man on the moon
music will provide the light you cannot resist! ou o relato de quem vive uma nova luz na sua vida ao som de algumas das melhores bandas de rock alternativo do planeta!
Daughn Gibson - All Hell
Daughn Gibson, músico natural de Carlisle, na Pensilvânia e baterista da banda de metal Pearls and Brass editou no passado dia quatro de maio All Hell, o seu disco de estreia, através da White Denim. All Hell pinta um cenário doloroso, constantemente melancólico e assumidamente pessoal, um universo de composições amarguradas e sentimentos sinceros e um fino retrato da country alternativa norte americana.
Para os mais puristas o uso de batidas eletrónicas e ruídos sintetizados deve ser capaz de distorcer completamente a lógica de um trabalho do género; Porém, distanciar Gibson daquilo que Cass McCombs, Bill Callahan e tantos outros representantes do atual cancioneiro norte-americano fazem, seria um erro de proporções incalculáveis. As batidas arrastadas, as guitarras manhosas repletas de efeito e principalmente os versos propostos pelo cantor, tudo ecoa como parte de uma produção honesta, parte autêntica da música que há décadas movimenta um cenário particular. O músico não renega as influências do panorama country de diferentes décadas e gerações, mas também se socorre das experiências musicais da atualidade, principalmente o R&B moderno de James Blake, o misticismo Lo-Fi dos Youth Lagoon e até o toque erótico de Nicolas Jaar.
A canção de abertura, Bad Guys, ludibria porque faz com que All Hell comece por soar como um convencional registro de música country. Mas logo a seguir, In the Beginning encontra novos rumos, com as tais batidas lentas e uma sucessão de samples e recortes eletrónicos capazes de reconfigurar a nossa impressão inicial. A incursão por este mundo de sons não orgânicos atinge o auge em Tiffany Lou ou mesmo na amena Ray, onde Daughn soa a uma espécie de James Blake um bocadinho entrado no álcool e que se divide entre o violão e as programações. Já que falei na voz de Daughn, aproveito para referir aquela que me pareceu ser uma das suas influências maiores; Refiro-me a Ian Curtis, não apenas pela proximidade com a voz, mas a própria sonoridade de All Hell permite estabelecer uma forte conexão com a obra dos Joy Division ou mesmo de outros ícones do pós-punk britânico. Essa sensação aumenta a partir da segunda metade do disco, quando o músico reforça o uso de guitarras e mantém o clima obscuro ainda mais intenso, algo que Dandelions ou mesmo a homónima canção final reforçam com teclados sintetizados e arranjos eletrónicos irregulares.
Com esta panóplia de fórmulas musicais nunca óbvias e constantes, Daughn estabelece as bases de um disco que passeia por relacionamentos que não deram certo, declarações sinceras de amor e momentos de pura angústia e abandono. A força que movimenta faixas como In the Beginning e Lookin’ Back On ’99 apenas revelam o quanto este inferno pessoal de Gibson é transferível e próximo dos mesmos sentimentos obscuros do ouvinte, que no final do álbum poderá muito bem ver as suas próprias angústias misturadas com as deste músico norte-americano, num imenso inferno compartilhado. Espero que aprecies a sugestão...
01 - Bad Guys
02 - In the Beginning
03 - Tiffany Lou
04 - A Young Girl's World
05 - Rain on a Highway
06 - Lookin' Back on '99
07 - Ray
08 - The Day You Were Born
09 - Dandelions
10 - All Hell