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Ride – Last Frontier

Terça-feira, 20.02.24

Cinco anos após This Is Not A Safe Place, os míticos Ride, uma banda britânica nascida em mil novecentos e oitenta e oito e formada por Andy Bell, Mark Gardener, Laurence "Loz" Colbert e Steve Queralt, estão de regresso aos discos à boleia de Interplay, o terceiro registo de originais após a segunda fase da vida do grupo, iniciada em dois mil e quinze, um alinhamento de onze canções que vai ver a luz do dia a vinte e nove de março, com a chancela do consórcio PIAS / Wichita Recordings.

Ride anuncia novo single 'Last Frontier' e detalhes do sétimo álbum  'Interplay'

Grandes mestres do indie fuzz rock, os Ride divulgaram há algumas semanas a primeira amostra de Interplay, uma imponente canção chamada Peace Sign, cheia de guitarras inebriantes e abrasivas, sintetizações cósmicas e um registo percurssivo fenético e algo hipnótico.

Agora, a meio de fevereiro, o grupo de Oxford oferece-nos para audição uma segunda amostra do disco. Trata-se de uma composição intitulada Last Frontier. Foi produzida por Richie Kennedy e impressiona pelo modo como a bateria e o baixo vão replicando diversas nuances rítmicas, à medida que uma melodia com um elevado travo nostálgico setentista é exemplarmente sustentada por uma vigorosa guitarra que mantém sempre um nível de distorção e de eletrificação exemplar. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:45

DIIV – Brown Paper Bag

Domingo, 18.02.24

Meia década depois de Deceiver, os DIIV de Zachary Cole-Smith, Andrew Bailey, Colin Caulfield e Ben Newman estão de regresso aos discos com Frog In Boiling Water, o quarto compêndio de originais da carreira da banda nova-iorquina que se estreou em dois mil e doze com o extraordinário álbum Doused. Com Chris Coady nos créditos da produção, Frog In Boiling Water terá dez canções e irá ver a luz do dia a vinte e quatro de maio, com a chancela da Fantasy.

DIIV: “Brown Paper Bag” - Música Instantânea

Brown Paper Bag é o primeiro single retirado do alinhamento de Frog In Boiling Water. Trata-se de uma composição imponente mas rugosa, que se vai arrastanto à boleia de um baixo encorpado que acama cascatas de guitarras intensas, abrasivas e sujas, que ampliam os decibeis no refrão, num resultado final simultaneamente ruidoso e melancólico, que encarna um amigável confronto entre o rock alternativo de cariz lo fi e o mais progressivo, feito com um travo shoegaze muito pronunciado. Confere Brown Paper Bag e o artwork e a tracklist de Frog In Boiling Water...

01 In Amber
02 Brown Paper Bag
03 Raining On Your Pillow
04 Frog In Boiling Water
05 Everyone Out
06 Reflected
07 Somber The Drums
08 Little Birds
09 Soul-net
10 Fender On The Freeway

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publicado por stipe07 às 21:01

Pond – Neon River

Domingo, 04.02.24

Pouco mais de dois anos após 9, um disco que colocou os Pond voltados para ambientes sonoros com elevado sentido melódico e uma certa essência pop, numa busca de uma maior acessibilidade e abrangência, a banda liderada por Nick Allbrook, baixista dos Tame Impala, está de regresso com um novo tema intitulado Neon River, que ainda não traz atrelado o anúncio de um novo disco do projeto australiano.

Pond share psychedelic new single 'Neon River' and announce world tour dates

Neon River é uma composição de forte cariz lisérgico, um oásis de luminosidade alimentado por cordas exuberantes, que tanto debitam uma sensibilidade acústica ímpar, como se deixam alimentar por um combustível eletrificado que inflama raios flamejantes que cortam a direito distorções inebriantes, plenas de fuzz e acidez, sendo depois trespassadas por sintetizações cósmicas efervescentes, num resultado final que, qual odisseia em tecnicolor, mistura com mestria synth pop com rock psicadélico. Confere...

