man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Majical Cloudz - Impersonator
Citado em Curtas... XCIII e lançado no passado dia vinte e um de maio por intermédio da Matador Records, Impersonator é o sempre difícil segundo álbum do projeto Majical Cloudz, a obra prima criativa do canadiano Devon Welsh. Impersonator sucede a II, o disco de estreia lançado em 2011 e que passou praticamente despercebido pelo meio do público e da imprensa especializada.
Nas quinze canções que sustentavam II Devon usou um angustiante e singular minimalismo sofredor, muitas vezes autobiográfico, dando a sensação que o simples ato de composição do álbum terá servido para uma espécie de catarse pessoal, onde o músico se isolou e para onde transportou aspectos demasiado particulares do seu próprio sofrimento, isolando-se num mundo lírico de forte apelo claustrofóbico e de difícil aproximação.
Apesar de, como já referi, II não ter chamado a atenção das massas, ficou na retina de vários produtores e outros artistas como a própria Grimes, que acabou por convidar o conterrâneo para colaborar na construção de Nightmusic, uma das canções de Visions, um disco essencial no panoramam musical canadiano de 2012. Quem também se deixou encantar por II foi o produtor e teclista Matthew Otto, que acabou por se tornar parceiro de Devon na aventura Majical Cloudz e tido já um papel fundamental no processo criativo que originou Impersonator.
Cenários pintados pela melancolia e pela dor continuam a ser a pedra de toque do segundo disco dos Majical Cloudz, mas agora já não há aquela introspeção individual, mas antes canções onde a depressão é tratada universalmente e por isso capazes de atrair os mais diversos públicos. Dessa forma, o novo álbum atende uma necessidade típica de qualquer registo que esteja naturalmente sustentado na dor, quando contém versos e sons dentro de uma medida que parece manifestar liricamente não apenas o universo do próprio ouvinte.
A voz de Devon é um dos elementos fundamentais de Impersonator, algo bem audível logo no tema homónimo de abertura, já que o registo vocal prende imediatamente a nossa atenção. De Ian Curtis à Matt Berninger, são várias as vozes que ele lembra ou que o inspirou, fugindo mesmo à regra quando acentua a dose de dramatismo em Childhood’s End ou Bugs Don’t Buzz, os dois singles já retirados do álbum e que se fossem cantados à capella, desprovidos de instrumentos, a voz de Devon teria peso suficiente para alimentar as canções e impressionar.
Quanto à instrumentação, apesar do tal destaque que a voz de Welsh tem, há que saudar o teor controlado da mesma e o posicionamento assertivo de Matthew Otto por toda a obra. Para limitar as batidas e concentrar-se na inclusão de preciosos detalhes finos o músico utiliza sintetizadores, sendo dele a responsabilidade de aproximar e fornecer pontos em comum às dez canções que passeiam pelo álbum. O trabalho de Otto acaba por ser essencial para que as recordações tristes da infância ou mesmo o desespero solitário do vocalista alcancem o impacto pretendido.
Em português Impersonator pode ser um ator, imitador ou performer, e será isso que Devon Welsh faz quando sobe ao palco para interpretar com beleza o papel que lhe foi concedido, o papel de si próprio e que poderia ser o papel de muitos de nós. E agora, mais do que cantar sobre aspectos relacionados com o universo particular que o rodeia, o cantor transmite no sofrimento um exercício de extrema aproximação com o ouvinte, transformando com Impersonator o que foi uma estreia algo egocêntrica num tratado de sofrimento voluntariamente compartilhado. Espero que aprecies a sugestão...
01. Impersonator
02. This Is Magic
03. Childhood’s End
04. I Do Sing For You
05. Mister
06. Turns Turns Turns
07. Silver Rings
08. Illusion
09. Bugs Don’t Buzz
10. Notebook