man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Interpol – El Pintor
Depois de um interregno de quase quatro anos, os Interpol estão de regresso aos lançamentos com El Pintor, o novo disco desta banda liderada por Paul Banks. Escrito e gravado durante o ano de 2013, em Nova Iorque, cidade de onde o grupo é natural, nos estúdios Electric Lady Studios & Atomic Sound, El Pintor foi misturado em Londres, nos Assault & Battery Studios, por Alan Moulder.
Todas as canções de El Pintor foram escritas e produzidas pelos Interpol, com Daniel Kessler à guitarra, Samuel Fogarino na bateria e Paul Banks na voz, na guitarra e, pela primeira vez, no baixo. O disco conta com as participações especiais de Brandon Curtis (The Secret Machines) nos teclados em nove canções, de Roger Joseph Manning, Jr. (Beck) nos teclados em Tidal Wave e de Rob Moose (Bon Iver) a tocar violino e viola em Twice as Hard.
Independentemente do estado atual daquele indie rock de cariz mais alternativo e que aposta no revivalismo de outras épocas, nomeadamente os primórdios do punk rock mais sombrio que fez furor nos finais da década de setenta e início da seguinte, com nomes com os Joy Division ou os Cure à cabeça, o género deve imenso a nomes como os The White Stripes, The Killers, The Strokes e, principalmente, a estes Interpol, grupos que se destacaram com o disco de estreia no início deste século e que, agregados a esse estigma, procuraram evoluir, nos trabalhos seguintes, para outras sonoridades e para a exploração de diferentes territórios sonoros. Os Interpol seguiram esse percurso e nem sempre o fizeram de forma imaculada, apesar de, pessoalmente, não desvalorizar tanto o conteúdo de Our Love To Admire e do homónimo Interpol, os dois antecessores deste El Pintor, como tanta crítica que li sobre esses trabalhos quando viram a luz do dia. E, na verdade, em 2014, os Interpol resolveram voltar ao trilho inicial, sendo este disco uma espécie de novo reinício de um trio que finalmente percebeu que a sua imensa legião de fãs não se importa que se mantenham no território sonoro onde se sentem mais confortáveis, aquele que os lançou para as luzes da ribalta, quando com o indie rock genuíno de Antics e o post punk revivalista de Turn On The Bright Lights conquistaram meio mundo.
El Pintor, um curioso anacrónico da palavra Interpol, não é Antics, ou Turn On The Bright Lights, ou uma súmula dos dois, mas é o álbum dos Interpol que melhor homenageia esse extraordinário início de carreira. Este trio de Nova Iorque está, pois, de regresso ao formato que exalta o espírito sombrio dos anos oitenta e não é necessário escutar demasiados acordes de All The Rage Back Home, o tema de abertura, para se perceber essa evidência, à medida que iniciamos uma viagem alicerçada num Banks incisivo como nunca, mas também em guitarras angulares, feitas de distorções e aberturas distintas e num baixo cheio daquele groove punk, com Sam a colar todos estes elementos, através da bateria, com uma coerência exemplar.
Quando o tema de abertura de um disco é tão assertivo, ou mantemos as expetativas ou assumimos que a canção charneira foi colocada no início e o restante alinhamento não atinge essa bitola; Em El Pintor vale a pena seguir pelo primeiro caminho, porque o restante conteúdo sonoro do alinhamento replica e acentua os elogios que a primeira canção suscita. Aquela sensualidade algo enigmática, mas nada figurativa, que sempre rodeou os Interpol, exala por todos os poros de My Blue Supreme e de My Desire, a primeira uma canção que nos obriga a inspirar e a expirar ao ritmo da mesma até ao êxtase final e a segunda um tema que nos recorda aquele prazer tantas vezes difícil de descrever que os Interpol sempre provocaram no nosso íntimo, uma canção de resposta por parte da banda a todos aqueles que já duvidavam das capacidades do grupo em se focar no som que melhor os identifica e na temática lírica que exemplarmente sempre abordaram, relacionada com o lado mais complicado das relações, a frustração e uma faceta algo provocatória que nunca enjeitaram demonstrar (In my desire, I'm a frustrated man, some of us ask for peace, do what we can, play me out, play me out, look like your chance has come).
Outros destaques de El Pintor são o post punk de Everything Is Wrong, o indie rock anguloso e que marca claramente a tal ruptura com o passado recente de Ancient Ways (Oh fuck the ancient ways), Anywhere, uma canção que mantém-nos empolgados do início ao fim, Breaker 1, um extraordinário tema que nos remete para a sonoridade épica, melódica e melancólica do clássico NYC, um dos momentos maiores de Antics e a balada Same Town, New Story; um verdadeiro símbolo, até pelo título, desta nova vida do grupo.
El Pintor é um recomeço em grande forma, como já referi, mas também um grito de raiva por parte da banda em relação às críticas que receberam nos últimos anos. Percebe-se, por este disco, que os Interpol assumiram que há um caminho que só eles podem trilhar solitariamente e que já perceberam que as formas antigas de composição são as mais eficientes, mas que se orgulham dos atalhos e das rotas divergentes que já exploraram e que qerem quebrar o enguiço de quem insiste em querer catalogar com injusto menosprezo alguns instantes discográficos de determinados projetos que procuraram apenas, ao longo da carreira, perceber zonas de conforto ou, radicalmente, procurar romper com as mesmas e até viver numa espécie de limbo criativo e ir vendo o que dá.
El Pintor é indie rock e pós punk sem falsos pressupostos, tem um valor natural e genuíno e não precisa de uma análise demasiado profunda para o percebermos, até porque um dos seus grandes atributos, enquanto disco, é não ser demasiado intrincado ou redundante no que concerne aos arranjos e ao arsenal instrumental de que se serve, algo que só demonstra a relevância deste trio nova iorquino no universo indie atual, uma prova evidente que o grupo está de regresso às origens com contemporaneidade, consistência e excelência. Espero que aprecies a sugestão...
01. All The Rage Back Home
02. My Desire
03. Anywhere
04. Same Town, New Story
05. My Blue Supreme
06. Everything Is Wrong
07. Breaker 1
08. Ancient Ways
09. Tidal Wave
10. Twice As Hard
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Creepers - Stuck
Creepers é um novo projeto norte americano, oriundo de São Francisco, na Califórnia e uma espécie de banda b dos Deafheaven, já que conta com Dan Tracy e Shiv Mehra no alinhamento, além de Varun Mehra e Christopher Natividad. O disco de estreia dos Creepers chega aos escaparates a vinte e oito de outubro e chama-se Lush, um cardápio de sete canções e do qual já se conhece Stuck, o fantástico tema de abertura e que impressiona pelo clima shoegaze e pelo ambiente criado pela bateria.
Lush foi gravado e produzido por Andrew Oswald e terá o selo da All Black Recording Company, a etiqueta do líder dos Deafheaven, George Clarke. Stuck está disponível para download via stereogum. Confere...