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publicado por stipe07 às 20:32

The KVB – Labyrinths

Quarta-feira, 31.01.24

Os londrinos The KVB construiram na última meia década um firme reputação que permite afirmar, com toda a segurança, que são, atualmente, uma das melhores bandas a apostar na herança do krautrock e do garage rock, aliados com o pós punk britânico dos anos oitenta. Formados pela dupla Nicholas Wood e Kat Day, os The KVB deram nas vistas em dois mil e dezoito com o registo Only Now Forever, criaram semelhante impacto no ano seguinte com o EP Submersion e, em dois mil e vinte e um com o disco Unity e no verão do ano passado enriqueceram ainda mais o seu catálogo à custa de Artefacts (Reimaginings From The Original Psychedelic Era), um disco que chegou aos escaparates a doze de maio com a chancela da Cleopatra Records, uma etiqueta independente sedeada em Los Angeles. Agora, quase um ano após esse registo, a dupla prepara-se para regressar aos discos com Tremors, um alinhamento de dez canções que irá ver a luz do dia a cinco de abril, com a chancela da Invada Records.

Gravado entre Bristol e Manchester com a ajuda do produtor James Trevascus, Tremors deverá, de acordo com o próprio projeto, aprofundar os conceitos de distopia e apocalipse, que estiveram sempre presentes no ideário lírico dos The KVB, mas de um modo mais pessimista e profundo, abordando também os conceitos de perda, resistência, lamento e aceitação de mudanças inevitáveis.

Labyrinths é o primeiro single revelado do alinhamento de Tremors. É um verdadeiro tratado de indie punk rock progressivo, enérgico e abrasivo, com um travo geral denso, agressivo e sujo, que encontra o seu principal sustento em guitarras encharcadas em distorções vigorosas, na impetuosidade da bateria e na cosmicidade dos sintetizadores, instrumentos que se entrelaçam na construção de uma canção que espreita perigosamente uma sonoridade muito próxima da pura lisergia. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:19

The Smile – Wall Of Eyes

Terça-feira, 30.01.24

Cerca de ano e meio depois de A Light For Attracting Attention, o disco de estreia do projeto The Smile que reúne Thom Yorke e Jonny Greenwood, o chamado núcleo duro dos Radiohead, com Tom Skinner, baterista do Sons of Kemet, a banda está de regresso com um novo álbum intitulado Wall Of Eyes, um alinhamento de oito canções que viu a luz do dia recentemente, com a chancela da XL Recordings.

The Smile 'Wall of Eyes' Review

Já em junho do ano passado tinha ficado a pairar no ar a ideia de que os The Smile teriam na forja um novo disco, quando divulgaram o single Bending Hectic, uma canção que fez parte do alinhamento apresentado pelo trio em alguns dos seus concertos de verão e que, contando com a participação irrepreensível de alguns membros da London Contemporary Orchestra, oferecia-nos, em pouco mais de oito minutos, uma fina e vigorosa interseção entre o melhor dos dois mundos, o do orgânico e o do sintético, de modo exemplarmente burilado. Essa suspeita inicial acabou por se confirmar, materializando-se num disco que agrega nas suas oito composições um fabuloso conteúdo sonoro, lírico e conceptual.

De facto, Wall Of Eyes capitaliza todos os atributos intepretativos do trio que assina os seus créditos e que, partindo dessa base, soube rodear-se de outros músicos que, em momentos chave do álbum, como é o caso do clarinete e do saxofone de Robert Stillman em Read The Room e Friend Of A Friend, ou da flauta de Pete Warehan em Teleharmonic e também em Read The Room, só para citar dois exemplos, foram preponderantes para acentuar um charmoso e contemporâneo ecletismo que materializa uma fina e vigorosa interseção entre o melhor de dois mundos, o do orgânico e o do sintético, de modo exemplarmente burilado, tendo, na sua génese, o jazz como pedra de toque e uma mescla entre rock alternativo e eletrónica ambiental como traves mestras no adorno e na indução de cor e alma a um catálogo de canções de forte cariz intimista e que apenas revelam todos os seus segredos se a sua audição for dedicada.

Logo a abrir o registo, o tema homónimo oferece-nos um portento de acusticidade intimista, sem colocar em causa a personalidade eminentemente rugosa e jazzística do projeto. Cordas dedilhadas com vigor, exemplarmente acompanhadas por um baixo pulsante, sustentam a voz enleante e profundamente enigmática de Yorke, enquanto diversos efeitos se vão entalhando na melodia, ampliando o efeito cinematográfico da mesma. É uma canção repleta de nuances, pormenores, sobreposições e encadeamentos, num resultado final indisfarçadamente labiríntico e que, mesmo não parecendo, guarda em si também algo de grandioso, comovente e catárquico. Depois, Teleharmonic parece querer imobilizar-nos definitivamente porque afunda-nos numa angulosa espiral cósmica hipnotizante, mas o travo progressivo de Read The Room, que paira no regaço de um carrocel psicadélico de sintetizações e distorções e efeitos, logo nos recorda novamente que estas são, acima de tudo, canções feitas para atiçar, inflamar zonas de conforto e deixar definhar apatias e desconsolos.

