man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Cigarettes After Sex – Tejano Blue
Já há finalmente sucessor para Cry, o disco que os norte-americanos Cigarettes After Sex lançaram em dois mil e dezanove. O novo trabalho do projeto oriundo de El Paso, no Texas e liderado por Greg Gonzalez, ao qual se juntam Jacob Tomsky, Phillip Tubbs e Randy Miller, chama-se X, e irá ver a luz do dia a doze de julho, com a chancela da Partisan Records.
Tejano Blue é o primeiro single revelado do alinhamento de X, um álbum que, de acordo com o próprio Greg Gonzalez, se debruça sobre um realcionamento amoroso que durou quase meia década, apresentando retratos crus, imagéticos e por vezes obscenos dessa jornada emocional. Este single de apresentação do disco, Tejano Blue, é uma homenagem à música da infância texana que Gonzalez escutava e retrata o desejo de estar com alguém e fazê-lo sentir-se amado e especial para sempre. É uma composição fortemente melancólica e inebriante, com fortes reminiscências na melhor pop ambiental oitocentista, assentando numa melodia sintética planante, que é depois trespassada por uma bateria lenta, mas contundente e pelo falsete sempre impressivo de Greg, num resultado final bastante sedutor e sensual. Confere...
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Cage The Elephant – Neon Pill
Cinco anos depois de Social Cues, os norte americanos Cage The Elephant, de Matt Schultz (voz), Brad Schultz (guitarra), Jared Champion (bateria), Daniel Tichenor (baixo) e Lincoln Parish (guitarra), estão finalmente de regresso com um novo single intitulado Neon Pill. Esta nova canção do projeto natural de Bowling Green, no Kentucky, foi gravada nos Texas e produzida por John Hill.
Neon Pill ainda não traz atrelado o anúncio do sucessor de Social Cues, mas oferece-nos uns Cage The Elephant a manterem bastante firme a bitola que orientou o alinhamento desse disco de dois mil e dezanove e que balançava entre a típica rugosidade daquele rock feito sem adereços desnecessários e a calorosa e acústica pop, tudo misturado com um salutar experimentalismo psicadélico.
De facto, o refrão algo imprevisível e o clima constantemente rugoso, mas melodicamente aditivo de Neon Pill, e a forma como as cordas são manuseadas e produzidas, são detalhes do tema que comprovam a firmeza dos Cage The Elephant no seu propósito de criar sem preocupações estilísticas ou de obediência cega a fronteiras sonoras, concebendo, ao mesmo tempo, canções plenas de originalidade e com uma elevada bitola qualitativa, ao mesmo tempo que brincam com os nossos sentimentos mais íntimos, uma faceta também essencial do adn deste grupo. Confere...
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Devendra Banhart – Flying Wig
Quase meia década depois do álbum Ma (2019), Devendra Banhart está de regresso aos discos com Flying Wig, o seu décimo primeiro registo de originais, um alinhamento de dez canções que viu a luz do dia recentemente, com a chancela da Mexican Summer. Flying Wig foi produzido pela galesa Cate Le Bon que, como certamente se recordam, aparece também nos créditos dos discos mais recentes dos Wilco ou dos Deehunter, tendo sido gravado, segundo rezam as crónicas, pela dupla, Devendra e Cate, numa pequena cabana perdida algures em Topanga Canyon, na América profunda, local onde Neil Young terá vivido durante algum tempo.
Mestre da folk de elevado travo psicadélico, Devendra está cada vez mais focado em se deixar enlear por abordagens sonoras que lhe permitam aguçar o seu espírito criativo através de arsenais instrumentais que incluam, predominantemente, fontes sonoras de origem sintética, de modo a criar canções que tenham um forte cariz soturno e intimista. Ape In Pink Marble, em dois mil e dezasseis, foi uma das abordagens mais bem sucedidas deste autor neste universo sonoro que contém este elevado pendor cósmico que os sintetizadores oferecem e Flying Wig aguça o estilo e consolida a jornada. No entanto, o piano e as guitarras mantêm uma saudável omnipresença, num resultado final que se pode caterizar como uma mescla híbrida bem sucedida entre dois universos distintos mas, como se comprova, de possível conciliação e com resultados frutuosos.
