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Blonde Redhead - Barragán

Quinta-feira, 02.10.14

Kazu Makino, Amedeo Pace, Simone Pace são os Blonde Redhead e lançaram no passado dia dois de setembro Barragán, o nono álbum na carreira deste grupo oriundo de Nova Iorque e que tem construido um catálogo sonoro bastante consistente, com a dream pop sempre na fila da frente, no que diz respeito à sonoridade que replicam. Com o nome inspirado no célebro arquiteto mexicano Luis Barragán, Barragán viu a luz do dia por intermédio do selo Kobalt, em parceria com a Popstock e foi produzido por Drew Brown, um nome importante do universo indie e que já trabalhou com nomes tão significativos com Beck, Radiohead ou os The Books.

Há algo de intenso e peculiar em Barragán, o tema homónimo que abre o disco, um ruído agradável, cheio de detalhes campestres e que servirá certamente para acalmar a mente e o ouvido para o deleite sonoro que se segue, em mais nove canções que deslumbram pela riqueza da sua faceta instrumental, construída, quase sempre, a partir de sintetizadores e teclados bastante inspirados, que replicam discretos apontamentos e arranjos subtis , que algures entre a tal dream pop, mas também a folk e a eletrónica, dão vida a letras surrealistas e tingem de magia e cor os nossos ouvidos.

Lady M exala um charme intenso, feito com uma vocalização exuberante que se repete ao longo do disco e que atinge um verdadeiro clímax interpretativo em Cat On Tin Roof, principalmente pela forma como o tom agudo e extremamente sedutor e insinuante da voz de Kazu se entrelaça com um baixo encorpado e algo matreiro. Este mesmo baixo já tinha feito a sua primeira aparaição em Dripping e, obrigando-nos a abanar a anca logo à terceira canção, conferiu a necessária sensualidade que o requinte geralmente exige e que, pouco depois, intrometendo-se no jogo entre a guitarra e o sintetizador em Mind To Be Hand, conquista-nos irremediavelmente e leva-nos a não querer perder mais o rasto deste novo registo de um coletivo que tem construido um catálogo sonoro bastante consistente, que fez dos Blonde Redhead uma das bandas mais fascinantes dos nossos dia.

Há algo de desafiante no modo como este trio se afunda num experimentalismo refinado, que além de criar o ambiente perfeito para a voz sedutora de Makino, dá vida e som a texturas e cenografias sonoras ímpares e genuínas, não só no que concerne a tudo aquilo que é geralmente audível no domínio da eletrónica, mas também no campo do orgânico, tal é a delicadeza e a fragilidade de alguns arranjos de cordas ou sopros, quase sempre arrumados com uma impecável sobriedade e a evidenciar sinais de uma recomendável exuberância criativa.

Com uma carreira que virou decididamente agulhas para a pop a partir de Melody of Certain Damaged Demons (2000) e aprofundou essa inflexão com Misery is A Buttefly (2004) e, principalmente, no fantástico 23 (2007), os Blonde Redhead ainda arriscaram terrenos eminentemente eletrónicos com Penny Sparkle(2010). Seja como for, Barragán acaba por ser o passo lógico de uma certa agregação de todas as facetas sonoras que foram alimentando o trio, num alinhamento recheado de obras primas que revivem o que de melhor se podia escutar há uns bons trinta anos e quase sempre afundado num colchão de sons eletrónicos que fazem de Barragán um passeio divertido e, ao mesmo tempo, introspetivo, cheio de charme e bom gosto. Os Blonde Redhead conjugam e criam com distinção o que de melhor é feito atualmente no universo indie pop e numa época em que existe uma explosão de novas propostas, mas só se distinguem realmente aquelas que conseguem atingir um patamar qualitativo verdadeiramente inovador e deslumbrante. Em Nova Iorque ainda sobrevive, ao fim de quase três décadas, uma banda bastante inovadora e de sonoridade única, cada vez mais experimental e minimalista e que não se cansa de arregaçar as mangas em busca do constante desafio e da descoberta. Espero que aprecies a sugestão...

Blonde Redhead - Barragán

01. Barragán
02. Lady M
03. Dripping
04. Cat On Tin Roof
05. The One I Love
06. No More Honey
07. Mind To Be Had
08. Defeatist Anthem (Harry And I)
09. Penultimo
10. Seven Two

 

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publicado por stipe07 às 21:29

Pernas de Alicate - Pássaros

Quinta-feira, 02.10.14

Carlos BB e Sara Feio são os Pernas de Alicate, um projeto musical alternativo português, já com alguns singles em carteira. Nascidos nos Black Sheep Studios, em Sintra, um estúdio que já revelou nomes tão importantes como os Paus, Linda Martini, You Can’t Win Charlie Brown, Anarchicks, Brass Wires Orchestra e propriedade do Carlos, também membro dos Riding Pânico e dos Men Eater, os Pernas de Alicate pretendem ser um caso sério no nosso panorama musical.

Pernas de Alicate é mais do que música; Envolve som e imagem, onde Carlos BB marca o ritmo na bateria e Sara Feio ilustra, o qe significa que para cada single que o grupo cria, existe um video associado. A canção nasce a partir de beats criados pelo Carlos e depois há convidados especiais que vão trabalhar em cima desse beat e criar a composição musical. 

Casa Para Pássaros é o último tema em que a banda tem trabalhado e já têm pronta a primeira metade, os Pássaros. Nesta canção juntaram-se aos Pernas de Alicate, Ana Miró (Sequin), Cláudia Guerreiro (Linda Martini), Miguel da Bernarda (BWO), Gil Amado (We Trust e Long Way To Alaska), Shela (Riding Pânico) e o colectivo Solid Movement e o resultado final foi surpreendente.

