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Helado Negro – The Last Sound On Earth EP

Quinta-feira, 13.11.25

Pouco mais de ano e meio depois de PHASOR, um disco que esteve em alta rotação na nossa redação no ocaso do inverno de dois mil e vinte e quatro, o projeto Helado Negro, liderado por Roberto Carlos Lange, está de regresso com o anúncio do lançamento de Last Sound on Earth, um novo EP deste artista filho de emigrantes equatorianos e radicado há vários anos nos Estados Unidos. É um registo com cinco canções que viu recentemente a luz do dia com a chancela da Big Dada, a nova etiqueta de Lange.

Os cinco temas de Last Sound On Earth, têm como mote resultarem de um exercício reflexivo levado a cabo pelo artista, no qual imaginou quais seriam os últimos sons que escutaria antes de falecer. O filme Wavelength, assinado por Michael Snow, foi também, de acordo com Lange, um interruptor que acionou no âmago do músico sentimentos e emoções tão díspares como a esperança e o desespero, que acabaram por inspirar o conteúdo deste EP.

More, a composição que abre Last Sound on Earth, uma canção eminentemente sintética, que escorre com desmesurada rugosidade e vibração pelos nossos ouvidos, plena de distorções e de diversos efeitos e sons, alguns cavernosos, acamadas por uma batida plena de groove, dá o mote para o conteúdo filosófico e sonoro do registo, debruçando-se sobre o modo como todos nós, que vivemos numa sociedade tremendamente conetada nas redes sociais e no digital e no virtual, acabamos por nos afundar em instantes prolongados de angústia e de isolamento. Depois, Protector, outro tema eminentemente sintético e um verdadeiro festim de pop eletrónica, acentua o perfil. Por cima de uma batida abrasiva, acomodam-se diversos efeitos, nuances e detalhes, que criam um clima sonoro pleno de distorções, efeitos e sons, um estilo interpretativo que recria uma fronteira muito ténue entre o retro e o futurista, devido também ao elevado espírito lo-fi que exala e que se mantém na cosmicidade ecoante e frenética de Send Receiver, no fugaz sussurro de Zenith e no estilo ambiental e contemplativo de Don't Give It Up Now.

The Last Sound n Earth escorre com desmesurada rugosidade e vibração pelos nossos ouvidos, num resultado final eminentemente experimentalista, que recria um clima que encarna na perfeição o espírito muito particular e simbólico que Helado Negro pretenderá para esta nova etapa da sua carreira e da sua música, que parece ter a bússola definitivamente apontada para as máquinas. Espero que aprecies a sugestão...

01. More
02. Protector
03. Sender Receiver
04. Zenith
05. Don’t Give It Up Now

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publicado por stipe07 às 19:15

Nothing – Cannibal World

Quarta-feira, 12.11.25

Editado em dois mil e catoze, Guilty of Everything foi o trabalho de estreia dos Nothing, uma banda de Filadélfia, que logo nesse primeiro disco clarificou deambular entre a dream pop nostálgica e o rock progressivo amplo e visceral. Após essa estreia, o grupo foi, com mais dois registos no catálogo, Tired Of Tomorrow e Dancing On The Blacktoop, impressionando audiências com um som cativante e explosivo, sempre com fuzz nas guitarras e o nível de distorção no red line, oferecendo, a quem os quisesse ouvir, o melhor da herança do rock alternativo de finais do século passado, suportada por nomes tão fundamentais como os My Bloody Valentine ou os Smashing Pumpkins, só para citar algumas das influências mais declaradas do grupo.

Em dois mil e vinte os Nothing chamaram a nossa atenção com The Great Dismal, o quarto disco do grupo liderado por Dominic Palermo e ao qual se juntam atualmente o guitarrista Doyle Martin, o baixista Bobb Bruno, o baterista Zachary Jones e o guitarrista Cam Smith.Esse álbum era mais um documento essencial para se perceber a progressão do quarteto. Tinha um alinhamento assente na primazia das guitarras, mas também contava com um elevado teor sintético, uma nuance que conferiu ao seu som uma toada muito rica e luminosa e um travo pop que, na verdade, acabou por amenizar o cariz eminentemente sombrio do rock que os Nothing se gabam de saber replicar melhor que ninguém.

