man on the moon

Os norte-americanos Here We Go Magic, um quinteto liderado por Luke Temple e apoiado por Michael Bloch, Peter Hale, Jen Turner e Kristina Lieberson  lançaram no passado dia oito de Maio A Different Ship, o terceiro e mais recente álbum desta banda de Nova Iorque,  disponivel através da Secretly Canadian e que foi produzido por Nigel Godrich, famoso por já ter trabalhado com Beck e Radiohead, entre outros.

A Different Ship caracteriza-se desde logo pela subtileza com que os Here We Go Magic através dele se afastam do passado recente do grupo e incorporam uma musicalidade prática, concisa e ao mesmo tempo muito mais abrangente, num disco marcado pela proximidade entre as canções, fazendo com que o uso de letras cativantes e de uma instrumentação focada em estruturas técnicas simples amplie os horizontes e antigos limites que por vezes prejudicavam a sonoridade do grupo em Here We Go Magic (2009) e Pigeons (2010). Se antes os Here We Go Magic não pareciam capazes de manter o controle quando pisava em um terreno mais experimental e banhado pela psicadelia pop que estava em voga na época, agora, donos de um som mais firme, cada membro parece assumir uma função de controle, evitando a todo momento que o disco desande, como inevitavelmente acontecia a partir da segunda metade dos lançamentos anteriores.

Nigel Godrich, o engenheiro de som britânico que há mais de quinze anos produz os Radiohead, é quem toma conta desta nova direção, delicada e ao mesmo tempo expansiva, que a banda assume em A Different Ship e arranca o máximo de cada componente do projeto. Com uma participação muito maior do que nos álbuns passados, as guitarras ganham ênfase em loopings hipnóticos e bases suaves acompanhadas de batidas  e outros elementos típicos do krautrock; I Believe In Action e Make Up Your Mind tornam sonoramente bem vísivel visível esta influência, tão bem incorporada anteriormente em grupos como os Neu! ou outros grandes manipuladores do género que surgiram no começo da década de setenta, mas também em grupos mais recentes como os meus prediletos Fujiya & Miyagi. Até Brian Eno e, claro, os Radiohead acabam por ressoar; A bateria em Hard To Be Close lembra muito alguns tiques do In Rainbows, assim como o planeamento instrumental matemático que garante um acabamento límpido e minimalista ao álbum, que segue em ritmo ascendente, porém, controlado até à última canção.

Quanto às letras, divididos entre redutos intimistas e recortes tradicionais esculpidos de forma cíclica, os versos parecem dançar de acordo com a música. É como se para cada acorde, uma estrofe específica fosse montada e reaproveitada posteriormente. Tanto a melancólica Alone But Moving, como Over The Ocean assumem isso, evitando que o álbum atinja uma proposta excessivamente calculada e linear.

Distante de qualquer aproximação que faça dos Here We Go Magic uma espécie de projeto dissidente dos Animal Collective (em Pigeons era inegável a proximidade com o som destes também nova-iorquinos), neste A Different Ship a banda sugere algo menos experimental e que aos poucos os encaminha para a criação de uma sonoridade própria e transparente, através de um disco assertivo, onde Godrich entregou todas as ferramentas e fórmulas necessárias para que a criação de algo verdadeiramente único e imponente e que obriga a crítica a ficar de agora em diante particularmente atenta a esta nova definição sonora dos Here We Go Magic. Espero que aprecies a sugestão...

01 Intro
02 Hard to Be Close
03 Make Up Your Mind
04 Alone but Moving
05 I Believe in Action
06 Over the Ocean
07 Made to Be Old
08 How Do I Know
09 Miracle of Mary
10 A Different Ship