01. Fire Walker
02. Let The Day Begin
03. Returning
04. Lullaby
05. Hate The Taste
06. Rival
07. Teenage Disease
08. Some Kind Of Ghost
09. Sometimes The Light
10. Funny Games
11. Sell It
12. Lose Yourself
man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Conheces os Booby Trap?
Uma das míticas bandas da década de noventa do universo punk, rock e e trash metal hardcore foram os Booby Trap. De acordo com a au biografia oficial, nasceram em 1993 na cidade de Aveiro e marcaram uma época com o seu som thrash metal/hardcore, apesar de misturarem outras influencias como o rock ou punk). Da sua formação original faziam parte Pedro Junqueiro (voz), Pedro Azevedo (guitarra), Miguel Santos (bateria) Nuno Barbosa (guitarra) e Ricardo Melo (baixo).
Lançam a sua demo de estreia “Brutal Intervention”em 1994 e o split CD “Mosh It Up" em 1996 com as bandas brasileiras T.I.T. e Locus Horrendus entre várias outras aparições por diversas colectâneas.
Deram mais de uma centena de concertos, partilhando palcos com bandas de renome como Cruel Hate, Inkisição, Dorsal Atlantica, G.B.H., Cradle Of Filth, Gorefest, Grave, Hypocrisy, Moonspell, Primitive Reason, Hate Over Grown, Genocide, WC Noise, entre muitas outras. Os Booby Trap eram conhecidos por dar concertos muito poderosos em que a descarga de energia e a interacção com o público eram muito valorizadas. Tocaram em locais míticos do rock/metal em Portugal como o Johnny Guitar, Cave das Quimicas, Voz do Operario, C.T.S. De Celas ou o festival Penafiel Ultra Brutal. As suas letras mostravam uma forte opinião e critica de cariz social por entre laivos de humor negro.
Os Booby Trap foram pioneiros e deram a cara por um movimento musical desenvolvido na região que viria a ser conhecido a nível nacional como “Aveiro Connection. Após o seu prematuro desaparecimento em 1997, os seus elementos deram origem a varias outras bandas como Anger, Konk, Superego, Strange Airplane, Snowball e Wild Bull.
A boa notícia é que depois de no ano passado se terem reunido novamente para dois concertos de comemoração, contando agora com Carlos Ferreira no baixo, e depois de estas duas actuações terem sido muito bem recebidas por parte do publico e após constatarem que a vontade de continuarem a tocar juntos, deicidiram dar continuidade á sua actividade como banda e estão a preparar um novo EP. Enquanto esse trabalho não chega convido-te a fazeres o download gratuito de uma antologia da banda, relativa ao seu percurso na década de noventa, uma coletânea disponível no bandcamp dos Booby Trap. Confere...
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Black Rebel Motorcycle Club - Specter At The Feast
Depois de terem editado Beat the Devil's Tattoo em 2009, os norte americanos Black Rebel Motorcycle Club (BRMC) de Peter Hayes, Robert Levon Been e Leah Shapiro, estão de regresso com Specter At The Feast, o sétimo disco de uma carreira de doze anos de uma banda que se estreou em 2001 com um extraordinário homónimo e cujo conteúdo fez desta banda de São Francisco os potenciais salvadores do rock alternativo.
Ao longo destes doze anos, os BRMC talvez não tenham salvado o rock, mas há que ser justo e admitir que se tornaram numa das bandas essenciais deste género musical. Mesmo após a estreia e o similar Take Them On, On Your Own, quando infletiram um pouco no rumo e em Howl abraçaram também a country e a folk, não deixaram nunca de perder a sua identidade, que apenas foi um pouco abalada com Baby 81 e The Effects of 333, os dois únicos álbuns dos BRMC que não me seduzem e que considero terem sido verdadeiros tiros ao lado na valiosa trajetória musical do grupo. Assim, na primeira década de existência, os BRMC nem sempre cumpriram a ótima expetativa criada na estreia mas, em 2009, Beat the Devil's Tattoo voltou a colocar o percurso dos BRMC nos eixos, refrescou-os e pessoalmente devolveu-me a esperança e deixou-me com água na boca relativamente ao futuro e ao sucessor.
