Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Grizzly Bear - Shields

Quinta-feira, 20.09.12

Até parece mentira, mas já foi em 2004 que Horn of Plenty estreou os nova iorquinos Grizzly Bear de Edward Dros, Daniel Rossen, Christopher Bear e Chris Taylor nos lançamentos musicais. Na época, o disco passou despercebido e até há quem não o inclua na discografia oficial da banda, até porque foi composto inteiramente pelo vocalista, Edward Dros, com apenas algumas contribuições do baterista, Christopher Bear. Agora, quase uma década depois, chega Shields, o quarto disco dos Grizzly Bear, editado a dezoito de setembro através da Warp Records.

Grizzly Bear Returns With Fourth Album: Hear New Song 'Sleeping Ute'

Horn of Plenty, talvez por ter sido composto a solo, refletia muita melancolia exposta na camada de ruídos experimentais e compostos acinzentados que se percebiam até na capa do disco. Esse álbum ganha de novo importância quando nos deparamos com o conteúdo deste novo Shields, porque traz de volta a mesma camada extra de ruídos que perfumavam o tratado de estreia ao mesmo tempo que aprofunda e melhora a sonoridade do antecessor Veckatimest (2009) com uma dose extra de guitarras e versos ainda mais épicos e acessíveis, defraudando quem achava que  a banda não seria jamais capaz de apresentar um disco tão intenso como o que lançaram há três anos e quem lidava com o constante medo e até a descrença do público, que assiste a cada novo lançamento com uma angústia de quem clama pela queda da banda. Assim, Shields tem canções que se deixam impregnar pela crueza das guitarras (Yet Again) e outras com uma estrutura sonora mais convencional (Sun In Your Eyes), havendo uma espécie de fórmula base para as canções, mas com o acrescento de arranjos onde contrastam elementos acústicos e elétricos e que deitam por terra qualquer sintoma de monotonia e repetição ao longo da audição. Por exemplo, A Simple Answer tem um clima épico e uma instrumentação detalhada, que obedece às ditas associações instrumentais que começaram a escutar-se logo no início da carreira do grupo, que vai mais além quando, em The Hunt, tocam no jazz e de maneira particular com a música pop e a folk em Gun-Shy. É como se o grupo, mesmo atento ao que foi proposto no passado, se deixasse conduzir em diversos momentos por uma série de ineditismos naturais, nomeadamente as melodias vocais dos Fleet Foxes, o ambiente dos Talk Talk ou mesmo referências vindas das carreiras a solo dos próprios músicos da banda.

Shields sabe melhor a cada audição; Há sempre um ponto de novidade na execução do disco, que vai da rejeição inicial à compreensão posterior e completa aceitação, como se a banda, ciente da complexidade das suas produções, fizesse questão de oferecer em pequenas doses tudo aquilo que ouvem e os influencia. Espero que aprecies a sugestão...

Grizzly Bear - Shields

01. Sleeping Ute
02. Speak In Rounds
03. Adelma
04. Yet Again
05. The Hunt
06. A Simple Answer
07. What’s Wrong
08. Gun-Shy
09. Half Gate
10. Sun In Your Eyes

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 22:04

Band Of Horses - Mirage Rock

Quarta-feira, 19.09.12

Mirage Rock é o nome do quarto disco dos norte-americanos oriundos de Seattle Band of Horses, rodela que viu a luz do dia no passado dia dezoito de setembro através da Columbia Records e que aposta na mesma sonoridade do antecessor Infinite Arms, disco de 2010. Assim, Mirage Rock mantém esta banda que desde o primeiro disco conseguiu cativar uma multidão de ouvintes e fieis seguires presa à country. Acaba por apresentar como maior novidade um maior foco no rock, devido a um maior protagonismo das guitarras, algo bem audível logo na canção que abre o disco, a empoeirada knock knock.

Liderados por Ben Bridwell, os Band Of Horses já são hoje um dos grupos mais respeitáveis do cenário rock do país natal e chegam ao quarto disco a cimentar as referências sonoras que durante quase uma década têm sido essenciais para o grupo, sem aparente sinal de desgaste. Este Mirage Rock acaba por ser a proposta mais comercial e pop, mantendo, como já referi, as assumidas conexões estabelecidas com o cancioneiro norte-americano presente em Infinite Arms.

