festiva de encerrar um disco que feito de referências bem estabelecidas e com uma arquitetura musical que garante aos Allah-Las a impressão firme da sua sonoridade típica e ainda permite terem margem de manobra para futuras experimentações.
Worship The Sun é, como de algum modo já referi, coerente com vários discos que têm revivido os sons outrora desgastados das décadas de sessenta e setenta e é uma viagem ao passado sem se desligar das novidades e marcas do presente. É um ensaio de assimilação de heranças, como se da soma que faz o seu alinhamento nascesse um mapa genético que define o universo que motiva esta banda californiana. É um disco vintage, fruto do psicadelismo que, geração após geração, conquista e seduz, com as suas visões de uma pop caleidoscópia e o seu sentido de liberdade e prazer juvenil e suficientemente atual, exatamente por experimentar tantas referências antigas. Espero que aprecies a sugestão...
01. De Vida Voz
02. Had It All
03. Artifact
04. Ferus Gallery
05. Recurring
06. Nothing To Hide
07. Buffalo Nickel
08. Follow You Down
09. 501-415
10. Yemeni Jade
11. Worship The Sun
12. Better Than Mine
13. No Werewolf
14. Every Girl
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Blue Hawaii – Get Happy / Get Happier
Os Blue Hawaii são um projeto canadiano formado pelo enigmático casal Agor e Raph (na verdade chamam-se Alexander Cowan e Raphaelle Standell-Preston), uma dupla originária de Montreal e que se estreou nos discos em 2010 com Blooming Summer. O sucessor chamou-se Untogether e viu a luz do dia no início de 2013 por intermédio da Arbutus Records.
Quase dois anos depois os Blue Hawaii voltam a mostrar-se com a divulgação de uma nova canção intitulada Get Happy, gravada no início deste ano. E além desse tema, incluiram no single Get Happier, uma versão da canção principal, mais acelerada, criada no passado mês de agosto. A digressão de apresentação de Untogether foi marcante para os Blue Hawaii e Get Happy reflete esse estado de alma de um casal que teve de gerir novas realidades e conflitos.
As the year progressed, we found our live show intensify but still had all these softer recordings which would never be released. Hence we present ’Get Happy’ / ’Get Happier’, where we explore both sides: the original demo and a fun, double-time edit made one day in August.
Os dois temas estão disponíveis para download gratuito. Confere...
- Blue Hawaii – Get Happy”Download
- Blue Hawaii – “Get Happier”Download
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Gut und Irmler - 500M
Gravado no estúdio Faust em Scheer no Outono de 2013, 500M é o novo disco da dupla Gut und Irmler, formada por Jochen Irmler, um mestre do krautrock e um explorador sonoro nato e por Gudrun Gut, uma produtora berlinense experimentada e disciplinada. 500M foi editado no passado dia oito de setembro por intermédio da Bureau B.
Membro fundador dos Malaria!, dos Mania D e dos Einsturzende Neubauten, Gut é exímia na forma como manipula um verdadeiro arsenal de equipamento sonoro que replica uma vasta teia de instrumentos e sons e depois no modo como os transforma a seu belo prazer, mas sempre com corência e com aquela típica sobriedade alemã. Simultaneamente analógico e digital, envolto num manto de referências que nos remetem para o glorioso passado do krautrock, mas também para um presente feito com melodias elípticas e beats lineares que definem as novas tendências do cenário eletrónico berlinense que insiste em manter-se na vanguarda há várias décadas, 500M é um tratado sonoro com nove capítulos que se complementam duma maneira cósmica!
Nome lendário e reputado, Irmler também teve uma importante palavra a dizer no conteúdo deste disco, nomeadamente no modo como a dupla explorou um cruzamento assertivo entre o aspeto mais maquinal e carregado das batidas, com o caldeirão algo psicadélico de onde brotaram alguns dos arranjos e detalhes que foram sendo sobrepostos à percurssão, de um modo particularmente intuitivo e expressivo. O teclado e o detalhe sonoro metálico que vagueia por Fruh, o orgão de Mandarine ou uma voz samplada em Traum e em Auf Und Ab são apenas três exemplos do modo particularmente esmerado e criativo com que estes Gut und Irmler conseguem sobrepôr sobre uma base sonora maquinal aparentemente fria e desprovida de vida, vários elementos e fragmentos que acabam por originar edifícios sonoros expressivos, frequentemente hipnóticos e, quase sempre, dotados de um certo charme que nem o ambiente mais psicotrópico que se escuta nos ritmos programados para criar Parfum consegue disfarçar.
