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The KVB – Labyrinths

Quarta-feira, 31.01.24

Os londrinos The KVB construiram na última meia década um firme reputação que permite afirmar, com toda a segurança, que são, atualmente, uma das melhores bandas a apostar na herança do krautrock e do garage rock, aliados com o pós punk britânico dos anos oitenta. Formados pela dupla Nicholas Wood e Kat Day, os The KVB deram nas vistas em dois mil e dezoito com o registo Only Now Forever, criaram semelhante impacto no ano seguinte com o EP Submersion e, em dois mil e vinte e um com o disco Unity e no verão do ano passado enriqueceram ainda mais o seu catálogo à custa de Artefacts (Reimaginings From The Original Psychedelic Era), um disco que chegou aos escaparates a doze de maio com a chancela da Cleopatra Records, uma etiqueta independente sedeada em Los Angeles. Agora, quase um ano após esse registo, a dupla prepara-se para regressar aos discos com Tremors, um alinhamento de dez canções que irá ver a luz do dia a cinco de abril, com a chancela da Invada Records.

Gravado entre Bristol e Manchester com a ajuda do produtor James Trevascus, Tremors deverá, de acordo com o próprio projeto, aprofundar os conceitos de distopia e apocalipse, que estiveram sempre presentes no ideário lírico dos The KVB, mas de um modo mais pessimista e profundo, abordando também os conceitos de perda, resistência, lamento e aceitação de mudanças inevitáveis.

Labyrinths é o primeiro single revelado do alinhamento de Tremors. É um verdadeiro tratado de indie punk rock progressivo, enérgico e abrasivo, com um travo geral denso, agressivo e sujo, que encontra o seu principal sustento em guitarras encharcadas em distorções vigorosas, na impetuosidade da bateria e na cosmicidade dos sintetizadores, instrumentos que se entrelaçam na construção de uma canção que espreita perigosamente uma sonoridade muito próxima da pura lisergia. Confere...

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publicado por stipe07 às 17:19

The Pineapple Thief – Every Trace Of Us

Terça-feira, 09.01.24

Os The Pineapple Thief, uma já mítica banda britânica natural de Sommerset, estão de regresso aos discos com It Leads To Us, oito canções que irão ver a luz do dia a nove de fevereiro do presente ano, por intermédio da Kscope. Este registo sucede a Nothing But The Truth, um extenso álbum que o grupo lançou em dois mil e vinte e um, sendo já o décimo quarto deste coletivo que nasceu em mil novecentos e noventa e nove pela iniciativa de Bruce Soord, ao qual se juntam atualmente Jon Sykes, Steve Kitch, Gavin Harrison e Beren Matthews.

The Pineapple Thief chegam a Portugal em março - LOOK mag

The Frost foi o primeiro single divulgado do alinhamento de It Leads To This, há algumas semanas atrás. Recentemente foi extraído do álbum, também em formato single, o tema Every Trace Of Us. Trata-se de uma composição que obedece à receita habitual em que assenta o processo criativo dos The Pineapple Thief, mestres a incubar canções feitas com guitarras exuberantes e repletas de distorções, acompanhadas por uma bateria e um baixo sempre encorpados e algumas nuances eletrónicas proporcionadas por sintetizadores e samplers, dando assim origem a um indie rock rugoso e fortemente épico, abrilhantado e sustentado por uma voz sempre imponente, o principal fio condutor deste single Every Trace Of Us. Pela amostra, certamente que It Leads To This será mais uma prova de maturidade e acuidade sonora dos The Pineapple Thief, ao mesmo tempo que renovará o arsenal de arranjos e tiques que compôem o já extenso e rico catálogo do projeto. Confere...

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publicado por stipe07 às 18:41

Black Rebel Motorcycle Club – Live At Levitation

Terça-feira, 13.06.23

Criado em Austin no Texas, em dois mil e oito, por membros dos The Black Angels, Levitation é o nome de um movimento que organiza eventos em vários continentes, tendo já passado por Toronto, Vancouver, Paris, Chicago e algumas cidades da América Latina e que tem como grande alvo o indie rock de cariz mais progressivo e psicadélico. Bandas e artistas como os Night Beats, Holy Wave, Ringo Deathstarr e outras, já deram concertos organizados por este movimento, que teve como um dos momentos mais altos um espetáculo que os Black Rebel Motorcycle Club deram em dois mil e treze e que acaba de ser agora editado pela banda, no âmbito da edição deste ano do Record Store Day.