Durante a audição do álbum aquilo que mais senti foi uma certa leveza nas canções, uma enorme busdca do simples e do prático, o presentir que terá existido uma elevada fluidez no processo de construção melódica e honestidade na escrita e inserção das letras. O resultado final acaba, na minha opinião, por ser bastante assertivo e agradável, desde que, previamente, se tenha em conta o universo sonoro típico dos Band Of Horses.

Convidado para assumir a produção do disco, Glyn Johns, um veterano que já trabalhou ao lado de bandas como Led Zeppelin, os The Beatles e os The Who, pouco interferiu na construção do registo, que mantém as mesmas bases dos álbuns anteriores. Glyn não terá o mesmo brilhantismo notável de Phil Ek, produtor que acompanhou o grupo durante os dois primeiros discos e, por isso, faltará aqui algum fôlego e canções mais marcantes. Seja como for, Mirage Rock tem sentimento e os Band Of Horses continuam a impressionar como na estreia. Espero que aprecies a sugestão...

NSMr7 Band Of Horses   Mirage Rock 2012

01 – Knock Knock
02 – How To Live
03 – Slow Cruel Hands Of Time
04 – A Little Biblical
05 – Shut-In Tourist
06 – Dumpster World
07 – Electric Music
08 – Everything’s Gonna Be Undone
09 – Feud
10 – Long Vows
11 – Heartbreak On The 101

Mirage Rock by bandofhorses

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 19:02

Minta & The Brook Trout - Olympia

Terça-feira, 18.09.12

Lançado ontem pela Optimus Discos, Olympia é o delicado e saboroso novo disco do projeto nacional Minta & The Brook Trout, formado por Francisca Minta Cortesão (voz e guitarra), Mariana Ricardo (voz, baixo e ukulele), Manuel Dordio (guitarra eléctrica e lap steel) e Nuno Pessoa (bateria e percussão). Olympia sucede ao disco de estreia homónimo de 2009.

A estreia da banda nos discos ocorreu em 2008, com o EP You e no ano seguinte, como já referi, surgiu um disco homónimo que, na altura, foi bastante elogiado pela crítica devido à perfeição como a banda conseguiu interpretar uma espécie de binómio luminosidade/simplicidade, muito presente nas canções. Depois desse sucesso que, infelizmente, não lhes deu a merecida visibilidade, escreveram mais dez canções que irão, espero eu, catapultá-los definitivamente para a linha da frente do panorama musical nacional.

Este Olympia foi produzido por Mariana Ricardo e Francisca Cortesão, gravado e misturado em Paço de Arcos por Nelson Carvalho e terminado em Phoenix, no Arizona, onde foi misturado por Roger Siebel, um reputado nome que já pôs as mãos em discos de Bill Callahan, Dodos, Laura Veirs, Elliott Smith e M. Ward.

Falcon, disponível para download gratuito aqui, foi o primeiro single retirado de Olympia e, de acordo com a banda, a música mais rápida de escrever e de arranjar do novo disco, por ser uma típica canção pop. Este tema conta com convidados de luxo, como Afonso Cabral e Salvador Menezes (You Can't Win, Charlie Brown), Madalena Palmeirim (Nome Comum) nos coros e uma seção de sopros liderada pelo saxofonista João Cabrita e é um excelente ponto de partida para descobrir o restante conteúdo de Olympia.

Pessoalmente gostei muito do tema Future Me; Dou por mim a cantarolar aquele uhuhuhh do refrão imensas vezes, um excerto lírico e sonoro que demonstra a saúde critiva desta banda e como a simplicidade é, tantas vezes, a melhor amiga da perfeição! Mas também há alguns detalhes, nomeadamente em determinados arranjos, que espelham a míriade de influências que de algum modo balizam e inspiram os Minta & The Brook Trout. Bons exemplos são, como refere Francisa Cortesão na entrevista que deu a este blogue e que transcrevo abaixo, Falcon, sobretudo com o som dos sopros e da bateria e o conjunto de instrumentos e vozes que conseguiram encaixar no tema The Right Boulevards.

Olympia resulta certamente de um processo consciente de escrita e composição, durante o qual terão havido também vários momentos criativos cheios de espontaneidade e posteriormente reaproveitados e sabe a uma certa inocência romântica, daquela boa porque consegue mexer com os nossos sentimentos mais profundos e sinceros.

Este disco figurará certamente na lista dos melhores lançamentos nacionais do ano. Confere a entrevista que a Francisca Minta Cortesão deu a Man On The Moon e os dois álbuns do grupo.