De acordo com o press release do tema, os Pernas de Alicate consideram que a cadência de Pássaros leva-os por um caminho hipnótico que se vai tornando cada vez  mais preenchido. O ritmo acelera para desacelerar e desacelera para acelerar. Há um conjunto de vozes que o complementa e que ecoa nos (seus) ouvidos de forma inebriante, como se de um chamamento se tratasse. A parte musical de Pássaros puxou-os para dentro da música e fê-los acompanhar o seu voo pelo desconhecido. Mas isto, uma vez mais, é só uma parte do que Pássaros é realmente. A parte visual é a outra metade.

O vídeo de Pássaros foi realizado por Sara Feio e conta com a participação das actrizes Inês de Sá Frias, Nádia Santos e da modelo Isa Pólvora. O trabalho coreográfico foi desenvolvido por Raquel Claudino e, de acordo com o mesmo documento que cita Ágata Alencoão, impressiona pelas expressões faciais fortes e penetrantes, como se nos quisessem obrigar a ler uma a uma as emoções que transparecem. Em contraponto, há um balanço suave e repetitivo das linhas de movimento dos corpos que cravam e complementam a sensação de hipnose. As cores quentes, as sobreposições, os efeitos de duplicação e espelho das imagens, agudizam a sensação de entorpecimento e  conferem ao tema uma aura em que luxúria e misticismo comungam. Há uma “história” para ser contada mas há também a vontade de esconder qualquer coisa. Em cada movimento, uma parte do corpo intersecta outra e, ainda que nada seja claro, ou possa ser visto à luz do dia sem qualquer tipo de obstáculo, percebemos que a necessidade de ocultação da identidade está presente.

Pássaros faz-nos divagar pelo intrincado universo das relações e pela complexa perversidade humana, cujos pressupostos tão superficiais como ilusórios existem apenas, para se alcançar determinado fim. Como na alegoria do Corvo e da Raposa, que conceptualmente e imageticamente percepcionamos neste tema.

 E como quase tudo em Pernas de Alicate parece existir às metades, aguardemos a saída de Casa, onde outros artistas do campo da fotografia e da ilustração se juntarão a BB e Sara para que Casa de Pássaros se nos apresente em toda a sua sumptuosidade.

 

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publicado por stipe07 às 20:29

Camera - Remember I Was Carbon Dioxide

Quinta-feira, 02.10.14

Apelidados de krautrock guerrilla devido à forma ousada como costumam apresentar a sua música, tocando muitas vezes em locais públicos sem licença, nomeadamente estações de metro, os berlinenses Camera são Franz Bargmann, Timm Brockmann e Michael Drummer, um coletivo que se estreou em 2012 com o fantástico Radiate!. Algum tempo depois chegou o EP Système Solaire e agora estão de regresso com Remember I Was Carbon Dioxide, mais um longa duração, este com doze canções que nos abraçam e nos convidam para encetar uma viagem única e de algum modo hipnótica pelo krautrock, um universo sonoro que agrada profundamente a este trio e que é, naturalmente, dominado pela eletrónica.

Escuta-se Remember I Was Carbon Dioxide e estamos, de certa forma, positivamente condenados a usufruir de um banquete com um cardápio eminentemente sintético, mas que não deixa de piscar o olho a alguns detalhes mais orgânicos. Esta aparente ambivalência soa nestes Camera como um todo complexo, mas coerente e que fica logo patente em From The Outside, a canção de abertura, quando um baixo encorpado e uma batida marcada e hipnótica se aliam a um conjunto de ritmos e sons diversificados. Esta fórmula vai ao encontro do press release do lançamento quando afirma que na primeira faixa do disco, a assinatura sonora de Camera, está elegantemente tecida no remoinho hipnótico da música, um eco distante de “Autobahn” dos Kraftwerk. E, na realidade, estes Camera, apesar de serem contemporâneos na forma como abordam este espetro sonoro tão caraterístico e, ao contrário de muitos outros, rigidamente balizado numa década específica, no que concerne às suas origens e período aúreo, merecem especial relevo porque essa contemporaneidade revela-se na forma como apontam noutras direções, onde pode dominar também, mesmo que implicitamente, um teor ambiental denso e complexo, com um resultado atmosférico, mas que não deixa a sonoridade geral do trio e deste Remember I Was Carbon Dioxide cair numa perigosa letargia, já que há aqui, e concretizando, sinais bem audíveis que apontam baterias também ao rock e à punk dance.

Em suma, nestas doze canções assiste-se a uma soma de várias partes, num disco que apresenta uma banda em constante progressão e alienação do óbvio sonoro, vanguardista e, na mesma medida, comprometida com a sua notável herança e espólio, um trio que se deixou levar com natural fluídez pelo trabalho que desenvolveu em estúdio e que, com essa postura corajosa, não defrauda aquela componente experimental que lhe é intrínseca e que fica sempre gravada na memória de quem assiste aos concertos dos Camera.

Enérgico, psicadélico e movido a sintetizadores que não escondem a rigidez maquinal que lhes é subjacente, mas temperado com guitarras que trazem consigo ecos bem audíveis de post punksynthpop e dance punk, Remember I Was Carbon Dioxide é um disco onde a produção é uma das mais valias já que, desde o processo dos primeiros arranjos até à manipulação geral do álbum, tudo soa muito polido e nota-se a preocupação por cada mínimo detalhe, o que acaba por gerar num resultado muito homogéneo e que, de algum modo, ajuda a colocar de novo Berlim na linha da frente das referências fundamentais no género. Espero que aprecies a sugestão...

From The Outside
Parhelion
Synhcron
Roehre
4PM
Haeata
Ozymandias
To The Inside
2AM
Trophaee
Vortices
Hallraum

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publicado por stipe07 às 20:27






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