Specter At The Feast tem doze canções feitas de country, garage rock, blues e psicadelia, ou seja, que congregam muitas das qualidades dos BRMC, mas que também, infelizmente, voltam a expôr alguns dos seus maiores defeitos. Mantém-se o espírito volátil do grupo, há uma maior dose de epxerimentalismo e recuperaram a sonoridade ruidosa que os sustentam. Se analisarmos as canções individualmente, extraídas da dinâmica do disco, a bitola qualitativa talvez seja maior do que a pura e simples análise de Specter At The Feast como um todo porque, em traços gerais, o disco é muito heterógeneo e nada feliz sequencialmente. Este entusiasmo seguido de algum tédio e vice-versa evidencia que não terá havido uma acertada escolha do alinhamento e, por isso, alguns temas que demonstram que os BRMC não perderam a capacidade de fazer grandes canções acabam por ficar relativamente isolados no meio daqueles que trazem à tona momentos menos inspirados. Returning, uma canção liricamente marcada pela partida de alguém querido, algo que, como veremos à frente, sucedeu com os BRMC (but you must leave and not turn back, knowing what you hold, how much time have we got left, its killing us, it carries us on) e Rival são dois temas que provam a existência destes dois pólos opostos.
Specter At The Feast começa com Fire Walker, um típico tema introdutório, com um baixo firme e constante e momentos etéreos criados pelo sintetizador. Depois, uma das canções que mais remete para o glorioso passado dos BRMC é Let The Day Begin, um tema onde é perfeito o encontro entre a guitarra de Peter, o baixo de Robert e a forte percussão de Leah. Esta canção é o meu destaque maior de Specter At The Feast e será, certamente, uma homenagem sentida a Michael Been, pai de Robert e engenheiro de som dos BRMC durante vários anos, falecido em 2010 logo após um concerto na Bélgica e que tinha gravado essa canção há alguns anos com os The Call, banda a que Michael pertenceu. A morte provoca sempre reaçoes imprevisíveis em quem a enfrenta e os BRMC tiveram de aprender a liderar com a perca de um ente querido, alguém que os acompanhou diariamente durante vários anos. Acabaram por canalizar para a música o sofrimento que sobre eles se abateu e usar essa morte como um meio criativo e assim expressarem, através desta tragédia, a sua visão poética da dor, de forma comovente e sincera, não só em Let The Day Begin, mas em todo o conteúdo do disco. Specter At The Feast acaba por ser contagiado por esse clima sombrio e funcionar como uma espécie de tributo a Michael Been, além de ser uma forma de lidar com a dor dessa perca.
Outros destaques de Specter At The Feast são, na minha opinião, Hate The Taste, um tema que introduz a sequência mais ruidosa do disco e que tem traços de post-punk e blues, Teenage Disease, canção onde essa fúria se mantém, mas que agora abraça o noise rock e o rock alternativo e a psicadelia etérea que tomam conta de Sometimes The Light, devido ao órgão que nela se escuta.
Specter At The Feast encerra majestosamente com Sell It e Lose Yourself, duas longas canções feitas com efeitos de guitarras sombrios e interessantes e marcadas por belas melodias. A primeira volta a falar da dor da perca e apela a uma lado mais religioso, falando da importância de Deus para a superação da mesma (I got god, I got the medication i got enough to make it all go away) e Lose Yourself é o último esforço para que haja novamente luz, a mesma que acaba por brilhar na canção devido à interação brilhante entre a voz e delicadeza da guitarra de Peter.
Specter At The Feast é um álbum muito carregado emocionalmente e que reflete o estado psíquico de uma banda muito marcada por transformações e dissabores, mas que nunca deixou, ao longo da carreira, de tentar ser coerente no desejo de deixar, disco após disco, novas pistas para a salvação do rock. O resultado final algumas vezes não foi o melhor, mas essa nobre intenção sempre esteve presente na discografia dos BRMC e ganhou um novo vigor neste disco. Espero que aprecies a sugestão...
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Post War Years – Galapagos
Depois de The Bell, um EP que divulguei oportunamente, os Post War Years, uma banda londrina formada por Simon, Tom, Fred e Henry, estão de regresso com Galapagos, um longa duração editado a vinte e cinco de fevereiro pela Chess Club / RCA via Rough Trade. Galapagos sucede a The Greats and The Happenings, o disco de estreia dos Post War Years, que foi resultado de um intenso processo de gravação num claustrufóbico armazém de Londres e que continha uma explosão de sons lo fi dançáveis, que fizeram desta banda uma promessa que agora, em Galapagos, recebe a merecida confirmação.