Flying Wig está, portanto, repleto de canções intrincadas, nem sempre de fácil absorção imediata, mas que não deixam de carregar no seu dorso, elegância, requinte e bom gosto. Nun é, talvez, a melhor porta de entrada para a filosofia estilística do álbum; É uma canção que, assentando numa batida sintética algo hipnótica e num teclado anguloso que acomodam um registo vocal grave assertivo, oferece ao ouvinte um composto algo agridoce, mas tremendamente melódico. Depois, a beleza vocal de Sirens, a crua apatia lisérgica de Charger e o aprimorado jogo entre a gentileza e uma certa agressividade que se estabelece no modo como o orgânico e o sintético se entrelaçam no tema homónimo, são outros momentos interessantes de um registo com uma estética muito própria e que nos mergulha em recortes dolorosos de tudo o que abastece o âmago do autor.
Em suma, a impressão imedidata que a audição de Flying Wig deixa no ouvinte é que se trata de um disco tremendamente feminino, sensação que poderá muito bem estar interligada com o facto de o autor ter gravado quase todo o registo envergando um vestido que Cate lhe ofereceu, assim como algumas jóias e adereços. Pensado para tratar a tristeza com um ligeiro sorriso, representando bem todo o arco sentimental que abastece a mente sempre conturbada de Devendra Banhart, este álbum encarna, uma vez mais, sem rodeios, alguns recortes dolorosos e metáforas, sem deixar de ser mais um acervo acessível e encantador da carreira do músico texano. Espero que aprecies a sugestão...
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The Polyphonic Spree – Salvage Enterprise
Os texanos The Polyphonic Spree não são uma banda no sentido mais restrito do termo. São liderados por Tim Delaughter, antigo vocalista dos extintos Tripping Daisy, mas são, de facto, uma instituição, já que têm uma constituição inconstante, que consiste geralmente de uma secção coral, uma dupla de teclistas, um percussionista, um baterista, um baixista, um guitarrista, um flautista, um trompetista, um trombonista, um violinista, um harpista, um trompetista, um tocador de pedal steel e um técnico de efeitos eletrónicos.
Ao longo de uma carreira com mais de duas décadas, os The Polyphonic Spree têm, desde o ano de dois mil, gravitado em torno de diferentes conceitos sonoros e diversas esferas musicais e em cada novo trabalho reinventam-se e quase que se transformam num novo projeto. Independentemente da fórmula, é sempre habitual nos seus álbuns, os The Polyphonic Spree oferecerem ao ouvinte verdadeiras orgias lisérgicas de sons e ruídos etéreos ou orquestrais e que os orientam muitas vezes, e a nós também, em simultâneo, para direções aparentemente opostas, geralmente da indie pop etérea e psicadélica, ao rock experimental.
Assim, dez anos depois de Psychphonic, o último longa duração da banda de Dallas, três do EP We Hope It Finds You Well, que continha um alinhamento de versões de temas selecionados por Delaughter e dois de Afflatus, uma coleção maior de covers, que incluia também as que faziam parte do alinhamento desse We Hope It Finds You Well e revisitações de originais dos The Rolling Stones, The Bee Gees, Daniel Johnston, ABBA, Rush, The Monkees, Barry Manilow, INXS e muitos outros, os The Polyphonic Spree estão de regresso ao formato álbum com Salvage Enterprise, um alinhamento de nove canções que viu a luz do dia com a chancela da Good Records e que, de acordo com Tim, personifica um verdadeiro renascer das cinzas.