Agora, meia década depois, o projeto norte-americano regressa à nossa órbitra à boleia de Cannibal World, o primeiro avanço revelado de A Short History of Decay, o quinto disco da banda, um registo com nove canções, que vai ver a luz do dia a vinte e sete de fevereiro de dois mil e vinte e seis e que terá a chancela da Run For Cover Records.

Crua, suja e rude, Cannibal World assenta a sua filosofia interpretativa no ruido sombrio de guitarras tocadas em reverb, numa postura claramente lo fi, além de um registo percurssivo imponente e vigoroso, nuances importantes para criar o clima shoegaze pretendido, caraterísticas bem vincadas de uma identidade sonora muito própria e que define, sem sombra de dúvida, o melhor adn dos Nothing. Confere Cannibal World e o artwork e a tracklist de A Short History of Decay...

Never Come Never Morning
Cannibal World
A Short History Of Decay
The Rain Don't Care
Purple Strings
Toothless Coal
Ballad Of The Traitor
Nerve Scales
Essential Tremors

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publicado por stipe07 às 20:27

King Hannah – This Hotel Room

Terça-feira, 11.11.25

Sedeada em Liverpool, a dupla King Hannah, formada por Hannah Merrick e Craig Whittle, tem uma curta carreira de menos de meia década, mas já dois excelentes discos, um intitulado I'm Not Sorry, I Was Just Being Me, lançado em dois mil e vinte e dois e Big Swimmer, o sucessor, editado em dois mil e vinte quatro, ambos sob a chancela da insuspeita City Slang.

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Este projeto King Hannah já tinha chamado a atenção da nossa redação perto do natal do ano passado com a cover que criaram para o clássico Blue Christmas, um original de mil novecentos e cinquenta e sete, assinado pelo king Elvis Presley e agora voltam a fazê-lo com o anúncio do lançamento de um single de sete polegadas com os temas This Hotel Room, no lado a) e Look At Miss Ohio, no lado b), este uma cover de um original de Gillian Welch, que faz parte do alinhamento do álbum Jimmy Carter: Man from Plains, que este músico natural de Nova Iorque lançou em dois mil e sete.

Temos para sugestão e escuta neste artigo o principal tema do lançamento, a composição This Hotel Room. É uma canção que brilha no modo como honra os alicerces fundamentais da mais pura indie folk, com destaque para uma bateria complacente e comodamente paciente no modo como acomoda cordas acústicas e eletrificadas, que vão subindo o tom e os decibéis, enquanto criam uma melodia inspirada, que se vai deixando enlear por uma quase impercetível vastidão de arranjos e detalhes e nuances das mais diversas proveniências, que adornam, com um charme intenso, um tema que, entre melancolia, contemplação e experimentalismo, contém uma enorme beleza, emoção e arrojo. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:30

Gorillaz – The God Of Lying (feat. IDLES)

Segunda-feira, 10.11.25

Dois anos e meio depois de Cracker Island, os britânicos Gorillaz, projeto formado por Russell, Noodle, 2D e Murdoc e conduzido pelo enorme Damon Albarn, talvez a única personalidade da música alternativa contemporânea capaz de agregar nomes de proveniências e universos sonoros tão díspares e fazê-lo num único registo sonoro, estão de regresso aos discos com The Mountain, o nono álbum da carreira do projeto, um alinhamento de quinze canções que vai chegar aos escaparates a vinte de março de dois mil e vinte e seis, com a chancela da KONG, etiqueta criada pelo próprio grupo.

The Mountain será mais um disco conceptual, como é hábito nos Gorillaz, pretendendo, neste caso, ser uma espécie de banda sonora de uma festa na fronteira entre este mundo e o seguinte, explorando a jornada da vida e a emoção de existir. Para conseguir isso, o quarteto refugiou-se em Mumbai, na Índia, chegando lá à boleia de passaportes falsos fornecidos a Murdoch, por um mafioso de Nova Iorque. Na metrópole asiática, deixaram-se envolver pelo misticismo local e deixaram fluir corpo e mente pelos terrenos íngremes e montanhosos daquilo a que chamamos vida.

