man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Noiserv - Almost Visible Orchestra
Editado no passado dia sete de outubro, Almost Visible Orchestra é a nova pérola cintilante do indie pop português, uma obra de arte feita com dez lindíssimos poemas, musicados em apenas trinta minutos por uma das mentes mais brilhantes e inspiradas do nosso cenário musical alternativo. Ele chama-se David Santos e assina como Noiserv, um músico lisboeta que gosta de nos deixar no limbo entre o sonho feito com a interiorização da cor e da alegria sincera das suas canções e esta realidade às vezes tão crua e que ele também sabe tão bem descrever.
Almost Visible Orchestra sucede a One Hundred Miles from Thoughtlessness de 2008 e ao EP A Day in the Day of the Days, de 2010 e conta com alguns convidados ilustres. Por exemplo, em I was trying to sleep when everyone woke up, Noiserv conta com Rita RedShoes, Luísa Sobral, Francisca Cortesão (minta), Luís Nunes (Walter Benjamin), o escocês Esperi, e Afonso Cabral e Salvador Menezes (You can't win, Charlie Brown).
Em 2008, quando Noiserv apareceu no cenário musical nacional, trouxe uma nova forma de compôr e fazer música, principalmente no que concerne ao recurso de uma mais complexa teia instrumental, muitas vezes com o intuíto de adicionar pequenos detelhes apenas às canções, muitas vezes dificilmente percetíveis. Mas este seu novo disco em particular deve também ser admirado tendo em conta a parte lírica; Desde logo, o título das canções, todas escritas em inglês, só por si conta já pequenas narrativas, algumas delas algo inusitadas e com uma lógica que aparentemente procura suscitar o aparente e o impossível (It’s easy to be a marathoner even if you are a carpenter), cruzar o óbvio com o utópico (This is maybe the place where trains are going to sleep at night), descrever verdades la palice (Life is like a fried egg, once perfect everyone wants to destroy it), ou criar um choque entre ideias e sentimentos completamente contraditórios (I’m not afraid of what i can’t do ou I was trying to sleep when everyone woke up).
A primeira canção, This is maybe the place where trains are going to sleep at night, não defruada as expetativas e apresenta desde logo o conteúdo sonoro de Almost Visible Orchestra, que acaba por obedecer à habitual sonoridade proposta pelo David que, conforme podes conferir na entrevista que ele me concedeu, transcrita abaixo, tem como único desejo que as suas músicas possam um dia fazer parte da vida de quem as ouve. Assim, os nossos ouvidos são embalados por simples acordes, várias vezes dispostos em várias camadas sonoras, com uma naturalidade que impressiona os mais incautos, à semelhança da naturalidade com que a voz do David encaixa na melodia das canções.
Como se estivessemos a escutar canções debitadas de uma pequena caixa de música, avançamos na audição do álbum e absorvidos pelo seu conteúdo, facilmente reparamos que o single Today is the same as yesterday, but yesterday is not today, tem alguns detalhes oriundos de elementos eletrónicos, como se fossem uma pequena pitada de sal que dá o tempero certo à canção, algo que volta a suceder poucos minutos depois em I’m not afraid of what i can’t do. It’s easy to be a marathoner even if you are a carpenter é mais um belo momento do álbum e foi inspirado na história verídica do atleta Francisco Lázaro, um maratonista português que fez parte da primeira equipa olímpica portuguesa nos jogos de Estocolmo, em 1912, e que desfaleceu durante a prova, um evento dramático tão bem descrito pela voz soturna do David e de um simples dedilhar da guitarra que pode muito bem personificar o lento ocaso de um homem que corria por amor ao desporto e certamente ao país que o viu nascer.
47 seconds are enough if you only have one thing to do é uma espécie de interlúdio que demora o tempo exato que o título sugere e serve exatamente para demonstrar a veracidade do mesmo; em quarenta e sete segundos David demonstra que o tempo é muitas vezes longo ou escasso porque, se calhar, não sabemos como o gerir da melhor forma.
De seguida, Life is like a fried egg, once perfect everyone wants to destroy it, é um exercício sonoro que cresce de intensidade progressivamente e que impressiona pela forma como a voz se incorpora na música, como se fosse mais um dentro da variedade de instrumentos que a sustentam e que vão surgindo à medida que os segundos passam. A voz é aqui o aliado perfeito da canção, algo que volta a suceder em It’s useless to think about something bad without something good to compare, um tema que seria algo oco sem a presença do registo vocal do David.
