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Radiohead – OK Computer: OKNOTOK 1997-2017

Sexta-feira, 23.06.17

Os Radiohead são os verdadeiros Fab Five das últimas três décadas, não só porque ainda estão criativamente sempre prontos a derrubar barreiras e a surpreender com o inesperado, como foi evidente em Moon Shaped Pool há pouco mais de um ano, mas também porque, disco após disco, acabam por continuar a estabelecer novos paradigmas e bitolas pelas quais se vão depois reger tantas bandas e projetos contemporâneos que devem o seu valor ao facto de terem este quinteto de Oxford na linha da frente das suas maiores influências.

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E tudo isto começou quando os Radiohead se tornaram, um pouco inconscientemente, no início dos frenéticos anos noventa, a melhor resposta britânica a um período aúreo do rock norte-americano, mesmo com os Blur e os Oasis, no seu país, na fase mais cintilante da carreira e com interessante aceitação nos Estados Unidos. Logo em Pablo Honey (1993), catapultados em grande medida pelo single Creep, colocaram em sentido milhões de olhares pelo mundo fora, em especial desse outro lado do atlântico, num território onde bandas como os R.E.M., os Nirvana, os Metallica, os Smashing Pumpkins, Red Hot Chili Peppers e Guns N'Roses, eram veneradas e ditavam tendências. E dois anos depois, com o excelente The Bends, os Radiohead afirmaram-se numa certeza; Embarcam numa digressão norte-americana bem sucedida e ficam em posição privilegiada de colocar as cartas na mesa junto da editora que os abriga, onde exigindo liberdade criativa, um estúdio só para si com um caderno de encargos por eles definido e a presença de Nigel Goldrich lá dentro, começam a incubar aquele que será para muitos o melhor álbum da história do rock alternativo, o majestoso e sublime OK Computer.

Vinte anos depois, aquele que viria a ser o terceiro disco do grupo acaba de ser reeditado em dose dupla, com o alinhamento integral da edição original e um segundo compêndio de canções onde constam oito lados b e três músicas inéditas; I Promise, Lift e Man Of War. Desse modo, todas as gravações originais de estúdio de OK Computer, nunca antes lançadas, são remasterizadas das fitas analógicas originais e vêem finalmente a luz do dia com uma edição intitulada OK Computer: OKNOTOK 1997-2017.

Disco com uma dimensão sonora particularmente épica e orquestral, guiado por um cardápio instrumental vasto e onde o orgânico e o sintético se cruzam constantemente, não faltando pianos carregados de cândura e cordas acústicas mas também bastante abrasivas, OK Computer destaca-se pelo típico ambiente algo alienígena, soturno e reflexivo que a banda tão bem soube recriar, uma filosofia que fica impressa logo na distorção da guitarra e na clemência da voz de Thom Yorke, em Airbag. Se esta canção impressiona pelo devaneio melódico e pela miríade de detalhes e efeitos sintetizados que contém, a emoção sensorial amplia-se majestosamente em Paranoid Android, a Bohemian Rapsody dos Radiohead, uma colagem sublime de duas canções distintas, com todos os ingredientes e clichés que estruturam o protótipo de uma canção rock perfeita e que liricamente se situa num terreno muito confortável para Thom Yorke, que sempre gostou de se debruçar sobre o lado mais inconstante e dilacerante da nossa dimensão sensível e de colocar a nu algumas das feridas e chagas que, desde tempos intemporais, perseguem a humanidade e definem a propensão natural que o homem tem, enquanto espécie, de cair insistentemente no erro e de colocar em causa o mundo que o rodeia.

A sociedade contemporânea e, principalmente, a evolução tecnológica que nem sempre respeita o ritmo biológico de um planeta que tem dificuldade em assimilar e adaptar-se ao modo como apenas uma espécie, possuindo o dom único da inteligência, coloca em causa todo um equilíbrio natural, foi, então, já nessa época, um manancial para a escrita de Yorke, na projeção de OK Computer. Assim, além dos temas já referidos, na declamação  do que é uma verdadeira ditadura das massas em Fitter Happier, na nave espacial que se despenha entre os efeitos inebriantes e a guitarra que se insinua em Subterranean Homesick Alien, na soul arrepiante da voz que encoraja um homem perdido nos seus medos e entorpecido na sua dor a partir estrada fora guiado por um espírito maior em Exit Music (For A Film), mas também na distorção bendiana da inquietante guitarra de Lucky ou no passageiro que sai de um comboio num destino ao acaso hipnotizado pela rudeza do piano e pela cândura das cordas que depois se elevam ao alto, à boleia do baixo, em Karma Police, escutamos mais vários exemplos do modo como em OK Computer, metaforicamente, ou indo diretamente ao assunto, este incomparável poeta nos recorda como poderá ser drástico viver em permanentemente desafio com a natureza, sem ter em conta o nosso verdadeiro lugar e posição, no seio da mesma.