Black Rebel Motorcycle Club: "Little Thing Gone Wild"

Neste Live At Levitation, os Black Rebel Motorcycle Club (BRMC) de Peter Hayes, Robert Levon Been e Leah Shapiro, passam em revista uma carreira que, na altura do concerto, tinha quase década e meia de uma banda que se estreou em 2001 com um extraordinário homónimo e cujo conteúdo fez desta banda de São Francisco os potenciais salvadores do rock alternativo.

Canções como Red Eyes And Tears ou Spread Your Love têm um cunho ainda mais orgânico, visceral e cru do que o respetivo original e Beat The Devils Tattoo é tocada de modo ainda mais experimental que a versão original. São versões ao vivo que vivem das várias transformações que o projeto foi sofrendo, quer estilísticas, quer ao nível do plantel, nuances que moldaram a sobrevivência e o próprio crescimento de um projeto que se abastece de um espetro sonoro muito específico e com caraterísticas bastante vincadas.

O único lamento deste registo é não conter Love Burns, talvez a canção mais imponente da banda. Seja como for, essa lacuna não retira brilho a pouco mais de quarenta minutos que nos oferecem uns Black Rebel Motorcycle Club que talvez não tenham salvo o rock, mas há que ser justo e admitir que se tornaram numa das bandas essenciais deste género musical. Nos primeiros dez anos de existência, mesmo após a estreia e o similar Take Them On, On Your Own, quando infletiram um pouco no rumo e em Howl e quando abraçaram também a country e a folk, não deixaram nunca de perder a sua identidade, que apenas foi um pouco abalada com Baby 81 e The Effects of 333, os dois únicos álbuns dos Black Rebel Motorcycle Club que não me seduzem e que considero terem sido verdadeiros tiros ao lado na valiosa trajetória musical do grupo. Portanto, na primeira década de existência, os Black Rebel Motorcycle Club nem sempre cumpriram a ótima expetativa criada na estreia mas, em 2009, Beat the Devil's Tattoo voltou a colocar o percurso do grupo nos eixos e pessoalmente devolveu-me uma esperança que se confirmou ser justificada, já depois deste Live At Levitation, em Specter At The Feast, um trabalho muito marcado pela morte do pai de Robert, que também era um grande suporte da banda, e que voltou a colocar o trio num caminho certo, que se endireitou definitivamente em Wrong Creatures.

Em suma, Live At Levitation oferece-nos uns Black Rebel Motorcycle Club dentro da sua verdadeira essência, um projeto criador de canções assumidamente introspetivas, nebulosas e viscerais, que além de se debruçarem sobre o quotidiano, estilisticamente se preocupam em colocar o puro rock negro e pesado em plano de assumido destaque. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 20:18

Os Melhores Discos de 2022 (20-11)

Quarta-feira, 28.12.22

Man On The Moon EP1 - YouTube

20 - Pixies - Doggerel

Doggerel é um disco explosivo, vibrante e claramente o trabalho da banda que mais a aproxima da herança feroz que os Pixies nos deixaram há cerca de três décadas. Doggerel também merece exaltação porque não é obra unicamente saída da mente criativa de Black Francis, mas antes uma feliz conjugação de esforços, que inclui o produtor Tom Dalgety (Royal Blood, Ghost) e as contribuições ímpares, quer no processo de escrita, quer no arquétipo das canções, dos restantes membros da banda, o já referido guitarrrista Joey Santiago, o baterista David Lovering e a baixista Paz Lenchantin. Espero que aprecies a sugestão...

