man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Youth Lagoon - Wondrous Bughouse
Depois de se ter estreado em 2011 com The Year Of Hibernation, um dos mais belos disco editados nesse ano, Trevor Powers, um músico norte americano que parece viver num universo mágico conhecido e construído inteiramente por ele, está de regresso com Wondrous Bughouse, disco lançado no passado dia cinco de março por intermédio da Fat Possum.
Trevor Powers assina como Youth Lagoon e parece viver mergulhado num mundo controlado por sintetizadores, que criam melodias que passeiam pelo mundo dos sonhos. As letras que escreve dançam nos nossos ouvidos e a voz deste jovem compositor cresce num misto de euforia, subtileza e entrega.
Em Wondrous Bughouse cada sílaba ou frase das dez canções parece servir um propósito global, como se estivessemos na presença de um álbum conceptual sobre uma casa governada por insetos. Com base nessa observação fantástica e literal, o disco parece um conto infantil que poderia ser ilustrado pela mesma capa de cores exageradas e traço pueril que guarda a rodela. No entanto, uma audição mais atenta mostra-nos que este passeio por um universo feito de exaltações melancólicas nada mais é do que um retrato sombrio do estranho quotidiano que sustenta a vida adulta.
Enquanto o clima matinal e as composições agridoces de The Year of Hibernation pareciam lentamente acordar o músico de um estágio letárgico, em Wondrous Bughouse a compreensão da maturidade e a depressão rompem com a antiga lógica. Por mais encantadoras que sejam as melodias abordadas pela obra, está latente uma dor profunda que praticamente afoga tudo o que Powers construiu há dois anos. O amor, a solidão, o abandono, a vida e a morte, tudo serve como assunto, conceitos que pouco têm a ver com o universo das histórias infantis, mas antes com a crueza da realidade.
Dropla, o meu tema preferido de Wondrous Bughouse e, para já, na liderança das minhas melhores canções do ano, é um exemplo perfeito de uma belíssima melodia, que quase abafa o desesperado grito de Youth Lagoon para que a morte o poupe, ou que, pelos menos, os seus demónios não permitam que ele se consuma numa espiral recessiva mais profunda que a crise económica em que vivemos (You will never die, you will never die, You're playing a song, one that's for me, While my physical body is turning in my grave, Fierceful demon, no demon the brain, But It doesn't know how!). Dropla sintetiza a amargura do músico por ver a infância a ficar para trás e ter agora de conviver com as obrigações da vida adulta.
Trevor esforça-se por dar alguma cor e alegria às letras depressivas, através da sonoridade e da conceção visual de Wondrous Bughouse, onde há um certo clima circense e uma evidente psicadelia pop que lida com as orquestrações lo fi, uma espécie de meio termo entre os clássicos Funeral dos Arcade Fire (2004) e o In A Aeroplane Over The Sea dos Neutral Milk Hotel (1998).
Mute e Dropla são as canções mais acessíveis, mas dá um gozo enorme perceber que Wondrous Bughouse revela, a cada audição, novos detalhes, que antes pareciam de impossível previsão. Sleep Paralysis, por exemplo, contém um ambiente sonoro similar a Year Of Hibernation, até que uma onda de sintetizadores muda tudo e incendeia a canção com sons inéditos na carreira do músico. A partir de Third Dystopia esta nova variedade de elementos ganha novo fôlego e as batidas eletrónicas antecipam o que a melancólica Raspberry Cane reformula de maneira acessível e quase comercial do universo sonoro de Youth Lagoon. Daisyphobia encerra o álbum com pequenas contradições intencionais, um misto de maturidade e regresso ao tal clima infantil de Year Of Hibernation, como se a mente de Powers se perdesse no tal mundo adulto que ele mesmo criou.
Mesmo que a loucura seja uma espécie de fio condutor de Wondrous Bughouse e que ela seja tratada como um referencial que flutua constantemente entre a metáfora e a realidade, através de letras corroídas pelo medo de encarar o quotidiano adulto, as melodias ascendentes e alegres do disco, fazem dele uma obra prima, porque raramente um compositor conseguiu analisar o universo de um jovem adulto com tanta veracidade e dor e, simultaneamente, deixar-nos com um enorme sorriso nos lábios quando somos confrontados com a beleza melódica de que se serve para atingir tal desiderato. Espero que aprecies a sugestão...
01. Through Mind and Back
02. Mute
03. Attic Doctor
04. The Bath
05. Pelican Man
06. Dropla
07. Sleep Paralysis
08. Third Dystopia
09. Raspberry Cane
10. Daisyphobia