Salvage Entreprise, é um portento de indie rock progressivo e experimental. É um disco ambivalente porque se a maioria das suas composições assentam, melodicamente, numa desarmante simplicidade, já que têm sempre como base o dedilhar de uma viola acústica ou a vibração das teclas de um piano, atingem, depois, quase sempre, picos de epicidade indiscritíveis, que transmitem sempre, a quem escuta, uma torrente de emocionalidade e sentimentalismo, a que é difícil ficar alheio e indiferente.
Logo a abrir o registo, Section 44: Galloping Seas é uma verdadeira alegoria a essa tal epicidade. À medida que o tema cresce afagado por cordas singelas, guitarras flashantes, sons nebulosos com ímpar cosmicidade, sinos e ondas do mar, flautas e violinos, conjuram entre si numa canção de enormes proporções. Fica assim dado o mote, com intensidade e robustez, acerca do conteúdo sonoro de quase quarenta e três minutos que têm, clara e descaradamente, a herança dos Pink Floyd como uma influência constante e que se saúda, diga-se.
Depois deste início galopante, mantendo-se as permissas conceptuais, Section 45: Wishful, Brave, And True, oferece-nos um instante de certo modo mais intimista e reflexivo, mas sem deixar de lado uma saudável complexidade, assente numa vastidão de recursos intrumentais orquestrais, que muitas vezes se manifestam quase de modo impercetível mas que, em conjunto, atiçam e envolvem o ouvinte sem nenhum despudor. O modo como um coro de vozes e o violoncelo dão as mãos quase no ocaso do tema, fazem cerrar qualquer punho mais empedernido.
Section 46: Give Me Everything é, de seguida, outro exemplo espetacular do modo como uma simples viola consegue carregar nos braços o peso de uma orquestra inteira sem vacilar nem por um segundo. Ela nunca se deixa abafar e mantém-se sempre firme até ao final de uma canção que rasga o peito e incendeia a alma, como se não houvesse amanhã. Depois, se as flautas, os arranjos percurssivos metálicos e o slide da guitarra de Section 49: Hop Off The Fence sustentam uma espécie de banda sonora perfeita para um conto animado infantil que nos coloca bem no centro de um éden infinitamente primaveril, se a cosmicidade estelar de Section 50: Open The Shores materializa uma das mais bonitas canções de embalar criadas neste milénio, ou se Section 51: Winds Of Summer, é a banda sonora perfeita para abrir os portões do purgatório no dia do juízo final, Section 48 (Shadows On The Hillside) é, em suma, a apoteose de Salvage Enterprise, uma composição que exala uma ímpar e desconcertante melancolia, materializada num permanente slide das guitarras e no modo como essas cordas encaixam no piano, assim como nas já habituais flautas e violinos.
Salvage Enterprise pode ser rock coral, rock sinfónico, rock experimental, rock progressivo, pouco importa. O que toca no âmago do ouvinte, que dedicadamente se deixa absorver sem receio pelo seu conteúdo, é o modo como o seu alinhamento ilustra na perfeição o cariz poético de um grupo ao mesmo tempo próximo e distante da nossa realidade e sempre capaz de atrair quem se predispõe a tentar entendê-lo para cenários complexos, mas repletos de sensações únicas, que só os The Polyphonic Spree conseguem transmitir. Espero que aprecies a sugestão...
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Sun June – Bad Dream Jaguar
Bad Dream Jaguar é o fantástico título do novo trabalho do projeto norte-americano Sun June, um quinteto sedeado em Austin, no Texas e formado por Laura Colwell, Michael Bain, Justin Harris, Sarah Schultz e Stephen Salisbury. Bad Dream Jaguar é o terceiro disco dos Sun June, que se estrearam em dois mil e dezoito com o registo Years, um alinhamento que teve sucessor três anos depois, com o álbum Somewhere.