I will try to stop thinking about a way to stop thinking volta a apostar na aparente dicotomia entre o dedilhar de uma guitarra e a inserção de detalhes sintetizados e o disco chega quase ao fim numa espécie de euforia controlada, com a caixinha de música de Noiserv a escancarar-se para que entrem alguns convidados e com eles, todos amontoados num espaço exíguo mas cheio de jovialidade, cor e diversão, cantar I was trying to sleep when everyone woke up, uma canção que conta então com a companhia de alguns amigos, como referi acima.
Amost Visible Orchestra chega ao seu epílogo com um dos mais doces instantes do trabalho, a profunda, doce, melancólica e densa Don’t say hi if you don’t have time for a nice goodbye. De seguida o disco começa novamente e somos impelidos a repetir o exercício anterior e assim descobrir, tal como indica o artwork do disco, um enorme puzzle de novos detalhes e sensações, num trabalho pensado para espevitar todos os nossos sentidos, com músicas que, além de serem uma intensa fonte de prazer sonoro, têm cheiro, cor e sabor, já que estamos na presença de uma verdadeira paisagem sonora, única no cenário musical nacional.
Fica o meu agradecimento a Noiserv por ter acedido a responder à minha entrevista e, mais uma vez, à Raquel Lains, da Let's Start A fire. Espero que aprecies a sugestão...
01.This is maybe the place where trains are going to sleep at night
02.Today is the same as yesterday, but yesterday is not today
03.It’s easy to be a marathoner even if you are a carpenter
04.I’m not afraid of what i can’t do
05.47 seconds are enough if you only have one thing to do
06.Life is like a fried egg, once perfect everyone wants to destroy it
07.I will try to stop thinking about a way to stop thinking
08.It’s useless to think about something bad without something good to compare
09.I was trying to sleep when everyone woke up
10.Don’t say hi if you don’t have time for a nice goodbye
Este álbum, com tantos convidados, segue para tentar conquistar um público mais alargado e podemos ver um rumo menos "intimista" a nível musical? Vai ter edição em vinyl? (Pedro Pereira)
Acho que não, o facto de numa música ter algumas pessoas a cantar comigo não tira a intimidade que todas as músicas poderam ter. Acima de tudo, continua a ser um projecto/disco de uma só pessoa, onde numa música em concreto fez sentido que uma série de pessoas se juntassem. Em relação à edição em Vinyl, espero consegui-la, mas neste momento ainda é apenas um objectivo!
Recentemente Thom Yorke (vocalista dos Radiohead) teve uma divergência com a empresa Spotify, alegando que o valor do streaming pago aos novos artistas (feito em função do numero de vezes que uma música é tocada) é demasiado baixo. Qual a sua opinião acerca disto? Como artista ainda desconhecido foi difícil iniciar este projecto? Com o aparecimento de sítios como Kickstarter, Bandcamp, etc, torna-se mais fácil de novos artistas se lançarem no mercado? Se sim, não haverá desta forma uma "diluição" de talentos e um excesso de oferta? (Pedro Pereira)
Acho que tens razão em tudo o que dizes, com a existência de tantas plataformas de divulgação de música, existe claramente muito mais oferta, e havendo muito mais oferta, torna-se mais dificil alguém se conseguir destacar, mas será isso mau? Não será até motivo para cada um tentar sempre melhor? No meu caso pessoal se não fossem estas plataformas talvez nunca tivesse conseguido que a minha música chegasse as pessoas, por isso não me posso nunca virar contra elas. Em relação ao spotify, é uma questão dificil tratar pois realmente os valores pagos aos artistas são minimos.
No 1º concerto de Noiserv que vi, havia uma animação/ilustração a ser exibida em pano de fundo, que me pareceu ter um resultado bastante positivo. Nunca houve a ideia de editar esse tipo de animação em conjunto com a música? (Pedro Pereira)
Em tempos pensei nessa hipótese, num género de videoclips para cada tema, mas depois achei que isso tiraria o factor surpresa de cada concerto pelo que decidi não fazê-lo.
Quais são as três bandas atuais que mais admira? (João Génio)
Poderão não ser as bandas que mais admiro, mas é aquilo que tenho ouvido ultimamente: Local Natives, Dan Deacon, Tame Impala.
Quais são as vossas expectativas para Almost Visible Orchestra? Queres que o disco te leve até onde?