Galapagos foi o resultado de ano e meio de gravações, período em que os Post War Years também andaram em digressão. O disco começa com All Eyes, um tema que fez furor na blogosfera o ano passado devido à synth pop que alberga, misturada com traços de post rock e com a voz de Henry Gigg, um dos vocalistas, a assumir o papel de grande agitador, ele que acaba por ser a peça fulcral e quem faz mover toda a engrenagem, apesar de haver três músicos na banda que cantam.
Os anos oitenta e a pop eletrónica dos New Order e dos Depeche Mode deverão ser o grande ponto de referência deste grupo, mas também se encontra, nomeadamente em The Bell, uma forte sonoridade épica, típica de uns Arcade Fire e travos funk muito bem aproveitados. O krautrock também é uma referência para o grupo, que germinou depois de um concerto em Barcelona onde os Post War Years tiveram a oportunidade de contactar com intérpretes de música eletrónica feita na Alemanha.
Há uma preocupação clara numa atmosfera vibrante e texturas sonoras que possam chegar ao grande público, com exuberância e competência, mas sem deixar de lado, alguns períodos mais contemplativos. Existe uma intensa mistura de sons, momentos em que os mesmos parecem algo decontrolados e há casos, como os de Volcano, em que as guitarras com uma sonoridade mais índie também têm um papel preponderante no processo de definição melódica, atingindo uma atmosfera shoegaze que também é percetível em Nova.
Ao segundo disco ainda não é fácil descrever com exatidão o rumo sonoro dos Post War Years e essa aparente indecisão e procura acabam por ser as maiores qualidades e defeitos na sua ainda curta discografia. Se por um lado há dispersão e a perceção de alguma falta de discernimento relativamente ao que realmente pretendem, por outro, devido à interessantíssima qualidade dos dois discos que compôem o seu catálogo, também se poderá afirmar que são sonoramente ecléticos e que não se deixam balizar facilmente por um estilo ou influência. Talvez o verdadeiro tira teimas esteja mesmo reservado para o terceiro disco e poderá vir a ser esse o trabalho que confirma o verdadeiro e cimentado amadurecimento musical dos Post War Years. Até lá não ficamos nada mal servidos com a audição quer da estreia, quer, principalmente, deste Galapagos. Espero que aprecies a sugestão...
01. All Eyes
02. The Bell
03. Glass House
04. Be Someone
05. Growl
06. Lost Winter
07. Mellotron
08. Volcano
09. Nova
10. God
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Wavves - Afraid of Heights
No passado dia vinte e seis de março chegou ao mercado discográfico Afraid Of Heights, o novo e muito aguardado álbum dos norte americanos Wavves, lançado por intermédio da Mom + Pop. Afraid Of Heights é o terceiro disco de uma banda californiana que se estreou em 2008 com um homónimo, deu-se a conhecer ao mundo dois anos depois com King Of The Beach e que lançou, em 2011, um EP intitulado Life Sux e que divulguei oportunamente.
Em 2010 King Of The Beach catapultou a carreira do jovem Nathan Williams para um patamar de projeção que talvez ele nunca tivesse sonhado atingir. Álbum fundamental e algo percurssor da reinvenção do movimento lo fi tão em voga nos últimos anos, seguiu as pistas já deixadas por Wavves em 2008, feitas de experimentações sujas que procuravam conciliar esta componente lo fi com a surf music, numa embalagem caseira e íntima.