19 - Fontaines D.C. - Skinty Fia

Skinty Fia impressiona pela versatilidade e variedade das cordas, sendo um disco conduzido, quase sempre, por uma espetacular linha de baixo, que acama melodias algo hipnóticas e sombrias. O seu conteúdo lírico é eminentemente político, pretendendo personificar ironicamente o ponto de vista de um bem sucedido irlandês que, de modo algo corrosivo, em forma de elogio fúnebre, se congratula com o país onde vive e o orgulho que sente no seu sucesso, mesmo que deite para trás das costas questões tão prementes como a atual política climática de quem o governa e a sua herança histórica.

18 - The 1975 - Being Funny In A foreign Language

Como seria expetável numa banda que nos tem oferecido, disco após disco, um novo labirinto sonoro que da eletrónica, ao punk rock, passando pela pop e o típico rock alternativo lo fi, abraça praticamente todo o leque que define os arquétipos essenciais da música alternativa atual e que tem um líder carismático a liderar as operações e que não receia utilizar a música para exorcizar fantasmas e descobrir caminhos, Being Funny In A Foreign Language é, indiscutivelmente, um álbum com um resultado final de superior grau criativo, com o arquétipo das canções a ser guiado por guitarras, ora límpidas, ora plenas de efeitos eletrificados algo insinuantes, mas com pianos, sopros e uma vasto arsenal de sintetizações a oferecerem à sonoridade geral de um registo de forte pendor nostálgico e enleante, uma profunda gentileza sonora, num ambiente sonoro descontraído, mas extremamente rico e que impressiona e instiga, não deixando indiferente quem se oferece ao prazer de o escutar com deleite.

17 - Destroyer - Labyrinthitis

Labytinthitis é intenso e joga com diferentes nuances sonoras sempre com um espírito aberto ao saudosismo e à relevância inventiva. É um verdadeiro oásis de pop sofisticada em que Bejar eleva a sua escrita críptica e crítica a uma intensidade e requinte nunca antes vistos, rodeado por um grupo de músicos que também já habituou os seus fãs a um espetro rock onde não faltavam de guitarras distorcidas e riffs vigorosos, mas que opta agora, e mais do que nunca, num claro sinal de maturidade e de pujança criativa, por compôr composições que olham de modo mais anguloso para a eletrónica e para ambientes eminentemente clássicos, fazendo-o com superior apuro melódico. 

16 - Preoccupations - Arrangements

Arrangements é um tratado feliz e extraordinariamente bem concebido no modo como utiliza tudo aquilo que é aparentemente apenas rugoso e abrasivo, para passar a ser audível com deleite e de modo harmonioso, mesmo que, a instantes, pareça algo minimal. Por exemplo, canções como Slowly, uma rapidinha rebelde encharcada em nostalgia, mas também Death Of Melody ou Ricochet, que filosoficamente se debruçam sobre o futuro da humanidade, provam, uma vez mais, o modo como este quarteto é contundente a abordar certas questões da nossa contempraneidade que inquietam e assustam, nomeadamente a constante imoralidade de determinadas instituições que, infelizmente, não nos dão a confiança merecida Estando repletas de guitarras encharcadas em distorções metálicas e efeitos ecoantes intensos e que também impressionam pelo registo percussivo enleante e encorpado, não só plasmado numa bateria seca, mas também num baixo imponente, nomeadamente na marcação rítmica, são temas que depois afagam-se em primorosas sintetizações que, dando-lhes o indispensável tempero, acamam a rudeza eficazmente, provando o modo exímio como este quarteto faz da rispidez visceral algo de extremamente sedutor e apelativo.

15 - Papercuts - Past Life Regression

Past Life Regression é mais uma feliz jornada afagada nas nuvens poeirentas da folk pop psicadélica, com nomes como os Spiritualized, Echo & The Bunnymen, ou Leonard Cohen a serem influêcias declaradas, como Jason já admitiu recentemente. É um disco muito marcado pela mudança de Jason Quever para São Francisco, depois de alguns anos a viver em Los Angeles, assim como pela questão pandémica atual e pela tensão politica que continua a dividir uma América muito marcada pelos acontecimentos que na última década têm criado feridas profundas nesse país. O disco pode ser comparado a uma daquelas telas impressivas que exalam emoção e cor por todos os seus milimetros quadrados. É um álbum que, canção após canção, implora pela nossa atenção, que sendo para ele orientada, sacia o nosso desejo de ouvir algo rico, charmoso e tremendamente contemporâneo e que deixa uma marca impressiva firme e de recompensadora codificação.