O disco prossegue e se a robótica guitarra que introduz Under Our Pillows nunca desarma no modo como nos inquieta, enquanto conduz uma abrasiva composição que em pouco mais de seis minutos nos inebria com um punk jazz rock de elevadíssimo calibre, já em Friend Of A Friend, os diversos entalhes sintéticos e alguns sopros, assim como o registo vocal ecoante de Yorke, dão asas a um tema que inicialmente cresce em arrojo e acalma repentinamente para, logo depois, numa espécie de jogo sonoro do toca e foge, deixar-nos, uma vez mais, irremediavelmente presos à escuta.

Até ao ocaso de Wall Of Eyes, a melancolia comovente de I Quit, o bucolismo etéreo e introspetivo de Bending Hectic que, curiosamente, fica ainda mais vincado e realista quando aos seis minutos explode numa majestosa espiral de imediatismo e de rugosidade labiríntica e a longínqua cândura do piano que se insinua em You Know Me!, rematam, com notável nível de destreza, bom gosto e requinte, a essência de Wall Of Eyes, um disco que disserta com gula sobre cinismo, ironia, sarcasmo, têmpera, doçura, agrura, sonhos e esperança, enquanto se torna num portento de indie rock do mais contemporâneo, atual e sofisticado que é possível escutar nos dias de hoje.

De facto, Wall Of Eyes é um álbum excitante e obrigatório, não só para todos os seguidores dos Radiohead, mas também para quem procura ser feliz à sombra do melhor indie rock atual, independentemente do seu espetro ou proveniência estilística. O alinhamento do registo contém uma atmosfera densa e pastosa, mas libertadora e esotérica, materializando a feliz junção de três músicos que acabaram por agregar, no seu processo de criação, o modus operandi que mais os seduz neste momento e que, em simultâneo, melhor marcou a sua carreira, quer nos Radiohead, quer nos Sons Of Kemet. É um disco experimentalista naquilo que o experimentalismo tem por génese: a mistura de coisas existentes, para a descoberta de outras novas. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 13:49

Ride – Peace Sign

Domingo, 14.01.24

Cinco anos após This Is Not A Safe Place, os míticos Ride, uma banda britânica nascida em mil novecentos e oitenta e oito e formada por Andy Bell, Mark Gardener, Laurence "Loz" Colbert e Steve Queralt, estão de regresso aos discos à boleia de Interplay, o terceiro registo de originais após a segunda fase da vida do grupo, iniciada em dois mil e quinze, um alinhamento de onze canções que vai ver a luz do dia a vinte e nove de março, com a chancela do consórcio PIAS / Wichita Recordings.

Ride: “Peace Sign” - Música Instantânea

Os Ride são grandes mestres do indie fuzz rock e, tendo em conta Peace Sign, a composição que abre o registo e a primeira amostra revelada do alinhamento de Interplay, o novo disco da banda de Oxford será um verdadeiro oásis para os amantes desse género sonoro, já que é uma imponente canção, cheia de guitarras inebriantes e abrasivas, sintetizações cósmicas e um registo percurssivo fenético e algo hipnótico.

Peace Sign, um portentoso hino shoegaze, tem origem numa jam session dos Ride, que decorreu, algures em dois mil e vinte e um, nos estúdios OX4 studios, de Mark Gardener e liricamente inspira-se no filme O Alpinista, produzido por Peter Mortimer, Nick Rosen  e que conta a história do visionário alpinista canadiano Marc-André Leclerc. Confere Peace Sign e o artwork e atracklist de Interplay...

01. Peace Sign
02. Last Frontier
03. Light in a Quiet Room
04. Monaco
05. I Came to See the Wreck
06. Stay Free
07. Last Night I Came
08. Sunrise Chaser
09. Midnight Rider
10. Portland Rocks
11. Essaouira
12. Yesterday Is Just a Song

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publicado por stipe07 às 20:47

OS Melhores Discos de 2023 (20-11)