Afraid Of Heights não deixa de sustentar as suas bases nestas permissas identitárias dos Wavves, mas contém, globalmente, uma sonoridade mais aberta, acessível e pop. É o disco em que os Wavves ultrapassam definitivamente aquela perigosa barreira que a muitos tenta, de colocarem de lado apenas o som que gostam e que os satisfaz, para optarem também, muitas vezes pressionados por questões editoriais e comerciais, a tentarem abordagens sonoras mais acessíveis às massas e que depois nem sempre encontram correspondência na qualidade do resultado final. Diferenças estilísticas à parte, é com justificada insistência que cito o exemplo dos Kings Of Leon, uma banda com uma extraordinária sonoridade no início da carreira e que resvalou para um absolutamente vulgar rock comercial e que, ainda por cima, não acrescenta nada de novo a esse universo sonoro. Estou convicto que Nathan Williams nunca ganhará o mesmo dinheiro que os irmãos Followill já embolsaram a fazer música, mas tenho quase a certeza que se sentirá mais realizado e orgulhoso do seu trabalho.
Afraid Of Heights conseguiu, com mestria, fazer essa ponte para um universo mais comercial, iniciada com o elevado pendor rock e alternativo que o EP Life Sux já abarcava e sem que os Wavves tivessem que deixar no meio da ponte toda a sua bagagem sonora anterior. O álbum está cheio de canções aceleradas, feitas com guitarras aditivas e uma voz que às vezes berra, mas que nunca perde teor melódico, sempre com a componente surf pop presente e com as ondas (waves) a nunca deixarem de se estender na praia da sua Califórnia onde certamente Nathan se deita para compôr.
Mesmo tendo uma sonoridade mais comercial, Afraid Of Heights não poupa na bateria e principalmente nas guitarras. Enquanto Lounge Forward assenta numa seleção arrojada de batidas encorpadas, Demon To Lean On espelha os novos Wavves, em especial na forma arrojada como a acordes inicialmente suaves e luminosos são depois acrescentadas as distorções e a voz. Everythign Is My Fault acaba por ser um dos temas que mais se aproxima das experimentações que marcaram o início da carreira do grupo e I Can’t Dream mergulha um pouco na psicodelia típica da cena musical local.
Nessa referida Califórnia onde Nathan Williams se deita, ultimamente o rock alternativo tem primado pelo ênfase que é dado à distorção e à vertente psicadélica, algo exposto nos últimos trabalhos de Ty Segall e dos The Oh Sees, só para citar dois exemplos. Os Wavves andam um pouco em contra corrente em relação aos seus conterrâneos já que mantém uma imagem sonoramente íntegra, mas procuram aquele brilho pop mais acessível, sendo exceção a referida aproximação fugaz à psicadelia. Assim, Afraid Of Heights está cheio de canções radiofónicas e potenciais singles de venda bem sucedida, mas também plasma as preferências de Williams e extende os mesmos sons, temáticas e instrumentos que foi formatando ao longo da sua ainda curta carreira. Espero que aprecies a sugestão...
1 Sail to the Sun
2 Demon to Lean On
3 Mystic
4 Lunge Forward
5 Dog
6 Afraid of Heights
7 Paranoid
8 Cop
9 Beat Me Up
10 Everything Is My Fault
11 That’s On Me
12 Gimme a Knife
13 I Can’t Dream
14 Hippies Is Punks (AU/NZ Bonus)
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Curtas... XCIII
Depois de Line Of Fire, agora foi divulgado Your Life, Your Call, mais um tema de Junip, o disco homónimo do novo projeto de José González, que verá a luz do dia a vinte e três de abril por intermédio da Mute Records. O tema foi disponibilizado em modo ÉFV. Usufrui...
Se Dev Hynes, aka Blood Orange, não é particularmente conhecido e apreciado pelos seus originais, merece relevo pela qualidade das remisturas que produz. Um dos singles mais badalados das últimas semanas é Entertainment, o primeiro avanço para Bankrupt!, o próximo disco dos Phoenix. À semelhança do que já fez, por exemplo, o coletivo Dinosaur Jr, este britânico Blood Orange também resolveu remisturar a canção e apresentar a sua própria concepção do mais recente lançamento do quarteto francês. Na remistura, Blood Orange lima a aceleração original da música e os teclados exageradamente felizes, acrescenta vozes em coro, um clima leve de fim de tarde e transforma a canção quase noutro original.
Conforme adiantei num Curtas... anterior, os Primal Scream estão de regresso aos discos treze anos após XTRMNTR. Depois de divulgarem o single 2013, primeiro avanço de More Light, agora chegou a vez de ser conhecido o tema It’s Allright, It’s Ok, canção onde Gillespie e companhia estabelecem um elo de ligação com o começo da década de noventa, em quase cinco minutos de passeio pela música gospel, a soul, a psicadelia e a eletrónica, naquela que parece ser a mais nostálgica e inventiva música dos Primal Scream nos últimos anos. More Light chega aos escaparates no próximo dia seis de maio.