Bad Dream Jaguar viu a luz do dia no final deste mês de outubro com a chancela da Run For Cover e tem fantásticas canções num alinhamento que vale bem a pena destrinçar. Uma delas é, por exemplo, Get Enough, uma canção que versa, de acordo com a vocalista Laura Colwell, sobre o sonho impossível que ela guarda dentro de si, de que os The Beatles se irão reunir um dia, foi, no final de agosto, como todos certamente se recordam, o primeiro single retirado do seu alinhamento. Refiro-me muito em particular a esta composição, como forma de suscitar no leitor a curiosidade relativamente a um disco que impressiona pelo modo como toca, enquanto navega nas águas escorreitas de uma indie pop, com um delicioso travo a folk, em que cordas, sintetizadores e diferentes nuances percussivas se afagam, com enorme mestria, sedução, romance, lisergia e mistério.
Easy Violence e John Prine, respetivamente a sexta e sétima canções do trabalho, são outras duas canções contundentes e fortemente imersivas, assim como Mixed Bag, uma canção com elevado travo folk, assente em cordas luminosas, um baixo discreto, mas omnipresente e diversos entalhes proporcionados por teclas e bateria, com o registo vocal bastante sedutor de Laura Colwell a ser o detalhe decisivo para conferir ao tema e a todo o disco, uma imagem de marca que é já caraterística indelével do adn Sun June, mestres na criação de canções sempre íntimas, melancolicamente reluzentes e particularmente gráficas. Espero que aprecies a sugestão...
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Black Pumas – Chronicles Of A Diamond
A dupla Black Pumas, formada por Eric Burton e Adrian Quesada, estreou-se nos lançamentos discográficos com um registo homónimo lançado em dois mil e dezanove, um álbum que venceu sete Grammys e recebeu imensos elogios por parte da crítica especializada. Agora, quatro anos depois dessa auspiciosa estreia, a dupla volta a impressionar à boleia de Chronicles of a Diamond, um registo de dez composições produzidas pelo próprio Adrian Quesada e que burilam, ainda mais, uma mescla de estilos, nomeadamente o rock, a soul, o blues, o jazz e o funk psicadélico, um modus operandi que faz já parte do adn Black Pumas.
Honestidade, charme, entrega e uma enorme soul, são alguns dos conceitos chave de um registo que coloca o rock num pedestal com intenso brilho. E o melhor rock é, sem qualquer espécie de dúvida, aquele que agrega descaradamente diferentes nuances, bebe de várias fontes, não teme piscar o olho ao aqui e ao acolá, fazendo tudo isso sem perder a essência marcante de uma forma de criar música que tem, sem qualquer sombra de dúvida e desde os anos cinquenta do século passado, na classe operária negra do lado de lá do atlântico uma das suas grandes forças motrizes. Os Black Pumas são detentores sapientes dessa herança identitária, uma filosofia interpretativa que conhecem melhor que ninguém, porque lhes está no sangue esta faceta simultaneamente híbrida e agregadora, aliada a uma pouco usual empatia entre a dupla, que só se explica pela forte amizade que une Burton e Quesada.
Assim, em Chronicles Of A Diamond embarcamos numa fuastosa viagem roqueira até um universo sonoro feito de majestosidade instrumental, assente quase sempre em cordas eletrificadas com o têmpero certo. É um rock que não se inibe, em momento algum de dar espreitadelas incisivas ao melhor funk jazz contemporâneo, com o amor e as relações passionais ou familiares a estarem na linha da frente do ideário lírico de um rgisto fortemente entalhado e embrulhado numa constante tonalidade psicadélica.