Agradeço à Let's Start A Fire, na pessoa da Raquel Lains, pelo exemplar do disco, que me possibilitou já escutá-lo inúmeras vezes e assim escrever estas breves notas e divulgá-lo. E também lhe agradeço por ter intermediado o meu contato com os Minta & The Brook Trout, de forma a que me respondessem a algumas questões sobre este excelente álbum. Espero que aprecies a sugestão... 

Eggshells

Falcon

Blood And Bones

Future Me

Family

Devil We Know

From The Ground

The Right Boulevards

Gold

At Your Will

 

Depois do homónimo de 2009, os Minta & The Brook Trout estão finalmente de volta... muito sinteticamente, como é que nasceram estas dez novas canções? Houve, em Olympia, mais geração espontânea ou trabalho de sapa?

Creio que há das duas, quase em partes iguais! As canções tendem a surgir mais de geração espontânea, embora tenham sempre de ser buriladas depois disso. Os arranjos normalmente implicam mais trabalho de sapa, mas num ou noutro caso também surgiram tão naturalmente que podemos falar em geração espontânea.

 

A Francisca disse um dia que vocês soam a uma  confusão confortável, “entre uns Fleet Foxes e um Bill Callahan. Estmos a falar de duas referências para o projeto, ou só no final das canções e depois de ouvirem Olympia na íntegra é que perceberam esta ligação?

São duas das minhas incontáveis referências, não posso falar pelo resto da banda. Na verdade, embora tenhamos muitos gostos em comum, não ouvimos de todo exactamente as mesmas coisas – o que acho que só enriquece o som que fazemos juntos.

 

Adorei Future Me; Dou por mim a cantarolar aquele uhuhuhh imensas vezes! E para a banda... há uma canção preferida neste álbum?

São dez e ainda estamos muito apaixonados por todas! Em termos de gravação, acho que ficámos unanimemente muitíssimo satisfeitos com o "Falcon", sobretudo com o som dos sopros e da bateria, e com o conjunto de instrumentos e vozes que conseguimos encaixar no "The Right Boulevards".

 

Como surgiu a oportunidade de contar com as participações de Afonso Cabral e Salvador Martins (You Can´t Win Charlie Brown) e Madalena Palmeirim (Nome Comum)? foi tudo muito espontâneo ou houve convites que resultaram de uma profunda ponderação?

Temos a sorte de viver em Lisboa em 2012. Temos muitos amigos músicos e as coisas têm se proporcionado desta forma, muito naturalmente. Assim como esses três amigos vieram gravar coros neste nosso disco, estive eu a gravar coros com o Walter Benjamin, com a Márcia ou o B Fachada. A comunidade musical de Lisboa é muito variada e generosa, e creio que temos todos aproveitado isso da melhor maneira.

 

O disco foi produzido por Mariana Ricardo e Francisca Cortesão  e terminado em em Phoenix, no Arizona, onde foi misturado por Roger Siebel, um reputado nome que, como sabemos, já pôs as mãos em discos de Bill Callahan, Dodos, Laura Veirs, Elliott Smith e M. Ward. Que importância teve este nome no resultado final?

A masterização é o último processo pelo qual o som passa antes do disco ser finalizado. Na mistura, que foi feita pelo Nelson Carvalho, que também gravou o disco, decidiram-se os volumes e os espaços de cada instrumento. A masterização é uma espécie de "verniz" que se passa no final: os timbres ficam mais definidos. Fiquei muito contente com o som do disco; escolhemos o Roger Siebel por gostarmos tanto do som de alguns dos discos desses nomes de que falas e não ficámos desiludidos.

 

Confesso que assim que pus as mãos ao meu exemplar de Olympia, saltou-me à vista o fantástico artwork de José Feitor e fiquei bastante curioso... Há naqueles desenhos algo de conceptual e relacionado com o conteúdo sonoro do disco?

O José Feitor foi ouvindo as músicas e apresentou-nos aquelas artes gráficas, de que gosto imenso. Não houve indicações directas, é a interpretação dele do disco – e eu não podia estar mais satisfeita com a capa e o artwork.

 

Como têm corrido os concertos de promoção ao disco... Onde é que os leitores de Man On The Moon vos podem ver e ouvir por cá nos próximos tempos?

Tivemos o primeiro concerto na D'Bandada no Porto, e correu muitíssimo bem. No nosso site –www.minta.me – pode consultar-se a agenda de concertos, mas para já é mesmo importante dizer que nesta quinta lançamos oficialmente o disco no Conservatório, no Bairro Alto, com três dos magníficos cantores que gravaram o disco: o Afonso Cabral, o Salvador Menezes e a Madalena Palmeirim.