O norte americano Charles Bradley, um cantor soul de sessenta e quatro anos, tem uma história de vida curiosa. Além de ter vivido na rua e de, entre outros episódios dramáticos, ter descoberto o corpo do seus irmão assassinado, passsou grande parte da sua existência a replicar o conteúdo musical de James Brown, enquanto sonhava um dia ter os seus próprios originais. Só nos últimos anos é que Charles conseguiu alguma notoriedade, principalmente devido à sua performance em palco e à forte ligação sentimental que faz questão de manter com os seus fãs.
Victim of Love é o novos disco de Charles Bradley e soa extamente a um disco clássico da soul. O músico prontificou-se a disponibilizar gratuitamente Strictly Reserved For You, o primeiro single deste seu novo trabalho. Confere...
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Woodkid – The Golden Age
Depois do EP de estreia Iron, cujo tema homónimo foi usado por Quentin Tarantino em Django Unchained, já chegou aos escaparates, no passado dia dezanove de março, The Golden Age, o disco de estreia de Woodkid e que também tem essa canção no alinhamento. Woodkid é o nome de um projecto musical criado pelo fotógrafo e realizador francês Yoann Lemoine, um rapaz talentoso e pelos vistos multifacetado.
Apesar de ter demorado cerca de dois anos a ser editado, The Golden Age já causava furor o ano passado quando foram divulgados os temas Run Boy Run e I Love You. Desde o EP que aguardava com alguma expetativa este estreia e confesso ter saboreado com particular gosto o dinamismo e a grandeza deste trabalho.
The Golden Age confirma a estreita ligação entre os dois mundos, o musical e o cinematográfico, onde habita Yoann. Isso está bem evidente quando esta estreia segue as pisadas do primeiro EP e, dessa forma, navega na similar atmosfera ambiciosa e majestosa de Iron, feita com arranjos orquestrais que fazem lembrar a banda sonora de uma epopeia fantástica. Fica evidente que Woodkid aprecia heróis épicos e convive confortavelmente com a grandiosidade sonora que a composição sobre eles exige. E esses heróis poderão ser um simples rapaz que, na tal Run Boy Run, tema que lhe valeu a nomeação para um Grammy, luta pela sua sobrevivência e torna-se num homem cheio de batalhas para enfrentar. Logo a seguir, em The Great Escape, essa personagem encontra, como o título da canção indica, um sempre indispensável refúgio, alimentado com uma base instrumental alegre e repleta de trompetes.
Há uma evidente heterogeneidade entre as catorze canções do disco, onde se incluem dois interlúdios, com destaque para Shadows, uma belíssima ode sinfónica. Logo no início, à delicadeza e sensibilidade do tema homónimo, feitas com pianos e violinos, sucede a atmosfera mais caótica de Run Boy Run. E este dinamismo entre ambientes mais calmos e outros mais agitados vai sendo jogado com vários sons orquestrais e outros mais introspetivos, dos quais destaco, nos primeiros, Iron e Conquest Of Spaces e, nos segundos, Boat Song, Where I Live, uma canção onde Yoann confessa a sua resignação perante a inevitabilidade da morte e as angústias da vida (Where I'm born is where I'll die. Where I live is where I cry) e, principalmente, além do caos agitado, os coros e a voz de Yoann em Stabat Mater.
A audição de The Golden Age é uma viagem a um mundo imaginado por Yoann, com personagens que encarnam a pacatez do nosso quotidiano e que são elevadas a um ímpar patamar de grandeza e admiração porque lutam, diariamente, pela sobrevivência, nessa espécie de mundo, algo surreal, mas onde se refletem os nossos maiores medos, expetativas e interrogações. Como se pode escutar no final, em The Other Side, é intrínseca à natureza humana uma constante insatisfação e que, por isso mesmo, o homem, quer seja um soldado, um príncipe, um pequeno rapaz, ou um agricultor, estará sempre, enquanto existir, em permanente conflito interior, sendo as pequenas vitórias que vai conseguindo contra si mesmo que sustentam o seu crescimento pessoal e que definem as escolhas que vai fazendo ao longo da vida.