Canções como Angel, composição simultaneamente initmista e intrincada, feita de quase cinco minutos simultaneamente singelos, hipnóticos e plenos de emoção, Mrs. Postman, um divertido e insinuante tema, que impressiona pelo modo como um piano pleno de soul, exemplarmente tocado por JaRon Marshall, convidado especial da dupla, o sustenta, para depois ir recebendo diversos elementos percussivos repletos de groove e More Than A Love Song, a luminosa canção que abre o alinhamento de Chronicles of a Diamond e que assenta numa bateria que marca um ritmo repleto de groove, que recebe depois, de braços abertos, arranjos de cordas agéis e guitarras exuberantes, que versam sobre a simplicidade da vida e o modo como as dificuldades podem ser ultrapassadas se nos unirmos a quem nos quer bem e à comunidade onde vivemos, do mesmo modo que fazem os pássaros quando voam sincronizados todos juntos, são apenas três exemplos, neste álbum, que nos mostram que os Black Pumas não tiveram medo de arriscar e assumir durante a sua concepção, sem apelo nem agravo, a impressiva criatividade e maturidade que já os identifica enquanto projeto musical,
Exímios a contar eventos aparentemente ordinários, mas que ganham, através do seu registo interpretativo exemplar, uma amplitude sentimental ímpar, os Black Pumas criaram, ao segundo disco, uma obra prima discográfica entusiasmante, que leva o ouvinte a rir e a chorar, a refletir e a levitar, ao som de quase quarenta e três minutos feitos com um rock dançante, sensual e tremendamente cativante. Espero que aprecies a sugestão...
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The Polyphonic Spree – Section 48 (Shadows On The Hillside)
Os texanos The Polyphonic Spree não são uma banda no sentido mais restrito do termo. São liderados por Tim Delaughter, antigo vocalista dos extintos Tripping Daisy, mas são, de facto, uma instituição, já que têm uma constituição inconstante, que consiste geralmente de uma secção coral, uma dupla de teclistas, um percussionista, um baterista, um baixista, um guitarrista, um flautista, um trompetista, um trombonista, um violinista, um harpista, um trompetista, um tocador de pedal steel e um técnico de efeitos eletrónicos.
Já tem uma década Psychphonic, o último disco da banda de Dallas, um grupo que tem gravitado em torno de diferentes conceitos sonoros e diversas esferas musicais e que em cada novo trabalho reinventa-se e quase que se transforma num novo projeto. Independentemente da fórmula, é sempre habitual nos seus álbuns, os The Polyphonic Spree oferecerem ao ouvinte verdadeiras orgias lisérgicas de sons e ruídos etéreos ou orquestrais e que os orientam muitas vezes, e a nós também, em simultâneo, para direções aparentemente opostas, geralmente da indie pop etérea e psicadélica, ao rock experimental.
Em dois mil e vinte o grupo editou um EP intitulado We Hope It Finds You Well, na sua página bandcamp, que continha um alinhamento de versões de temas selecionados por Delaughter. Depois, no ano seguinte, em dois mil e vinte e um, chegou-nos ao ouvido Afflatus, uma coleção maior de covers, que incluia também as que faziam parte do alinhamento desse We Hope It Finds You Well e revisitações de originais dos The Rolling Stones, The Bee Gees, Daniel Johnston, ABBA, Rush, The Monkees, Barry Manilow, INXS e muitos outros.
Agora, no início do outono deste ano, os The Polyphonic Spree acabam de anunciar um novo disco que, de acordo com Delaughter, personifica um verdadeiro renascer das cinzas. É um trabalho intitulado Salvage Entreprise, que vai ver a luz do dia a dezassete de novembro, com a chancela da Good Records.
Section 44 (Galloping seas) foi o primeiro single revelado do alinhamento de Salvage Enterprise, uma composição que, como certamente se recordam, esteve em alta rotação na nossa redação muito recentemente. Agora chega a vez de escutarmos Section 48 (Shadows On The Hillside), um tema mais intimista e melancólico que Section 44 (Galloping seas) A, mas que, mesmo assim, não deixa de conter um travo de epicidade, até algo inquietante. O permanente slide das guitarras e o modo como encaixam no piano, assim como as já habituais flautas e violinos, continuam a marcar a sua presença, numa composição que prova que a herança dos Pink Floyd é uma influência constante no processo de composição alicerçado por Tim Delaughter.