Quinta-feira, 28.12.23

Man On The Moon EP1 - YouTube

20 - Sigur Rós - ÁTTA

ÁTTA é um novo marco e um passo em frente, seguro e maduro, na discografia dos Sigur Rós. Em quase uma hora, o trio avança, talvez definitivamente, rumo à musica de cariz mais clássico e erudito, deixado para trás as guitarras inflamadas em agrestes distorções e uma imponência percurssiva, tantas vezes inigualável, que só o baterista Orri Páll Dýrason sabia como replicar, para se deleitar com um manuseamento tremendamente delicado, despudoradamente calculado e indisfarçadamente belo, do sintético, mesmo se trombones, violinos, harpas ou trompetes continuem a fazer parte da equação. No entanto, é curioso o modo como mesmo através desta guinada conceptual e interpretativa, os Sigur Rós continuam a manter intacto aquele adn muito próprio e único que nos transporta sempre para a típica paisagem vulcânica islandesa, fria e inóspita, já que, à semelhança da restante discografia do trio, este alinhamento é para ser escutado como um único bloco de som, compacto, hermético e aparentemente minimalista, mas rico em detalhes, experiências, nuances e paisagens, como é, num obrigatório e feliz paralelismo, um país tão belo, intrigante e rico como a Islândia.

19 - Dignan Porch - Electric Threads

Noções como crueza, simplicidade, imediatismo, rudeza e aspereza, mas também nostalgia e melancolia, assaltam facilmente a mente de quem escuta, pacientemente, Electric Threads, disponibilizando-se, assim, a embarcar numa viagem contundente rumo aquela indie lo fi e psicadélica do último meio século, que não descura, para se espraiar plena de luz e cor, um travo surf que é sempre tão apelativo. Aparentemente sem grandes pretensões mas, na verdade, de forma claramente calculada, Electric Threads volta a colocar os holofotes sobre os Dignan Porch, já mestres a recriar um som ligeiro, agradável, divertido e simples, mas verdadeiramente capaz de nos empolgar, tendo o louvável intuíto de nos fazer regressar ao passado.

18 - The New Pornographers - Continue As A Guest

Continue As A Guest é um intrincado jogo de luzes e reflexos em forma de música, um disco cheio de brilho e cor em movimento, que tem um alinhamento alegre e festivo e que parece querer exaltar, acima de tudo, o lado bom da existência humana. É, no seu busílis, uma trama orquestral complexa, um festim intrumental em que percussão, sintetizadores, sopros e guitarras, assim como as vozes de Newman e Case, se alternam e se sobrepôem em camadas, à medida que dez composições fluem naturalmente, sem se acomodarem ao ponto de se sufocarem entre si, num caldeirão sonoro criado por um elenco de extraordinários músicos e artistas, que sabem melhor do que ninguém como recortar, picotar e colar o que de melhor existe neste universo sonoro ao qual dão vida e que deve estar sempre pronto para projetar inúmeras possibilidades e aventuras ao ouvinte, assentes num misto de power pop psicadélica e rock progressivo.

17 - Ulrika Spacek – Compact Trauma

Compact Trauma volta a colocar os Ulrika Spacek na órbitra da sua já habitual sonoridade punk, feita com fortes reminiscências naquela faceta sessentista ácida e psicotrópica, burilada, como sempre, com um timbre metálico de guitarra rugoso, acompanhado, quase sempre, por uma bateria em contínua contradição. A filosofia de composição musical destes Ulrika Spacek baliza-se através de um assomo de crueza, tingido com uma impressiva frontalidade, quer lírica quer sonora. Compact Trauma é mais um contínuo exercício insinuante de tornar aquilo que é descrito habitualmente, na música, como algo aparentemente desconexo e texturalmente incómodo, em algo que, quer ritmíca, quer melodicamente, é grandioso, sedutor e instigador, enquanto expressa, com nota máxima, um modo bastante textural, orgânico e imediato de criar música e de fazer dela uma forma artística privilegiada na transmissão de sensações que não deixam ninguém indiferente. De facto, Compact Trauma atesta a segurança, o vigor e o modo criativamente superior como este grupo britânico entra em estúdio para compôr e criar um shoegaze progressivo que se firma com um arquétipo sonoro sem qualquer paralelo no universo indie e alternativo atual.