 

Tem sido importante para os Minta o casamento com a Optimus Discos?

A Optimus Discos, através do Henrique Amaro, tem-nos tratado muitíssimo bem.

 

Desde You, o EP de estreia em 2008, até este Olympia, consideram ir já a meio de uma longa viagem, ou acham que ainda estão a descolar?

Acho que só vou conseguir responder a essa pergunta daqui a uns dez anos! Não sei bem em que momento da viagem é que vamos, mas vamos felizes, é a única coisa que posso dizer com toda a certeza.

 Olympia

Minta & The Brook Trout

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 19:12

Curtas... LIII

Terça-feira, 18.09.12

A dupla Fergus & Geronimo lançou no início do passado mês de agosto um disco que infelizmente descobri apenas há poucos dias. Lançado pela Hardly Art, Funky Was the State of Affairs tem recebido enormes elogios do público mais atento que afirma ter potencial para ser considerado um dos álbuns mais estranhos do ano, interpretando tal nomeação no sentido positivo. 

 

 

 

A dupla berlinense Renaissance Man divulgou recentemente, por intermédio da DFA Records, uma fantástica remistura para Aaron, um original de Dan Bodan. Dan é um músico oriundo do Canadá e sediado em Berlim, que num ápice passou do estatuto de ilustre desconhecido para o de next big thing desde que foi anunciado como a mais recente contratação da DFA Records. A sua estreia na editora nova-iorquina é feita com o lançamento do DP/Aaron EP, uma edição que inclui Aaron (ou 아론 em coreano) e DP e suas respectivas remisturas da autoria de m.e.s.h. e Renaissance Man, respectivamente. Confere e usufrui.

Dan Bodan - DP/AARON EP w/ remixes by DFA Records

 

Já são conhecidas várias remisturas para Softkiss um dos destaques de Driver, o último disco dos Lemonade. Confere as versões da autoria de Pional e Anthony Naples e diz-me qual é a tua preferida. O meu voto vai para a remistura de Pional...

 

 

Há alguns meses Nicolas Jaar, o responsável pelo excelente Space Is Only Noise de 2011, apresentou, através da rádio BBC de Londres uma mixtape com algumas invenções particulares e inclusões de músicas de outros artistas, dos quais destaco Johnny Greenwood, Feist e até NSYNC, imagine-se. Esta seleção acaba de ser lançada, na íntegra, sem cortes e outras edições feitas pela BBC, na página soundcloud do selo do produtor, o Clown & Sunset, o mesmo selo que apresentou recentemente a ótima coletânea Don’t Break My Love.

Com este trabalho, este produtor norte-americano tornou claro por que é um dos grandes nomes da nova geração de produtores oriundos do seu país natal.

 

 

Para quem tem curiosidade em se atualizar relativamente ao estado do pós-punk atual, não há nada mais indicado do que escutar a discografia dos The Soft Moon. Soam como uma espécie de car crash entre os Joy Division e os Sonic Youth da década de oitenta e incorporam uma postura sombria e sempre permeada por distorções que ocupam os nossos ouvidos e o nosso cérebro.

Depois de terem revelado Die Life há pouco mais de um mês, disponibilizaram recentemente, para download gratuito, Insides, canção que desmistifica quem entende que os Interpol ou os The Horrors são os únicos grandes reinventores do género atualmente. A canção faz parte do disco Zeros, que será lançado no dia trinta de outubro e ao qual estarei atento.

The Soft Moon // "Insides" by capturedtracks

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 13:14

Thieving Irons – Behold, This Dreamer!

Segunda-feira, 17.09.12

Os Thieving Irons são Nate Martinez, Dan Brantigan, Josh Kaufman e Andy Nauss e vêm de Brooklin, na Big Apple. Behold, This Dreamer! sucede ao disco de estreia This Midnight Hum (2010) e foi lançado no passado dia cinco de junho, sendo o título inspirado no nome de um livro que Nate Martinez encontrou, em tempos, numa livraria em Chicago.

De acordo com a banda, Behold, This Dreamer! pretende descrever aquele indiscritível estado do sono em que dá a sensação que estamos acordados, numa espécie de relaxamento extremo, onde a mente só conseguirá encontrar devidamente o mundo dos sonhos se for embalada pela audição deste disco. E isso acontecerá porque a sonoridade indie rock das canções está carregada de sensações positivas que conseguem persuadir a nossa mente a partir à descoberta de algo otimista e levar-nos até ao tal mundo paralelo para onde muitas vezes somos transportados durante o sono.