O resultado final desta jornada intimista, produzida pelos próprios Gorillaz, com a ajuda de James Ford, Samuel Egglenton e Remi Kabaka Jr. e gravada nos estúdios no Studio 13, em Londres e Devon, em diversos locais da Índia, incluindo Mumbai, Nova Deli, Rajasthan e Varanasi e em Ashgabat, Damasco, Los Angeles, Miami e Nova Iorque, são quinze canções repletas de participações especiais de excelência, como são os casos de Bizarrap, Black Thought, Anoushka Shankar, Omar Souleyman, Johnny Marr (The Smiths), Mark E. Smith (The Fall), Paul Simonon (The Clash), Yasiin Bey (anteriormente conhecido como Mos Def), os Idles e os Sparks, dos veteraníssimos irmãos Ron e Russell Mael.

The Happy Dictator, uma canção ímpar no modo como recria um verdadeiro oásis de pop sintética, à boleia de uma batida frenética cósmica, um teclado encharcado em sintetizações retro e um sem fim de entalhes, foi o primeiro single divulgado do alinhamento de The Mountain. Em outubro, tivemos a possibilidade de conferir The Manifesto, canção que conta com as participações especiais do rapper argentino Trueno e com um pequeno trecho de Proof, membro dos D12, que faleceu há quase vinte anos, em abril de dois mil e seis. Era uma tema que, de acordo, com Russell Hobbs, o baterista fictício dos Gorillaz, encarnava uma meditação musical recheada de luz e uma viagem do nosso âmago à boleia de batidas. O resultado final foi, como certamente se recordam, um verdadeiro oásis lisérgico e contemplativo, em que world music, R&B, eletrónica, jazzrap e hip-hop, conjuravam entre si com particular deleite e também com a ajuda de vários músicos indianos, nomeadamente os irmãos Amaan Ali Bangash e Ayaan Ali Bangash, Ajay Prasanna, a banda Jea Band Jaipur e o coro Mountain Choir, dirigido por Vijayaa Shanker.

Agora, poucas semanas depois, do alinhamento de The Mountain, temos para escuta The God Of Lying, canção que conta com a participação especial de Joe Talbot, vocalista dos IDLES, artista que induz no tema o seu habitual registo vocal carismático e bastante vincado. Sonoramente, The God Of Lying oferece-nos uma espécie de reggae psicadélico, feito com sintetizadores buliçosos, um registo percussivo anguloso, a cargo do indiano Viraj Acharya e diversos arranjos acústicos algo subtis, dos quais se destacam os que são proporcionados por um banjuri tocado pelo também indiano Ajay Prasanna. Confere...

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publicado por stipe07 às 18:45

Tunng – Anoraks

Domingo, 09.11.25

Quase sete anos depois do excelente Songs You Make At Night, disco que chegou aos escaparates em dois mil e dezoito, à boleia da insuspeita Full Time Hobby, o coletivo britânico Tunng, que está a comemorar em dois mil e vinte e cinco duas décadas de uma respeitável carreira, onde tem misturado, com uma ímpar contemporaneidade e bom gosto, eletrónica e folk, editou, no início do ano, Love You All Over Again, um novo catálogo de canções deste coletivo formado por Mike Lindsay, Sam Genders, Ashley Bates, Phil Winter, Becky Jacobs e Martin Smith.

Tunng revient avec l'album "Love You All Over Again"

Agora,quase no ocaso de dois mil e vinte e cinco, os Tunng lançam um novo tema em formato single intitulado Anoraks, que pretende encerrar em grande um ano intenso para o projeto.

Cordas dedilhadas com astúcia, um clima de fundo cândido assente em subtis texturas eletrónicas e um registo vocal declamativo intenso, são as grandes traves mestras de Anoraks, uma canção que acaba por conter uma curiosa luminosidade e encantamento, tendo origem numa filosofia intepretativa com um adn sem paralelo no panorama alternativo atual. . Confere...

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publicado por stipe07 às 19:33

Midlake - A Bridge To Far

Sexta-feira, 07.11.25

Três anos depois do excelente registo For the Sake of Bethel Woods, os norte-americanos Midlake de Eric Pulido estão de regresso ao formato longa duração com um disco intitulado A Bridge to Far, o sexto da carreira, que acaba de ver a luz do dia com a chancela do consórcio Believe / Bella Union e que conta com várias participações especiais, nomeadamente Madison Cunningham, Hannah Cohen e Meg Lui.