Mas o amor é também território fértil para os Radiohead expressarem quer agruras quer instantes de puro deleite e em OK Computer há pelo menos três canções que são particularmente intensas e representativas da beleza desse sentimento máximo. Se no ambiente rugoso e vincadamente corajoso e lutador de Electioneeering transpira um lado mais selvagem do amor e a inevitabilidade do mesmo conseguir sobreviver a todos os desafios se for vivido como a expressão única e definitiva da nossa consciência, já o clima borbulhante e positivamente visceral de Let Down dá ânimo para que finalmente aquele gesto que todos sonhamos um dia conseguir fazer, mas que a timidez ou a insegurança não permitem que se concretize, possa finalmente materializar-se. Depois, No Surprises, mesmo versando metaforicamente sobre o assunto, é aquela canção de amor que tanto embala como derrete o coração mais empedernido e fá-lo sem lágrima gratuita ou qualquer ponta de lamechice.

O segundo disco desta reedição de OK Computer é fundamental para a perceção clara de todo o contexto em que o álbum inicial foi incubado e, pegando nos três temas originais, logo na ternura acústica e contemplativa de I Promise se percebe o potencial das canções que acabaram por ficar de fora do alinhamento inicial do disco, sobras que para outros projetos seriam claramente trunfos maiores. E um dos principais atributos deste segundo alinhamento, é não ter despudor em apresentar uns Radiohead conceptualmente situados, nessa fase da carreira, numa espécie de encruzilhada, devido ao clima tendencialmente orgânico de The Bends e a necessidade da banda em fazer da eletrónica uma realidade cada vez mais presente, sem colocar as cordas e a bateria de lado. Depois, se no piano e no riff de Man Of War, tema que aponta todas as fichas à herança de Pablo Honey, à semelhança, mais adiante, do instintivo rock do lado b Polyethylene (Parts 1 And 2), sentimo-nos mais felizes por podermos contemplar o bucolismo típico radioheadiano, em Lift somos forçados a enfrentar o lado mais melancólico, etéreo e introspetivo dos Radiohead, conduzidos por um faustoso instante sonoro, onde sintetizadores e cordas se cruzam, numa melodia cheia de humanidade e emoção.

No que concerne aos lados b, além da composição já referida, Lull usa de armas muito parecidas com as de Let Down, obtendo um efeito soporífero direito ao âmago muito semelhante e Meeting In The Aisle acaba por ter a curiosidade de, no modo como ritma a batida e abusa de alguns efeitos abrasivos, enquanto é adicionada uma linha de guitarra ligeiramente aguda e uma bateria que parece rodar sobre si própria, mostrar uma outra faceta da apenas aparente dúvida existencial em que viviam à época os Radiohead. O próprio jogo que se estabelece em Melatonin entre a bateria, um teclado sintetizado retro e a voz planante de Yorke, assim como o modo como A Reminder, outro tema que aborda a propensão humana para a perca, cresce de intensidade e mostra-se outra preciosa acha para a fogueira que ilumina a abrangência estilística do adn sonoro dos Radiohead, ampliam esta espécie de dicotomia entre um lado mais orgânico e outro mais sintético, também expressa, com luminosidade, frescura e cor na guitarra e nos efeitos borbulhantes de Palo Alto e, antes, em Pearly, na espiral instrumental quase incontrolada que deste tema se apodera e que acaba por atestar a segurança, o vigor e o modo ponderado e criativamente superior como este grupo britânico entrava há duas décadas em estúdio para compôr e criar um arquétipo sonoro que ainda não tem qualquer paralelo no universo indie e alternativo atual.

Reedição muito desejada por todos os seguidores e não só, OK Computer: OKNOTOK 1997-2017 é um lugar mágico onde pudemos, há vinte anos atrás, no apogeu da nossa juventude, canalizar muitos dos nossos maiores dilemas. E, de facto, o registo ainda se mantém atual no modo como nos faz esse convite, mas agora de modo ainda mais libertador e esotérico. À época foi um compêndio de canções que nos alertou para a urgência de observarmos como é viver num mundo onde somos a espécie dominante e protagonista, mas também observadora de outros eventos e emoções e hoje, trazendo à tona tantas memórias, pode muito bem ser aquele impulso que nos faltava para percebermos que ainda vamos a tempo de colocar em prática algumas das mais belas fantasias que há tantas décadas guardamos na nossa caixa dos desejos e que, vindo a ser revistas e moldadas pela inevitável força do nosso maior vigor e maturidade, ainda mantêm, no fundo, toda aquela inocência genuína que lhes dá a beleza e cor que só cada um de nós conhece. Espero que aprecies a sugestão...

Radiohead - OK Computer OKNOTOK 1997-2017

CD 1
01. Airbag
02. Paranoid Android
03. Subterranean Homesick Alien
04. Exit Music (For A Film)
05. Let Down
06. Karma Police
07. Fitter Happier
08. Fitter Happier
09. Climbing Up The Walls
10. No Surprises
11. Lucky
12. The Tourist

CD 2
01. I Promise
02. Man Of War
03. Lift
04. Lull
05. Meeting In The Aisle
06. Melatonin
07. A Reminder
08. Polyethylene (Parts 1 And 2)
09. Pearly*
10. Palo Alto
11. How I Made My Millions

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publicado por stipe07 às 00:02


2 comentários

De P. P. a 26.06.2017 às 19:14

Muito bom artigo.

De stipe07 a 26.06.2017 às 23:22

Obrigado pela visita!

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