14 - Damien Jurado - Reggae Film Star

Em doze canções que se esperaiam por pouco mais de meia hora, Reggae Film Star oferece-nos mais um delicado e sublime tratado sonoro, repleto de canções melodicamente irrepreensíveis, instrumentalmente fartas e filosoficamente tocantes, inspiradas num sitcom dos anos setenta para crianças chamado Alice, de que o autor se recorda da sua infância, um expressionismo sonoro que faz com que seja muito comum o ouvinte sentir-se reconhecido em algumas das personagens e das circunstâncias que são descritas e encontrar, ao longo da audição, peças do seu próprio puzzle existencial, enquanto assiste a uma tocante saga emocional.

13 - Josh Rouse - Going Places

Going Places oferece um ambiente sonoro indistinto ao já riquíssimo catálogo de Josh Rouse e reforça, com subtileza e contemporaneidade, aqueles que são alguns pilares identitários essenciais de um músico que parece ser capaz de entrar pela nossa porta com uma garrafa numa mão e um naco de presunto na outra e o maior sorriso no meio, como se ele fosse já da casa, já que consegue sempre revelar-se, nas suas canções, como um grande parceiro, confidente e verdadeiro amigo, um daqueles que não complicam e com o qual se pode sempre contar. Josh Rouse é único e tem um estilo inconfundível no modo como dá a primazia às cordas, sem se envergonhar de colocar a sua belíssima voz também na primeira linha dos principais fatores que ainda tornam a sua música tão tocante e inspiradora.

12 - Elephant - Big Thing

Big Thing é um disco eminentemente solarengo e expansivo, versando sobre os habituais dilemas existenciais, mais ou menos mundanos, da nossa contemperaneidade e, mais concretamente, da geração que vive a transição para a vida adulta.  O arquétipo sonoro das suas dez composições assenta predominantemente num timbre metálico de uma guitarra plena de reverb e de forte pendor experimental e num registo percussivo vincadamente contemplativo, duas nuances transversais ao alinhamento e que acabam por misturar a melhor herança do aclamado rock setentista com uma indecritível pitada de lisergia. É, pois, um álbum que nos oferece um refúgio luminoso e aconchegante, um recanto sonoro sustentado por guitarras melodicamente simples, mas com um charme muito próprio e intenso, principalmente quando a elas se agregam outros arranjos, que acabam por dar um polimento ainda mais charmoso às canções.

11 - Kula Shaker - 1st Congregational Church Of Eternal Love And Free Hugs

1st Congregational Church Of Eternal Love And Free Hugs oferece-nos uma espetacular e efusiante trip psicadélica, através de um alinhamento que personifica uma espécie de cerimónia religiosa, devidamente balizada em alguns dos temas do disco, que são apenas discursos feitos pelo lider religioso de uma seita que pretende espalhar amor pelo mundo inteiro, ou então, pelo menos, pelos ouvintes deste maravilhoso alinhamento. Neste disco, Crispian Mills e os seus companheiros, Alonza Bevan, Paul Winterhart e Henry Broadbent, não tocam e cantam rock n'roll, pregam-no a quem os quiser ouvir e deixar-se levar por uma doutrina que se serve das guitarras, acústicas ou eletrificadas para, com uma ímpar teatralidade e uma inimitável versatilidade estilística, criar grandiosas canções que versam sobre algumas dicotmias que, no fundo, regem a nossa existência mais metafísica: Amor vs. Medo, Deus vs. Lucífer, Liberdade vs. Ditadura, Colonizadores vs. Indígenas e Impérios vs. Rebeliões.