Midlake – A Bridge To Far Review: A career highpoint

Com um alinhamento de dez canções e produzido por Sam Evian, A Bridge To Far reclama, com firmeza, o posicionamento dos seus autores num lugar de relevo do panorama indie e alternativo, nomeadamente naquele espetro sonoro que aposta na riqueza dos detalhes e na sapiência melódica, como traves mestras do processo criativo. De facto, os Midlake sempre tiveram esta apetência para a criação de canções aprazíveis e reluzentes e que, simultaneamente, contendo sempre um elevado grau de acessibilidade, mostrassem o elevado grau de refinamento.

A típica folk norte-americana, feita de cordas reluzentes e com aquele timbre metálico ecoante tão caraterístico, sempre fizeram parte do cardápio da banda e, logo a abrir o disco, a impetuosa Days Gone By plasma praticamente todas as caraterísticas acima descritas, com alguns arranjos de origem sintética a ofereceram ao tema o tal clima intrincado e rico que os Midlake tanto apreciam. Logo a seguir, no tema homónimo, temos um olhar mais contemplativo e, ao mesmo tempo, envolvente, numa canção em que cordas e bateria se entrelaçam com minúcia, convidando as vozes a entrarem numa dança sonora em que elas e os instrumentos foram criativamente coreografados e corresponderam ao milímetro a esse apelo.

Depois de tão auspicioso início, A Bridge To Far, um álbum que se debruça sobre temas tão díspares como o estoicismo, a esperança perante a adversidade e a humildade imposta pelos acontecimentos da vida, entra em alta rotação com The Ghouls, uma composição vibrante e imponente, orquestralmente rica e diversificada, introduzida por um sólido piano e depois conduzida por um registo percurssivo frenético que acama cordas e teclados, num resultado final muito charmoso, emotivo e com um delicioso travo psicadélico.

De seguida, Guardians coloca-nos de novo na senda de uma folk psicadélica bastante evocativa e detalhisticamente rica, com o piano, alguns sopros, uma bateria de forte travo jazzístico e uma viola dedilhada com minúcia, a criarem um dos momentos mais intimistas de um alinhamento que encontra, logo depois, no piano insinuante e no baixo encorpado que sustentam o jazz espacial de Make Haste, o verdadeiro âmago de quase quarenta minutos recheados de canções soberbas no modo como suportam, sem receio, ténues e quase indefinidas fronteiras entre delicadeza e epicidade, muitas vezes numa mesma composição.

Eyes Full Of Animal, um tema que vai crescendo em arrojo e emotividade, mostra bem essa faceta de A Bridge to Far em que a ostentação sonora não é feita gratuitamente, mas de modo bastante calculado. Esta canção tem no balanço quase hipnótico da bateria o sustento perfeito para uma acomodação quase indecifrável de uma diversidade instrumental que é, sem uma audição muito atenta, praticamente impossível de nomear na sua totalidade.

Até ao ocaso de A Bridge To Far, os saxofones vigorosos de The Calling, uma inesperada explosão de cores e de sentimentos, a curiosa abordagem que é feita à eletrónica de cariz mais ambiental em Within/Without, outra composição que impressiona pelo modo como os sons se sobrepôem em subtis camadas e o clima onírico e pastoral da encorajadora The Valley Of Roseless Thorns são outros momentos altos de um álbum sólido, com um ritmo bastante natural do início ao fim e bastante espontâneo e quente, principalmente no modo como exala uma dinâmica muito singular e, em simultâneo, uma forte e marcante faceta emocional.