No sitio de Yoann poderás conferir algum do seu art work e de vídeos que realizou, nomeadamente os vídeos Born To Die, da Lana del Rey, Dreaming of Another World, dos Mistery Jets e vídeos de Kate Perry, Rhianna e os seus próprios, conhecidos por roçarem sempre o épico e por terem uma estética inconfundível. Espero que aprecies a sugestão...
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Helado Negro - Invisible Life
Lançado no passado dia cinco de março pela Asthmatic Kitty Records, Invisible Life é o quinto disco do projeto a solo Helado Negro, liderado por Roberto Carlos Lange, um filho de emigrantes equatorianos radicado nos Estados Unidos e que também encabeça o projeto Ombre. Invisible Life conta com as participações especiais de Jon Philpot dos Bear in Heaven, Jan St Werner dos Mouse on Mars, Devendra Barnhart, Matt Crum e Eduardo Alonso, que também se envolveu na produção do disco.
Roberto começou a ganhar notoriedade em 2009 com o disco Awe Owe, um trabalho onde predominava uma sonoridade acústica e tipicamente latina, liderada pelas cordas e com as letras em castelhano. Invisible Life tem letras em inglês e castelhano e é conduzido por uma tendência mais urbana e contemporânea, alicerçada na eletrónica e numa dream pop de cariz lo fi e etéreo e que incluí também travos de hip hop.
Esta transição do acústico para o eletrónico neste projeto começou a assumir contornos mais definitivos em Canta Lechuza (2011), o anterior disco dos Helado Negro e que continha, de forma ainda um pouco embrionária, a génese do cardápio sonoro que sustenta Invisible Life, um álbum com um forte pendor temperamental e carregado de ambientes feitos com cor, sonho e sensualidade e que o transforma no disco mais dinâmico de Robeto até à data, uma espécie de banda sonora de uma festa pop, psicadélica e sensual, onde Junes seria a canção ideal para levar o êxtase à pista.
Invisible Life não precisa de ter nenhum tema particularmente memorável para ser um grande disco, apesar da extraordinária abertura com Ilumina Vos, o meu tema preferido do álbum, muito por causa do excelente baixo que o sustenta; O que Invisible Life tem e facilmente nos fascina é uma coleção irrepreensível de sons inteligentes e solidamente construídos, que nos emergem em ambientes carregados de batidas e ritmos que, tomando como exemplo Dance Ghost, o single do disco guiado por um potente baixo, poderão facilmente fazer-nos abanar a anca sem percebermos muito bem como e porquê. Há, por exemplo, em Arboles, uma canção que conta com Devendra Banhart na guitarra, aquele charme típico do vagaroso e caliente ritmo latino, muito bem acompanhado por um sintetizador delicioso. E por falar em sintetizadores, chamo a atenção para o que se escuta em Catastrophe, uma espécie de Commodore num tema gravado em oito bits.
Algures entre Toro Y Moi e Caetano Veloso, Lange aventura-se na sua própria imaginação, construída entre o caribe que o viu nascer e a América de todos os sonhos. Nestas dez canções contorna todas as referências culturais que poderiam limitar o seu processo criativo para, isento de tais formalismos, não recear misturar tudo aquilo que ouviu, aprendeu e assimilou e que é sonoramente tão bem retratado em U Heard, uma canção onde tudo o que o atrai e influencia é densamente compactado, com enorme mestria e um evidente bom gosto.
Roberto sempre se rodeou de várias e distintas colaborações, quer nos Helado Negro, quer em Ombre onde divide o protagonismo com Julianna Barwick, mas sempre houve um forte clima solitário na sua música já que é ele quem define as regras do jogo. E nos Helado Negro, este músico equatoriano transforma-se numa espécie de fantasma latino-americano e faz mais do que música eletrónica, cantada, às vezes, em castelhano; Aqui, ele compila com música, história, cultura, saberes e tradições, num pacote sonoro cheio de groove e de paisagens sonoras que contam histórias que transitam entre dois mundos que Roberto sabe, melhor do que ninguém, como encaixar. Espero que aprecies a sugestão...