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publicado por stipe07 às 15:20

I LIKE TRAINS – The Spectacle

Quarta-feira, 28.09.22

Já com um histórico de quase duas décadas, visto terem iniciado as lides musicais em dois mil e quatro, os I LIKE TRAINS de Guy Bannister, Alistair Bowis, Simon Fogal, David Martin e Ian Jarrold, regressaram à ribalta há pouco mais de um ano com um disco intitulado Kompromat, uma coleção de nove canções que, à época, sucederam ao excelente The Shallows, de dois mil e doze. Era um registo que, uma vez mais, refletia sobre o estado atual do mundo em que vivemos, nomeadamente a conjuntura politica, uma imagem de marca sempre muito presente neste grupo natural de Leeds.

Leeds Post-Punk Heroes I Like Trains Return with the Video for "The  Spectacle" — Post-Punk.com

Agora, no início de outono de dois mil e vinte e dois, os I LIKE TRAINS voltam à carga com um novo e espetacular tema intitulado The Spectacle. É uma canção que faz uma crítica caústica e contundente ao modo como a classe política utiliza a linguagem e a oratória para controlar as massas a seu belo prazer e que, sonoramente, entronca, claramente, naquela que foi a filosofia estilística de Kompromat.

Portanto, The Spectacle assenta num punk rock de forte cariz progressivo, com uma originalidade muito própria e um acentuado cariz identitário, através da junção crescente de diversos agregados, que atingem o auge interpretativo numa bateria esquizofrénica e fortemente combativa, mas incrivelmente controlada. O resultado final é de proporções incrivelmente épicas, já que desse modus operandi percurssivo às guitarras, passando pelo vigor do baixo, tudo colabora na canção de forma coesa para o esplendor, inclusive o ruído abrasivo, que aqui em vez de magoar, fascina e seduz. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 15:49

Preoccupations – Arrangements

Terça-feira, 13.09.22

Estar permanentemente na linha da frente da reinvenção do rock deve ser uma preocupação constante para os Preoccupations e ainda bem! Como os mais atentos saberão, trata-se de um projeto canadiano formado por Matt Flegel, Mike Wallace, Scott Munro e Daniel Christiansen, que já se chamou Viet Cong ainda nesta vida e que volta a distribuir jogo com Arrangements, um portentoso alinhamento de sete canções, o primeiro lançado pela etiqueta do próprio grupo que cessou a sua ligação à Jagjaguwar.

Preoccupations Announce New Album Arrangements, Share New Song “Ricochet”:  Listen | Pitchfork

De facto, quatro anos depois do registo New Material, os Preoccupations voltam a querer estar na vanguarda da indução de novas nuances e conceitos estilísticos a um género sonoro demasiado abrangente para se poder dizer que são diminutas as possibilidades de lhe acrescentar algo de novo e diferente. Há sempre algo de novo a dar ao rock e a partir do momento em que ele se abriu à própria evolução tecnológica, sem estar preso às amarras da famosa tríade guitarra, baixo e bateria, ainda mais comprido é o espetro que pode ser burilado. E depois, o ruído, uma componente fundamental do melhor rock, quer se queira, quer não e que muito diz a este quarteto, é também uma espécie de poço sem fundo no que diz respeito à margem de manobra que pode dar a quem se predispuser a manupulá-lo com perícia e, diga-se, sentido melódico. E nos dias de hoje, poucas são as bandas que o conseguem fazer melhor que os Preoccupations e, ainda por cima, com elevado sentido pop.

Arrangements é, portanto, um tratado feliz e extraordinariamente bem concebido no modo como utiliza tudo aquilo que é aparentemente apenas rugoso e abrasivo, para passar a ser audível com deleite e de modo harmonioso, mesmo que, a instantes, pareça algo minimal. Por exemplo, canções como Slowly, uma rapidinha rebelde encharcada em nostalgia, mas também Death Of Melody ou Ricochet, que filosoficamente se debruçam sobre o futuro da humanidade, provam, uma vez mais, o modo como este quarteto é contundente a abordar certas questões da nossa contempraneidade que inquietam e assustam, nomeadamente a constante imoralidade de determinadas instituições que, infelizmente, não nos dão a confiança merecida Estando repletas de guitarras encharcadas em distorções metálicas e efeitos ecoantes intensos e que também impressionam pelo registo percussivo enleante e encorpado, não só plasmado numa bateria seca, mas também num baixo imponente, nomeadamente na marcação rítmica, são temas que depois afagam-se em primorosas sintetizações que, dando-lhes o indispensável tempero, acamam a rudeza eficazmente, provando o modo exímio como este quarteto faz da rispidez visceral algo de extremamente sedutor e apelativo.