Em suma, se o resultado final de A Bridge To Far não deixa de ser vistoso, a verdade é que é também profundamente comovente, até no modo como nos mostra que os Midlake investiram muito de si próprios e da sua exposição pessoal perante o mediático, naquele que é o conteúdo do registo. Essa coragem, geralmente universalmente incompreensível, é sempre de realçar e de elogiar e ainda mais quando acontece de modo tão deslumbrante e bonito. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 19:07

GUM – Expanding Blue

Quinta-feira, 06.11.25

GUM é um projeto a solo liderado pelo australiano Jay Watson, um músico com ligações estreitas aos POND e aos Tame Impala, que em dois mil e vinte e três fez faísca pela primaira vez no nosso radar devido a um disco intitulado Saturnia, um alinhamento de dez canções que viu a luz do dia no final do verão desse ano e que sucedeu ao registo Out In The World, que o artista lançou em dois mil e vinte.

Cerca de um ano depois, em julho de dois mil e vinte e quatro, GUM regressou à nossa esfera sonora devido a um álbum intitulado Ill Times, um alinhamento de dez canções que teve a chancela da p(doom) Records, a etiqueta dos King Gizzard e que Jay Watson incubou a meias com Ambrose Kenny-Smith, um dos elementos fundamentais dos King Gizzard. Este registo era um estrondoso hino à melhor herança do rock psicadélico setentista do século passado, cheio de canções imponentes, repletas de guitarras encharcadas com riffs impetuosos, um perfil orgânico muitas vezes embrulhado por uma vasta pafernália de sintetizações cósmicas, às quais competia um extraordinário papel de adorno, num resultado final repleto de guinadas, interseções, detalhes inesperados e trechos de puro experimentalismo.

Agora, na reta final de dois mil e vinte e cinco, Jay Watson oferece-nos um novo tema, um composição intitulada Expanding Blue. Mantendo o ADN identitário deste projeto GUM, Expanding Blue, uma canção sobre as sensações de serendidade e de liberdade que um amor correspondido oferecem-nos sempre, permite-nos contemplar quase cinco minutos sonoros de acusticidade ecoante e contemplativa, feitos com guitarras dedilhadas com minúcia e alguns arranjos de outros instrumentos de cordas, acompanhados por um subtil piano insinuante e por diversos efeitos de proveniência sintética que oferecem ao tema o indispensável travo lisérgico que este projeto carrega sempre consigo, independentemente da carga emotiva das suas composições. Confere...

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publicado por stipe07 às 18:06

Damien Jurado – Private Hospital

Quarta-feira, 05.11.25

O norte-americano Damien Jurado atravessa, claramente, desde há algum tempo para cá, uma das fases mais profícuas da sua já longa carreira. Depois de na primavera de dois mil e vinte e um ter editado o excelente registo The Monster Who Hated Pennsylvania, regressou, no verão do ano seguinte, com um novo disco também monstruoso, intitulado Reggae Film Star e em dois mil e vinte e três lançou Sometimes You Hurt The Ones You Hate, o décimo nono registo de originais deste músico e compositor natural de Seattle, um trabalho que, como é habitual neste artista, teve a chancela da Maraqopa Records, a sua própria etiqueta.

Damien Jurado — Little Saint

Agora, exatamente dois anos depois, Damien Jurado está de regresso com um novo compêndio de originais intitulado Private Hospital, uma coleção de onze músicas produzidas pelo próprio e que, contando com as contribuições especiais de Lacey Brown, Aura Ruddell, Zach Alva e Stevan Alva, proporcionam-nos, em pouco mais de trinta e dois minutos, um novo festim de indie pop rock luxuriante e vibrante, caraterísticas bem patentes logo em Celia Weston, o tema de abertura, um tratado de epicidade rugoso e simultaneamente luminoso, que disserta, com sagaz ironia e requinte, sobre o inevitável fim da nossa passagem por esta vida terrena.

Depois de tão imponente abertura, Private Hospital segue a todo o vapor no clima algo psicadélico e tremendamente cinematográfico de Here In The States, uma canção que crítica severamente o caos económico e social em que, na perspetiva do próprio, está mergulhado o país de origem de Jurado, evidenciando, desse modo, uma habitual faceta deste músico, relacionada com a crítica social, sempre sustentada por pontos de vista algo mordazes, mas certeiros e, muitas vezes, encarnados com uma elevada dose de ironia, como é uma vez mais o caso.