16 - Teenage Fanclub - Nothing Lasts Forever

A ideia de luz é o foco central de um portentoso alinhamento de dez canções que, no seu todo, encarnam um tratado de indie rock com aquele perfil fortemente radiofónico que sempre caracterizou os Teenage Fanclub. De facto, Nothing Lasts Forever, um álbum encharcado em positividade, sorridente melancolia, inocente intimismo e ponderado pendor reflexivo, é um caminho seguro, retílineo e consistente rumo aquele indie rock que provoca instantaneamente sorrisos de orelha a orelha, independentemente do estado de espírito inicial. É um disco cheio de canções leves, melodicamente sagazes e, se forem analisadas tendo em conta o catálogo já vasto do projeto, são imperiosas no modo como, com uma intensidade nunca vista no quinteto, desbravam caminho até uma mescla contundente entre os primórdios da indie folk, a britpop e o melhor rock oitocentista. Nothing Lasts Forever é calor e luz, mas ouve-se em qualquer altura do ano. Intenso, poético e cheio de alma, exala um sedutor entusiasmo lírico, uma atmosfera sempre amável e prova que, quando os intérpretes têm qualidade, escrever e compôr boa música não é uma ciência particularmente inacessível. Aliás, para os Teenage Fanclub nunca foi.

15 - Jonathan Wilson - Eat The Worm

Eat The Worm é uma obra criativa única e indispensável, incubada por um autor que gosta de cantar e contar na primeira pessoa e assumir, ele próprio, o protagonismo das histórias que nos relata, enquanto prova ao mundo inteiro, mais uma vez, que é imcomparável a recriar diferentes personagens, cenas e acontecimentos, geralmente sempre dentro de um mesmo território criativo, neste caso o cinema. Sonoramente, é uma paleta sonora pintada com rock sinfónico de primeira água, um fabuloso tratado sonoro, tremendamente cinematográfico, que materializa uma espécie de colagem de vários trechos díspares num único alinhamento, enquanto abraça um elevado leque de influências que vão do jazz à folk, passando pelo rock psicadélico e progressivo.

14 - GUM - Saturnia

Nas dez canções de Saturnia Jay Watson executa, com elevada mestria, um exercicio criativo de mescla de diferentes influências, que abraçam todo um arco sonoro que vai do rock progressivo com adn setentista, à pop sinfónica de década seguinte, passando por alguns dos detalhes essenciais do jazz, da folk, do R&B e da própria eletrónica. Existe uma vibe psicadélica incomum, mas prodigiosa, em toda esta amálgama repleta de guinadas, interseções, detalhes inesperados, trechos de puro experimentalismo e, acima de tudo, preenchida com um travo de fragilidade e inocência incomuns.

13 - Woods - Perennial

Perennial é mais uma guinada no percurso sonoro dos Woods. Mantendo o perfil eminentemente indie folk, trespassado por algumas das principais nuances do rock alternativo contemporâneo, é um disco que coloca elevado ênfase num indisfarçável clima jazzístico. O registo coloca a nú a cada vez mais elaborada e eficazmente arriscada filosofia experimental interpretativa de um grupo bastante seguro a manusear o arsenal instrumental de que se rodeia, apostando em composições com arranjos inéditos e que são melodicamente abordados e construídos através de uma perspetiva que se percebe ter resultado de um trabalho aturado de criação que, tendo pouco de intuitivo, diga-se, plasma, com notável impressionismo, a enorme qualidade musical dos Woods. Um dos traços que mais impressionam na audição de Perennial é a quase presunçosa segurança que os autores demonstram na criação e na interpretação de canções que, tendo claramente o adn Woods, não são assim tão óbvias para os ouvintes que conheçam com profundidade a carreira do grupo. Esta sagacidade e esta altivez servem para aumentar ainda mais a pontuação de um trabalho que, sendo eminentemente crú e envolvido por um doce travo psicadélico, passeia por diferentes universos musicais sempre com superior encanto interpretativo e sugestivo pendor pop, traves mestras que melodicamente colam-se com enorme mestria ao nosso ouvido e que justificam, no seu todo, que este seja um dos melhores registos do já impressionante catálogo de uma banda fundamental do rock alternativo contemporâneo.

12 - King Creosote - I DES

Personalidade exímia no modo como retrata uma Escócia repleta de especificidades, com uma cultura milenar e uma história ímpar de sobrevivência, Kenny Anderson utiliza a música como forma de homenagear a terra onde nasceu e sempre viveu, conseguindo, em simultâneo, colocar-nos bem no epicentro de tudo aquilo que o define enquanto pessoa, artista e cidadão. I DES, o seu novo tomo de dez canções e o quinto de uma já notável carreira com a assinatura King Creosote, é um notável catálogo de indie folk majestosa, imponente e, melhor do que isso, melodicamente tocante. Todas as composições do registo têm uma faceta incrivelmente enleante, no modo como nos cativam e nos seduzem, porque mesmo que narrem histórias de angústia, luta contra adversidades, ou de esperança em melhores dias, deixam-nos boquiabertos e, de certo modo, hipnotizados, perante uma indisfarçável beleza melódica que, como é óbvio, só se explica perante a enorme detreza criativa e interpretativa do autor. Um registo percurssivo quase sempre arritmado e vigoroso, teclados hipnóticos e um vasto catálogo de sopros das mais diversas proveniências instrumentais, preenchem o catálogo instrumental de I DES, um álbum portentoso e em que angústia e libertação são sensações que se fundem, quase sem se dar por isso, um modus operandi que resulta num clímax onde não falta um invulgar travo psicadélico. 