Não há, na música dos Preoccupations, uma busca pela indução no ouvinte de estados de alma límpidos, puros e aconchegantes e esse é, mesmo que alguns discordem, um dos grandes atributos deste projeto de Calgary. Arrangements cimenta essa permissa que fere porque atinge o âmago, servindo-se de uma matriz sonora algo esquizofrénica e fortemente combativa, mas que frutifica novos detalhes numa mistura de post punk com shoegaze que é, essencialmente, uma fórmula pessoal e onde o ruído não funciona com um entrave à expansão das canções, mas como mais um veículo privilegiado para lhes dar um relevo muito próprio que, sem esse mesmo ruído, os temas certamente não teriam. Tudo isto é uma marca qualitativa de superior calibre porque traduz um saudável experimentalismo e uma espécie de catarse onde reina uma certa megalomania e uma saudável monstruosidade agressiva, aliada a um curioso sentido de estética, que fascina e seduz. Espero que aprecies a sugestão...

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publicado por stipe07 às 15:07

Pink Turns Blue – Not Gonna Take It

Terça-feira, 30.08.22

Os alemães Pink Turns Blue têm no seu núcleo duro a dupla formada por Thomas Elbern (vox, guitars) e Mic Jogwer (vox, bass, and keyboards), que se inspirou num clássico dos Hüsker Dü para dar nome a um projeto que viu a luz do dia em mil novecentos e oitenta e cinco em Berlim. Hoje são um trio porque, entretanto, a ambos juntou-se o baixista Luca Sammuri. Fazem, portanto, parte da primeira geração de bandas que, na Alemanha, cimentaram o rock gótico, que tem, de há quatro décadas para cá, nesse país da Europa um vedadeiro viveiro de bandas do género.

Pink Turns Blue – An Interview with German Darkwave Pioneers - CVLT Nation

Tendo já um apreciável catálogo em carteira, que vale bem a pena destrinçar com minúcia, que começou em mil novecentos e oitenta e sete com o disco If Two Worlds Kiss e que teve como mais recente capítulo o registo Tainted, o décimo da carreira do trio, lançado o ano passado, os Pink Turns Blue preparam-se para regressar aos lançamentos com um EP intitulado Tainted Tour 2022 EP e que, como o próprio nome indica, pretende, em quatro canções, celebrar o regresso dos Pink Turns Blue à estrada, para promover Tainted, depois do período pandémico que fez com que o grupo adiasse uma digressão mundial que teria passagem privilegiada pela América do Norte.

Not Gonna Take It, composição que insere o ouvinte com elevado grau de clareza no adn sonoro típico dos Pink Turn Blues, é o primeiro single revelado deste EP, um tema que reflete sobre o estado atual do mundo em que vivemos, nomeadamente a ditadura do capitalismo e a conjuntura politica atual. É uma majestosa canção, feita com aquele rock que impressiona pela rebeldia com forte travo nostálgico e que contém uma sensação de espiral progressiva de sensações, que tantas vezes ferem porque atingem onde mais dói. Fá-lo assentando num punk rock de forte cariz progressivo, com uma originalidade muito própria e um acentuado cariz identitário, por procurar, em simultâneo, uma textura sonora aberta, melódica e expansiva, mas sem descurar o indispensável pendor lo fi e uma forte veia experimentalista, abertamente nebulosa e cinzenta. Essa atmosfera é percetivel no perfil detalhista das distorções da guitarra, no vigor do baixo, nos sintetizadores vibrantes e, principalmente, num registo percurssivo compacto, que funciona com a amplitude necessária para dar à canção uma sensação plena de epicidade e fulgor. Confere...

