Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Perfume Genius - Too Bright

Sábado, 27.09.14

Editado no passado dia vinte e três de setembro por intermédio da Matador Records, Too Bright é o novo álbum de Perfume Genius, aka Mike Hadreas, um músico natural de Seattle e cujo trabalho de estreia, Learning, lançado em 2010, fez dele um dos nomes mais excitantes do cenário alternativo. Dois anos depois, Put Your Back N 2 It ofereceu-nos momentos sonoros soturnos e abertamente sofridos e agora, em Too Bright, Hadreas amplia as suas virtudes como cantor e criador de canções impregnadas com uma rara honestidade, já que são profundamente autobiográficas e, ao invés de nos suscitarem a formulação de um julgamento acerca das opções pessoais do artista e da forma vincada como as expõe, optam por nos oferecer esperança enquanto se relacionam  connosco com elevada empatia.

Gravado com Adrian Utley dos Portishead e com a participação especial de John Parish em vários temas, Too Bright é um disco inteiramente dominado por uma voz que se faz acompanhar de um ilustre piano, enquanto relata eventos de uma vida com alguns detalhes que nem sempre são particularmente agradáveis. Mike teve grandes dificuldades em lidar com a homofobia que sempre sentiu em redor devido à sua condição sexual e ao processo de recuperação que teve de encetar devido a uma dependência do álcool e das drogas, algo que a atmosfera lo-fi dos seus álbuns ilustra como uma necessidade confessional de resolução e redenção. Como o próprio Hadreas, os seus discos são delicados, emocionantes, e inerentemente tristes.

Too Bright não é uma inflexão radical em relação à toada dos trabalhos anteriores, mas há aqui algo mais intenso, também por causa das suas mudanças na vida pessoal e que, ao escutarmos a sua música, sentimos enorme curiosidade em conhecer. A forma contundente como Mike abre-nos o seu coração, impele-nos ao desejo de conhecer melhor o homem por detrás do piano e dos sintetizadores, os dois grandes pilares instrumentais de Too Bright e que, no caso dos últimos, alargaram exponencialmente o leque de possibilidades melódicas e de tomada de decisões ao nível dos arranjos.

Sendo então um artista que já confessou que não consegue fazer música se ela não falar sobre si próprio e que aproveitou, ainda, para referir que continua a guardar muitos segredos dentro de si, em Too Bright os timbres distorcidos de Queen, a dinâmica melosa e emotiva de Fool e a pop vintage de Grid, são exemplos nítidos sobre a forma como Mike criou neste trabalho, através de um aparato tecnológico mais amplo, caminhos de expressão musical inéditos na sua discografia e, simultaneamente, novas formas de se revelar a quem quiser conhecer a sua personalidade.

Se nos apraz partir nesta viagem de descoberta da mente de um homem cheio de particularidades, devemos estar também imbuídos da consciência de que temos, com igual respeito e apreço, de conhecer o lado mais obscuro da sua personalidade, um verdadeiro manancial para a mente criativa do músico, tendo em conta as especificidades da sua realidade que já referi, apenas genericamente. A voz grave e algo enraivecida e ferida que se escuta em I'm A Mother e que se distorce ainda mais em My Body, à medida que a componente instrumental sintética cria, nesta última, um ambiente sinistro e nos suga para o interior do âmago de Hadreas, provoca em nós um sentimento de repulsa, porque sentimos vontade de lutar contra essa evidência mas, por outro lado, causa uma atração intensa, como se não quisessemos deixar tão cedo de escutar este momento de verdadeiro delírio.

Perfume Genius é, como vemos, mestre na forma como utiliza a dor para transformar a sua intimidade em algo universal e na maneira como aborda de forma inédita as relações e a fragilidade humana. E esse caráter de ineditismo está plasmado na honestidade derramada por ele na sua música, transformando versos muitas vezes simples, num retrato sincero de sentimentos, que poderia bem fazer parte de um manual de auto ajuda para quem procure forças para superar os percalços de uma vida que possa estar emocionalmente destruída.

Too Bright faz justiça ao nome porque traz-nos luz... Não só sobre Mike, mas também sobre nós próprios, uma luz que de certa forma nos cega porque não é aquela que é transmitida por uma lâmpada ou pelo sol, mas o contacto e a tomada de consciência (fez-se luz) de muito do que guardamos dentro de nós e tantas vezes nos recusamos a aceitar e passamos a vida inteira a renegar. É uma luz suplicante, que luta contra os nossos desejos, ou que quer apenas ser a materialização deles, emanada de um disco sombrio e, por isso, muito forte, enquanto plasma uma nova faceta do percurso discográfico do autor. Espero que aprecies a sugestão...

Perfume Genius - Too Bright

01. I Decline
02. Queen
03. Fool
04. No Good
05. My Body
06. Don’t Let Them In
07. Grid
08. Longpig
09. I’m A Mother
10. Too Bright
11. All Along

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado por stipe07 às 13:59






mais sobre mim

foto do autor


Parceria - Portal FB Headliner

HeadLiner

Man On The Moon - Paivense FM (99.5)

Man On The Moon · Man On The Moon - Programa 570


Disco da semana 176#


Em escuta...


pesquisar

Pesquisar no Blog  

links

as minhas bandas

My Town

eu...

Outros Planetas...

Isto interessa-me...

Rádio

Na Escola

Free MP3 Downloads

Cinema

Editoras

Records Stream


calendário

Setembro 2014

D S T Q Q S S
123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.