11 - Local Natives - Time Will Wait For No One

Time Will Wait for No One é um álbum com uma atmosfera sonora enérgica, mas também com instantes de densidade algo inéditos no percurso discográfico dos Local Natives. É, claramente, um daqueles trabalhos em que uma banda resolve voltar a baralhar e a dar de novo, fazendo-o sem renegar, como é óbvio, o seu passado, mas querendo, com muita força e criatividade, explorar novos caminhos e possibilidades. Assim, neste registo impecavelmente produzido, o quinteto continua a caminhar dentro de uma atmosfera bem delineada e de uma constante proximidade entre as vertentes lírica e musical, algo que ficou logo bem patente logo em Gorilla Manor, a obra de estreia que alicerçou definitivamente o rumo sonoro dos Local Natives, mas o percurso é agora feito num ambiente mais efervescente, opção que demonstra, com objetividade, uma maior consciência musical e um modus operandi ainda mais renovado, emotivo e delicioso.

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publicado por stipe07 às 20:02

The Polyphonic Spree – Salvage Enterprise

Sexta-feira, 01.12.23

Os texanos The Polyphonic Spree não são uma banda no sentido mais restrito do termo. São liderados por Tim Delaughter, antigo vocalista dos extintos Tripping Daisy, mas são, de facto, uma instituição, já que têm uma constituição inconstante, que consiste geralmente de uma secção coral, uma dupla de teclistas, um percussionista, um baterista, um baixista, um guitarrista, um flautista, um trompetista, um trombonista, um violinista, um harpista, um trompetista, um tocador de pedal steel e um técnico de efeitos eletrónicos.

Polyphonic Spree bandleader Tim DeLaughter poses ahead of the release of the band's eighth...

Ao longo de uma carreira com mais de duas décadas, os The Polyphonic Spree têm, desde o ano de dois mil, gravitado em torno de diferentes conceitos sonoros e diversas esferas musicais e em cada novo trabalho reinventam-se e quase que se transformam num novo projeto. Independentemente da fórmula, é sempre habitual nos seus álbuns, os The Polyphonic Spree oferecerem ao ouvinte verdadeiras orgias lisérgicas de sons e ruídos etéreos ou orquestrais e que os orientam muitas vezes, e a nós também, em simultâneo, para direções aparentemente opostas, geralmente da indie pop etérea e psicadélica, ao rock experimental.

Assim, dez anos depois de Psychphonic, o último longa duração da banda de Dallas, três do EP We Hope It Finds You Well, que continha um alinhamento de versões de temas selecionados por Delaughter e dois de Afflatus, uma coleção maior de covers, que incluia também as que faziam parte do alinhamento desse We Hope It Finds You Well e revisitações de originais dos The Rolling Stones, The Bee Gees, Daniel Johnston, ABBA, Rush, The Monkees, Barry Manilow, INXS e muitos outros, os The Polyphonic Spree estão de regresso ao formato álbum com Salvage Enterprise, um alinhamento de nove canções que viu a luz do dia com a chancela da Good Records e que, de acordo com Tim, personifica um verdadeiro renascer das cinzas.

Salvage Entreprise, é um portento de indie rock progressivo e experimental. É um disco ambivalente porque se a maioria das suas composições assentam, melodicamente, numa desarmante simplicidade, já que têm sempre como base o dedilhar de uma viola acústica ou a vibração das teclas de um piano, atingem, depois, quase sempre, picos de epicidade indiscritíveis, que transmitem sempre, a quem escuta, uma torrente de emocionalidade e sentimentalismo, a que é difícil ficar alheio e indiferente.

Logo a abrir o registo, Section 44: Galloping Seas é uma verdadeira alegoria a essa tal epicidade. À medida que o tema cresce afagado por cordas singelas, guitarras flashantes, sons nebulosos com ímpar cosmicidade, sinos e ondas do mar, flautas e violinos, conjuram entre si numa canção de enormes proporções. Fica assim dado o mote, com intensidade e robustez, acerca do conteúdo sonoro de quase quarenta e três minutos que têm, clara e descaradamente, a herança dos Pink Floyd como uma influência constante e que se saúda, diga-se.