A voz de Nate acaba por guiar-nos por um mundo onde a natureza, no seu sentido figurado, é uma forma de fugirmos às agruras diárias e percebermos que o ambiente criado por Behold, This Dreamer! tem o céu como limite e última fronteira; Tal sucede porque estas canções são expansivas e estão, ao mesmo tempo, imbuídas por um forte caráter intimista, como se quisessem obedecer ao nosso desejo de fuga, mas sem deixarmos de ter ao nosso lado uma cerveja bem fria e todos aqueles que mais amamos. Espero que aprecies a sugestão...

01. End Of September
02. So Long
03. Behold, This Dreamer!
04. Mile Long Minutes
05. Sleepwalking Into The Ocean
06. Gentle Hands
07. Below The Avenues
08. Poison
09. Block Island Blues
10. Letters To Catherine
11. Venus
12. Swimming With Minnows

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 19:14

Dan Deacon - America

Domingo, 16.09.12

O canadiano Dan Deacon é um dos artistas mais alternativos do cenário indie atual. Além de colaborar com vários projetos (neste momento anda às voltas com a banda sonora de Twixt, o novo filme de Francis Ford Coppola), já lançou oito discos desde 2003  e no passado dia vinte e oito de agosto, de acordo com o enunciado em Curtas... XXXVIII, chegou America, o seu álbum mais recente, pela primeira vez através da Domino Records, que também abriga os Dirty Projectors, os Hot Chip e os Animal Collective, algumas das bandas concorrentes de Dan Deacon.

Dan Deacon é um mestre a manipular ruídos, texturas, massas instrumentais e as mais inusitadas particularidades sonoras. Dono de uma formação musical erudita, ele encontrou na eletrónica uma forma de sobressair e apaixonado pelas mais complexas formas sonoras produzidas, este músico natural de Nova Iorque acabou por encontrar o seu espaço particular dentro da vanguarda eletrónica que define muita da música norte americana atual. 

Em America, Deacon assume uma postura distinta em relação às bandas que o acompanham na editora e que referi acima. America tem uma sonoridade ainda mais grandiosa que os seus discos anteriores; Mantém-se inventivo e converte o que poderia ser compreendido por uma maioria de ouvintes como meros ruídos em produções volumosas e intencionalmente orientadas para algo épico.

Não estamos na presença de um disco propriamente comercial e acessível, o que desde logo é um enorme elogio que faço ao disco; No entanto, uma audição atenta deixa perceber, em certos momentos, aproximações ao tal cenário musical erudito que todos reconhecemos. A primeira metade do disco ecoa de forma natural e tem o tempero acessível da pop; Mas a partir de Crash Jam, sexta canção do álbum, o rumo passa a ser outro e várias experiências apoderam-se das canções, nomeadamente desconcertante Guilford Avenue Bridge, canção que torna claro que o território assumido por Deacon será completamente outro. Mesmo que o produtor até sugira inicialmente singles em potência (True Thrush), Is A MonsterThe Great American DesertRail Manifest unem elementos da música clássica com batidas esquizofénicas e samples ruidosos que tendem inevitavelmente a resultar num resultado de proporções épicas.

America é, sem dúvida, o trabalho mais coeso, dinâmico e concetual de toda a trajetória do produtor. Melhor exemplo dessa aproximação com um resultado temático está na extensa condução de USA, canção divida em quatro atos e inevitavelmente a maior (em muitos aspectos) criação do artista até aqui.

Tão grande quanto o território que carrega no título, America transporta um infinito catálogo de sons e díspares referências que parecem alinhar-se apenas na cabeça e nos inventos nada óbvios de Deacon. Espero que aprecies a sugestão...

01. Guilford Avenue Bridge
02. True Thrush
03. Lots
04. Prettyboy
05. Crash Jam
06. USA I: Is a Monster
07. USA II: The Great American Desert
08. USA III: Rail
09. USA IV: Manifest

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 20:52

Curtas... LII

Sábado, 15.09.12

Swing Lo Magellan, o disco mais recente dos Dirty Projectors e um dos melhores do ano para esta publicação, é um álbum cuja adição aumenta a cada audição, não só porque mantém a mesma permissa do elogiado antecessor Bitte Orca, mas também porque aproxima esta banda de Nova Iorque de sonoridades mais comerciais e pop.

