man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Velhos - Velhos
Gravado e misturado no Estúdio Zeco por João Sozinho e masterizado por Nélson Carvalho no Estúdio SSL Valentim de Carvalho, exceto Manso, canção não masterizada e uma edição conjunta da AMOR FÚRIA e da Flor Caveira, Velhos é o novo registo de originais dos Velhos, um coletivo lisboeta que em nove magníficas canções nos oferece uma das melhores surpresas nacionais sonoras de 2016.
As canções de Velhos têm o curioso efeito de parecerem deambular numa espécie de descontrolado vaivém, sem aparente origem e destino. A falsa lentidão do riff da guitarra de Aberta Nova e o modo como um efeito distorcido se insinua no refrão, são apensas dois dos detalhes que, logo no tema de abertura, nos fazem ter essa impressão de que há aqui algo simultaneamente denso e intrincado, mas também bastante profundo e revelador. O feliz enclausuramento que todos deveríamos sentir pelo menos uma vez na vida e que é descrito em Manso, desfilando perante os nossos ouvidos através dessa matriz sonora, parece ainda mais perene e um daqueles alvos apetitosos, que deve estar ali, num lugar cimeiro dos nossos objetivos mais prementes.
Todo o disco merece dedicada e atenta audição, sendo um exercício ainda mais recompensador se acompanhado por uma interiorização dos diversos poemas musicados, assentando, no geral, em lindíssimas melodias amigáveis e algo psicadélicas, feitas com guitarras distorcidas, mas também momentos mais íntimos e quase silenciosos, onde se canta de modo mais grave e existe uma maior escassez instrumental. Aqui Parado é um tema que nos apresenta, com exatidão, esta ambivalência que, no fundo, é algo fictícia porque o rumo melódico e instrumental que sustenta esta e as outras canções é, apenas, uma forma de apresentar as diversas cargas emotivas que as letras contêm. E depois, no modo como em Dorme a bateria se relaciona com o fuzz da guitarra e os diferentes registos vocais, a solo e em coro, são aspetos que esclarecem-nos que este é um coletivo de músicos único e que também consegue libertar-se de uma certa timidez introspetiva, para se apresentarem, quando é necessário, mais luminosos e expressivos. Aliás, isso também fica plasmado em Casa Comigo, canção que impressiona pelo seu edifício melódico, que oscila entre o épico e o hipnótico, o lo-fi e o hi-fi, com a repetitiva linha de guitarra a oferecer um realce ainda maior ao refrão e as oscilações no volume a transformarem a canção num hino rock, que funciona como um verdadeiro psicoativo sentimental com uma caricatura claramente definida e que agrega, de certo modo, todas as referências internas presentes na sonoridade de Velhos, mas com superior abrangência e cor.
Velhos acaba por ser uma espécie de narrativa espiritual e sem clímax, com uma dinâmica bem definida e muito agradável e, ao longo da sua audição, acabamos, frequentemente, por ter de esquecer tudo aquilo que nos rodeia para conseguirmos saborear devidamente algo grandioso, porque transmite um rol de emoções e sensações com intensidade e minúcia, misticismo e argúcia e sempre com uma serenidade melancólica bastante contemplativa. Espero que aprecies a sugestão...