Não gosto muito de criar expectativas, gosto apenas de fazer o meu melhor possível e esperar que as pessoas gostem do resultado final. Dessa forma, o único desejo que tenho é que as músicas deste disco possam um dia fazer parte da vida de quem as ouve.
Este teu novo disco conta com participações especiais de relevo, nomeadamente Rita Redshoes, Luísa Sobral, Francisca Cortesão (minta), Luís Nunes (Walter Benjamin), o escocês Esperi, e Afonso Cabral e Salvador Menezes (You can't win, Charlie Brown). Como foi possível congregar nomes tão ilustres à tua volta?
No fundo são todos amigos meus, e pessoas que fui conhecendo ao longo dos anos. Quando decidi que gostava de ter pessoas a cantar comigo no tema “I was trying to sleep when everyone woke up”, foi inevitável escolher estas pessoas para o fazer, felizmente todas aceitaram o meu convite!
Adorei o artwork de Almost Visible Orchestra. Como surgiu a ideia?
A ideia tem muito a ver com todo o processo que envolveu a composição deste disco. O qual, no inicio não era mais que um puzzle totalmente desconstruido, com vários pedaços de músicas soltas.
Adorei o tema I was trying to sleep when everyone woke up. E a David, tem um tema preferido em Almost Visible Orchestra?
Acho que à sua maneira, todas as músicas deste disco, já foram um dia a minha preferida. Nos últimos dias a música que mais gosto de ouvir é a que fecha o disco Don't say hi if you don't have time for a nice goodbye.
Não sou um purista e acho que há imensos projectos nacionais que se valorizam imenso por se expressarem em inglês. Há alguma razão especial para cantares em inglês e a opção será para se manter?
A unica razão para que isso aconteça é que grande parte da música que ouvia em novo, anos 90, era toda cantada em inglês. Por esse motivo quando anos mais tarde peguei numa guitarra, foi inevitável começar a cantar em inglês. No entanto, já fiz algumas experiências em português, a mais conhecida com o tema “Palco do Tempo” do filme José&Pilar, por esse motivo o futuro poderá ser em inglês, português ou uma outra qualquer lingua.
O que te move é apenas a indie pop acústica e experimental ou gostarias no futuro de experimentar outras sonoridades? Em suma, o que podemos esperar do futuro discográfico de Noiserv?
Não penso muito no que me move ou no género musical da próxima música que faça, sem qualquer restrição ou imposíção faço a música que me soa bem, se por algum motivo me soar bem outro género irei mudar sem problema.
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Motive - Burn Down Brooklyn
Os norte americanos Motive são Nicholas Wold, David Leondi, Andrew McGovern e Christopher Bagamery, uma banda rock natural de Brooklyn, Nova Iorque, que se prepara para lançar, no início de 2014, o disco de estreia, depois de em outubro de 2010 terem editado um EP homónimo.
Após o lançamento desse EP, surgiram alguns singles, mas o tema que tem feito furor e colocado os Motive debaixo dos radares é Burn Down Brooklyn, uma canção disponibilizada gratuitamente e que fará parte do alinhamento do tal disco de estreia.
Há quem já os apelide de The Strokes II, devido a uma questão de imagem, postura e atitude, mas também por causa da genuína sonoridade rock que sustenta as suas canções, feito com guitarras que combinam o melhor grunge de Seattle nos anos noventa, com o indie rock nova iorquino do início deste século.
A propósito desta canção, dos Motive e da sua carreira, entrei em contacto com eles recentemente para saber mais detalhes e recebi de Nicholas a seguinte delcaração:
Burn Down Brooklyn' started as a song about how Brooklyn is a den of bohemian lifestyle and sin, and how we should be burned down like Sodom. It was kind of funny and sarcastic, but is also about another feeling, the feeling that you sometimes need to burn everything down in yourself and start fresh. Something that everyone in New York feels at some point. Hope that sheds some light into the song. Our previous EP was our first time working with a producer and we're really happy with how it came out and represented where we were when it was recorded, but lately we've been trying some avenues with writing and we're very excited about the writing process these days. As for the future of the band, we are currently touring the entire US and working on our first album, to come out in 2014, and creating a whole lot of crazy sounds that we can't wait to share with you, so keep your ears peeled. Hopefully when it comes out we will come to Europe and play for you!
Há algumas semanas os Motive lançaram, via nylon, o video de Burn Down Brooklyn, com um conteúdo visual que amplia ainda mais o charme rock da canção. Estou certo que no início de 2014 voltarei a falar deles. Até lá, aproveita este single e espero que aprecies a sugestão...