Foi a pensar nisso que a banda em parceria com a Pitchfork e o Youtube lançaram um filme experimental intitulado Hi Custodian, uma curta metragem que passeia de forma curiosa pelas canções que fazem parte de Swing lo Magellan. Dirigido pelo vocalista e líder David Longstreth, o vídeo leva-nos, durante vinte minutos, por imagens repletas de significados ocultos, doses ponderadas de nonsense e uma sucessão de imagens que se movimentam de acordo com a instrumentação que se escuta.

 

O segundo álbum do coletivo How to Dress Well irá chamar-se Total Less e está prestes a ver a luz do dia. & It Was U é o single mais recente divulgado do disco, que chegará às lojas apenas no dia dezoito de setembro. Bastante melancólica, esta canção deixa a instrumentação e as batidas em segundo plano, para dar a primazia à voz que parece flutuar entre o Michael Jackson dos primeiros discos e a recente explosão de artistas do universo R&B.

& It Was U by How To Dress Well

 

A Californiana Aimee Mann prepara-se para lançar um novo disco ainda neste mês de setembro e a Noise Trade disponibilizou para download gratuito um pequeno EP com cinco canções desta artista que durante os anos oitenta liderou o grupo Til Tuesday. Confere...

 

 

Lançada oficialmente em 1992 no disco The Wayward Bus, Jeremy é uma canção já um pouco esquecida dos The Magnetic Fields de Stephin Merritt. Agora esta composição acaba de ganhar uma nova vida através da instrumentação ruidosa da banda nova iorquina The Pains of Being Pure at Heart. Jeremy  tem agora uma toada mais dançante e distorcida e fará parte do próximo single do grupo, My Life Is Wrong, que será lançado no dia nove de outubro, preparando o terreno para o sucessor do excelente Belong, editado em dois mil e onze.

The Pains of Being Pure at Heart - Jeremy (Magnetic Fields cover) by edespa

 

Pelo visto cantar ou fazer versões em japonês é uma nova moda na cena musical independente. Recentemente os DIIV viram o single How Long Have You Known, um dos destaques de DIIV, totalmente remodelado pelos Moons. A nova canção incorpora uma sonoridade muito mais voltada para a dream pop e a new wave. Confere a versão original e a versão dos Moons.

DIIV:::How Long Have You Known (Moons美愛Version) by Moons .

DIIV "How Long Have You Known" by capturedtracks



No próximo dia vinte e três de outubro o projeto Bat For Lashes vai editar um novo disco intitulado The Haunted Man. Em jeito de antecipação foi disponibilizada a belíssima Marilyn para download grátis na AmazonRecheada de efeitos subtis, teclados, uma percussão controlada e a excelente voz de Natasha Khan, a canção cresce nos nossos ouvidos.

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 16:18

Deerhoof - Breakup Song

Sexta-feira, 14.09.12

De acordo com o que anunciei em Curtas... XLIV, os Deerhoof, uma banda rock de São Francisco, formada por John Dieterich, Satomi Matsuzaki, Ed Rodriguez e Greg Saunier estão de regresso aos discos com onze canções pop carregadas de distorções, pesadas batidas que chocam com o punk e o hip hop, riffs carregados de groove e toda a amálgama desorientada de texturas sonoras que possas imaginar. A rodela chama-se Breakup Song, foi produzida por Greg Saunier e viu a luz do dia no passado dia três de setembro através da Polyvinyl Records.

Vivemos num mundo obcecado por jingles, loops e toques de telemóvel. Alguns sons mais suportáveis que outros, todos fazem parte de uma gigante nuvem sonora que também polui, apesar de não ser tão visível como um céu pintado com espessas nuvens de fumo ou um aterro carregado de lixo. E esta é, digamos assim, a primeira visão que tive quando ouvi este Breakup Song, disponibilizado para streaming no sitio NPR. No entanto, não é propriamente de lixo que falo quando uso a metáfora anterior. Ela serve-me para elogiar o conteúdo de um álbum que, sendo um acumulado de diversos detritos sonoros, tem como trunfo maior a voz da japonesa Satomi Matsuzaki, uma miúda cheia de enrgia, com quem dá vontade de rebolar num jardim e acabar com a boca cheia de húmus e pétalas de jasmins e malmequeres. Isso sucede porque em Breakup Song há rumba e synthpop, rock e hip hop, guitarras, sintetizadores, sinos, tambores, violas e xilofones, uma praga de instrumentos que nos consomem, numa filosofia de montagem de canções em torre, com loopings e riffs até que a tal torre pareça uma canção.