O clima mais soturno e ambiental de Hey Pauline, representa, com notável riqueza estilística, as mais recentes experimentações que Jurado, também um mestre da folk, tem colocado em prática, através de instrumentos que habitualmente só fazem parte do cardápio de quem se dedica a criar uma pop de cariz mais sintético. De facto, uma das grandes virtudes de Jurado tem sido, ultimamente, a capacidade de se adaptar aos novos desenvolvimentos tecnológicos e de alargar o seu cardápio instrumental na hora de entrar em estúdio, sem colocar em causa o adn essencial do seu catálogo. O piano eletrónico de forte travo cósmico que conduz Heaven's a Drag é outro exemplo prático desse modus operandi, em que os sintetizadores têm a primazia, mesmo que sejam depois afagados por alguns entalhes percussivos e pelo registo vocal ecoante adocicado de Jurado, num resultado final algo contemplativo.

Private Hospital prossegue em grande estilo em Howard Morton e na robustez de uma batida que sustenta um tema repleto de faustosos arranjos instrumentais, em que cordas, sopros e metais, se vão revezando entre si no predomínio e na liderança da indução de emotividade e charme e altivez a uma composição que balança numa fronteira muito ténue entre o clássico, o retro e o futurista. Depois, Pictures On The Run é um oásis de intimidade com um ligeiro travo a tropicália, um detalhe bastante curioso, mesmo que um sintetizador algo rugoso seja o seu grande sustento sonoro. Já Vampira encontra na mestria de alguns entalhes sintéticos a base que exala um clima amiúde sinistro e inquietante, como é apanágio de uma composição que versa sobre aquilo que uma pessoa sente e faz quando está sobre o efeito de um feitiço inquebrável e não se consegue livrar do mesmo. Private Hospital chega ao seu ocaso em grande estilo, com Call Me, Madam, um tema de forte travo vintage, potenciado por um processo de gravação eminentemente analógico, que coloca as fichas num clima ligeiramente jazzístico.

Em suma, importa dizer, uma vez mais e em jeito de conclusão, que estas novas canções de Damien Jurado, editadas exclusivamente em formato físico de livro, além do digital, sendo, como já vimos, instrumentalmente fartas e filosoficamente tocantes, comunicam com o nosso âmago, através de uma forma de compôr que, algures entre a penumbra e a luz e com uma sofisticação muito própria, é incubada por um dos maiores cantautores e filósofos do nosso tempo, um artista sem paralelo no panorama da indie folk contemporânea. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 17:52

Ed Harcourt – The Low Spirits

Terça-feira, 04.11.25

O músico Ed Harcourt lançou em dois mil e vinte e três um excelente disco intitulado El Magnifico, um alinhamento de doze canções que tinha a chancela do seu próprio selo, Deathless Recordings e que à época sucedeu ao extraordinário compêndio de instrumentais Monochrome To Colour, de dois mil e vinte.

Ed Harcourt | Think Tank NCL

El Magnifico, tinha sido produzido pelo próprio Ed Harcourt e gravado nos seus estúdios estúdios Wolf Cabin, com as canções a serem depois retocadas com a ajuda do produtor Dave Izumi Lynch, nos estúdios Echo Zoo Studio, em Eastbourne. O resultado final foi bastante cinematográfico e evocativo, uma evidência sustentada numa sequência de temas em que entalhes eletrónicos das mais diversas proveniências, um piano repleto de variações rítmicas e cordas insinuantes se abraçavam e contrapunham-se, quase sempre de modo bastante rico e emotivo.

Agora, pouco mais de dois anos depois, Ed Harcourt está de regresso ao nosso radar com o anúncio de um novo disco intitulado Orphic, o décimo primeiro da carreira do artista, um alinhamento de onze canções que terão novamente a chancela da Deathless Recordings. Uma delas é The Low Spirits, a oitava composição da listagem de Orphic.

The Low Spirits é sobre primaveras e recomeços e trata-se de um tema luminoso e intenso e que, apesar de entroncar numa filosofia eminentemente acústica, é instrumentalmente riquíssimo, com especial ênfase para um piano assombroso e um violino bastante charmoso. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:32

The Lemonheads - Love Chant

Segunda-feira, 03.11.25

Quase duas décadas depois de um disco homónimo, os The Lemonheads de Evan Dando estão de regresso ao mesmo formato à boleia de Love Chant, um álbum que viu a luz do dia no início recentemente e que nos faz voltar a sentir aquele clima tão caraterístico, que o cenário indie norte-americano replicou com pujança nos anos noventa do século passado.