Section 48 (Shadows On The Hillside) é, em suma, mais uma canção que ilustra na perfeição o cariz poético de um grupo ao mesmo tempo próximo e distante da nossa realidade e sempre capaz de atrair quem se predispõe a tentar entendê-lo para cenários complexos, mas repletos de sensações únicas, sensações que só a psicadelia dos The Polyphonic Spree consegue transmitir. Confere...
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Midlake & John Grant – Roadrunner Blues vs You Don’t Get To
Todos certamente se recordam de Queen Of Denmark, o fabuloso disco de estreia de John Grant, editado em dois mil e dez e que teve nos créditos de produção o coletivo Midlake. Treze anos depois dessa extraordinária colaboração, Midlake e John Grant voltam a dar as mãos para incubar um curioso EP com duas canções intitulado Roadrunner Blues, mostrando que a magia desta relação entre a banda texana e o músico natural de Denver mantém-se incólume e assertiva.
John Grant é uma personagem muitas vezes ambígua, mas sempre determinada nas suas crenças e convicções acerca de um mundo que, apesar de mentalmente mais aberto e liberal, continua a ser um lugar estranho para quem nunca hesita em ser implacável, mesmo consigo próprio, na hora de tratar abertamente e com muita honestidade e coragem os seus problemas relacionados com o vício de drogas, distúrbios psicológicos, relacionamentos amorosos traumáticos e o preconceito. Na vertente sonora desta relação pouco pacífica com o exterior, os Midlake, que infelizmente nunca conseguiram a notoriedade de Grant, sempre foram, na verdade, uma espécie de porto de abrigo seguro para o músico e este EP com duas canções é mais um capítulo nessa relação estreita e profícua.
Quanto aos Midlake, também tiram, em abono da verdade, proveitos deste abraço fraterno com Grant, porque desde Antiphon, em dois mil e treze, têm tido dificuldade em se manter à tona. Aliás, esse disco já foi muito marcado ausência do vocalista Tim Smith, que abandonou o projeto um ano antes e obrigou o sexteto, que passou a quinteto, a começar do zero e a criar, de certa forma e em termos de sonoridade, aquilo que se pode chamar de uma nova banda. Antífona, uma peça musical religiosa, entoada no canto gregoriano por dois coros, foi, nessa altura, a ideia de banda, de conjunto, de união, de ajuda artística mútua entre os cinco músicos restantes, que se expressa também na relação que os Midlake alimentam com John Grant.
Assim, se em Roadrunner Blues escutamos um portento soul, com uma toada crescente e progressiva, com cascatas de guitarras e de efeitos sintéticos a terem um resultado final muito charmoso, emotivo e com um delicioso travo setentista e psicadélico, já You Don't Let Go é um sofisticado e cósmico tratado sonoro que cruza um vincado espírito shoegaze com alguns dos tiques essenciais do melhor rock alternativo setentista. O piano planante e o detalhe das cordas da guitarra a introduzirem a entrada em cena de guitarras encharcadas num fuzz vigoroso, aprimora, nesta canção, uma sofisticada toada pop que amplia um ambiente particularmente épico e deslumbrante. Uma espetacular colaboração entre dois projetos únicos. Confere...
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Molly Burch – Daydreamer
Dois anos depois do excelente registo Romantic Images, lançado no verão de dois mil e vinte e um e que na altura sucedeu ao excelente First Flower de dois mil e dezanove, a cantora e compositora Molly Burch está de regresso ao formato longa duração com Daydreamer, o seu quinto trabalho, um registo de dez canções, que viu recentemente a luz do dia, com a chancela da Captured Tracks.
Esta artista natural de Austin, no Texas, sente-se claramente confortável naquele terreno sonoro que se carateriza por ambientes algo nebulosos e jazzísticos e que não descuram uma leve pitada de R&B, tendo sempre como base os cânones fundamentais da melhor indie pop atual, que tem tido quase sempre, nas diversas propostas conhecidas mais relevantes, um cariz retro indisfarçável.