Às vezes este exagero na mistura de ideias e conceitos sonoros corre o risco de ser um pouco irritante e os Deerhoof, a espaços, correm esse risco, atenuado pela duração breve do álbum e por contarem na produção com Greg Saunier, um dos mais talentosos produtores da atualidade. A prova disso está nos primeiros quarenta segundos de To Fly Or Not to Fly, em que os Deerhoof invertem o processo de produção e convencem-nos que algo sonoramente intragável, pode soar bem na mão deles.

Em Breakup Song os Deerhoof comprovam mais uma vez que conseguem ser uma banda caótica e festiva, ao mesmo tempo e darem-nos canções que servem para serem ouvidas em festas excêntricas e em momentos de puro caos e alguma bizarria. Espero que aprecies a sugestão...

01 – Breakup Songs
02 – There’s That Grin
03 – Bad Kids to the Front
04 – Zero Seconds Pause
05 – Mothball the Fleet
06 – Flower
07 – To Fly or Not to Fly
08 – The Trouble With Candyhands
09 – We Do Parties
10 – Mario’s Flaming Whiskers III
11 – FЄte d’Adieu

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 19:01

Jens Lekman – I Know What Love Isn’t

Quinta-feira, 13.09.12

Um ano após o lançamento do EP An Argument With Myself, que divulguei oportunamente, e após um hiato de quase cinco anos no que diz respeito a álbuns, o músico e compositor sueco Jens Lekman está de volta aos discos com I Know What Love Isn't, disco que sucede ao excelente Night Falls Over Kortedala, lançado em 2007 e que chegará aos escaparates no próximo dia quatro de setembro, através da Secretly Canadian.

 

Jens Lekman parece ser dono de um método particular para transformar sentimentos e percepções complexas em composições de acabamento simples e linguagem universal. O amor, as paixões e até em certa dose o erotismo são as principais ferramentas de trabalho de que Lekman se serve para idealizar os seus discos e agora chega ao terceiro registo de estúdio a esbanjar toda essa habilidade como um apaixonado poeta. Este músico é hábil a entender os mais variados sentimentos e confissões humanas e fá-lo de forma peculiar, convertendo simples sentimentos em algo grandioso, épico e ainda assim delicadamente confessional.

Cinco anos depois de ter lançado a sua bora prima, Night Falls Over Kortedala, Lekman não faz deste I know What Love Isn't uma espécie de parte dois desse álbum anterior, tendo optado por aprimorar a delicadeza das canções, arrastando-nos para um cenário novo e renovado onde a paixão dá lugar à saudade, o beijo converte-se em despedida e o que era grandioso serve agora para nos confortar.

Assim, neste I Know What Love Isn't, Lekman dá-nos algo mais intimista, sem a monumental orquestra de 2007, com tudo a soar agora mais controlado, mas igualmente encantador. Devido a essa menor exaltação instrumental, acaba por ser mais evidente a sonoridade rock de Lekman; Por exemplo, em canções como Become Someone Else’s Some Dandruff on Your Shoulder a aproximação do sueco com Morissey é evidente. 

Mas o que importa realmente reter deste novo disco de Jens Lekman é a capacidade que este músico tem de transformar a sua honestidade poética e versos bastante confessionais num mecanismo eficaz de diálogo direto com quem se predispõe a ouvi-lo. Ele consegue traduzir com simplicidade tudo aquilo que gostaríamos de expressar em momentos de maior dor e melancolia. Espero que aprecies a sugestão...

01. Every Little Hair Knows Your Name
02. Erica America
03. Become Someone Else’s
04. Some Dandruff On Your Shoulder
05. She Just Don’t Want To Be With You Anymore
06. I Want A Pair Of Cowboy Boots
07. The World Moves On
08. The End Of The World Is Bigger Than Love
09. I Know What Love Isn’t
10. Every Little Hair Knows Your Name

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 13:12

Dead Can Dance – Anastasis

Quarta-feira, 12.09.12

Os australianos  Dead Can Dance  de Brendan Perry e Lisa Gerrard estão de regresso aos discos, dezasseis anos depois de Spiritchaser. O álbum chama-se Anastasis, chegou às prateleiras no inicio de agosto e torna-se no décimo da discografia de um grupo fundamental da história da indie folk dos últimos vinte anos

Anastasis é composto por oito músicas, num total de cinquenta e seis minutos, com o destaque maior para o single Amnesia, que a banda disponibilizou para download no seu sitio, assim como a audição integral do disco.

