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O fim anunciado do que foi um quase colapso!

Quinta-feira, 31.03.11

Numa época de dificuldades extremas em toda a europa ocidental e em particular no nosso país, existe uma pequena ilha no norte da europa, junto ao círculo polar ártico, que há três anos passou também por tremendas dificuldades económicas e que neste momento está em avançado estado de recuperação, não só da sua economia como da sua própria auto estima. Se essa realidade não serviu de lição para o resto da europa, como forma de prevenção desta crise profunda que todos atravessamos, parece-me que as soluções encontradas por esse povo para recuperarem também não está a fazer escola. Como já devem ter percebido, refiro-me ao exemplo da Islândia.

A Islândia é uma ilha isolada com cerca de 320 mil habitantes e que durante muitos anos viveu acima das suas possibilidades graças a esquemas bancários e que guindaram esse país falaciosamente até ao décimo terceiro lugar no ranking dos países com melhor nível de vida (numa altura em que Portugal detinha o quadragésimo lugar).

Como todos sabemos, a Islândia atravessou uma grande crise económica e social em 2008. Neste momento e como referi, já vê a luz ao fundo do túnel e aproveitou a janela de oportunidade que se abriu com a crise para reestruturar os fundamentos de toda a sua sociedade. Alteraram a constituição e reinventaram a sua própria democracia sem o resto do mundo dar por isso, em parte devido à habitual discrição deste povo, mas também, acredito, por embaraço ou pressão dos governos ocidentais, que rapidamente devem ter percebido que a fórmula encontrada por este povo, alastrando às restantes sociedades europeias, poderia representar um enorme perigo para o status quo instalado. Portanto, é espantoso perceber como a imprensa ocidental ignorou todas estas mudanças e nenhum meio de comunicação de relevo deu informações no momento, pelo menos que me tenha apercebido (e pessoalmente sou uma pessoa bastante atenta a tudo o que diz respeito à islândia). Nos próprios motores de pesquisa da internet é difícil encontrar artigos sobre o tema. E a história recente do país conta-se facilmente...

No auge da crise, em 2008, o povo começou por correr com a direita do poder, sitiando pacificamente o palácio presidencial e também dispensou a esquerda liberal porque se propunha a pôr em prática a mesma política que a direita tinha implementado. De seguida, o mesmo povo pediu e impôs um referendo para determinar se os bancos, que pela sua irresponsabilidade mergulharam o país na crise, deviam ser reembolsados das suas perdas em bolsa, por acharem que os custos das falências bancárias não poderiam ser pagos pelos cidadãos, mas sim pelos acionistas dos Bancos e seus credores. Uma vitória de 93% impôs o não reembolso dos bancos e levou à nacionalização das três principais instituições financeiras do país.

De seguida, as eleições legislativas de 2009, que se realizaram na mítica data de 25 de abril, levaram ao poder uma coligação de esquerda formada por uma aliança de partidos constituída por social-democratas, ex-comunistas e pelo Movimento dos Verdes de esquerda. Foi uma estreia para a Islândia, bem como a nomeação de uma mulher, Johanna Sigurdardottir, para o lugar de Primeiro-ministro. Logo aí ficou também decidida a necessidade de aprovar uma nova constituição, acabar com a economia especulativa do passado em favor de outra produtiva e exportadora e tentar ingressar na UE e no Euro logo que o país estivesse em condições de o fazer.

O culminar deste processo revolucionário sucedeu então no dia vinte e sete de novembro do ano seguinte, quando foi eleita uma assembleia constituinte composta por vinte e cinco simples cidadãos eleitos pelos seus pares e com o objectivo de reescrever a tal nova constituição e subsituir a que já vigorava desde 1944. O novo documento foi pouco tempo depois aprovado e contem certamente lições da crise financeira que tinha atingido em cheio o país.

Após este processo politico, iniciaram-se as indispensáveis reformas de fundo, com o inevitável aumento de impostos, mas amparado por uma reforma fiscal severa. Os cortes na despesa foram inevitáveis, mas houve o cuidado de não colocar à margem os serviços públicos e graças a esta nova política de não pactuar com os antigos interesses neoliberais da banca e com o formato do actual capitalismo, a Islândia conseguiu sair da recessão por volta do terceiro trimestre de 2010.

Hoje os islandeses sabem que não estão a sustentar banqueiros corruptos nem a cobrir as fraudes com que durante anos esses banqueiros acumularam fortunas monstruosas. Sabem também que deram uma lição à banca europeia e mundial, pagando-lhes o juro justo pelo que pediram e não alinhando em especulações. Sabem ainda que o actual governo está a trabalhar para eles e aquilo que é sector público necessário à manutenção de uma assistência e segurança social básica, não foi tocado. Em suma, os islandeses sabem para onde vai cada cêntimo dos seus impostos.
Resumindo, quando por toda a europa a crise está instalada e tornou-se claro que tal se deve ao facto de os povos terem sido sufocados pelo garrote capitalista e aprisionados pela banca e as agências de especulação que visam apenas o lucro dos seus acionistas, a realidade actual da Islândia desvenda-nos uma história em andamento susceptível de quebrar muitas certezas e sobretudo de dar um exemplo concreto às crises que inflamam por toda a europa que é possível a reconquista democrática e colocar no poder cidadãos cuja missão seja estar ao serviço da população.

A Islândia ainda será hoje um país repleto de incertezas e preocupações quanto ao seu futuro. Certamente ainda vive num ambiente de crise, até porque a conjuntura mundial não ajuda e a economia da ilha depende em grande parte da exportação dos seus recursos naturais e do turismo; No entanto já vêm a luz ao fundo do túnel, estão no caminho correto e estou certo que alguns ensinamentos deveriam ser retirados da sua experiência.

 

Fontes:

http://www.cadtm.org/Quand-l-Islande-reinvente-la

http://www.parisseveille.info/quand-l-islande-reinvente-la,2643.html

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publicado por stipe07 às 22:17






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