É esta a filosofia estilística que norteia o conteúdo de Daydreamer, um álbum muito confessional, como é apanágio em Molly Burch, até porque procura recriar no seu conteúdo alguns dos momentos mais marcantes da sua infância e adoescência e do processo de descoberta da sua própria intimidade e do modo como aprendeu a lidar e a crescer, no contacto com aqueles que a rodearam, com os seus traumas, frustrações e medos.
Canções como Physical, um portento de sensualidade, ou Daydreamer, composição efusiva, que impressiona pelo modo como o refrão sobrevive em redor de um ritmo repleto de groove, marcado por palmas, um buliçoso piano, várias sintetizações cósmicas e uma guitarra charmosa, são exemplos paradigmáticos de um modus operandi que, no fundo, acaba tabém por ser muito feminino, charmoso e emotivo, mesmo tendo um propósito que, à partida, poderá parecer algo perturbador, já que versa imenso sobre insegurança e vulnerabilidade. Tattoo é outro extraordinário tema que cumpre essa função tão íntima. É uma canção dedicada a Lena Loucks, a melhor amiga da juventude de Molly, que faleceu quando ambas tinham dezanove anos, é outra composição que plasma as virtudes interpretativas da autora enquanto contadora de histórias tão suas, num processo de exorcização certamente consciente e que é transversal a todo o conteúdo de Daydreamer. O próprio vídeo de Tattoo acentua essa tónica saudosista, já que contou, na sua concepção, com a colaboração de Mia Loucks, irmã de Lena e nele vê-se a falecida amiga de Molly em algumas situações do quotidiano, evocando, assim, com ímpar beleza e simplicidade, a memória de alguém que era certamente muito especial.
Daydreamer proporciona ao ouvinte uma experiência auditiva única e que dificilmente o deixará indiferente, caso seja apreciador de ambientes sonoros que não deixam de marcar pelo modo como instigam, porque podem ter um perfil claramente identificativo, mas que sonoramente são brisas amenas que proporcionam uma superior sensação de conforto e de esperança. Espero que aprecies a sugestão...
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Sun June – Mixed Bag
Bad Dream Jaguar é o fantástico título do novo trabalho do projeto norte-americano Sun June, um quinteto sedeado em Austin, no Texas e formado por Laura Colwell, Michael Bain, Justin Harris, Sarah Schultz e Stephen Salisbury. Bad Dream Jaguar será o terceiro disco dos Sun June, que se estrearam em dois mil e dezoito com o registo Years, um alinhamento que teve sucessor três anos depois, com o álbum Somewhere.
Bad Dream Jaguar irá ver a luz do dia no final deste mês de outubro com a chancela da Run For Cover e Get Enough, uma canção que versa, de acordo com a vocalista Laura Colwell, sobre o sonho impossível que ela guarda dentro de si, de que os The Beatles se irão reunir um dia, foi, no final de agosto, como todos certamente se recordam, o primeiro single retirado do seu alinhamento.
Depois, em pleno mês de setembro, cerca de três semanas depois dessa novidade, houve nova extração de composições do alinhamento de Bad Dream Jaguar em formato single e em dose dupla, os temas Easy Violence e John Prine, respetivamente a sexta e sétima canções do trabalho, duas canções contundentes e fortemente imersivas. Agora, no início de outubro, Mixed Bag, a terceira composição do disco, é o novo tema que os Sun June revelam em formato single. Mixed Bag é uma canção com elevado travo folk, assente em cordas luminosas, um baixo discreto, mas omnipresente e diversos entalhes proporcionados por teclas e bateria, com o registo vocal bastante sedutor de Laura Colwell a ser o detalhe decisivo para conferir ao tema uma imagem de marca dos Sun June, a criação de canções sempre íntimas, melancolicamente reluzentes e particularmente gráficas. Confere...