The Lemonheads: “Love Chant” - REcos da Realidade

Disco produzido pelo brasileiro Apollo Nove e que resultou de um aturado processo de escrita, composição e maturação, algo bem patente na linha temporal longa que baliza o lançamento de vários dos seus temas em formato single, Love Chant é uma confirmação do elevado grau de astúcia e criatividade, assinado por Evan Dando, a grande força motriz dos The Lemoheads, um músico que é, sem sombra de dúvida, um dos nomes mais relevantes do indie rock das últimas quatro décadas e que, neste rgisto, teve a inestimável ajuda de nomes tão relevantes como J Mascis, líder dos Dinosaur Jr, Juliana Hatfield, Tom Morgan, Bryce Goggin, Erin Rae, John Strohm, Nick Saloman e Adam Green, dos The Moldy Peaches.

Uma das grandes qualidades dos The Lemonheads foi sempre o enorme sentido melódico das suas canções, mesmo que o ruído e a aspereza fizessem parte do cardápio instrumental das mesmas. Em Love Chant, disco gravado no Brasil, essa virtude continua bem presente, ampliada pelo elevado grau de heterogeneidade de pouco mais de trinta e cinco minutos que nos levam facilmente e num abrir e fechar de olhos, do nostálgico ao glorioso, à boleia de uma espécie de indie-folk-surf-suburbano, particularmente luminoso e que acaba por se tornar até viciante, tal é a sua frescura e a proximidade que estabelece com o ouvinte. 

Assim, e olhando para alguns dos grandes momentos do álbum, se em Deep End a banda de Boston oferece-nos um espetacular tratado de indie punk rock, com guitarras exemplarmente eletrificadas e repletas de distorções abrasivas e um baixo e uma bateria arritmados, mas exemplarmente coordenados, a sustentarem uma composição, onde não faltam solos inebriantes e aquele notável espírito garageiro que nos marcou a todos há cerca de três décadas, já em The Key Of Victory, o projeto dá uma guinada completa em quase quatro minutos íntimos e introspetivos, gravados nos míticos estúdios Abbey Road, em Londres e que nos oferecem um portento de acusticidade, em que cordas dedilhadas com astúcia, curiosamente por Apollo Nove e diversos arranjos etéreos, tocados por Erin Rae, oferecem-nos uma peça sonora leve, luminosa e profundamente bela. Pelo meio, a garageira e abrasiva In The Margin proporcionam-nos aquele inconfundível travo grunge que todos conhecemos, através de guitarras encharcadas em fuzz e um registo percussivo frenético, nuances que não deixam de ser também uma das matrizes essenciais do ADN dos The Lemonheads, sempre abertos a novas descobertas e paisagens sonoras. Pelo meio, outro grande momento de Love Chant é a aspera, seca, contundente e também abrasiva Togetherness Is All I'm After, canção que condensa, uma vez mais, alguns dos melhores ingredientes daquele rock alternativo e garageiro, que marcou a juventude da minha geração, mas fá-lo com uma destreza melódica superior e com uma curiosa tonalidade psicadélica. A voz adocicada de Evan Dando, quer neste tema, quer nos restantes, diga-se, acaba por ser o ponto de equilíbrio de toda uma estética sonora muito própria e que acaba por ir ao encontro de um louvável intuíto de nos fazer viajar no tempo e entregar-nos o que queremos ouvir, um disco caseiro e pleno de contemporaneidade, mas também perfumado pela melhor herança do passado.

Em Love Chant não deslumbra apenas a versatilidade instrumental e performativa dos intervenientes, mas também, muitas vezes, o balanço perfeito entre o vigor e a delicadeza dos arranjos, dominados quase sempre pelas cordas, mas, principalmente, pelo tom emocional e profundamente melódico das canções, que plasmam uma evidente maturidade musical de um projeto que ainda se quer mostrar relevante, interventivo e inventivo, através de um dos melhores exemplares de indie rock do ano. Espero que aprecies a sugestão...

 

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publicado por stipe07 às 17:10






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