Depois deste início galopante, mantendo-se as permissas conceptuais, Section 45: Wishful, Brave, And True, oferece-nos um instante de certo modo mais intimista e reflexivo, mas sem deixar de lado uma saudável complexidade, assente numa vastidão de recursos intrumentais orquestrais, que muitas vezes se manifestam quase de modo impercetível mas que, em conjunto, atiçam e envolvem o ouvinte sem nenhum despudor. O modo como um coro de vozes e o violoncelo dão as mãos quase no ocaso do tema, fazem cerrar qualquer punho mais empedernido.

Section 46: Give Me Everything é, de seguida, outro exemplo espetacular do modo como uma simples viola consegue carregar nos braços o peso de uma orquestra inteira sem vacilar nem por um segundo. Ela nunca se deixa abafar e mantém-se sempre firme até ao final de uma canção que rasga o peito e incendeia a alma, como se não houvesse amanhã. Depois, se as flautas, os arranjos percurssivos metálicos e o slide da guitarra de Section 49: Hop Off The Fence sustentam uma espécie de banda sonora perfeita para um conto animado infantil que nos coloca bem no centro de um éden infinitamente primaveril, se a cosmicidade estelar de Section 50: Open The Shores materializa uma das mais bonitas canções de embalar criadas neste milénio, ou se  Section 51: Winds Of Summer, é a banda sonora perfeita para abrir os portões do purgatório no dia do juízo final, Section 48 (Shadows On The Hillside) é, em suma, a apoteose de Salvage Enterprise, uma composição que exala uma ímpar e desconcertante melancolia, materializada num permanente slide das guitarras e no modo como essas cordas encaixam no piano, assim como nas já habituais flautas e violinos.

Salvage Enterprise pode ser rock coral, rock sinfónico, rock experimental, rock progressivo, pouco importa. O que toca no âmago do ouvinte, que dedicadamente se deixa absorver sem receio pelo seu conteúdo, é o modo como o seu alinhamento ilustra na perfeição o cariz poético de um grupo ao mesmo tempo próximo e distante da nossa realidade e sempre capaz de atrair quem se predispõe a tentar entendê-lo para cenários complexos, mas repletos de sensações únicas, que só os The Polyphonic Spree conseguem transmitir. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 15:45

Horsebeach – In The Shadow Of Her

Terça-feira, 28.11.23

Uma das boas surpresas sonoras de dois mil e dezanove para a nossa redação foi The Unforgiving Current, um alinhamento de dez canções assinado pelos britânicos Horsebeach, um projeto natural de Manchester e formado por Ryan Kennedy (voz) Matt Booth (bateria), Tom Featherstone (guitarra) e Tom Critchley (baixo). Os Horsebeach estrearam-se nos discos há quase uma década com um homónimo, ao qual sucedeu, em dois mil e quinze, Beauty & Sadness, um álbum que, na altura, reforçou a aposta da banda em sonoridades eminentemente etéreas e melancólicas, dentro de um catálogo indie virtuoso, com uma atmosfera particularmente íntima e envolvente, um modus operandi que se vem aprimorando com cada vez maior mestria.

INTERVIEW: Horsebeach - GigslutzGigslutz

Quase no ocaso de dois mil e vinte e três, os Horsebeach estão de regresso aos nosso radar porque têm na forja um novo álbum intitulado Things to Keep Alive, um alinhamento de dez canções que irá ver a luz do dia a vinte e quatro de março do próximo ano e já disponível para reserva no bandcamp do grupo exemplarmente liderado por Ryan Kennedy.

In The Shadow Of Her é o primeiro single divulgado do alinhamento de Things To Keep Alive. É uma composição que assenta num balanço inspirado entre uma rugosidade bastante vincada e uma espécie de pueril majestosidade lo fi, sensações criadas por uma guitarra com um fuzz particularmente vibrante, acompanhada por um registo vocal ecoante e uma bateria multifacetada e bastante omnipresente.

In The Shadow Of Her é o segundo tema do alinhamento de um disco que, de acordo com o próprio Ryan, tem um forte conteúdo autobiográfico porque, à semelhança dos quatro registos anteriores do grupo, reflete sobre a sua própria existência, debruçando-se, neste caso concreto, sobre a luta que o músico travou, nos últimos anos, com alguns problemas relacionados com a sua saúde mental. Confere In The Shadow Of Her e o artwork e a tracklist de Things To Keep Alive...