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publicado por stipe07 às 15:54

Rid Of Me - Sleep Tonight EP

Segunda-feira, 08.08.22

Os Rid Of Me são Itarya Rosenberg, Mike McGinnis e Mike Howard, um fantástico projeto de noise punk natural de Filadélfia, na Pensilvânia, que se estreou nos discos em dezembro do ano passado com o registo Traveling e que ultimamente se tem notabilizado com a revisitação de alguns clássicos do espetro sonoro que mais admiram, com especial destaque para as covers que criaram dos clássicos My Own Summer, dos Deftones ou Smells Like Teen Spirit, dos Nirvana.

Music | Rid Of Me

Assim, depois de em abril último terem incubado as versões acima referidas, agora chegou a vez de revisitarem outros dois clássicos do indie punk, PDA dos Interpol e Prayer To God, um original dos Shellac. Ambos os temas são respeitados na sua essência, em particular a melódica, mas os Rid Of Me conferem-lhes um travo mais lo fi e cru, dois atributos essenciais do adn deste trio, soberbo a homenagear os seus ídolos, sem desvirtuarem a forte veia experimentalista que os distingue, percetivel, principalmente, na distorção das guitarras, sempre plenas de fuzz e de distorções rugosas e inebriantes. Confere...

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publicado por stipe07 às 11:12

Preoccupations – Death Of Melody

Terça-feira, 02.08.22

Quatro anos depois do registo New Material, os canadianos Preoccupations de Matt Flegel, Mike Wallace, Scott Munro e Daniel Christiansen, voltam finalmente a dar sinais de vida com o anúncio de um novo registo de originais que terá um alinhamento de sete canções. O novo álbum dos Preoccupations chama-se Arrangements e será o primeiro lançado pela etiqueta do próprio grupo que cessou a sua ligação à Jagjaguwar.

Preoccupations Share New Song “Death of Melody” | Under The Radar Magazine

Depois de há algumas semanas termos divulgado por cá Ricochet, o primeiro single conhecido do alinhamento de Arrangements, agora chega a vez de conferirmos Death Of Melody, talvez a composição que mais se aproxima da herança Viet Cong de todo o cardápio que o grupo já divulgou nesta nova vida à sombra do nome Preoccupations.

Death Of Melody é uma canção rugosa e abrasiva, repleta de guitarras encharcadas em distorções metálicas e efeitos ecoantes intensos e que também impressiona pelo registo percussivo enleante e encorpado, não só plasmado numa bateria seca, mas também num baixo imponente, nomeadamente na marcação rítmica. É, em suma, mais uma composição criada num clima marcadamente progressivo e rugoso, provando, uma vez mais, o modo exímio como este quarteto ímpar faz da rispidez visceral algo de extremamente sedutor e apelativo. Confere...

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publicado por stipe07 às 14:28

Preoccupations – Ricochet

Segunda-feira, 20.06.22

Quatro anos depois do registo New Material, os canadianos Preoccupations de Matt Flegel, Mike Wallace, Scott Munro e Daniel Christiansen, voltam finalmente a dar sinais de vida com o anúncio de um novo registo de originais que terá um alinhamento de sete canções. O novo álbum dos Preoccupations chama-se Arrangements e será o primeiro lançado pela etiqueta do próprio grupo que cessou a sua ligação à Jagjaguwar.

Preoccupations (@pre_occupations) / Twitter

Ricochet é o primeiro avanço revelado do alinhamento de Arrangements. É uma contundente canção, que de algum modo condensa todos os atributos sonoros dos Preoccupations, já que nela, cascatas de guitarras e inebriantes sintetizadores situam-se em posição de elevado destaque, um modus operandi estilístico muito identitário e que combina post punk com shoegaze. Na composição o ruído não funciona com um entrave à sua expansão, mas como mais um veículo privilegiado para lhe dar um relevo muito próprio que, sem esse mesmo ruído, Ricochet certamente não teria. É, em suma, uma composição criada num clima marcadamente progressivo e rugoso, mas simultaneamente harmonioso, provando, uma vez mais, o modo exímio como este quarteto ímpar faz da rispidez visceral algo de extremamente sedutor e apelativo. Confere...

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publicado por stipe07 às 12:47






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