Um dos maiores trunfos deste conjunto de canções está na decisão da banda em ter abordado a míriade sonora que fez sempre parte do cardápio musical dos Dead Can Dance. Assim, em Anastasis, escuta-se world music, chillwave, dream pop, new age e outras sonoridades mais clássicas e experimentais. Acaba por ser viciante experimentar ouvir o disco várias vezes e ir catalogando mentalmente os universos sonoros abordados e estimulante perceber como eles se relacionam e se fundem nas canções. Este constante sobressalto e variedade sonora ficam ainda mais enriquecidos quando se constatam as diferenças na forma de cantar de Brendan e Lisa Gerrard e o encanto etéreo e celestial com que comunicam entre si.
Logo a abrir, Children of the Sun, começa com uns teclados que criam uma atmosfera envolvente e bastante quente. Depois da bateria, a voz de Perry torna-se o primeiro pilar dessa música, uma voz grave, mas bastante acolhedora e calma. We are the children of the sun, there's room for everyone é uma das frases do refrão; Descreve a raça humana, as suas origens, e constata que, inevitavelmente, somos criações da natureza e a ela nos devemos manter ligados. O som que emanam nesta canção de abertura tem uma toada épica, que se mantém logo na seguinte; Anabasis, com uma percussão fenomenal e bastante diversificada, vai-se construindo aos poucos, através de uma sequência rítmica bastante moderna. Como é normal nos Dead Can Dance, os teclados são cruciais no que toca à criação de um ambiente confortável e familiar para o ouvinte. Em Anabasis é Lisa que canta, provavelmente em grego antigo, visto que é dessa língua e cultura que o título do álbum vem. Uma coisa é certa, os Dead Can Dance são mestres na instrumentação, na forma como tocam e como conjugam todos os instrumentos.
Em Agape dominam sonoridades mais orientais e a voz de Gerrard altera-se em relação à de Lisa em Anabasis, tornando-se mais grave. Ouve-se a canção e imagina-se um cenário tipicamente chinês. Não deixa de ser estimulante a sonoridade dos Dead Can Dance evocar ambientes seculares e, simultaneamente, soar de uma forma tão nova e tão refrescante.
Segue-se Amnesia, canção com um som mais negro, já que as notas que são tocadas evocam um ambiente um pouco mais obscuro, como se a canção ilustrasse um culto secreto, ou um ritual. O piano nesta música é sublime e desempenha um papel fulcral. Os sons ambiente são ao mesmo tempo revitalizantes e algo perturbadores, num sentido bastante agradável. É como se a cena fosse serena, mas em segundo plano estivesse a passar-se algo contrastante. A quinta música chama-se Kiko e é a mais comprida do álbum, com pouco mais de oito minutos. Domina nela, novamente, um som oriental com uma melodia no fundo a puxar para o obscuro; E assim passam rapidamente oito minutos maravilhosos. Rapidamente entra Opium em cena, criando um ambiente sonoro relaxante. A penúltima música chama-se Return of the She-King e começa com uma gaita de foles e um teclado do mais épico que se ouve em Anastasis. A voz de Lisa eleva-a a um patamar elevadíssimo, com uma melodia bastante bonita.
Em suma, ouvir Anastasis é como ouvir um monólogo de Zeus no seu próprio templo. Durante estas oito canções somos levados e elevados ao mesmo nível dos templos mais altos da mitologia grega. Espero que aprecies a sugestão...

01. Children Of The Sun
02. Anabasis
03. Agape
04. Amnesia
05. Kiko
06. Opium
07. Return Of The She-King
08. All In Good Time

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 21:25







mais sobre mim

foto do autor


Parceria - Portal FB Headliner

HeadLiner

Man On The Moon - Paivense FM (99.5)

Man On The Moon · Man On The Moon - Programa 570


Disco da semana 176#


Em escuta...


pesquisar

Pesquisar no Blog  

links

as minhas bandas

My Town

eu...

Outros Planetas...

Isto interessa-me...

Rádio

Na Escola

Free MP3 Downloads

Cinema

Editoras

Records Stream


calendário

Setembro 2012

D S T Q Q S S
1
2345678
9101112131415
16171819202122
23242526272829
30

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.