A Friend By The Lake
In The Shadow Of Her
A Fault In All Of Us
Things to Keep Alive
Let Me Stay In Tonight
Until You
Cinnamon Challenge
Pure Shores
Colourless
Tradition

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Dayzed – Wake Up The Sun

Quinta-feira, 09.11.23

Dayzed é o título de um projeto a solo encabeçado por Josh Prendergast, um músico natural de Melbourne e que se estreou em dois mil e dezassete com um promissor EP intitulado Haze. Agora, no início do verão australiano e do nosso inverno, Dayzed estreia-se no formato longa-duração à boleia de Wake Up The Sun, um belíssimo alinhamento de nove canções que estão estruturalmente balizadas num indie rock abrangente, um exercicio criativo de mescla de diferentes influências que abraçam todo um arco sonoro que vai do rock progressivo com adn setentista, à pop oitocentista e ao espírito alternativo da década seguinte, a última do século passado, sempre com um ímpar espírito shoegaze.

Logo a abrir o registo, o isntrumental que lhe dá nome, escancara o ouvinte num universo sonoro muito peculiar e que alimenta as ilusões de Josh, um claro romântico sonhador que, adivinha-se, vibra com a possibilidade de um mundo mais luminoso, otimista e prazeiroso e menos rotineiro, ruidoso e enevoado. O timbre estridente agudo ecoante da guitarra é, desde logo, uma imagem de marca, que se torna fulgurante na subtilmente arrastada introdução de Tidal Gaze, composição que apresenta, finalmente, o modo impositivo como o autor coloca a sua voz ao serviço de uma trama sonora que quer deixar uma marca indelével no ouvinte, proporcionando-lhe, inicialmente, um apenas aparente caos, mas que rapidamente se torna num exercício auditivo exultante e retemperador.

Como é habitual nos projetos australianos que nos vão chegando aos ouvidos, há algo de majestoso, épico e ecoante na música de Dayzed, certamente fruto da imensidão de um continente ímpar que parece inspirar particularmente a recriação de composições sonoras com uma vibe psicadélica incomum e sempre prodigiosa, diga-se. Mesmo o travo folk de Quicksand deixa-se envolver por cascatas quase incontroladas de sintetizações que, com uma toada crescente e progressiva, ampliam-se no modo como acamam diversos arranjos das mais variadas proveniências, acústicas, eletrificadas e sintéticas. Depois, o reverb da guitarra que sustenta, de modo despudorado, Sometimes, assenta num buliçoso travo grunge, que ajuda a ampliar a sensação de abrangência e de epicidade de um álbum que está, de facto, repleto de arranjos meticulosos e em que o detalhe é um aspeto essencial, mesmo que o ruído seja um fator preponderante na equação, ao longo dos quase quarenta minutos que a sua audição dura. Essa sensação mantém-se, logo a seguir, em Now You Know, uma canção que contém instantes que tanto agarram no tal efeito metálico agudo ecoante da guitarra pelas rédeas para indicar o caminho melódico que o tema deve seguir, como, logo a seguir, oferecem a outra guitarra plena de fuzz e a cascatas de sintetizações estridentes a primazia nessa demanda. Aliás, pouco depois, On The Run, repete esta curiosa impressão.

Want It All acaba por ser a cereja no topo do bolo Wake up The Sun, no modo como, através de um perfil simultaneamente dançante e garageiro, deixa a nu a elevadíssima perícia interpretativa de Josh com a guitarra, mas também com o baixo, evidência que o travo punk lo fi da hipnótica Tunnel Vision atesta com semelhante, ou até superior, mestria.

Banda sonora perfeita para um fim de tarde proolongado e com o sol de frente a dizer-nos adeus, mais do que o dealbar da manhã que o título do disco sugere, Wake Up The Sun quase que nos transporta rumo a essa rotineira jornada cósmica natural que encerra os dias. É um disco imponente, mas também repleto de fragilidades e emoções que consomem todos e cada um de nós, num resultado final repleto de guinadas, interseções, detalhes inesperados, trechos de puro experimentalismo e, acima de tudo, preenchido com um travo de fragilidade e inocência que é, sem dúvida, um dos grandes atributos de Wake Up The Sun. Uma grande estreia de um projeto sagaz, porque é numa espécie de jogo de aparentes contradições entre luz e rugosidade que o ouvinte é, ao longo da sua audição, instigado, seduzido e prendido a um alinhamento que vicia. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 16:05






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