500M é um alinhamento de vários blocos de som sintetizado e de experiências livres de qualquer formalismo ou regra e que só se justificam numa espécie de tratado de natureza hermética, onde esse bloco de composições não é mais do que partes de uma só canção de enormes proporções. Sonoramente, asssiste-se a um desfile de alguns dos pilares fundamentais da eletrónica, nas suas mais diversas vertentes e sub géneros, feito de acertos e instantes sonoros experimentais, com travos do krautrock mais rígido e maquinal que se pode imaginar, mas também de uma psicadelia feita com uma autêntica salada de sons sintetizados, mudanças bruscas de ritmos e volume, ruídos impercetíveis e samples vocais e instrumentais bizarros. Este é um disco claramente embebido num conteúdo vintage heterogéneo, mas relacionado com um tempo futuro, cenários imaginados e universos paralelos. Espero que aprecies a sugestão...
Chlor
Mandarine
Traum
Noah
Auf und Ab
Parfum
Brucke
500m
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Panda Bear - Noah EP
Chega no dia doze de novembro às lojas Meets The Grim Reaper, o novo e quinto álbum da carreira de Panda Bear, um músico com fortes ligações a Portugal, adepto confesso de grande Sport Lisboa e Benfica e membro fundador dos Animal Collective.
Depois do cariz minimal em que alicerçou Tomboy, de acordo com a imprensa este novo trabalho de Panda Bear, gravado entre Lisboa e a planície texana com a colaboração de Pete Kember, leva o músico de regresso à estratégia em que é mestre, a junção sónica e psicadélica de um verdadeiro caldeirão instrumental e melódico. Pela amostra, intitulada Mr Noah, um single lançado em formato EP, acompanhado por mais três canções que não farão parte do alinhamento de Meets The Grim Reaper, essa opção terá sido bem sucedida e o novo trabalho do músico será certamente um marco fundamental da sua carreira.
No EP encontramos uma sequência de primorosas e ainda mais atrativas experimentações. Se Mr Noah prepara o terreno sendo o tema mais acessível do EP, a cândura pop e romântica de Faces In The Crowd levanta um pouco mais o véu sobre o futoro sonoro de Bear, o que será finalizado no toque de psicadelia que define Untying The Knot, um tema que leva Panda Bear para o clima hipnótico e lisérgico da década de setenta e que é bem capaz de ser o o novo território sonoro que o deixa atualmente algo siderado. Por fim, This Side of Paradise é um momento de pura experimentação, uma colagem de várias mantas de retalhos que nem sempre se preocupam com a coerência melódica e que incluem samples de vozes e arranjos em eco e sintetizados, nem sempre claramente percetíveis.
Confere o EP de lançamento do single Mr Noah, já disponível para download no itunes e a tracklist de Meets The Grim Reaper...
Mr Noah
Faces In The Crowd
Untying The Knot
This Side Of Paradise
01.Sequential Circuits
02.Mr Noah
03.Davy Jones’ Locker
04.Crosswords
05.Butcher Baker Candlestick Maker
06.Boys Latin
07.Come To Your Senses
08.Tropic Of Cancer
09.Shadow Of The Colossus
10.Lonely Wanderer
11.Principe Real
12.Selfish Gene
13.Acid Wash
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Dirt Dress - Twelve Pictures
Ativos desde 2007, ano em que se estrearam com o EP Theme Songs, os norte americanos Dirt Dress vêm de Los Angeles, na Califórnia e têm no punk rock a sua força motriz, uma sonoridade que não é inédita, mas que, neste caso, é feita com enorme originalidade, já que o grupo tem uma forma muito própria de conjugar a guitarra com os sintetizadores, como ficou particularmente explícito em Donde La Vida No Vale Nada, o último trabalho do trio, editado em novembro de 2012.
Twelve Pictures é o novo tema divulgado pelos Dirt Dress e fará parte de Revelations, o próximo EP do grupo, que verá a luz do dia a dezoito de novembro por intermédio da Future Gods. O breve interlúdio feito com um saxofone, as guitarras e a voz que se escuta em Twelve Pictures, levam-nos de volta aos primórdios do punk de cariz mais lo fi, em plena década de setenta e onde não falta aquele travo do surf pop psicadélico, numa canção que também comprova o elevado grau de emotividade e de impressionismo que o projeto coloca nas suas letras (I’ve cut myself so deep I’ve seen my muscles bleed). Confere...
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Thurston Moore – The Best Day
Editado no passado dia vinte e um de outubro por intermédio da Matador Records, The Best Day é o novo álbum do norte americano Thurston Moore, uma das peças mais importantes de uma das principais engrenagens da história do rock alternativo e independente, chamada Sonic Youth, que também contava com a sua ex Kim Gordon e com Lee Ranaldo no núcleo duro. Este trabalho sucede a Demolished Thoughts (2011) e contou com os contributos de James Sedwards (guitarras), Deb Googe, dos My Bloody Valentine (baixo) e Steve Shelley (bateria), os músicos que atualmente têm acompanhado Moore.
Ao ser dominado por guitarras, The Best Day não surpreende, já que esse é o instrumento de eleição de Moore, um dos guitarristas fundamentais das últimas décadas e influência importante para novas e anteriores gerações de músicos. Permaentemente ligado à corrente, Moore abre as hostilidades com a impressionante Speak To The Wild, um verdadeiro tratado de indie rock, cru e sem espinhas e com uma melodia extroardinária. Pela forma como esse tema nos agarra logo pelos colarinhos e nos impele a submergirmos nele sem olharmos para trás, percebemos que isso acontece com toda a naturalidade porque este é um disco dominado pela distorção típica dos Sonic Youth, sempre acomodada em diferentes camadas, como convém aos verdadeiros amantes desta fórmula única e genuína que praticamente só preenchia e impregnava o receituário do coletivo nova iorquino. O baixo e a bateria também são dois elementos preciosos neste quadro chamado The Best Day, já que lhes compete adicionar o ritmo e o corpo necessários para a obtenção do ambiente denso, mas de fácil e aditiva assimilação, por onde as melodias se estendem e se cruzam, ao longo de oito canções que merecem a mais atenta audição. Depois, há ainda a cereja no topo do bolo, a voz de Thurston, um registo predominantemente grave mas produzido com uma limpidez incrivel, que ora parece um pouco deslocado das melodias, ora parece declamar em vez de cantar, mas é exatamente neste modo peculiar de cantar que reside o charme de uma prestação, que em Forevermore atinge um cariz particularmente emotivo, quando, quase hipnoticamente e, amiúde, sem avisar, Moore canta um refrão particularmente emotivo e de modo embargado (That’s why I’ll love you forevermore, That’s why I want you forevermore).
Com oito músicas a estenderem-se por mais de cinquenta minutos, obivamente que este é um disco com um elevado cariz experimental, apesar de estar bem definido e vincado o som caraterístico que domina a obra, que apenas se distancia ligeiramente quando é dada absoluta primazia a um enorme e barroco arsenal de cordas, dedilhadas de modo acústico, mas convincente, em Tapes, uma canção que prescinde da percurssão e que acolhe as violas com o vigor de um baixo omnipresente.
O protagonismo da vertente acústica volta a mostrar predicados em Vocabularies, uma canção onde o baixo abre ainda mais os braços para acolher uma viola num abraço com um sabor psicadélico, acentuado com uma voz algo enraivecida que se debruça sobre a temática da igualdade sexual e do preconceito (Vocabularies of dominance now obsolete, Un-possessed by all men). Esta ousadia permanente também fica plasmada, em direção oposta, no punk de Detonation e na distorção contínua, abrasiva e hipnótica que se estende ao longo do instrumental progressivo Grace Lake, um desejo de tentar algo diferente que direcionou-se, nestes e noutros casos, não tanto para o arsenal instrumental, mas para o catálogo de arranjos proporcionados pelo mesmo e, principalmente, para o processo de construção melódica das canções. Por exemplo, a já citada Speak To The Wild são oito minutos cheios de guitarras que nunca esmorecem e de constantes mudanças de ritmo e de explosões sónicas devidamente controladas e Forevermore estende-se por onze, com o conceito de diversidade patente no modo como os vários instrumentos competem entre si à medida que dão asas ao voo picado de uma melodia orelhuda, uma estratégia que se repete no single homónimo, um verdadeiro deleite para quem é um fã incondicional dos Sonic Youth.
The Best Day é, pois, um álbum que transporta a carreira a solo do autor para o universo mais próximo da banda icónica que fez parte, já que se Demolished Thoughts tinha uma componente acústica inédita e que, por acaso, era qualitativamente bastante recomendável, tendo surpreeendido positivamente a crítica e os ouvintes, desta vez Thurston Moore procurou fugir um pouco do óbvio e mostrar o seu lado pessoal mais enraivecido, incansável, agridoce e rugoso e assim, comprovar o seu próprio ecletismo. Espero que aprecies a sugestão...
01. Speak To The Wild
02. Forevermore
03. Tape
04. The Best Day
05. Detonation
06. Vocabularies
07. Grace Lake
08. Germs Burn